Onde o mar nos levou - Capítulo III

Um conto erótico de T. Lys. R
Categoria: Gay
Contém 2785 palavras
Data: 30/07/2025 21:37:46
Última revisão: 31/07/2025 17:59:25

Capítulo III - Duas almas... Uma conexão!

Narrado por Caio...

Os dias seguintes passaram como vento. Terceiro, quarto, quinto dia... a gente vivia entre mergulhos, mãos dadas pela areia, beijos escondidos debaixo d’água, noites em que os corpos se procuravam como se fossem feitos sob medida. A gente se devorava com desejo e carinho. Às vezes com pressa, às vezes com calma. Mas sempre com verdade.

No sexto dia, Rafael me acordou com beijos nas costas. Disse que queria me mostrar um lugar. Uma hospedaria mais afastada, um pouco pro interior, perto do litoral também, mas com uma vibe diferente. Aceitei na hora.

Viajamos por umas duas horas, ouvindo música, brincando um com o outro. Chegamos já de noite. A hospedaria era charmosa, com luzes amareladas, cercada por palmeiras e o cheiro da maresia. Rafael parecia feliz por estar ali. Ele disse que queria conhecer esse lugar há tempos, e que fazia sentido estar ali agora, comigo.

Depois de deixarmos as mochilas no quarto, saímos pra caminhar. O som do mar nos guiava. Logo alcançamos a areia fofa da praia, deserta, iluminada apenas pela lua cheia e o farfalhar das ondas. Caminhamos de mãos dadas, em silêncio, até ele parar e me olhar nos olhos.

— Sabe... eu tenho pensado muito nesses dias — ele começou, a voz suave, como quem pisa com cuidado em sentimentos novos. — Em como tudo isso parece rápido e, ao mesmo tempo, como se a gente se conhecesse há anos.

Assenti. Meu coração já batia diferente.

— Eu também sinto isso — respondi. — Como se... a gente já tivesse vivido um pedaço um do outro em algum outro lugar. Em algum outro tempo.

Ele sorriu. A maré tocava nossos pés. Ficamos ali, com a água beijando a pele, os corpos próximos.

— E eu acho que... o mar tem esse poder, sabe? De levar a gente pra onde a gente precisa ir — ele disse. — De trazer o que estava perdido. De curar o que estava ferido.

Eu respirei fundo, emocionado sem saber direito o motivo.

— Talvez... talvez seja isso, Rafa. Talvez o mar tenha me levado até você.

Ele me puxou pela cintura e me beijou. Um beijo calmo, salgado, quente. Um beijo que parecia selar alguma coisa. Como se dissesse, sem palavras: "eu também fui trazido até aqui por algo maior."

E ali, sob o céu noturno e o murmúrio do mar, começamos mais um capítulo do que nem sabíamos que já era uma história. Rafael estava empolgado, quase como uma criança, e eu sorria por dentro ao ver aquele homem tão cheio de história, leve como se o mundo lá fora não existisse naquele instante.

Deixamos nossas coisas no quarto e, mesmo cansados, decidimos caminhar. A hospedaria ficava a poucos metros da praia — uma enseada escondida, de areia fina e escura, onde o mar sussurrava, manso, como se fosse cúmplice das conversas que ali se iniciavam.

Andávamos descalços, lado a lado, e o barulho das ondas preenchia os silêncios. A brisa fresca fazia o cabelo de Rafael bagunçar, e eu tive vontade de enfiar os dedos ali, mas contive. Havia algo naquela noite que pedia reverência.

— Você sabe por que eu quis vir pra cá, né? — ele disse, quebrando o silêncio, a voz rouca, baixa.

— Acho que não… — respondi, sorrindo de lado, tentando adivinhar.

— Porque é o tipo de lugar que parece parado no tempo. A gente anda aqui e parece que nada de fora importa. O celular não vibra, o mundo não cobra… E você só sente.

Fiquei olhando pra ele, pro jeito como ele falava do tempo e da sensação de estar vivo. Eu não conhecia muitas pessoas assim. Na verdade, nunca conheci alguém como o Rafael.

— Você é diferente de tudo que eu já vi. — falei, mais pra mim do que pra ele.

— Diferente como? — ele me olhou de lado, curioso.

— Não sei. É capaz de me desarmar sendo você mesmo e isso me assusta um pouco.

Ele parou de andar, fitando o horizonte, onde o mar encontrava o céu num traço quase invisível.

