Parte (3)
Série: Muito Libertinos
Na hora que o despertador do meu telefone tocou, era já 6h30 e eu estava bêbado de sono, arrasado mental e psicologicamente, e emocionalmente muito abalado. Tratei de ligar para o meu chefe na empresa, no telefone direto dele, e disse que não estava bem, me sentia intoxicado, e precisaria ser substituído. Eu sabia que a empresa tinha medidas para esse tipo de eventualidade, embora nunca tivesse precisado. Ele nem duvidou, pois eu nunca havia perdido um dia de trabalho. E me desejou melhoras.
Estava completamente abalado. Decidi dormir mais um pouco, para me recuperar. Desci no refeitório do hotel e tomei o café da manhã. Depois, com a barriga cheia, voltei ao quarto e voltei a dormir pesado até às 9h30.
Mas foi um sono agitado, sonhei com a Size nua, via as cenas dela fazendo sexo com o Malan, no sofá da nossa casa, e também com um sujeito tatuado que eu não via o rosto. No meio da cena a Louise aparecia e ficava chupando os peitos da minha esposa, enquanto ela era fodida pelo Malan. Depois, via quando os dois homens gozavam sobre o corpo dela e a Louise lambia. Acordei suado e tenso. Realmente, estava esgotado. Mesmo assim, já acordei um pouco mais disposto, embora ainda me sentisse arrasado com meu casamento desmoronado. A revolta e frustração eram grandes. Me dava uma certa sensação de tontura e mal-estar.
Tomei um banho e me sentei pensando em tudo. Precisava definir muitas coisas, para saber o que deveria fazer. Com a minha mania de ser certinho e programado, peguei no computador e criei um arquivo de texto, onde escrevi:
AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO:
1. Ficou patente que minha esposa é uma traidora, sempre foi, desde o início, e me enganou o tempo todo;
2. Não foram o Malan e a Louise que a fizeram ser traidora, ela já traía antes, eles apenas se aproveitaram disso;
3. A Size me enganou porque eu fui um “inocente” e não desconfiei de todos os sinais que eu tive. Tenho culpa de ter sido tão bobo e inocente, e não ver o que acontecia;
4. Eu gostava muito dela, e o que mais me dói é saber que gostei muito de uma pessoa que fez o que ela fez comigo, dizendo que me ama, mas age como se não tivesse o menor respeito. Isso é o que mais me doeu e dói;
5. Elas me chamaram de corno, mas eu nunca fui corno. Fui enganado, isso sim. Nunca fui conivente com nada. O corno é o que sabe e aceita. E se eu soubesse que a Size era tão traiçoeira e infiel, teria reagido logo no início;
6. Preciso definir o que pretendo fazer, e agir com cautela, para não deixar que eles saibam que eu já sei de tudo. Isso é um trunfo;
7. Estou com muita raiva, revoltado, mas não quero agir por raiva ou vingança. Só quero fazer o que eu acho que é o certo, e o melhor para mim. Por isso tenho que pensar estrategicamente os próximos passos;
Depois daquelas anotações, que me ajudaram a ter clareza das coisas, comecei a pensar o que iria fazer. Me lembrei que a empresa tem um convênio com um serviço de suporte psicológico, para aqueles colaboradores que estiveram em situação de risco, ataque, ou confronto. Era um departamento que eu jamais pensei que iria precisar, mas naquele dia, achei que não custava nada consultar. Liguei e me identifiquei, e verifiquei se teria horário para atendimento. Fui informado que para uma primeira entrevista de triagem, eu poderia ir durante a tarde e falar com um psicólogo. Agendei para após o almoço, e pensei que não custaria nada falar com um profissional da área.
Eu me sentia envergonhado de ter que assumir o que passei, mas também entendia que teria que superar isso, se quisesse pensar com mais clareza.
Quando deu 11h30, tive coragem de ir ler as mensagens que estavam se acumulando no meu telefone. A Size tinha ligado muitas vezes. Como eu colocara no silencioso, nem ouvira tocar. Tinha uma chamada do Malan também no início da manhã, possivelmente depois que a Size devia ter contado o que eu fizera.
