Sherlock Cornos - O Caso dos Pastores (2)

Um conto erótico de Mais Um Autor
Categoria: Heterossexual
Contém 1120 palavras
Data: 27/07/2025 19:34:09

Um investigador chinfrim olha para uma cena do crime e se concentra no óbvio: impressões digitais, poças de sangue, armas do crime… um bando de amadores. Qualquer idiota com um par de olhos enxerga, em segundos, tudo o que está presente. A verdadeira questão e a única que realmente importa, é: o que deveria estar ali e não está?

Para meu completo desespero, depois de seguir a namoradinha do filho dos pastores por um dia inteiro, tudo indicava que não havia sexo algum. Nenhuma troca de olhares maliciosa, nenhuma escapadinha, nenhuma mensagem com emojis suspeitos. Aquela loirinha, que tinha potencial pra arruinar casamentos só com um sorriso, parecia não usar seus superpoderes.

O que estava faltando? O que deveria existir ali e não estava?

Naquele dia, ela saiu de casa pontualmente às sete e quarenta. Vestia uma saia jeans que descia até o meio da canela, uma blusinha branca sem decote, e um casaquinho bege que parecia ter saído de um brechó evangélico. O cabelo, preso num rabo de cavalo modesto, balançava como o de uma garotinha. Conservadora até o osso. Impecável na encenação.

Ainda assim, bastava ela passar por um ponto de ônibus para os homens virarem animais no cio. Não importava o quanto tentasse se cobrir — aquilo só parecia atiçar mais os instintos primitivos da massa. Pedreiros, motoboys, engravatados, até um velhinho encostado numa banca de jornal soltou um “bom dia, princesa” com voz de fumante terminal.

Na faculdade, o ambiente era só um pouco menos patético. Um nerdzinho magrelo, criou coragem e se aproximou. Tímido, gaguejou alguma coisa sobre um novo filme da Marvel, um convite pra ir ao cinema, sem perceber a diferença de escalão que existiam entre os dois.

Ela sorriu, daquele jeito doce que faria qualquer homem acreditar em redenção, e respondeu com uma voz fina:

— Ah, eu não assisto filme de super-herói, não… essas coisas da Disney são tudo do capeta.

O nerd engoliu em seco, sem saber se aquilo era uma piada.

— Mas, se você quiser ir no cinema, meu pastor recomendou um filme que está em cartaz sobre os últimos dias de Cristo, posso chamar meu namorado e a gente vai junto. Pode ser uma bênção!

Falou isso como se fosse a coisa mais natural do mundo. Sem perceber que o coitado só queria mesmo era levar ela pra ver qualquer porcaria na última fileira e tentar, quem sabe, roçar nela até o fim do filme. Em vez disso, ganhou um convite para se converter.

No horário do almoço, ela seguiu para a academia, carregando uma mochilinha cor-de-rosa com um chaveiro de coração pendurado no zíper. Eu quase pulei de alegria no banco do carro. Se existia um lugar onde a luxúria era servida junto com whey protein, era ali. Nenhum ser humano com mais de 3% de testosterona conseguia se manter puro num ambiente desses — ainda mais com ela presente.

Trocou de roupa no vestiário e saiu de lá com uma calça legging preta e uma camiseta branca enorme com os dizeres “JESUS SALVA” em letras garrafais. Foi direto pro agachamento no smith.

E, como eu já esperava, não demorou pra aparecer um instrutor, bronzeado, tatuado, com cara de quem passa mais tempo ajustando o short do que estudando biomecânica. Chegou por trás dela com aquele ar de quem só quer “ajudar”.

— Deixa eu te dar uma força aqui no agachamento, beleza? — disse ele, já posicionando as mãos “estrategicamente” próximas à cintura dela, roçando o corpo no dela com a desculpa da “correção postural”. Ao fim da série, o volume na sua calça tornava impossível disfarçar quão animado estava em ajudar sua aluna.

— Qual seu nome? — perguntou.

— Ester.

— Ester… bonito. Pode me passar seu número? Sei que você não parece iniciante, mas se quiser umas dicas de treino, posso te acompanhar.

Ela pareceu sinceramente surpresa com a proposta.

— Ah, obrigada, mas não estou procurando personal agora. Já sigo meu plano direitinho. O templo do Espírito Santo merece cuidado, né?

O cara deu uma risadinha sem graça, sem saber que ela realmente acreditava nas palavras que dizia.

E mais uma vez, nada. Nenhum deslize, nenhuma pista, nenhum pecado sequer. Nem quando a tentação literalmente se esfregava nela. Isso não era pureza. Isso era sobrenatural.

Depois da academia, ela voltou pra casa e ficou o resto da tarde estudando no quarto. Às seis, colocou uma saia longa florida, prendeu o cabelo num coque apertado, pegou a bíblia e saiu rumo ao culto.

Foi o sinal que eu precisava. Era hora das armas pesadas.

Assim que ela virou a esquina, entrei em ação. Pulei o muro com a destreza de quem já fez isso vezes demais pra se orgulhar. Em menos de cinco minutos, a casa estava completamente tomada. Uma microcâmera na sala, outra no corredor, duas no quarto e até uma no banheiro o. Conectei tudo ao meu sistema remoto, com sinal criptografado e upload direto pros meus servidores.

Peguei o laptop em cima da escrivaninha e instalei um programinha de monitoramento. Agora tudo o que ela digitasse seria registrado: senhas, buscas, mensagens. Em minutos, consegui acesso ao e-mail, contas de redes sociais e o WhatsApp dela.

O que encontrei? Nada demais. Nenhuma sacanagem escondida, nenhuma troca quente com desconhecidos. As mensagens que mais se repetiam eram com as amigas do grupo de estudo bíblico. Conversas sobre salmos, dúvidas sobre passagens do Novo Testamento, links de vídeos com pregadores.

Fiquei as duas horas que ela esteve na igreja vasculhando cada centímetro da vida digital dela, o desespero crescendo dentro de mim. Fiz buscas por palavras-chave: o nome do namorado, dos sogros, “sexo”, “nude”, “escondido”, “encontro”... nada.

Cheguei a cogitar que talvez fosse isso mesmo. De todas as novinhas sapecas do mundo que só pensam em sexo e dinheiro, meu alvo era justamente a última pessoa virtuosa.

Talvez ela fosse assexual. Vai saber, uma mutação genética rara que eliminou por completo qualquer impulso carnal. Ou, quem sabe, a lavagem cerebral da igreja tenha sido eficiente demais, e ela realmente acreditasse que Jesus estava, invisível, ao lado dela o tempo todo, pronto pra apontar o dedo caso rolasse uma troca de olhares mais ousada. Se fosse isso, confesso: o pastor da igreja que ela visitava merecia um prêmio por controle mental.

Nada fazia sentido. Eu já tinha visto de tudo. Garotas que fingem ser santas pra enganar os sogros, evangélicas que mudam de personalidade no estacionamento do culto, e até freiras com fetiche em padre. Mas aquela menina… ela era de outro planeta.

Ela não seduzia. Não flertava. Não respondia com malícia nem sem querer.

Diferente de todos nós, ela parecia sempre saciada.

<Continua>

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