Não sou um cara que acredita em muitas coisas. Para mim, a única verdade imutável do mundo é que o dinheiro move montanhas. Cada indivíduo que você vê andando nas ruas de uma cidade imunda como São Paulo está indo para algum lugar, ganhar dinheiro, ou gastar o que têm.
Cada um deles tem sua história e mentiras, e meu trabalho na Leroy & Dubois, Investigação Privada, é descobrir quais são. Só para você saber, ninguém na empresa se chama Leroy, muito menos Dubois. Mas convenhamos, "dos Santos & Silva" não atrairia o tipo de cliente cheio da grana que gosta de glamour até na placa da porta.
Oferecemos os serviços clássicos de uma Private Eye, como seguir sua esposa ou marido, e descobrir o que eles fazem quando você não está olhando. Mas, se estiver disposto a pagar o preço certo, por meio de catfishing, atores contratados ou métodos ainda menos ortodoxos, fazemos até mesmo com que seu cônjuge caia em tentação.
Por que alguém pagaria por isso? Não estou interessado em descobrir. Meu trabalho termina no relatório entregue. O que meus clientes fazem depois — se vão à justiça, chantagem ou apenas batem uma punheta olhando as provas — não é da minha conta.
Foi um jornalista furioso quem me batizou de "Sherlock dos Cornos", após eu expor a traição que resultou no fim do casamento dele. Mas sejamos justos: não dá para jogar toda a culpa em mim, afinal, não era eu que estava se aventurando com uma estagiária vinte anos mais jovem. De qualquer forma, ele achou que ao me expor para o mundo me destruiria. Mal sabia ele que estava me dando uma propaganda que dinheiro nenhum pagaria.
Se nós, investigadores, somos heróis ou monstros, deixo que o leitor decida. Afinal, se você é fiel, não há motivo para temer nossa presença. No entanto, parece evidente que cada uma das milhões de almas desta cidade decadente só está esperando pela oportunidade certa para trair umas às outras.
Quando esse caso aconteceu, eu já tinha bastante tempo de estrada. Estava acostumado a ver os maridos desesperados e as esposas furiosas entrando no meu escritório. Só que aquela vez era diferente. Era a primeira vez que entrava um casal na minha sala. Fiquei em silêncio esperando que eles explicassem o que queriam, porque desconfiava que eles não estavam dispostos a pagar o meu preço para um investigar o outro.
Coloquei a mão na minha cabeça e fechei os olhos enquanto eles sentavam nas cadeiras na frente da minha mesa. Eles me pareciam estranhamente familiares, embora não conseguisse lembrar de forma alguma de onde os conhecia. Foi o marido o primeiro a falar:
— Precisamos de sua ajuda com uma situação… — disse de uma forma pausada e com a voz bem mais efusiva que a necessária, enquanto a esposa se coçava e movia o olho freneticamente a tudo à sua volta — Precisamos saber se a namorada do nosso filho é virtuosa como ela alega ser.
"Virtuosa"... Uma escolha de palavra curiosa. E familiar. Eu já tinha ouvido aquele mesmo homem usá-la antes, com a mesma entonação forçada. Enquanto tomava o primeiro gole do meu café, minha mente começou a trabalhar — silenciosa, afiada — resolvendo o primeiro mistério do dia: quem eram, de fato, os indivíduos à minha frente, e o que realmente queriam de mim.
Pastores, um nome estranho que damos para quem vive roubando dos pobres para dar a si mesmo. E na minha frente estavam dois dos maiores profissionais nesse golpe. Tanto é que foram convidados para participar de uma CPI, e nela que ouvi pela primeira vez aquele mesmo senhor à minha frente dizendo que a família era virtuosa e não tinha cometido os crimes alegados.
Para pessoas tão virtuosas, eles estavam bem preparados para rolar na lama comigo. A esposa me passou um envelope marrom por cima da mesa. Peguei o meu abridor de cartas e cortei o lacre. Me senti voltar no tempo, nem lembrava quando foi a última vez que tive fotos impressas nas minhas mãos.
