Dívida de jogo se paga com o cu

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 2829 palavras
Data: 29/07/2025 18:41:17
Última revisão: 29/07/2025 18:54:47

​O ar do Boteco do Zé era uma entidade física. Dava para mastigar. Era uma mistura densa do cheiro de gordura velha sibilando na chapa, da fumaça azulada de cigarro que escapava para a calçada e do odor penetrante de cerveja barata impregnada na madeira escura e pegajosa das mesas. Em Campinas, noites de quarta-feira com dérbi na TV tinham essa trilha olfativa. E sonora também: o chiado da porção de calabresa acebolada chegando à mesa, o tinido de cascos de cerveja se chocando e, acima de tudo, o bramido constante da televisão, onde vinte e dois homens corriam atrás de uma bola e decidiam o humor da cidade.

​No centro de uma das mesas, a mais barulhenta, Leo reinava. Com 35 anos, ele era o maestro do caos. Seus braços gesticulavam, cortando o ar enfumaçado para dar mais ênfase a uma piada sobre o chefe ou a uma história de um pneu furado que virou uma epopeia. A barriga, solidificada por anos de Brahma e torresmo, se projetava com uma autoridade despojada sobre a calça jeans. Ele falava alto, ria mais alto ainda, e os outros três amigos na mesa orbitavam sua energia, respondendo, provocando, completando suas frases.

​Todos, menos um.

​André, sentado de frente para Leo, era uma ilha de calma naquele oceano de ruído. Aos 34, ele tinha o mesmo corpo de quem não recusava uma cerveja, mas nele havia uma quietude, uma economia de movimentos que contrastava com a exuberância de Leo. Enquanto Leo se expandia, André se continha. Seus ombros eram largos, as mãos grandes repousavam sobre a garrafa de Original, os dedos tamborilando um ritmo silencioso na etiqueta molhada. Ele ouvia, um meio sorriso plantado no rosto, os olhos escuros se movendo com uma inteligência calma, captando tudo.

​E Leo sentia aqueles olhos sobre si. Sempre.

​Era um tesão antigo, surdo, insistente. Uma coceira na base da nuca que o atacava há anos. Começou de forma vaga, uma admiração pela tranquilidade de André, e evoluiu para uma obsessão discreta. Leo observava o jeito que a camiseta de André esticava nas costas quando ele se inclinava, a curva sólida da sua bunda no banco de madeira, o jeito que ele umedecia os lábios antes de dar um gole na cerveja. Cada gesto mínimo era um gatilho. Um desejo bruto, inconveniente e completamente sigiloso, que ele enterrava sob camadas de piadas hétero e histórias de mulheres que ele pegou ou queria pegar.

​"Tá quieto por quê, bicho?", Leo provocou, a voz ressoando acima do narrador da TV. "Tá com medo do vareio que o meu Bugrão vai dar na sua Macaca?"

​A conversa, que antes versava sobre os juros abusivos de um financiamento de carro, finalmente pousou onde deveria: no futebol. O Guarani de Leo vinha de uma sequência invicta, jogando um futebol que a imprensa local chamava de "irretocável". A Ponte Preta de André, a "Macaca", amargava o outro lado da tabela, colecionando derrotas frustrantes. A rivalidade campineira era o tempero daquela noite.

​"O cara tá até rezando aí", um dos amigos, Marcos, gozou, apontando o garfo engordurado para André.

​André deu um gole longo na sua cerveja, pousou a garrafa na mesa com um baque surdo e deliberado. O barulho fez um pequeno vácuo no caos da mesa. Ele limpou a boca com as costas da mão e olhou diretamente para Leo. Havia um brilho diferente em seu olhar, uma confiança que raramente aparecia.

​"Hoje não", ele disse, a voz mais grave do que o usual. "Hoje a Macaca ganha. Eu tô sentindo."

​A frase foi como uma pedra jogada num lago. O silêncio durou um segundo, e então Leo explodiu. Não foi uma risada, foi uma detonação. Uma gargalhada gutural, vinda do fundo da barriga, que fez a mesa inteira tremer e atraiu olhares curiosos das outras mesas.

​"Hahahaha! Você tá maluco, André? Completamente louco!", ele berrou, secando uma lágrima de riso do canto do olho. O álcool, misturado àquele tesão crônico, estava borbulhando em seu sangue, afrouxando os filtros, empurrando-o para a beira de um precipício delicioso e estúpido. Ele se levantou um pouco, apoiando as mãos na mesa, o rosto vermelho de rir e de desejo.

