Frete com putaria

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 2459 palavras
Data: 01/08/2025 15:14:08

O sol de Campo Grande era um castigo. Um bafo quente e úmido que subia do asfalto, grudava na pele e fazia o ar parecer pesado, denso como um caldo. Para Danilo, de 24 anos, esse calor era a trilha sonora de seu estresse diário. A sua moto, uma Titan preta que já vira dias melhores, era uma chapa quente entre suas pernas. O motor vibrava, o suor escorria por suas têmporas e se infiltrava na gola da camiseta do trabalho, uma mancha escura de cansaço. E, no meio daquela tarde sufocante, ele viu o endereço no papel amassado da ordem de serviço. Aquele endereço.

​Puta que pariu. A loja do viadinho da escada.

​Ele nem precisava pensar. O corpo já reagia. Um nó se formava no estômago, um aperto na mandíbula. Cada entrega naquela loja de roupas no centro era um pequeno inferno particular. Não pela loja em si, um cubo de vidro e ar-condicionado que parecia um oásis no meio do deserto urbano. O inferno tinha nome, sobrenome e um sorriso de canto de boca que Danilo tinha vontade de apagar com um soco: Fernando. E o inferno tinha um cenário: uma escada em caracol, de metal pintado de preto, que levava ao segundo piso, o maldito estoque.

​Danilo estacionou a moto, o som do motor morrendo em um suspiro cansado. Desceu, ajeitando a calça jeans surrada no corpo. Pegou a primeira das três caixas de papelão. Eram pesadas. Roupas de inverno, jeans, moletons. Um peso morto sob um sol de trinta e oito graus. Ele empurrou a porta de vidro e o choque térmico foi a primeira provocação. O ar gelado do ambiente o abraçou, mas não trouxe alívio. Era o ar de Fernando.

​Lá estava ele. Fernando, 19 anos, sentado atrás de um balcão branco e minimalista. Magro, mas não fraco, com braços definidos que a camisa polo de manga curta fazia questão de exibir. O cabelo castanho-claro, impecavelmente arrumado, a pele branca que nunca via o sol forte da rua. Ele digitava algo no computador, mas seus olhos, de um castanho surpreendentemente escuro, desviaram-se para a porta no instante em que Danilo entrou. Um brilho de reconhecimento. E de triunfo.

​"Opa, chegou", disse Fernando. A voz era neutra, quase entediada, mas havia um subtexto ali que arranhava os nervos de Danilo. Era a calma de quem observa o esforço alheio do conforto de sua cadeira. "Pode levar lá pra cima, por favor. Segundo piso."

​A frase era sempre a mesma. Polida, profissional. E, para Danilo, era o equivalente a um "se fode aí, otário". Ele não respondeu. Apenas grunhiu algo ininteligível e se dirigiu à escada, o seu calvário pessoal.

​O primeiro degrau rangeu sob o peso de seu corpo e da caixa. O metal era frio ao toque, mas o esforço de subir fazia o calor voltar com força total. Cada passo era um exercício de contenção. Ele sentia o suor começar a brotar de novo, desta vez na nuca, escorrendo por suas costas. Os músculos de seu braço direito, o que segurava a caixa, tremiam com a tensão. Ele subia devagar, a respiração se tornando mais pesada, o som ecoando no silêncio da loja.

​E ele sentia os olhos de Fernando.

​Do seu poleiro no primeiro piso, Fernando não disfarçava. Ele parava o que estava fazendo e assistia ao espetáculo. Não era um olhar de pena ou de solidariedade. Era um olhar clínico, faminto. Ele acompanhava a maneira como a calça jeans de Danilo se esticava, desenhando a forma de suas coxas e de sua bunda a cada degrau que subia. Observava a contração dos músculos das costas sob a camiseta úmida de suor, a linha de sua coluna vertebral, o volume que se marcava na frente da calça quando ele se inclinava para se equilibrar.

​Fernando percebia a cara feia, o maxilar travado, a aura de ódio que emanava do entregador. E, por pura pirraça, por um prazer sádico e infantil, acabava não ajudando de propósito. Poderia? Claro. Poderia pegar uma das caixas, ou pelo menos abrir caminho. Mas ele preferia assistir. A raiva de Danilo era uma preliminar estranha e viciante. Era a única forma de interação real que eles tinham.

​No topo da escada, Danilo largou a caixa no chão com um baque surdo, o som reverberando pelo espaço. Respirou fundo, o peito subindo e descendo. O ar ali em cima era mais quente, abafado, com cheiro de papelão e tecido novo. Ele se virou e desceu, os passos pesados e rápidos. Passou por Fernando sem olhar, o cheiro de seu suor masculino e de rua se misturando por um instante ao perfume asséptico da loja.

​E o processo se repetiu. Mais duas vezes.

​Na terceira e última subida, Danilo estava no limite. O suor já não escorria, encharcava. A camiseta estava colada em seu peito e em suas costas. As veias de seus braços e de seu pescoço saltavam. Ao largar a última caixa, ele se apoiou nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. E foi quando ele olhou para baixo, através do vão da escada. Fernando ainda o olhava. Mas desta vez, o olhar não era apenas para sua bunda ou para seus braços. Era um olhar fixo, intenso, direto nos seus olhos. Havia algo ali que não era só provocação. Era desejo. Cru, descarado.