Eram do meu alvo.
Loirinha, pele clara, uma carinha angelical ainda com traços adolescentes, mas com olhos que prometiam tudo menos inocência. O corpo parecia ter sido esculpido por uma divindade bem mal-intencionada: peitos redondos e firmes preenchendo uma blusinha branca supostamente discreta, bunda durinha e uma cintura fina, dessas que raramente surgem sem muito suor.
Se essa mulher estava com o filho desse casal, eles de fato tinham motivos para se preocupar. Para a maioria das pessoas, pode parecer odioso pais contratarem um detetive particular para investigar a namorada do próprio filho, mas sejamos honestos: qualquer um, com tanta coisa em jogo quanto aqueles dois, faria o mesmo.
Um casamento não significava apenas a união de dois jovens apaixonados, mas também a inclusão de um novo cúmplice em seus esquemas. A garota teria acesso direto à fortuna e os segredos obscuros daquela família.
Passei foto por foto que eles me deram com calma, fingindo que analisava algum detalhe, quando na verdade só pensava o quanto iria ganhar de dinheiro no caso mais fácil da minha vida.
Nossa agência trabalha com uma taxa fixa inicial relativamente baixa, mas se a infidelidade fosse confirmada, o valor crescia exponencialmente. Oficialmente, era uma garantia aos clientes de que nossos investigadores se dedicariam ao máximo, revirando até a última pedra. Mas, sendo brutalmente honesto, era o nosso ganha-pão. Se alguém está pagando tanto dinheiro para um porco farejar trufas, a chance delas estarem por perto é quase garantida.
— Sabe, a gente só precisa saber se ela é mesmo quem diz. Os dois estão se guardando para o casamento… seria horrível descobrir qualquer novidade depois que eles estarem em uma comunhão sagrada. — disse a pastora, tentando justificar para mim porque ela precisava violar violentamente a privacidade do próprio filho, sem saber que o dinheiro era a única explicação que eu precisava.
— Sim, entendo perfeitamente — respondi com meu tom mais simpático que eu conseguia, temendo que desistissem a qualquer momento — É melhor prevenir do que remediar, não é? Agora só precisamos decidir quais serviços vocês preferem. Podemos, por exemplo, criar perfis falsos para tentá-la...
Minha língua foi mais rápida que meu juízo. Travei no meio da frase assim que vi o olhar horrorizado da pastora ao ouvir a palavra “tentá-la”.
— Não. Apenas investigação. Tentá-la seria uma armadilha do coisa ruim — disse ela, com a convicção.
Pelo olhar do pastor, ficava claro que ele achava a esposa uma imbecil por acreditar naquela conversa fiada. Aparentemente, apenas um deles engolia as baboseiras que costumavam despejar sobre suas ovelhas. Anotei mentalmente: se as coisas não saíssem como planejado, eu poderia investigar o sujeito à minha frente. Certamente, a esposa pagaria muito bem para descobrir que estava na longa lista de pessoas enganadas pelo marido.
— Por enquanto, só queremos o serviço de detetive particular mesmo — disse o marido, e apesar de estar concordando com sua esposa, ele mostrava que a decisão final era dele.
O "por enquanto" não me escapou. Se eu não descobrisse uma traição, estava claro que aquele homem faria qualquer coisa para separar o filho da namorada. Ele via o mesmo que eu: algo estava profundamente errado naquele jovens fofos, esperando pelo casamento. Algo não batia.
Ele assinou o contrato básico de investigação e ambos deixaram minha sala. Fiquei encarando a foto da garota e, por um breve instante, senti pena dela. Provavelmente havia investido bastante tempo arquitetando aquele golpe que a catapultaria direto para uma vida milionária. Infelizmente, ela cruzou meu caminho.
Não pouparia esforços para revelar a verdadeira face daquela santinha do pau oco.
<Continua>
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