​"Você tá sentindo? Hahaha! Eu também tô sentindo... tô sentindo pena de você! Ó", ele continuou, a ideia se formando em sua mente, perigosa e excitante como uma faísca perto de um vazamento de gás. "Vamos fazer o seguinte. Pra provar que você tá delirando. Uma aposta de homem."

​Ele fez uma pausa dramática. O ar ao redor deles ficou elétrico.

​"Se a Ponte Preta ganhar... se essa sua draga ganhar do meu Bugre... eu te dou meu rabo."

​As palavras saíram sujas, carregadas. A mesa congelou. Marcos engasgou com a cerveja. A piada era tão absurda, tão fora da curva, que quebrou a realidade por um instante. Leo sentiu o poder daquele momento. Ele viu a cor subir pelo pescoço de André, um rubor que ele desesperadamente queria causar com as mãos, com a boca.

​Para não perder o controle, para manter a máscara de "zoeira", ele completou, apontando para André com o queixo. "Mas... se o meu Bugrão ganhar, como vai acontecer... você me dá essa sua bunda."

​A tensão se quebrou. A galera caiu na risada, uma risada de alívio, de incredulidade. "Caralho, Leo, você não presta!", "Agora a porra ficou séria!", "Que viadagem é essa?". As gozações voavam, mas a aposta estava no ar, pairando sobre eles como uma promessa obscena.

​André estava visivelmente sem graça. O rubor em seu rosto era intenso, mas seus olhos não se desviaram dos de Leo. Havia algo ali, uma faísca de desafio, talvez até de curiosidade. Ele deu um aceno mínimo, quase imperceptível. Um aceno que selou o pacto. A brincadeira virou a piada oficial da noite. Cada lance do jogo era comentado sob a ótica da aposta. "Ih, André, quase que sua bunda foi pro saco agora!". "Leo, segura esse cu aí que a Macaca tá vindo!".

​Leo amou cada segundo. Cada menção à bunda de André era uma pequena vitória pessoal. Ele já se imaginava cobrando a aposta, o cenário se desenhando vívido em sua mente.

​Então, o futebol fez o que faz de melhor: fodeu com todos os planos.

​O jogo se arrastou, um a zero para o Guarani, como esperado. A zoação com André era constante. Mas aos quarenta e dois do segundo tempo, num escanteio despretensioso, a Ponte empatou. Um silêncio chocado caiu sobre a parte bugrina do bar. E aos quarenta e sete, num contra-ataque mortal, veio a virada. O apito final soou como uma sentença.

​Ponte Preta 2 x 1 Guarani.

​Por um instante, ninguém na mesa falou nada. Leo ficou paralisado, olhando para a tela da TV, incrédulo. O grito de um pontepretano solitário em algum canto do bar quebrou o feitiço.

​E a mesa explodiu.

​"IHHHHH, SE FUDEU, LEO!"

"HAHAHAHA! NÃO ACREDITO!"

"VAI TER QUE DAR A BUNDA, HEIN?!"

"Puta que pariu, Leo! Amanhã queremos saber os detalhes! Tira foto!"

​A zoação era impiedosa, um tsunami de gozação que o atingiu em cheio. Leo, o "zoeira", agora era o zoado. Ele forçou uma cara de bravo, xingou o juiz, o técnico, o bandeirinha. Levantou-se, bateu na mesa. "Calem a boca, porra! Essa merda não valeu, foi brincadeira! Rodada por minha conta!". A oferta de cerveja grátis era a manobra de distração mais velha do mundo, e funcionou. O assunto mudou, a dor da derrota foi momentaneamente anestesiada pelo álcool.

​Mas por dentro, Leo não sentia a humilhação da derrota. Ele não pensava na sua própria promessa. Sentia outra coisa. Uma agitação febril, uma clareza súbita em meio à névoa do álcool.

​Ele olhou para André do outro lado da mesa. O sorriso dele era discreto, mas estava lá. Um sorriso de vitória que não era só pelo futebol.

​Leo perdeu a aposta. Sua bunda, em teoria, agora pertencia a André. Mas enquanto ele sinalizava para o garçom trazer mais uma rodada, uma ideia muito mais poderosa e perigosa tomou forma em sua mente. A aposta tinha sido uma piada, uma provocação de mão dupla. A parte dele se concretizou, ele perdeu. Mas ao verbalizar o desejo, ao colocar os corpos deles numa frase, ele tinha aberto uma porta.

