O Silencio. iV

Da série O silêncio
Um conto erótico de Fiapo
Categoria: Heterossexual
Contém 1073 palavras
Data: 21/06/2025 01:32:24

Capítulo IV – Protocolo de Reeducação

Dois dias depois, Marcos voltou ao consultório de doutora Helena, a terapeuta sexual. A sala estava com a mesma iluminação suave e o aroma discreto de lavanda no ar. Ele se sentou com mais hesitação do que da primeira vez, ainda afetado pelos ecos da sessão com Ana e Regina.

Doutora Helena o recebeu com um sorriso profissional e direto.

— Marcos, fico contente por ter voltado. Recebi as anotações da Dr Regina. Imagino que foi uma sessão intensa.

Ele assentiu.

— Foi. Eu me senti... despido. Literalmente e metaforicamente. Mas também... um pouco menos sozinho.

Ela abriu o caderno de anotações e cruzou as pernas com elegância.

— Ótimo. É aí que começamos. Você está disposto a passar por um processo de reeducação erótica e emocional? Vai ser gradual, mas exige entrega.

— Estou disposto. Só... tenho medo de falhar.

— O medo vai estar aí. Mas o que importa é como você lida com ele. Agora, Marcos, vamos falar de treinamento. Você vai passar por uma série de pequenos exercícios semanais. Alguns envolvem seu corpo, outros sua percepção. Nenhum é aleatório.

Ela pegou um pequeno envelope pardo, lacrado, e o entregou a ele.

— Dentro deste envelope, há três tarefas para esta semana. Você vai realizá-las sozinho, registrar suas impressões — escritas e sensoriais — e me trazer na próxima sessão. Não precisa entender tudo agora. Só confiar no processo.

Marcos abriu o envelope ali mesmo. Leu silenciosamente:

Durante o banho, dedicar cinco minutos diários para explorar o próprio corpo com óleo, sem pressa e sem objetivo de excitação direta. Observar sensações.

Usar uma peça íntima não convencional em casa, por ao menos duas horas, enquanto realiza tarefas cotidianas.

Redigir uma carta (não entregue) para Ana, dizendo tudo que sente quando pensa em se submeter, em falhar ou em ceder o controle.

Marcos franziu a testa ao reler o item dois. Levantou os olhos, visivelmente desconcertado.

— Desculpe... mas o que seriam exatamente... peças íntimas não convencionais?

Helena sorriu com paciência e respondeu:

— Tudo aquilo que, para você, fuja da sua zona de conforto. Pode ser uma calcinha de renda, uma cinta-liga, uma meia 7/8, até mesmo uma camiseta justa feminina. Não importa a peça em si, mas a sensação que ela provoca em você. O foco é deslocar o corpo da zona habitual e observar o que vem à tona: desconforto, excitação, culpa, curiosidade. Esse é o ponto.

Marcos corou e baixou os olhos, mas não devolveu o envelope. Apenas assentiu, em silêncio.

— Isso... parece muito. Parece estranho.

— O estranho é o que ainda está fora do seu mapa. Mas é aí que está o tesouro, Marcos. Confia em mim. Nenhum desses exercícios é castigo. São portas. Você escolhe se quer atravessar.

Ele segurou o envelope com mais firmeza e murmurou:

— Eu vou tentar.

Helena fez um gesto positivo com a cabeça, mas logo prosseguiu:

— Antes de encerrar, quero que me diga algo com clareza. Regina mencionou que você e Ana firmaram um acordo: uma última tentativa “do jeito normal”, como você mesmo disse, mas com uma condição. Pode descrever esse acordo?

Marcos respirou fundo.

— Sim. Ela disse que aceitaria tentar uma última vez sem os brinquedos... mas se eu falhar, ela vai escolher uma prenda. E eu teria que cumprir, sem discutir.

Helena apoiou o cotovelo no braço da poltrona e entrelaçou os dedos.

— E você acha que tem condições reais de cumprir esse acordo? Consegue imaginar-se sustentando essa tentativa e, se falhar, aceitando a consequência?

Marcos hesitou. Olhou para o envelope nas mãos e depois para o chão.

— Não sei. Tenho medo de falhar. E mais ainda do que ela pode pedir como prenda.

A terapeuta o observou por um instante, depois perguntou com voz firme, porém serena:

— Marcos... você disse “do jeito normal”. Mas o que seria isso, exatamente? Porque, pelo que Regina relatou e Ana deixou claro, talvez a forma mais honesta de se conectarem agora... seja você, sim, vestido com a fantasia que ela pediu. Você já parou para pensar se esse “normal” que está tentando resgatar é, na verdade, uma fuga do que realmente deseja ou precisa enfrentar?

Marcos ficou em silêncio. Um leve rubor subiu-lhe ao rosto. Ele não soube responder de imediato.

— Talvez... — murmurou, depois de um tempo — talvez você tenha razão. Mas não sei se estou pronto.

— Ninguém está pronto antes de atravessar. E é por isso que os exercícios existem — concluiu Helena. — Agora, além da carta para Ana, quero que escreva uma nota para si mesmo com a resposta sincera a esta pergunta: “Que tipo de prenda eu estaria realmente disposto a aceitar, sem me destruir ou fugir?” Pode ser simbólica, sensual, provocadora — mas precisa ser algo que você assuma como parte do processo, não como punição.

Marcos assentiu devagar, como quem começa a entender a profundidade do caminho que se abria.

— Certo. Eu vou fazer isso também.

Doutora Helena sorriu com tranquilidade:

— Ótimo. Porque o que nos transforma não é o que acontece com a gente, mas o que escolhemos fazer com o que sentimos.

Ela então se inclinou levemente para frente e completou:

— Quero que você marque uma sessão noturna comigo. Uma sessão especial. Hoje à noite. Vamos realizar um treinamento mais prático — com consentimento, limite e consciência — onde vamos explorar exatamente aquilo que você mais teme, e que talvez também mais deseje. Tudo no seu tempo. Mas é hora de começar a tocar essas bordas.

Ela fez uma breve pausa e explicou:

— Tocar as bordas, Marcos, significa se aproximar dos seus próprios limites — emocionais, sensoriais, simbólicos — e encará-los com curiosidade em vez de medo. Essas bordas são onde a transformação acontece. Não é sobre ultrapassá-las à força, mas sobre reconhecê-las, provocá-las suavemente, e entender o que existe do outro lado. Quando evitamos nossas bordas, evitamos crescer. Mas quando nos aproximamos delas com consciência, algo dentro da gente muda.

Ela então folheou uma ficha adicional, fez uma pequena anotação e comentou:

— Ah, e antes que eu me esqueça: quero que você comece a frequentar uma academia. Já recomendei a professora Camila, ela entende o tipo de trabalho corporal que vamos integrar ao seu processo. Diga que foi indicação minha. E importante: você deve focar menos nos braços e mais em fortalecimento de abdômen e pernas. Pouco exercício para os braços, muito para as bases do corpo. Confie na orientação dela, isso vai fazer sentido com o tempo.

Marcos engoliu em seco e assentiu, surpreso, mas sem fugir.

Fim do Capítulo IV.

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