Onde o mar nos levou - Capítulo XXXIII

Um conto erótico de Rafa & Caio
Categoria: Gay
Contém 3012 palavras
Data: 23/12/2025 12:57:58

Capítulo XXXIII — No banco dos réus!

Caio narrando...

Os dias que se seguiram após a libertação provisória de Rafael foram de um silêncio novo. Não aquele silêncio pesado que habita a dor, mas o tipo de silêncio que antecede a cura, o mesmo que o mar faz antes de uma onda se erguer. Rafa estava em casa, e ainda assim, às vezes, parecia longe. Dormia mal, acordava suado, o corpo reagindo ao que a alma ainda não conseguia esquecer. Às vezes, eu o encontrava sentado na varanda, enrolado no cobertor, os olhos perdidos no horizonte.

Eu me aproximava devagar, sentava ao lado, e deixava o tempo agir.

— Dormiu um pouco? — eu perguntava.

— Dormi… mas sonhei de novo.

— Com o de sempre?

Ele assentia, sem me encarar. O olhar fixo no céu, como se tentasse apagar as sombras que ainda o assombravam.

Nas primeiras semanas, cuidei dele como quem cuida de um campo depois do incêndio. Limpei as feridas com delicadeza, troquei os curativos, dei remédios, e o mais difícil de todos: o tempo. O tempo que não cura sozinho, mas dá espaço pra dor respirar.

Às vezes, ele chorava, sem dizer por quê. Às vezes, eu também chorava, em silêncio, pra não o fragilizar. Dormíamos abraçados, e quando ele acordava no meio da noite, assustado, eu apenas dizia:

— Respira comigo, Rafa. Respira. Eu tô aqui.

A cada dia, o rosto dele recuperava um pouco mais de cor. As marcas no corpo iam sumindo, mas as outras [as invisíveis] demoravam mais. E era por elas que eu mais temia.

Mamãe vinha quase todos os dias. Cuidava, cozinhava, sorria com aquele carinho firme de quem conhece o peso da vida. E, quando o assunto vinha, ela apenas dizia:

— O amor é a melhor anestesia pra qualquer dor, Caio. Continua amando ele, só isso.

E eu amava. Mesmo nos dias em que ele não conseguia sorrir. Mesmo quando o olhar dele fugia do meu. Eu amava porque era o que restava fazer.

Até que chegou o dia da audiência. O dia em que o mundo ia, enfim, ouvir o que de fato aconteceu.

Acordamos antes do sol nascer. A cidade ainda dormia, o céu tingido de azul e cinza. O ar parecia mais pesado, como se carregasse nas nuvens a tensão que pairava sobre nós.

Rafa vestiu uma camisa branca. Eu o ajudei a abotoá-la, porque as mãos dele tremiam demais.

— Vai dar tudo certo — eu disse, ajeitando o colarinho. Ele respirou fundo.

— Não sei se acredito nisso ainda.

— Então acredita em mim.

Mamãe apareceu na porta do quarto, com um sorriso doce e firme.

— Prontos? — perguntou.

— Prontos — respondi, ainda que por dentro eu estivesse desmoronando.

No caminho, o carro seguia silencioso. Rafael olhava pela janela, e mamãe segurava as mãos dele entre as dela. Eu dirigia devagar, tentando ignorar a tensão que me corroía por dentro. Quando chegamos, a delegacia parecia menor, mas o prédio do tribunal , aquele sim impunha respeito. O chão frio, as paredes de mármore, o eco dos passos. Tudo ali tinha o peso da verdade, mas também o medo dela.

Sentamos na terceira fileira. À frente, o juiz ajeitava papéis, o promotor organizava documentos, e o advogado de defesa, Dr. Henrique, conversava com um assistente.

Rafael respirava com dificuldade. Dona Eloísa estava ao nosso lado, calada, mas observando tudo ao redor. Ela apertava a mão de Rafa e com o olhar dizia que tudo ficaria bem.

Eu o observei, os dedos entrelaçados aos meus, os olhos marejados. Mamãe passou a mão no ombro dele, como quem o abençoa.