​Ele perdeu a aposta, sim. Mas talvez, só talvez, ele tivesse acabado de ganhar a oportunidade perfeita. A desculpa ideal para transformar anos de tesão reprimido em algo real.

Passaram-se três dias. Três dias em que a aposta pairou no ar entre eles como uma nuvem de tempestade, invisível para os outros, mas eletricamente carregada para os dois. Para Leo, foram 72 horas de uma ansiedade febril. Ele repassava a cena do bar em sua mente, dissecando cada detalhe: a gargalhada dos amigos, a cor que subiu pelo pescoço de André, o aceno mínimo que selou o pacto. Aquele aceno era sua obsessão.

​Ele precisava saber. O tesão, antes uma coceira crônica, agora era uma ferida aberta.

​Na noite de sábado, ele pegou o celular. O polegar pairou sobre o contato de André. Digitou, apagou, digitou de novo. A casualidade era uma arte que ele precisava dominar.

​E aí, mano. Fazendo nada? Desce aqui em casa pra gente jogar um videogame, tomar umas.

​Simples. Inofensivo. Um convite que ele já tinha feito dezenas de vezes. Ele apertou "enviar" antes que a coragem o abandonasse. A resposta veio quase imediatamente.

​Fechou. Meia hora tô aí.

​O coração de Leo deu um pulo. Meia hora. Era seu prazo. Ele correu para o chuveiro, a água quente escorrendo pelo corpo, tentando lavar a ansiedade junto com o suor. Não era só um banho; era um ritual. Ele se ensaboou com calma, passando a mão pelo peito, pela barriga, descendo. Precisava estar limpo, cheiroso. Escolheu a melhor cueca que tinha, uma boxer preta, justa, que valorizava o que ele tinha. Colocou uma bermuda confortável e uma camiseta velha. Casualidade, ele repetiu para si mesmo. A cena precisava parecer normal. Foi até a cozinha, encheu a parte de baixo da geladeira com long necks de Heineken, deixando-as no ponto ideal de "trincando". O palco estava montado.

​Quando a campainha tocou, Leo respirou fundo, como um ator prestes a entrar em cena.

​"E aí, beleza?", André disse ao entrar, já familiarizado com o apartamento. Ele carregava a mesma aura de tranquilidade do bar, mas seus olhos pareciam perscrutar o ambiente, talvez procurando por algo fora do lugar.

​"Beleza. Pega uma breja aí, vou ligar o videogame", Leo respondeu, a voz um pouco mais seca do que gostaria.

​Sentaram-se no sofá de tecido cinza, a luz da TV gigante banhando seus rostos em tons de azul e verde. O som do FIFA ecoou pela sala, familiar e reconfortante. Por uma hora, quase pareceu uma noite normal. Eles gritavam com os jogadores virtuais, zoavam os gols perdidos, abriam uma cerveja atrás da outra. Era a rotina de sempre.

​Mas não era.

​Leo estava hiperconsciente de cada centímetro de espaço entre eles. O sofá não era grande o suficiente. A cada movimento, a lateral de seu joelho roçava na coxa de André, um toque que queimava através do jeans. Quando foi pegar o controle que estava entre eles, seus dedos deliberadamente se demoraram sobre os de André, um contato de um segundo que pareceu uma eternidade. André não se afastou. Ele não reagiu. Apenas continuou olhando para a tela, mas Leo notou sua mandíbula se contrair levemente.

​A quarta cerveja desceu rasgando. O álcool era o combustível que ele precisava. Era agora ou nunca.

​Com o coração martelando contra as costelas, Leo apertou o pause. A música vibrante do jogo foi cortada, deixando um silêncio pesado e repentino na sala, preenchido apenas pelo zumbido da geladeira na cozinha.

​André se virou para ele, a testa franzida. "Que foi? Arregou?"

​Leo engoliu em seco. "Então, André...", ele começou, e odiou como sua voz saiu trêmula, carregada de uma vulnerabilidade que ele sempre escondia sob piadas. "Eu não esqueci daquela aposta, não."

​Um sorriso brotou no rosto de André, um sorriso de quem finalmente entende a piada. "Ah, qual é, cara. Esquece isso. Tava todo mundo bêbado." Ele fez um gesto displicente com a mão, como se afastasse uma fumaça.

​Mas Leo não sorriu de volta. Ele o encarou, os olhos fixos, a máscara de "zoeira" completamente desfeita. "Não. Eu perdi. Aposta é aposta."

​O ar mudou. A atmosfera de amizade se evaporou, substituída por uma tensão espessa, palpável. Antes que André pudesse processar ou protestar, Leo se levantou. Num movimento rápido, ele puxou a camiseta pela gola e a jogou no chão. Seu peito estava exposto, a barriga de cerveja, os pelos escuros.