— Nem sei o que te dizer, mas tô curtindo muito esses dias contigo.

— Eu também, Rafa, e por mim isso não terminaria nunca — murmurei, sentindo um nó se formar na garganta.

Houve um silêncio entre nós, mas não era desconfortável. Era daqueles silêncios que dizem muito. Caminhamos mais um pouco até ele se agachar na areia e, com o dedo, começar a escrever.

— O que tá fazendo? — perguntei.

— Guardando uma lembrança. — respondeu, enquanto terminava de escrever meu nome: Caio.

Senti um arrepio subir pelas minhas costas. Agachei também, do lado dele, e escrevi: Rafael.

Ficamos olhando nossos nomes lado a lado, escritos ali, na areia úmida, como se fossem parte da própria praia. Como se o mar pudesse levá-los, mas a lembrança… essa jamais se apagaria.

— Mesmo que a onda apague... — eu disse, olhando o nome dele. — Ainda vai ter ficado aqui dentro.

Ele me encarou com um sorriso leve, os olhos marejados.

— E é isso que importa.

Eu não disse nada. Só segurei a mão dele e ficamos ali.

Sentados na areia. Com o som do mar. Com a noite envolvendo a gente. Com o coração cheio de coisas que nem sabíamos dar nome ainda.

Era o sexto dia.

E eu já não sabia mais onde terminava o mar... e começava o Rafael dentro de mim.

Voltamos devagar, quase em silêncio. O som do mar ainda ecoava em nossos corpos, como se as ondas tivessem entrado pelos nossos poros e repousado ali, em algum lugar entre o peito e a pele. Rafael caminhava ao meu lado, os cabelos bagunçados pelo vento, os olhos brilhando em silêncio. Ele segurava minha mão com firmeza, mas com carinho. Entramos na pousada como dois meninos que tinham acabado de descobrir um segredo. Um segredo só deles.

Fechamos a porta do quarto. O barulho suave da madeira se encaixando ao batente pareceu selar algo entre nós. Rafael se aproximou de mim devagar, tirando a camiseta com os olhos fixos nos meus. Os músculos definidos do peitoral dele se moviam de maneira quase hipnotizante. Ele parecia uma pintura viva, banhada pela penumbra do abajur que deixava o ambiente morno, íntimo. Quando ele me encostou na parede e me beijou, o mundo sumiu.

O beijo começou doce, mas logo ganhou intensidade. Nossas línguas se procuravam com fome. Ele mordeu meu lábio inferior, puxou de leve e sorriu com aquele ar safado que só ele tem. As mãos dele desceram pela lateral do meu corpo, firmes, decididas. Quando ele tocou minha cintura, senti meu corpo inteiro arrepiar.

— Você não faz ideia do quanto eu pensei em fazer isso com você aqui desde o nosso primeiro beijo — ele sussurrou, a voz rouca e quente contra o meu ouvido. — Eu quero te sentir inteiro hoje, Caio.

Eu arfei, sem conseguir conter o gemido baixo que escapou. Ele me pegou no colo, me jogou na cama com certa brutalidade que me fez rir de nervoso e tesão. Subiu por cima de mim e tirou minha bermuda com pressa, beijando minha barriga, mordiscando o caminho até minha virilha. Me fez perder o fôlego.

— Você é tão gostoso... — ele murmurou, os olhos famintos me devorando. — Sempre foi. Desde o dia em que te vi naquela barraca... eu soube que queria você gemendo o meu nome.

— Então me faz gemer, porra — provoquei, puxando ele de volta pra cima de mim, sentindo o corpo quente dele contra o meu.

Ele me penetrou com cuidado, mas firmeza. E ali, naquele quarto simples de uma pousada à beira-mar, eu fui completamente dele. Os gemidos se misturavam ao som abafado das ondas distantes, nossos corpos suavam, escorregando um no outro, como se procurassem uma maneira de nunca mais se soltar. Rafael sussurrava coisas no meu ouvido — obscenidades, promessas, desejos. E eu queria todas. Queria ele todo.

— Grita meu nome, Caio... — ele disse com voz carregada, acelerando os movimentos, me fazendo gemer alto.

— Rafael... porra, vai... assim, assim mesmo... — eu tremia, o prazer me invadindo de um jeito quase doloroso.

Nossos corpos se chocaram até o clímax. E, quando chegou, foi como uma explosão silenciosa. Caímos juntos, exaustos, ofegantes, suados, colados um no outro. Ele me abraçou por trás, o peito colado às minhas costas, e assim dormimos, entrelaçados, como se quiséssemos fundir nossos corpos em um só.