Depois, vi mensagens escritas da Size, perguntando onde eu estava, se estava bem.
Resolvi responder: “Estou bem. E bem chateado. Vou dar um tempo para minha cabeça esfriar, e depois decido o que vou fazer.”
Assim, bem frio. Sem dar muitas pistas. Para todos os efeitos ela pensava que eu ainda não sabia de nada.
Eu teria que deixar o hotel ao meio-dia, então tomei um banho, me vesti, deixei o hotel e fui almoçar perto de onde teria o atendimento. Durante o almoço pensei o que exatamente eu deveria falar com o psicólogo. Estava já fazendo um pouco de hora, tomando um café, quando meu telefone tocou. Era o Malan. Por curiosidade de saber o que ele teria a dizer, resolvi atender. Ele disse:
— Ge, meu amigo. Boa tarde. Tudo bem? Onde você está?
— Estou almoçando perto do serviço. – Respondi seco.
Ele perguntou:
— A Size está preocupada. Disse que você saiu de casa ontem, e não voltou. O que se passa?
Resolvi ser curto e grosso:
— Malan, deixa quieto. Fiquei puto, e não gostei. Não quero nem discutir nada. Quando se perde a confiança nas pessoas, não tem o que fazer. Não se meta, por favor, pois você não está em posição de ajudar. Até mais.
Desliguei e quando ele tentou ligar de volta, não atendi. Deixei tocar até enjoar.
Paguei o almoço e depois, fui para a tal entrevista de triagem.
Fiquei na sala de espera, por quase quarenta minutos, já estava a ponto de ir embora, até que fui chamado e entrei na sala da consulta. E fiquei admirado com o que eu vi.
Diante de uma mesa com apenas um notebook, de pé, usando um jaleco branco, estava uma das mulheres mais lindas que eu tive oportunidade de ver ao vivo na minha vida. Ela era alta, cabelos cor de mel num corte Chanel, curto, olhos claros, por trás dos óculos de armação cara, retangular, que lhe dava um ar de sabedoria. Seu rosto era de uma beleza que chegava a incomodar, e seu porte elegante e calmo, com um sorriso simpático nos lábios carnudos. Fiquei estático. Ela, com seus trinta e tal anos, lembrava um pouco de rosto a atriz Maria Casadevall, mas com olhos claros.
— Boa tarde. Seja bem-vindo. Sou a Dra. Gracietta. Tenha a bondade de se sentar.
Eu vi que ela estava com a mão estendida, e cumprimentei, tentando disfarçar o meu espanto. Eu me preparara mentalmente para falar com um homem, e dei de cara com aquela mulher hipnotizante. Ela insistiu que eu me sentasse e se sentou também à mesa, diante do notebook aberto para ela. Por quase um minuto nenhum dos dois disse nada. Ela quebrou o gelo:
— Fique à vontade. Relaxe. Por favor, me diga o que deseja.
Respirei fundo, avaliando minha capacidade de me expressar. Disse com dificuldade:
— Estou com um problema no meu casamento. Preciso orientação.
Ela parecia muito calma, e falou numa voz muito suave e tranquila:
— Muito bem. Pode me dizer o que se passa? Nossa conversa é confidencial. Pode ficar tranquilo.
Quando ela falava, ficava ainda mais evidente sua beleza e poder de atração. Sua voz era ligeiramente mais greve e de uma sensualidade incrível. Eu estava até intimidado com aquilo. Vi que não podia mais enrolar e falei:
— Descobri ontem que a minha esposa me trai já faz muito tempo.
Sem demonstrar nenhuma alteração no seu humor ou semblante, ela perguntou:
— Tem certeza disso?
— Sim, tenho, reuni provas e evidências concretas. Respondi com convicção.
Ela perguntou:
— E como você se sente diante disso? Me diga, o está sentindo?
Eu não esperava aquela pergunta, e fiquei embaralhado. Tentei explicar:
— Fiquei revoltado, foi um choque. Depois veio a raiva pois já havia evidências mas eu não desconfiei. Me sinto destruído.
