A sala em que eu estava era pequena, claustrofóbica, sem janelas e com uma única lâmpada fluorescente bem no centro do teto. As paredes de concreto, sem acabamento e com manchas escuras. Nela, apenas duas cadeiras, a que eu estava sentado, as pernas balançando nervosamente, e outra vazia, à minha frente.
Cheguei ali depois de tentar me inscrever para o Poker dos Cornos, mas o funcionário do caixa recusou, dizendo que eu não poderia jogar, já que eu havia sido um dos perdedores.
Não aceitei a recusa. Bati a mão no balcão, a voz saindo bem mais alta do que eu pretendia. Gritava que era injusto, que eu merecia uma segunda chance. As pessoas próximas ao caixa me olharam como se eu fosse um mendigo pedindo esmola, mas eu não estava nem aí. Eu tinha uma missão, precisava daquele dinheiro, precisava provar para mim mesmo que ainda era um homem e que podia vencer.
O segurança, um armário humano de quase dois metros, se aproximou, pronto para me arrastar para fora. A voz firme de Markus ecoou pelo salão, interrompendo a cena.
— Calma aí. Leva ele pra salinha. Vou falar com ele.
E foi assim que acabei sentado naquela cadeira, esperando para negociar com o velho que comeu minha esposa, mais uma humilhação.
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, Markus entrou na salinha. Ele se moveu com a calma, se aproximou da cadeira vazia e sentou, cruzando as pernas.
— O que você acha que tá fazendo, Lucas? — ele perguntou, apoiando os cotovelos nos joelhos e inclinando o corpo para frente, os olhos me perfurando como duas balas de revólver — Você já jogou. Já perdeu. Não tem mais volta.
— Eu só saio daqui se eu jogar de novo.
Ele soltou uma risada seca, balançando a cabeça como se eu fosse o ser mais burro do mundo.
— Você não entende como o clube funciona, não é? — disse, tirando o chapéu e o girando lentamente nas mãos — O lucro não vem das mesas de pôquer. O dinheiro de verdade tá nas apostas sobre quem vai trair e quem vai ser fiel. E você, meu caro, é um evento ruim. Todo mundo já sabe que a Amanda vai dar de novo se for para a sala vermelha.
Aquilo me atingiu como um soco no estômago. E o pior de tudo era que não tinha nem como discordar da lógica que ele usava.
— Isso não é verdade. Minha esposa não é uma vadia. Ela só... só se deixou levar na situação.
Markus não se abalou. Apenas me olhou com aquela expressão de desprezo que já estava se tornando familiar.
— Lucas, Lucas... você se engana se acha que ainda tem alguma honra para defender. — Ele se inclinou ainda mais para perto, até que eu pudesse sentir o cheiro de tabaco em sua respiração. — Mas vou te dar uma chance. Não porque você merece, mas porque eu me diverti muito com sua esposinha. A única condição é que, desta vez, ela fique com dois homens na sala vermelha.
— Ela nunca faria isso com dois homens — gritei.
— Bom, então, se você perder, recomendo você apostar na fidelidade da sua mulher, acho que os odds vão estar bem favoráveis.
— Fechado.
A ideia de ver minha esposa com outro homem já tinha me destruído. Dois homens era um pesadelo que eu não conseguia nem processar. Mas, se era isso que eu precisava fazer para ganhar o prêmio de um milhão, estava disposto a sacrificar tudo.
Markus sorriu, um sorriso largo e cheio de dentes amarelos.
— Então, tá combinado, meu amigo. Você já pode ir para a mesa, você é o oitavo participante do Poker dos Cornos.
Sentei-me à mesa com a sensação de missão cumprida. Agora, bastava jogar o meu jogo, e todo esse pesadelo chegaria ao fim.
Mas, algo estava diferente dessa vez.
O pôquer, apesar de ser um jogo de paciência que pode durar horas, é dominado por jovens, e há uma razão para isso: coragem. Com o passar dos anos, à medida que os traumas se acumulam, as decisões se tornam mais cautelosas, os instintos mais hesitantes, até o ponto em que o jogador deixa de ser lucrativo. Humanos não foram feitos para se livrar do peso do próprio passado.
As memórias do último campeonato, da derrota humilhante para Markus e da traição da minha esposa, invadiam minha mente a cada nova mão. Eu hesitava, temendo cada aposta, cada decisão, enquanto meus adversários farejavam minha fraqueza.
Esperei pacientemente por uma mão perfeita, mas, a cada blind pago, meu monte de fichas encolhia. Não fui um dos primeiros a ser eliminado, mas, em pouco tempo, minha pilha ficou tão reduzida que fui forçado a empurrar tudo para o centro da mesa com uma mão medíocre. Meu torneio acabou ali.
Senti o gosto amargo da derrota. Agora, só me restava torcer para que Amanda não fosse a escolhida daquela vez.
Quando a crupiê virou a última carta, selando a vitória de um sujeito que eu mal tinha notado durante o jogo, fiquei apreensivo. Ela perguntou qual prêmio ele escolheria, ele olhou ao redor, respirou fundo e apontou para o participante 6. Minha alma voltou para o corpo, eu era o 8.
Deixei escapar um suspiro de alívio. Não tinha vencido, mas, pelo menos, Amanda não era a escolhida.
Markus se levantou da mesa de apostas e caminhou com a postura tranquila até chegar ao vencedor. Os dois tiveram uma breve conversa aos cochichos, algo que eu não conseguia ouvir do meu lugar. Discutiram por um tempo, até que o campeão do torneio, com a expressão séria e os olhos fixos em Markus, assentiu, concordando com o que quer que ele estivesse propondo.
Markus se endireitou, deu dois tapinhas nas costas do homem e se virou para a sala, sorrindo como um apresentador de circo que estava prestes a revelar seu truque mais impressionante.
— Pessoal, hoje o pôquer dos cornos vai ser especial! — anunciou, com a voz ressoando pela sala. — Dois homens vão para a sala vermelha… com a mulher do participante 8.
<Continua>
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