O fundo mais fundo do poço mais fundo
Leon Medrado
Era a terra do sexo sadio, da liberdade, do prazer, do carnaval, e da alegria. Ainda “nem era um País muito sério”, conforme Charles De Gaule diria nos pós Grande Guerra.
No início, bem no início, todos andavam nus e ninguém era dono de nada além de seus objetos pessoais, o arco, a flecha, o tacape, a zagaia, a tanga de penas e a rede de dormir. O resto era coletivo. Até os filhos. Era muito bom, nadar nos rios, pescar, caçar, plantar, colher, foder no mato ou na Oca, nas redes de palha, furunfando gostoso entre eles mesmos, a bocetinha das nativas dos povos originários. (Fazer conto erótico com texto politicamente correto é phoda!) E adoravam guerrear também por pura tradição.
Foi assim por muito tempo, séculos mesmo. Mas, nada do que é bom dura para sempre. E um dia, chegaram os “filhos de cristo”. Se diziam “Servos do Senhor”, fiéis às leis de Deus! Pasmem! De armas numa mão e uma cruz na outra.
Os brancos libidinosos e violentos da Idade Média e da Inquisição, acostumados a queimar mulheres sábias nas fogueiras, chegaram com a palavra de deus (eles diziam), seus paus de fogo cuspindo chumbo quente, e espadas sangrentas, escravizando, matando, estuprando, e roubando o que podiam, com uma cruz em sua bandeira, a bênção do Papa e a autorização D´El Rei. A putaria sem lei em nome de deus, tomou conta da Terra de Santa Cruz. E a Terra Brasilis que se foda!
Nada mais pornográfico, mais violento, mais atroz do que esse período. Por isso esta história aqui, fechando com chave de cadeia os meus contos eróticos.
Quatrocentos anos de exploração, de muita escravidão, enforcamentos, esquartejamentos, de pilhagens e contrabando, no meio da putaria que continuava, onde os brancos se entregavam aos prazeres da lascívia no escuro da Senzala. A carne quente da negra recebendo o falo duro do branco, fecundando o óvulo africano, e o mastro rijo do negro prisioneiro, abusado na sua virilidade cativa, arregaçando as carnes alvas das bocetas branquinhas devassas, ensandecidas pelo tamanho e grossura da “peça”. Preto era coisa, objeto, pior do que animal, e por isso, podiam usar quanto quisessem. Covardes exploradores. O suor dos corpos destilava cana, porra e gordura animal.
“Menina D´Angola que traz o chocalho, amarrado na canela, será que meu falo branquinho satisfaz o ardente desejo dela”?
O povo foi se misturando, mestiçando, e aprendendo com quem mandava, a devassidão, a falta de caráter e a falta de honradez. Prometer mas não cumprir virou cultura. Até hoje é assim. Pode deixar… amanhã passo por lá… e nunca mais. Conhecem?
Devo, não nego, pago quando puder! Vou colocar só a cabecinha… E... Mulher de amigo meu, é ótima! Bem brasileiro, não é? Sei…
Era uma vez um país que se dizia liberal, amistoso, amoroso, sensual, cheio de amor para dar, um Estado Laico, dezenas de religiões sendo praticadas com total liberdades, os cultos de raiz africana influenciavam e abraçavam milhões numa sociedade multirracial e de mistura generalizada de povos que aqui viviam, ao som dos batuques, e lutavam para serem felizes. Parecia que era harmonioso e que eram felizes. Doce ilusão…
A terra das oportunidades, das esperanças, das grandes chances de um bom futuro para a humanidade, foi sendo semeada com o sêmen vil que escorria dos óvulos fecundados da serpente do capitalismo selvagem, pela sacanagem oportunista, pela catequização lobotomizada das bíblias demoníacas da protestância desvairada, e pela malandragem de se dar bem a qualquer preço dos africanos, que não tinham outra saída, e já que vendiam seus irmãos para o Navio Negreiro lá na sua terra, por que não, também… aqui? Era o que se podia fazer, para sobreviver.