Os dois dias seguintes foram uma mistura de prazer, aventura e saudade antecipada. Fizemos amor em um trecho isolado do mato, onde o verde era tão intenso que parecia abraçar a gente. Rafael me pegou contra uma árvore, enquanto o canto dos pássaros servia de trilha sonora. Houve algo de primitivo, de selvagem — um desejo cru que só aumentava a intensidade entre nós.

Visitamos uma cachoeira escondida entre pedras. A água gelada contrastava com o calor dos nossos corpos. Rimos, brincamos como dois adolescentes e nos beijamos sob a queda d’água, como se o mundo fosse nosso.

Na última noite, sentamos na varanda da hospedaria. O céu estava estrelado, e o silêncio era quase reverente.

— Amanhã eu vou embora — ele disse, quase num sussurro.

— Eu sei.

— Mas eu não queria.

— Também não queria que você fosse.

Ficamos ali, apenas sentindo a presença um do outro, sem palavras. O silêncio era pesado, mas necessário. Quando fomos para a cama, não fizemos amor. Só nos abraçamos. Dormimos encaixados, como se aquela fosse a última chance de memorizar o corpo um do outro.

Na manhã seguinte, voltamos para casa, Rafael fez a mala em silêncio. Me abraçou com força. Nossos olhos estavam marejados.

— Eu volto — ele disse.

— Eu vou esperar.

O táxi já estava lá fora. Motor ligado. Porta aberta.

Eu fiquei parado, vendo-o sair, sem saber se corria até ele ou se fingia costume. Mas não havia nada de costume ali. Nada. Cada pedaço de mim gritava pra ele ficar.

Rafael estava com uma mochila nas costas e o olhar fixo em mim. Não havia pressa nos olhos dele, só um tipo de dor quieta, contida, que escorria sem escândalo.

— Acho que é isso... — ele disse, como se dissesse que o mundo ia acabar às 16h e ninguém mais tivesse o que fazer a não ser aceitar.

— Não precisa ser. — Eu falei com a voz meio engasgada, e quando percebi, já estava segurando firme no braço dele.

A gente não sabia o que dizer. Eu só sabia que meu peito estava se despedaçando por dentro. Meus olhos pesavam, minha garganta arranhava, e a brisa do litoral agora parecia cruel, como se zombasse do fato de que tudo aquilo acabaria ali.

— Eu te escrevo assim que chegar. — ele disse, ajeitando minha mão no rosto dele.

— Não precisa escrever... é só voltar. — falei baixinho.

Ele riu de canto, como se fosse uma última tentativa de me deixar com um sorriso.

— Eu volto, Caio... Eu só preciso resolver umas coisas, colocar minha vida em ordem. A gente ainda tem muito pra viver. Não foi só uma viagem. E você sabe disso.

Balancei a cabeça, apertando os olhos pra segurar as lágrimas. Mas elas não respeitaram.

— Eu sei... Eu só não queria que terminasse agora.

Ele me puxou pela nuca e me beijou. Um beijo cheio de desespero silencioso, um beijo que dizia "espera por mim" em cada movimento. Era como se os nossos corpos soubessem que ali morava um até logo que doía como um adeus.

— Você é a melhor coisa que me aconteceu em anos, Caio. Não deixa essa dor te enganar. Isso aqui é real. Você é real.

Ele me soltou devagar, como se cada centímetro entre nossos corpos fosse arrancado com uma lâmina.

Entrei com ele até a porta do táxi. Rafael entregou a mochila ao motorista, olhou pra mim mais uma vez... e sorriu daquele jeito torto, bonito, quebrado.

— Onde o mar nos levou... ele ainda vai trazer de volta, lembra disso.

Assenti com um nó preso no peito. Quando o táxi deu partida e foi sumindo estrada abaixo, eu fiquei parado. Sem me mexer. Sem respirar.

Aquele vazio... não era só ausência. Era amor querendo ficar.

Voltei devagar pro apartamento, deitei na cama onde ele tinha dormido por tantos dias e encostei meu rosto no travesseiro que ainda tinha o cheiro dele. O vento batia leve na janela, e eu tive a certeza: parte de mim tinha ido embora com Rafael naquele carro.

E agora... eu só podia esperar.

Esperar que ele voltasse.

Esperar que o mar trouxesse ele de volta.

Narrado por Rafael...

Era como deixar uma parte de mim para trás.