​"Eu sou homem de palavra", ele disse, a voz agora firme. "Tô pronto pra pagar."

​André ficou estático. Seus olhos arregalados iam do peito nu de Leo para seu rosto sério. A confusão era evidente. Ele abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Ele estava travado, o cérebro tentando computar aquela mudança súbita de realidade. A brincadeira tinha sangrado para o mundo real, e ele não sabia as regras desse novo jogo.

​Vendo a trava de André, a parede de descrença que ele ergueu, Leo percebeu que sua abordagem estava errada. Oferecer a si mesmo era um desafio. Ele precisava seduzir, não confrontar.

​Ele se sentou novamente no sofá, mas desta vez mais perto. Muito mais perto. O calor do corpo de André irradiava, e Leo podia sentir o cheiro dele — uma mistura de amaciante, cerveja e o odor almiscarado e masculino de sua pele. Com uma coragem que pareceu vir de algum lugar profundo e desconhecido, Leo levantou a mão e a pousou na coxa de André.

​O músculo sob o jeans ficou rígido instantaneamente.

​A mão de Leo não parou. Lentamente, quase com reverência, ela deslizou para cima, em direção à virilha. André não se moveu. Ele apenas respirava, o peito subindo e descendo rapidamente. Quando a palma de Leo finalmente cobriu o volume na frente de sua calça, André soltou um suspiro agudo, quase um soluço.

​Leo começou a alisar, um movimento circular, lento, sentindo o contorno por cima do tecido grosso. A reação foi imediata, inegável. Sob sua mão, a maciez inicial deu lugar a uma dureza que crescia, que pulsava, empurrando contra sua palma com uma urgência própria.

​Uma onda de triunfo e tesão puro percorreu Leo. Ele se inclinou, a boca perto do ouvido de André, e sussurrou, a voz rouca: "Caralho, mano... não imaginava que você era dotado assim."

​Aquela frase foi a chave. O elogio cru, a surpresa genuína, a quebra de qualquer expectativa. Foi como dar a André permissão para sentir. A vergonha nos olhos de André começou a ser substituída por uma faísca de curiosidade, de orgulho, de desejo.

​O jogo tinha virado.

​Leo não esperou por uma resposta verbal. Ele deslizou do sofá e se ajoelhou no tapete, ficando com o rosto na altura do colo de André. Olhando para cima, ele viu o pomo de adão de André subir e descer enquanto ele engolia em seco. Com as duas mãos, Leo agarrou a barra da bermuda jeans de André e a puxou para baixo, de uma vez. As pernas fortes, cobertas de pelos escuros, ficaram expostas, vestindo apenas uma cueca samba-canção de algodão branco.

​O volume ali dentro era ainda mais impressionante. A ponta já úmida manchava o tecido. O cheiro de macho ficou mais forte, mais cru, uma mistura de suor e excitação que fez a boca de Leo salivar. Ele se inclinou para frente e enterrou o rosto na virilha de André, inspirando profundamente. Depois, começou a morder de leve por cima do tecido, sentindo a dureza do pau, os dentes arranhando o algodão, provocando.

​André arquejou, as mãos se fechando em punhos sobre o sofá.

​Com uma das mãos, Leo enfiou os dedos pela lateral da cueca, sentindo a pele quente e lisa, o prepúcio macio. Ele guiou o membro para fora, pela abertura da perna. O pau de André, grosso e pesado, saltou livre, vermelho, latejante. Era mais grosso e mais comprido do que qualquer coisa que Leo tinha imaginado em suas fantasias mais sujas.

​Ele o segurou na mão por um instante, admirando-o. Então, sem mais hesitação, abriu a boca e o engoliu.

​O gosto era salgado, masculino. A textura era de veludo sobre aço. André deu um gemido baixo, gutural, e sua mão, que antes se fechava em punho, veio instintivamente para a nuca de Leo, os dedos se enroscando em seu cabelo. Não para afastá-lo, mas para puxá-lo para mais perto.

​O jogo na tela da TV continuava pausado, esquecido. O único jogo que importava agora estava acontecendo ali, no chão da sala. A aposta, finalmente, estava sendo paga — mas de um jeito que nenhum dos dois jamais poderia ter previsto.

André assume o controle total da situação, a forma como ele cobra a dívida e como a amizade é redefinida por essa foda, você confere aqui: https://privacy.com.br/@Regard

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