​Danilo, apesar da raiva, não era cego. Ele via o jeito que Fernando olhava para ele desde a primeira entrega. Ele sentia a forma como os olhos do garoto percorriam seu corpo, demorando-se em lugares específicos. Notava os olhares rápidos para o seu volume quando se abaixava para pegar uma caixa no chão. Isso o irritava profundamente. Ser despido assim, por aquele moleque petulante do ar-condicionado. Mas, em um lugar secreto e sombrio de sua mente, aquilo também o instigava. Era uma massagem em seu ego, uma confirmação de sua masculinidade, de seu poder bruto. Ele era o objeto de desejo daquele garoto que o odiava. E ele odiava o garoto que o desejava. A equação era perfeitamente desequilibrada.

​Ele desceu a escada pela última vez. Parou em frente ao balcão. Fernando já tinha a prancheta na mão, a caneta pronta.

​"Só assinar aqui", disse Fernando, a voz ainda irritantemente calma.

​Danilo pegou a caneta com a mão suada. Sua respiração ainda estava descompassada. Ele se inclinou sobre o balcão para assinar, e o fez de propósito, sentindo o olhar de Fernando queimar em sua nuca. Ele assinou com um rabisco raivoso e empurrou a prancheta de volta. Seus dedos roçaram os de Fernando. A pele do garoto era macia e fria. A de Danilo, áspera e quente. Um choque elétrico, minúsculo e devastador, percorreu o braço de ambos.

​Fernando recolheu a mão como se tivesse se queimado. Danilo ergueu o rosto e o encarou. Os olhos nos olhos. O silêncio se esticou por três, quatro, cinco segundos. O único som era o zumbido do ar-condicionado. Naquele silêncio, o ódio e o tesão dançavam uma dança perigosa no ar entre eles. Danilo podia ver a pulsação na jugular de Fernando. E Fernando podia ver a chama de fúria nos olhos de Danilo, uma fúria que prometia violência, que prometia quebrar coisas.

​Danilo se virou sem dizer uma palavra e caminhou para fora, de volta para o castigo do sol.

​Dentro da loja, Fernando soltou o ar que nem sabia que estava prendendo. Suas mãos tremiam um pouco. Ele se recostou na cadeira, o coração batendo descontrolado. A imagem do corpo de Danilo, suado, forte, exalando um cheiro animal de esforço e raiva, estava gravada em sua retina. A raiva que sentia pela "cara feia" de Danilo era só uma máscara fina, frágil, para o tesão bruto que o entregador moreno lhe causava. Um tesão que o assustava. Um tesão que o fazia se sentir pateticamente vulnerável. E sua única defesa era aquela armadura de indiferença e provocação.

​Lá fora, Danilo subiu na moto. A raiva era um ácido em seu estômago. Mas, por baixo dela, outra coisa borbulhava. Uma excitação perversa. A imagem do olhar de Fernando, faminto, o seguia. O toque de seus dedos. A tensão no ar. Aquilo tudo era um jogo doentio. E ele estava cansado de perder.

​Os dias seguintes se arrastaram em uma rotina de calor e estresse. E para Danilo, o estresse tinha um componente a mais. Ele estava há dias sem gozar, sem transar. A necessidade era uma coceira sob a pele, deixando-o com o pavio ainda mais curto, a tolerância no zero. Cada buzina no trânsito, cada motorista lento, cada pequena frustração do dia a dia se acumulava em uma bola de energia nervosa e agressiva em seu peito.

​E então, naquela sexta-feira, ele pegou a primeira ordem de serviço do dia. Seus olhos passaram pelo papel e pararam. O endereço. A loja. E a descrição da entrega: "Oito caixas."

​Oito.

​Oito caixas. Oito viagens escada acima. Oito descidas. Oito oportunidades para Fernando assistir, com aquele seu sorriso de merda e seus olhos devoradores. Uma imagem cruzou a mente de Danilo, rápida e violenta: ele, encurralando Fernando contra a parede do estoque, o cheiro de papelão e tecido novo se misturando ao cheiro de medo e excitação.

​Um sorriso torto, desprovido de qualquer alegria, crispou seus lábios. Ele amassou o papel na mão e subiu na moto, o motor ganhando vida com um rugido mais raivoso que o normal. O calor do motor subindo por entre suas pernas parecia diferente hoje. Não era só calor. Era promessa.

​Hoje eu desconto nesse viadinho, ele pensou, acelerando e cortando o trânsito com uma imprudência que não era habitual. Ah, se eu desconto.

​A hostilidade não era mais uma preliminar. Era o combustível. E o tanque estava cheio.