— Vai dar certo, meu filho — ela sussurrou.

Então, o juiz bateu o martelo.

— Declaro aberta a sessão referente ao processo número, referente a Rafael Santos Montenegro.

A sala ficou em silêncio. Só se ouvia o barulho das canetas, o farfalhar dos papéis e a respiração contida de todos.

O promotor foi o primeiro a falar. Levantou-se, ajeitou os óculos e caminhou até o centro da sala.

— Meritíssimo, estamos diante de um caso grave. Um homicídio seguido de uma tentativa de ocultação de provas, além de indícios de um suposto sequestro. No entanto, a promotoria reconhece que há inconsistências nas primeiras versões apresentadas, e novas provas indicam que o réu pode ter agido em legítima defesa. Ainda assim, precisamos ouvir os depoimentos das partes e compreender a dinâmica dos fatos.

Rafael abaixou a cabeça. Eu toquei o joelho dele por baixo da mesa.

— Eu tô aqui — sussurrei.

O advogado de defesa, Dr. Henrique, se levantou em seguida.

— Excelência, o senhor Rafael Santos Montenegro é réu primário, funcionário de confiança de uma empresa de renome, e até o dia do ocorrido, não havia uma única ocorrência criminal em seu nome. O que ele viveu não foi crime, foi sobrevivência. Ele foi sequestrado, torturado, ameaçado de morte. E, no momento em que reagiu, o fez para defender a própria vida e a do companheiro, Caio Amaral. As provas estão aqui, assim como os laudos médicos e os depoimentos das testemunhas.

O juiz assentiu.

— Que o senhor Caio Amaral Junior se dirija à tribuna.

Senti as pernas vacilarem. Levantei, caminhei até o centro da sala, e olhei em volta. O som do meu coração parecia mais alto que o murmúrio das pessoas.

— Senhor Caio — disse o juiz —, o senhor confirma que estava presente no momento do ocorrido?

— Sim, meritíssimo. Eu estava com ele.

— Conte ao tribunal o que aconteceu.

Engoli seco. Respirei fundo.

— Nós estávamos juntos na sala do hospital, Augusto entrou como se fosse um médico, trajado como um, mas eu achei seu comportamento estranho e descobri quem realmente era. Eu o reconheci na hora: era Augusto Montenegro, pai de Rafael. Ele estava alterado, gritava, chamando Rafael de ingrato, dizendo que o deserdaria por causa de mim…

Um burburinho ecoou na sala. Continuei.

— Eu tentei intervir, mas ele tentou me prender no banhero e apontou a arma pra mim. Tentei desarmá-lo e tivemos uma luta corporal. Rafael, com muita dificuldade, pegou a arma para tentar me defender. Seu pai já havia vociferado insultos e ameaças e ele disparou… Augusto foi atingido.

O juiz anotava algo, o promotor observava atentamente.

— Então, o senhor confirma que a intenção de Rafael não era matar?

— Não, senhor. Ele só queria me proteger.

O advogado de defesa se aproximou.

— Caio, durante o período em que Rafael esteve detido, o senhor teve contato com ele?

— Sim. Pouco tempo depois… — a voz falhou. — Quando eu o vi, ele estava machucado. Marcas nas costas, nos braços… ele tinha sido espancado por guardas.

O promotor se levantou de novo.

— O senhor tem provas disso?

— Tenho fotos. Tirei escondido, quando ele ainda estava sob custódia. Entreguei à defesa.

Um novo burburinho tomou a sala. O juiz pediu silêncio.

— Isso será analisado com prioridade. Continue.

Falei por longos minutos: sobre os dias no hospital, sobre o medo, sobre o amor. Quando terminei, senti um peso sair do peito. O juiz agradeceu e pediu que eu voltasse ao assento.

Em seguida, foi a vez de Dona Eloísa.

Ela caminhou até o centro da sala com elegância e firmeza. A roupa sóbria, o olhar decidido.

— Senhora Eloísa, qual a sua relação com o réu?

— Sou mãe dele.