A Doutora Gracietta respondeu:
— Você agiu corretamente nestes casos. Veio procurar aconselhamento profissional. É muito importante.
Ela se calou e eu fiquei ali olhando para ela. Falei:
— Estou sem saber o que devo fazer. Senti muita raiva e principalmente revolta com a minha ingenuidade.
Ela perguntou:
— Primeiro, preciso saber se está confortável para contar mais detalhes, falar sobre isso comigo, e se sente confiança em compartilhar isso. É um momento delicado e de trauma.
Minha primeira reação foi de me recolher, e encerrar aquela entrevista. Senti muita dificuldade de contar o que se passou. Ainda mais para aquela mulher maravilhosa. E me obrigava a contar toda a história, mexer na ferida. Fiquei em silêncio por uns momentos. Na hora, me deu uma vontade enorme de chorar, e mesmo tentando resistir, as lágrimas começaram a escorrer, minha garganta travou e eu acabei mesmo chorando, soluçando, sem conseguir dizer nada. Ela esperou pacientemente a minha recuperação. Quando aquela crise de choro passou, uns três ou quatro minutos depois, respirei fundo, e resolvi dar a resposta. Eu disse:
— É como se me tirassem o chão, vejo a minha vida sendo destruída, e tudo que eu fiz jogado no lixo. Eu gostava muito dela. Jamais pensei que ela me faria isso.
Ela concordou com a cabeça e com muita calma falou:
— Me deixa explicar umas coisas. Talvez o ajude. Traição no casamento geralmente, retrata uma quebra de confiança ou de compromisso estabelecido entre os cônjuges. Se concretiza com um relacionamento romântico ou sexual que um dos cônjuges tem fora do casamento, sem o conhecimento ou consentimento do outro. Algumas formas comuns de traição incluem a infidelidade física, com uma parte tendo um relacionamento sexual com alguém fora do casamento.
Ela deu uma ligeira pausa. Prosseguiu:
— Também tem a infidelidade emocional, que envolve desenvolver uma conexão emocional íntima com alguém fora do casamento, mesmo que não haja contato físico. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio de conversas profundas, troca de mensagens ou compartilhamento de segredos. E a traição financeira, que ocorre quando um cônjuge esconde ou mente sobre gastos, dívidas, ganhos, investimentos ou qualquer outra questão financeira. Mas, provavelmente, a primeira pergunta que você fez, e que mais pede respostas, foi: “por quê”?
— Exatamente. – Eu falei.
Ela continuou:
— São muitas as consequências da traição, e devastadoras, e é natural querer saber por que seu parceiro ou parceira escolheu ser infiel. Às vezes, entender a situação pode ajudar a pessoa traída a superar melhor essa fase de dor aguda ao descobrir a traição. Por isso, conversar, contar, refletir, com alguém de confiança, pode ser útil nesse processo.
Ouvindo-a falar, percebi que ela entendia exatamente o que se passava e disse:
— Eu deixei acontecer e não fiz nada.
Ela retomou a fala:
— É importante que a pessoa traída perceba que não importa o quanto ela se sinta culpada, ela não é a responsável pela traição. Você não tem essa culpa. É fundamental entender isso. A primeira coisa que a psicologia nos ensina é que a infidelidade é um fenômeno complexo e multifatorial. Pode significar algo muito além de impulso sexual. Diversas razões podem levar uma pessoa a trair, muitas das quais estão enraizadas em questões emocionais e na própria dinâmica do casal. Os motivos mais frequentes incluem negligência emocional, sensação de invisibilidade, rotina, carência afetiva, ressentimentos acumulados, dificuldade de encarar e comunicar as faltas dentro da relação, fraqueza diante de assédios, e são somente alguns dos mais identificados. Além dos fatores individuais e relacionais, há também influências mais amplas que vêm da própria cultura contemporânea. Mas há também um pano de fundo mais amplo, de ordem sociocultural: vivemos em uma era de supervalorização do eu, marcada pelo imediatismo, pelo consumo e busca incessante por satisfação pessoal. Nesse contexto, a infidelidade pode ser compreendida como um sintoma de um individualismo crescente - uma tentativa, muitas vezes inconsciente, de resgatar o desejo, reafirmar a própria identidade, ou preencher lacunas internas, por meio da novidade e da validação externa. Para já, o primeiro passo correto você já deu.