Na quarta viagem o corpo de Danilo já não distinguia o suor novo do velho. Era uma camada única de umidade salgada que colava a camiseta ao seu torso como uma segunda pele. Cada músculo de suas costas, ombros e braços gritava em protesto. O ar-condicionado da loja já não oferecia alívio, apenas um contraste que tornava a sensação de esforço ainda mais aguda. Ele desceu a escada de metal com a leveza de um touro, os pés batendo nos degraus como marteladas. Faltavam quatro caixas. Quatro.

​Ele parou no térreo, ao lado da pilha restante. Olhou para as caixas, depois para Fernando, que o observava de seu trono de acrílico com a mesma expressão impassível e analítica. Aquele olhar que o desnudava, que o media, que o consumia em silêncio. A raiva, que antes borbulhava, agora transbordava. Foda-se o profissionalismo. Foda-se o emprego.

​Danilo largou a caixa que trazia nos braços. Não a pousou. Ele a soltou de uma altura de trinta centímetros. O baque surdo do papelão contra o piso polido ecoou pela loja silenciosa como um tiro. Foi uma declaração.

​Fernando se sobressaltou minimamente, os dedos parando sobre o teclado. Seus olhos escuros se fixaram em Danilo.

​"Você podia ajudar em vez de só olhar, né, porra?" A voz de Danilo saiu rouca, um rosnado baixo e perigoso. As palavras ficaram suspensas no ar gelado, uma profanação naquele ambiente estéril.

​O silêncio que se seguiu foi denso. Danilo esperava uma resposta arrogante, uma dispensa fria. Esperava o desprezo. Mas, para seu espanto absoluto, Fernando apenas o encarou por um longo segundo, e então, um suspiro quase imperceptível escapou de seus lábios. Ele revirou os olhos, um último espasmo de sua atitude petulante, e se levantou.

​"Tá", ele disse, a voz seca. "Me dá uma aí."

​Danilo ficou parado, chocado. O roteiro em sua cabeça se desfez. Fernando, o príncipe do ar-condicionado, estava se oferecendo para carregar uma caixa. Ele contornou o balcão, e Danilo pôde ver de perto o que a camisa polo escondia: um corpo magro, mas bem torneado, com ombros largos e uma cintura fina. Fernando se abaixou para pegar uma das caixas e o tecido de sua calça se esticou, marcando uma bunda redonda e firme que Danilo nunca tinha notado com tanta clareza.

​Ajudar. Aquilo era pior. Era mais íntimo. Era uma quebra no pacto de ódio silencioso deles.

​Sem dizerem mais nada, eles fizeram as últimas viagens. Danilo na frente, Fernando logo atrás. O som de quatro pés na escada de metal, o ritmo de duas respirações ofegantes. Danilo sentia a presença de Fernando em suas costas, o calor sutil de seu corpo, o cheiro de seu perfume caro misturado ao cheiro de poeira do estoque. A tensão não diminuiu. Apenas mudou de forma. Tornou-se mais densa, mais pessoal.

​Quando a última caixa foi largada no chão do segundo piso, eles estavam sozinhos. O depósito era um espaço amplo, quente e mal iluminado, cheio de prateleiras de metal que iam até o teto. O ar era pesado, com cheiro de pó, papelão e solidão. E, como Danilo bem sabia por ter perguntado a um funcionário uma vez, era um ponto cego. Sem câmeras.

​Fernando se afastou, pegando a prancheta com a nota fiscal. Ele virou de costas para Danilo, conferindo os itens sob a luz amarelada de uma única lâmpada. Aquela postura, as costas viradas, o pescoço exposto, foi o convite final. O estopim.

​Danilo deu dois passos, parando a menos de um metro dele. O suor escorria por seu rosto, mas ele não sentia. Sentia apenas o pulsar do sangue em suas veias.

​"Sabe, cara," a voz de Danilo cortou o silêncio, "eu não sou seu fã. Na verdade, eu te odeio por me fazer subir essa merda de escada todo dia."

​Fernando não se virou. Seus ombros ficaram um pouco mais rígidos. "E eu faço isso porque você chega aqui com essa cara feia", ele respondeu, a voz tentando soar controlada, mas com um leve tremor. "Se fosse mais educado, eu não faria."

​Um riso baixo, sem humor, escapou da garganta de Danilo. Ele levou a mão à virilha, por cima do jeans grosso e suado, e apertou o próprio pau, sentindo-o já semi-duro, pulsando com a adrenalina.

​"Educado é minha rola, que eu sei que você quer." O tom era puro veneno e desejo. "Tu não acha que eu vejo suas olhadas pra mim? Tá doido pra me chupar, né, viado? Se quiser é só falar, de repente tu cura essa sua amargura."

​Aquilo o atingiu. Fernando se virou de supetão, o rosto corado de raiva e humilhação. Seus olhos escuros faiscavam. "Vai tomar no cu, otário."

​Era a resposta que Danilo queria. A faísca final. Ele deu mais um passo à frente, fechando o espaço entre eles. Agora podia sentir o calor que emanava do corpo de Fernando, ver a pulsação frenética em seu pescoço.

​"Não," Danilo rosnou, a voz baixa e gutural. "Você que vai tomar. E bem gostoso."

Leia completo em: https://privacy.com.br/@Regard

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