— O que a senhora tem a dizer sobre o ocorrido?

Ela respirou fundo antes de responder:

— Rafael sempre foi um bom filho. Um homem justo, sensível, dedicado. Mas o pai dele, Augusto, sempre foi um homem difícil. Controlador. Quando descobriu o relacionamento do meu filho com Caio, perdeu completamente a razão. Eu sabia que isso tudo poderia acontecer, pois meu ex-marido odiava Caio e queria destruir Rafael. Meu filho foi preso, ferido, e acusado de algo que não cometeu. Ela fez uma pausa, a voz embargando. — O que aconteceu foi uma tragédia, mas não um crime. Meu filho lutou para sobreviver. Ele é vítima de um sistema e de um homem que jamais aceitou vê-lo feliz.

O silêncio que seguiu suas palavras era quase sagrado.

O juiz pediu para chamarem o casal que havia me resgatado na estrada.

E foi então que Sr. Anselmo e Dona Carmem entraram. Ele, um senhor de terno simples, rosto cansado, mas firme. Ela, de vestido florido, com um olhar doce que transbordava humanidade.

— Sr. Anselmo — disse o juiz —, o senhor pode relatar o que viu?

— Claro, excelência. — Ele ajeitou os óculos. — Eu e minha esposa estávamos voltando do sítio quando vimos um rapaz caído à beira da estrada, coberto de poeira e sangue. Paramos, achamos que estava morto. Mas ele abriu os olhos e sussurrou: “Não deixem que me levem de volta.”

Dona Carmem completou, a voz embargada:

— Nós o levamos para o hospital, era a coisa mais sensata a se fazer naquele momento. Ele mal falava, tremia muito, e só gemia o nome de Caio. Por estar naquele estado, consideramos prudente agir assim.

O promotor perguntou:

— Ele mostrou comportamento agressivo em algum momento?

— Nunca. — respondeu ela, firme. — Só medo. Um medo que cortava o coração da gente.

O juiz agradeceu e os dispensou.

Mas antes de saírem, Rafael se levantou e caminhou até eles.

— Eu... — a voz falhou — não sei se algum dia vou conseguir agradecer o bastante. Vocês salvaram minha vida.

Dona Carmem o abraçou, e o choro contido se rompeu.

— Você não nos deve nada, meu filho. Só viva. Viva de verdade.

O som abafado de fungadas e suspiros ecoou pela sala. Até o juiz desviou o olhar por um instante, tocado pela cena.

Por fim, o juiz pediu que Rafael falasse.

Ele se levantou devagar, as pernas trêmulas, o olhar firme.

— Senhor Rafael, o senhor confirma o que foi dito?

— Confirmo, meritíssimo.

— Deseja acrescentar algo?

Ele respirou fundo.

— Eu não queria que ninguém tivesse morrido. Nem mesmo ele. Eu só queria viver em paz, ser quem eu sou, amar quem eu amo. Durante anos, vivi com medo. Medo do meu pai, medo de decepcionar, medo de existir. E naquele dia… o medo virou coragem. Eu só queria proteger o Caio. Se tivesse que fazer de novo, eu faria, pois eu o amo mais do que minha vida.

Senti meus olhos arderem, com tamanha coragem e declaração.

O juiz o observou com atenção. O promotor não ousou interromper.

Dr. Henrique, então, se levantou novamente.

— Excelência, não estamos diante de um criminoso, mas, sim, de um sobrevivente. O relatório da perícia e as câmeras do hospital são claros: Augusto Montenegro invadiu a sala do hospital armado e vestido como médico, lá dentro ele tentaria envenenar Rafael com uma potente toxina, que a perícia encontrou no local. Ele ameaçou os dois, e morreu após uma luta corporal. Todos os indícios apontam para legítima defesa. Além disso, há provas do sequestro e tortura sofridos por Rafael durante o período em que esteve detido. Este tribunal não pode condenar alguém por se defender.

O juiz fez sinal de silêncio, levantou-se e recolheu os papéis.

— A corte fará uma breve pausa antes da leitura do veredito.