Apesar dos pesares, das dificuldades, das desigualdades, e das injustiças, que também eram enormes, a maioria do povo irradiava a felicidade de viver e de compartilhar sua vida com as outras pessoas. Tudo terminava em samba ou em churrasco até de gente, segundo os Tupinambás na Bahia. A pizza veio bem depois. Mas, as coisas foram mudando. Megatechs e Megatrends, foram capazes de explorar e se expandir capilarmente como amebas, por todo o mundo, e aqui não foi diferente. E as Odetes Roitmans se proliferaram no Vale Tudo das redes sociais, numa sede se ostentação e materialismo alienado e egoísta que se coaduna com a mesma sanha genocida daqueles extremistas e negacionistas de direita, que além de pobres de espírito, são sem caráter, sem humanidade. Que se fodam os palestinos, segundo eles. Pobres palestinos, vendidos por um punhado de dólares, sujos de sangue.
A coisa foi piorando. Quem podia mais, aproveitava, quem não podia, ou se prostituía ou roubava, e quem não fazia nem uma coisa nem outra, se fodia na mesma, numa foda sem prazer, sem escolha, tentando sobreviver com um mínimo de integridade no meio da suruba. Prostituir-se é mais do que válido, mas tem que cobrar caro e ficar rico, senão, vira somente puta mesmo, por mais honesta que seja. As ricas já viram celebridade!
Nos últimos 60 anos, as viradas na história foram enormes. Ditadura, violência, censura, perda de liberdades, crimes inconfessados, crise econômica, numa sociedade que parecia ser a mais aberta, liberal e sensual do mundo. Só que não…
Houve resistência, houve quem se sacrificasse contra essa realidade adversa, muitos foram torturados, estuprados, mortos e desapareceram, e um dia, a ditadura caiu, negociando uma anistia, que enfiava para debaixo do tapete, a podridão dos crimes militares da ditadura. Fecharam os olhos e fingiram que nada aconteceu. Quer mais pornográfico do que isso? Numa Síndrome de Estocolmo quase coletiva, ainda se endeusam os torturadores.
Veio a “abertura” e o começo de uma era que engatinhava para ser democrática. Mas, os poderosos de hegemonia branca não iam deixar nunca o povo crescer e se organizar. Entre o fortalecimento dos sindicatos, e a luta de classe que se seguiu nos primeiros anos pós abertura, os detentores do poder econômico, jogaram pesado para manipular tudo. Corromperam a todos. Collors, Sarneys, e Sarnentos, Itamares, Magalhães e Henriques. Belos discursos. Putaria e safadeza explícita da pesada o tempo todo!
A economia era um caos, incontrolável, e com a inflação em milhares por cento ao mês, ninguém tinha a menor noção do quanto se roubava para enriquecer um punhado de Odebrechas, Oaesses, e de outros corruptores que tomavam conta do poder. E só enriquecia quem jogava sujo, com o poder do capital mancomunado ao capital internacional.
Entretanto, a luta prosseguia, até no meio dos desfiles de carnaval onde tudo era liberado, menos o Cristo mendigo, e mesmo com muita safadeza e nudez explícita no carnaval, até no camarote presidencial, e com tanguinha de crochê na praia de Ipanema, com a volta do Irmão do Henfil, dos direitos ao voto direto, com os discursos “politicamente corretos” de uma esquerda que se dizia vanguarda, mas que depois, mergulhou de vez na lambança dos corruptores endinheirados, para se manter no poder. Tudo se corrompeu mesmo. Nenhum deles passaria num crivo minimamente sério.
Aos poucos, enquanto isso, crescia uma onda moralista, igrejas pentecostais, neopentecostais, uma proliferação de cultos evangélicos em torno da máquina de arrebanhar fiéis seguidores, e de arrecadação de dinheiro, enquanto os católicos por sua vez, caindo em descrédito por conta da revelação dos abusos e estupros dentro dos conventos, escolas religiosas, dioceses e seminários, onde as verdades foram ocultas e silenciadas por décadas por sua Sanidade o Papa. A “Eguinha Pocotó” tomou conta da mente, o FUNK foi dominado pelo sistema de transformar mulheres em vedetes de rebolado e carne para o espeto dos tatuados da periferia. O crime se organizou mais do que o Estado. E nossa sociedade perdeu a inocência de vez, e abraçou totalmente a eliminação do caráter. Uma sociedade onde se pratica o incesto, o abuso de menores, a violência contra indefesos, crescem os feminicídios diariamente aos milhares, cada dia mais presentes nos noticiários, os surgimentos de grupos de preconceitos e homofobia, os moralistas, os xenófobos, os misóginos, e os falsos liberais. Tem até travesti de direita e pró fascismo machista defendendo seu algoz! Acreditem. Uma tristeza.