A doutora deu outra pausa. Mas retomou logo:
— Sempre recomendamos que não se deve tomar decisões precipitadas. Antes de optar por continuar ou terminar o casamento, deve dedicar um tempo para curar as feridas, e para entender o máximo possível o que está por detrás de tudo isso. Procurar ajuda é muito importante. Expliquei isso, para que você tenha mais confiança em se abrir, para que possamos entender melhor o caso e a melhor abordagem a ser feita.
Quando ela terminou de explicar, eu entendi que realmente, precisava me abrir e contar o que havia se passado. Tomei fôlego e comecei a contar desde o começo. Narrei todo o processo, inclusive dando detalhes das situações, exatamente como tinham acontecido e como eu viera a descobrir. Falei por quase quarenta minutos. Algumas vezes, eu peguei meu telefone e mostrei algumas das imagens que eu tinha obtido no perfil do Malan e da Louise. Perdi totalmente o receio e mostrei as cenas de sexo, as mensagens da Size com a Louise, e até o vídeo da minha esposa fazendo sexo. Percebi que a psicóloga ou sexóloga, olhava com muita atenção a tudo, sem tecer nenhum comentário. Apenas notei que ela ficava um pouco tensa ao ver as imagens. Tive que contar da minha ingenuidade em confiar neles e não desconfiar do que estavam fazendo.
A Dra. Gracietta me ouviu atentamente, algumas vezes tomando anotações num bloco de papel ao seu lado na mesa. Quando eu terminei de falar ela explicou:
— Vou recomendar um afastamento temporário do serviço, você não está em condições de trabalhar na sua função agora, darei um atestado receitando uma semana de licença. Vou cuidar pessoalmente do seu caso. Vamos ter uma série de encontros diários e você fará as sessões aqui mesmo. Seria ideal que você e sua esposa ficassem separados, se houver condição disso, se evitassem encontros, confrontos e discussões.
Eu disse:
— Doutora, ela não sabe ainda que eu descobri tudo. Discutimos ontem, e eu saí de casa. Não voltei, e não nos falamos mais. Eu descobri tudo depois que saí, como lhe contei.
Ela fez que compreendeu e disse:
— Seja sincero com ela, diga que ficou abalado, perdeu a confiança e precisa de um tempo afastado para se reequilibrar emocionalmente. Não precisa dar detalhes. Ela sabe que agiu mal. Evite entrar em discussão ou acusações. Peça apenas o direito de afastamento. Você tem condições de fazer isso?
Eu tinha cartões de crédito e uma certa economia que me permitia ficar no hotel. Falei que sim e já fiquei planejando como faria para ir em minha casa pegar roupas e outras coisas.
A doutora disse:
— Infelizmente, sua hora de atendimento chegou ao final. Nos vemos amanhã, no mesmo horário. Pode ser?
Concordei, e ela me pediu meu e-mail dizendo:
— Vou lhe encaminhar um material para que você leia, antes da nossa sessão. E passarei um exercício de escrever os seus pensamentos pois isso ajuda a melhor cognição dos fatos.
Eu agradeci, e me despedi. Saí dali, um pouco mais controlado. Havia entendido que as decisões que eu tivesse que tomar, seriam feitas após aquela semana de aconselhamento. Mas, o mais importante, é que aquela mulher maravilhosa me transmitiu uma calma e uma segurança tão grandes, que eu senti que não estava sozinho, havia alguém que estava ali para me orientar e parecia muito competente. Decidi sair dali e ir diretamente no departamento de pessoal da empresa, para apesentar o meu atestado. Pretendia falar com o meu chefe também, e explicar por alto o que e passou.
Continua na parte 4.
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