O intervalo foi de meia hora, mas pareceu uma eternidade. Rafael segurava minhas mãos com força. Mamãe olhava pra frente, rezando baixinho. Dona Eloísa parecia aflita, mas certa de que Rafa seria considerado inocente.

Quando o juiz voltou, todos se levantaram. Ele ajeitou os óculos e começou:

— Após análise das provas, dos depoimentos e dos laudos periciais, este tribunal reconhece que Rafael Santos Montenegro agiu em legítima defesa ao reagir à agressão armada de Augusto Montenegro, sendo ainda vítima de sequestro, tortura e abuso de autoridade durante sua detenção.

O juiz fez uma breve pausa.

— Diante disso, declaro o réu inocente de todas as acusações.

O som do martelo ecoou como um trovão.

Rafael desabou em lágrimas. Eu o abracei, Dona Eloísa, Miguel e mamãe se juntou a nós, num abraço de alívio, dor e amor. O salão inteiro se ergueu, alguns aplaudindo, outros chorando discretamente. Ele tremia, as mãos no meu rosto, os olhos marejados.

— Eu tô livre, Caio… eu tô livre.

Eu sorri entre lágrimas.

— Sempre esteve, amor. Só precisava que o mundo acreditasse nisso também..

Dona Eloísa se aproximou e passou a mão no ombro dele.

— Meu filho… agora você pode viver.

Rafael ainda estava abraçado a mim e a mamãe, os olhos marejados, a voz embargada de emoção. Quando o viu, congelou por um instante.

Miguel sorriu de leve.

— Posso ou o momento ainda é exclusivo da família?

Rafael soltou uma risada fraca, ainda trêmula.

— Sempre tem espaço pra você, Miguel.

Eles se abraçaram forte, como quem sela o fim de um pesadelo. Miguel apertou os ombros dele com firmeza.

— Você tá vivo, irmão. Isso é o que importa. — A voz dele falhou um pouco. — Eu juro que se esse juiz tivesse dito qualquer outra coisa, eu mesmo derrubava essa mesa.

Rafael riu, meio sem fôlego.

— Você não muda, né? Sempre pronto pra brigar por mim.

— E você sempre pronto pra se meter em confusão — respondeu Miguel, meio sério, meio brincando.

Por um momento, eles ficaram em silêncio. Só o som dos passos e das conversas distantes ecoava pelo corredor. Miguel olhou de perto para o rosto de Rafael, notando algumas cicatrizes.

— Eles fizeram isso com você lá dentro?

Rafael desviou o olhar.

— Não quero falar disso agora.

— Mas devia. — Miguel insistiu, a voz firme.

— Devia contar tudo, pra ninguém mais passar pelo que você passou.

Rafael assentiu devagar.

— Eu vou. Só... preciso respirar primeiro.

Miguel suspirou, passando a mão pelo cabelo.

— Eu fiquei com medo, cara, de te perder. Quando soube do que estavam fazendo contigo, eu quis invadir aquela delegacia.

— Eu sei — respondeu Rafael, emocionado.

— Caio me contou o quanto você se mexeu pra me ajudar.

Miguel deu um meio sorriso.

— Não precisava de muito pra saber que você não era culpado. Eu só fiquei com medo de que ninguém te ouvisse.

Rafael olhou pra ele com gratidão sincera.

— Você foi uma das poucas pessoas que acreditaram em mim desde o início.

Miguel deu um leve empurrão no ombro dele, como costumava fazer antes de tudo isso acontecer.

— Claro que acreditei. Te conheço, idiota. Só achei que, da próxima vez, você podia me dar menos trabalho.

Eles riram juntos, e o riso soou como um respiro de paz depois de meses de angústia.

Miguel olhou pra mim e assentiu, num gesto silencioso de respeito e cumplicidade.

— Cuida dele, Caio. Esse teimoso ainda vai dar muito trabalho.

— Sempre cuidei — respondi, com um leve sorriso. — E agora não largo mais.

Rafael olhou para nós dois, os olhos marejados de novo, mas dessa vez de alegria.