Assim, o caráter foi se deteriorando gradualmente e sem precedentes, pois, de Manuel Bandeira a Bruna Surfistinha, de Machado de Assis a Nelson Rodrigues, de Monteiro Lobato a Carlos Zéfiro, de Flávio Cavalcanti a Ratinho, de Chacrinha a Luciano Huck, de Silvio Santos a Banheira do Gugu, de Planeta dos Homens a Domingão do Faustão, de Grupo Abril a Roberto Marinho, de Estadão a Jornal do Brasil, de Tiazinha a Feiticeira, de Angélica a Xuxa, de Eliana e Helen Ganzarolli, de Hebe Camargo a Anna Hickmann, de Kelly Key a Anitta, não faltaram modelos, ideólogos e exemplos na TV, em doses regulares e cavalares de alienação e de deterioração do caráter dessa gente varonil, que clama aos gritos por honestidade, sinceridade, fidelidade e transparência, se diz contra a corrupção, mas vestidos de verde e amarelo, agem completamente ao contrário do que dizem e falam, por um punhado de dólares (furados).
E batem continência ao Pato Trump da Pica Rica. Cambada de sem-vergonha, lesa-pátria.
Tal como a água vai se separando e limpando, quando a areia em suspensão vai se assentando no fundo, tudo foi ficando mais evidente. Por cima águas aparentemente límpidas, mas no fundo, bem no fundo, a lama e a podridão se acumulava. E através da água mais límpida, se via o que estava no fundo do poço. As desigualdades, as minorias privilegiadas abusando cada vez mais do direito de poder manipular o poder, os meios de comunicação de massa usados para distorcer a realidade, as massas ignorantes e desinformadas, abandonadas pelo poder público, exploradas e insatisfeitas, morrendo à míngua à espera de um milagre, nas casas de apostas, nas filas do desemprego, e as coisas foram se agudizando, polarizando, extremando.
Era uma vez, nessa história toda, um site de contos eróticos. Era uma casa muito simpática e liberal. Era bom publicar histórias e se divertir com os leitores que se deliciavam com o erotismo liberado e sem medo de ser verdadeiro. Mas a onda moralista, controladora, zeladora pela moral, pela honestidade, pela defesa da sinceridade, veio escondida de seus cônjuges, através de perfis falsos, inventados, ler, se masturbar secretamente, e se revoltar com a libidinagem alheia. Aqui, tudo pode, até foder a quem quiser, basta não declarar a idade. Fazer zoofilia é normal, fazer incesto, é normal deflorar a irmã, é normal foder com o filho da irmã, o pai foder o filho, a filha e as sobrinhas, é mais do que normal, mas… trair o cônjuge numa relação mal resolvida, é o pior dos crimes. Pular a cerca, aqui, mesmo que seja uma vez apenas, e por acaso, vira crime hediondo. Logo aparece uma legião de condenadores imediatistas. Enganar o marido, é pena de morte.
Tem que combinar tudo antes, direitinho, e pegar a senha autorizando a putaria. Senão, é crime. E todos logo começam a pipocar seus julgamentos. senhores acima do bem e do mal.
O autor não consegue mais desenvolver seus enredos, logo aparecem os que dizem onde a história vai dar, para desestabilizar e incomodar, e perde a graça tentar contar para eles. Ninguém respeita o autor que pede para que isso seja evitado.
Os contos são crivados de moralismo barato, de zeladores pela transparência das relações, até que a morte os separe. Putaquipariu. Deu no saco.
Está dando nojo escrever para essa gente. O público leitor mudou. Parecem todos muito certinhos, corretos, íntegros. Pura mentira. Um poço de honestidade! Aí mora o fundo do poço. Como se a maioria dos leitores não fossem traidores, lendo escondidos de seus pares, e em segredo para satisfazer as perversidades de suas taras ensandecidas. Sinceramente, hoje eu entendo os que abandonaram o site. Perdeu totalmente a graça e o prazer de escrever para essa gente. Me desculpem os que ainda se salvam, mas está complicado separar o roto do esfarrapado. Não quero mais incomodar ninguém. Escrevo por prazer, para o prazer e com prazer. Mas está difícil continuar. Nem pedindo e explicando, os teimosos entendem. Que sejam felizes.
Leon Medrado.
Meu e-mail: leonmedrado@gmail.com
A CÓPIA E A REPRODUÇÃO DESTE CONTO EM OUTROS SITES OU BLOGS ESTÁ PROIBIDA. É EXCLUSIVIDADE DO SITE CASA DOS CONTOS ERÓTICOS