O táxi seguia em silêncio pela estrada que serpenteava a orla. A cada curva, o mar aparecia pela janela como um fantasma bonito e cruel, lembrando onde meu coração tinha se perdido. Meus olhos estavam fixos no horizonte, mas minha mente... ela ainda estava com ele. Com o Caio.

Minha mala no porta-malas parecia leve perto do peso que eu carregava no peito.

Respirei fundo e fechei os olhos por um momento. A brisa salgada ainda parecia tocar meu rosto, mesmo com o vidro fechado. E, por um segundo, eu quase pedi ao motorista pra voltar. Quase.

Os últimos dez dias... como explicar? Foram mais do que uma fuga da rotina. Foram mais do que férias. Foram uma descoberta. Um reencontro comigo mesmo, num lugar onde nunca tinha estado antes. Eu cheguei ali como quem não espera nada e saí... transformado. Não dava pra dizer que amei o Caio desde o primeiro momento. Mas eu o senti. Como se já o conhecesse de outras vidas. E, quando percebi, estava inteiro ali, entregue, apaixonado sem saber.

Lembrei de quando a gente correu pela praia feito dois moleques, rindo por nada. De quando ele me abraçou por trás, dizendo que eu cheirava a sol. Lembrei da primeira noite que passamos juntos na cama da pousada, os dois suados de prazer, nossos corpos se procurando como se fosse a única coisa certa no mundo.

Ele gemia meu nome com os olhos fechados, e eu repetia o dele como se fosse uma oração. Caio... Caio... Meu Deus, como aquele nome se colou em mim. Nas noites frias, nas manhãs lentas, nas risadas, nas provocações durante o banho, no sexo no meio do mato, onde ele se abriu pra mim como nunca vi ninguém se abrir antes — sem medo, sem vergonha, com aquela mistura de tesão e carinho que só ele sabia oferecer.

A gente se amou embaixo do chuveiro, com a água escorrendo pelos nossos corpos grudados. A gente se pegou na areia, ofegantes, até não saber mais onde começava um e terminava o outro. Ele mordia minha boca como quem queria me marcar. E eu deixava. Deus, como eu deixava.

Lembrei do colar de conchas que ele fez pra mim, rindo, dizendo que agora eu era oficialmente parte daquele lugar. E do dia em que escrevemos nossos nomes na areia — “Rafa + Caio” — como dois adolescentes que não sabiam o peso que aquilo poderia carregar.

Mas sabiam.

Na última noite, ele dormiu com a cabeça no meu peito e os dedos entrelaçados aos meus. Antes de adormecer, sussurrou:

— Não precisa dizer nada. Eu sei...

E eu chorei. Em silêncio. Porque eu também sabia.

O ônibus partiu da rodoviária. Tudo lá começou a se afastar, e com ele, o Caio.

Pensei em tudo o que eu ainda queria ter dito. Em tudo o que queria ter feito. Eu sabia que precisava voltar, que tinha uma vida pra tocar. Tinha o trabalho, os estudos, as obrigações, os planos que nem pareciam mais fazer sentido. Mas, ao mesmo tempo, me doía não saber quando — ou se — eu veria aquele olhar de novo. Aqueles olhos verdes que atravessaram minha alma e ficaram.

Os dias com o Caio não foram só momentos bons. Foram minha vida em versão crua e sincera. Sem máscara. Sem medo. Pela primeira vez em muito tempo, eu fui eu. E isso... isso tem um preço.

Senti a ausência dele antes mesmo de pisar na rodoviária da cidade. Era como se o silêncio ao meu redor gritasse o nome dele. O gosto da boca dele ainda estava na minha. E aquele perfume leve — cheiro de sol, de sal, de mar — parecia ter ficado preso à minha pele.

Apertei os olhos, respirando fundo.

Esses dez dias não iam ser esquecidos. Nem por mim, nem por ele. Disso eu tinha certeza.

Agora restava esperar. Esperar o tempo, esperar a vida, esperar... a coragem. Coragem de entender o que está nascendo, coragem de lutar contra tudo que virá, coragem de admitir pra mim mesmo que talvez — só talvez — eu tenha encontrado alguém que me fez querer ficar.

E, mesmo indo embora, algo dentro de mim ainda estava lá...

Na areia.

Na pousada.

Naquele beijo à beira-mar.

Na lembrança viva de um amor que mal começou — mas que já era tudo.

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 4Seguidores: 4Seguindo: 0Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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