— Vocês são parte da minha vida. Sem vocês, eu não tinha chegado até aqui.

Miguel respirou fundo, a voz firme e emocionada:

— Então faz valer a pena, irmão. Vive. Esquece o que te feriu, mas nunca esquece o que te salvou.

Rafael assentiu, e o silêncio que veio depois foi cheio de significado.

Miguel se afastou um pouco, deu um último abraço rápido nele e disse:

— Agora vai. O mundo lá fora tá te esperando.

Do lado de fora, o sol caía sobre nós. O vento leve bagunçava o cabelo dele, e eu o olhei como quem vê o mar pela primeira vez.

E foi assim, entre lágrimas, sorrisos e um amor forjado na dor, que Rafael deu os primeiros passos como um homem livre. Do lado de fora, o sol já se escondia, mas pela primeira vez em muito tempo, a vida voltava a nascer dentro dele.

E a partir dali, começaríamos a reconstruir o que o medo tentou destruir.

Naquela noite, ninguém teve coragem de chamar aquilo de comemoração. Voltamos pra casa em silêncio, como se qualquer palavra mais alta pudesse acordar o pesadelo de novo. Rafael seguia ao meu lado, a mão entrelaçada na minha, como se ainda precisasse confirmar, a cada passo, que não estava sendo levado para longe outra vez.

Quando fechamos a porta do apartamento, ele parou no meio da sala. Olhou em volta devagar, como quem retorna a um lugar conhecido depois de muito tempo ausente.

— É estranho… — ele murmurou.

— O quê? — perguntei.

— Estar aqui livre. — engoliu seco. — Parece que meu corpo ainda tá esperando alguém dizer que foi engano.

Não respondi. Apenas o abracei. E ele cedeu. Não foi um choro alto, nem desesperado. Foi um choro contido, cansado, de quem segurou o mundo nas costas por tempo demais. Senti sua testa no meu ombro, o corpo ainda rígido, como se relaxar fosse perigoso.

— Acabou, Rafa — sussurrei. — Você tá em casa.

Ele assentiu, mas não se afastou.

Dormimos pouco. Não por medo — mas por excesso de realidade.

Rafael acordou várias vezes durante a madrugada, os olhos abertos no escuro, respirando fundo, como se estivesse reaprendendo a existir sem grades, sem vigilância, sem culpa.

Quando o sol nasceu, ele já estava acordado.

Encontrei-o na varanda, descalço, apoiado no parapeito, o rosto virado para a luz. O vento mexia de leve seus cabelos, e por um instante, ele parecia… inteiro. Não curado. Mas presente.

— Não consegui dormir direito — ele disse, sem me olhar.

— Eu também não.

Ficamos ali, em silêncio. Um silêncio diferente. Não aquele da dor, mas o silêncio de quem ainda não sabe o que fazer com a paz.

— Caio… — ele chamou, a voz baixa.

— Oi.

— Você acha que um dia eu vou parar de sentir culpa?

A pergunta veio sem aviso. Sincera. Crua.

Respirei fundo antes de responder.

— Acho que a culpa não some de uma vez. Mas ela diminui quando a gente lembra por que sobreviveu.

Ele me encarou então. Os olhos ainda marcados, mas vivos.

— Eu sobrevivi por você.

— E eu sobrevivi por você também — respondi. — A gente se salvou junto.

Rafael fechou os olhos, deixando o sol bater no rosto.

— Eu quero aprender a viver agora. Mesmo com medo. Mesmo quebrado.

Passei o braço ao redor dele, puxando-o para perto.

— Então a gente aprende devagar. Um dia de cada vez.

Lá dentro, ouvi o som de passos. Mamãe acordava, tinha ficado conosco. A casa começava a despertar. A vida, aos poucos, retomava seu lugar.

Rafael respirou fundo mais uma vez. Mas dessa vez, não havia pânico. Só cansaço… e algo novo. Esperança!

E pela primeira vez desde que tudo começou, eu soube: não estávamos apenas livres. Estávamos começando.

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 35Seguidores: 5Seguindo: 2Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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