Onde o mar nos levou - Capítulo I

Um conto erótico de T. Lys. R
Categoria: Gay
Contém 2813 palavras
Data: 27/07/2025 20:37:06
Última revisão: 27/07/2025 20:40:14

Onde o mar nos levou...

Capítulo I — Onde tudo começou...

O barulho do avião ainda vibrava nos ouvidos de Rafael quando ele pisou naquela pequena cidade litorânea, onde o tempo parecia correr em câmera lenta. Não havia reuniões marcadas, metas inalcançáveis, ligações sem fim. Havia apenas o som das ondas quebrando na areia e uma brisa que tocava seu rosto como um sussurro antigo, daqueles que dizem sem palavras: respira.

Ele precisava disso. Precisava sair dali, de tudo.

Nos últimos meses, o escritório se tornara uma prisão — disfarçada de sucesso. Diretor de operações aos 28 anos, cargo invejável, currículo impecável, rotina esmagadora. Cada e-mail não respondido era culpa. Cada elogio, uma cobrança velada. Dormia pouco, comia mal, sorria quase nunca. Vivia para cumprir a expectativa dos outros, até que algo dentro dele estalou.

E foi assim, num domingo qualquer, que ele arrumou as malas e partiu. Tirou férias — ou talvez apenas fugiu.

Hospedou-se numa pousada simples, pé na areia, onde o café da manhã era servido com fruta fresca e o silêncio valia mais do que qualquer luxo. Na primeira noite, caminhou descalço pela praia. E pela primeira vez em meses, sentiu que estava ali — de corpo e alma.

Rafael era bonito sem esforço. Tinha 1,80m de altura, o corpo firme de quem sempre gostou de esportes, ombros largos, barba bem feita, pele bronzeada pelo pouco tempo que passava ao sol. Mas era nos olhos castanhos escuros que morava seu abismo: eles pareciam carregar todos os lugares onde ele já se escondeu de si mesmo.

Na manhã seguinte, decidiu explorar os arredores.

Entrou num pequeno café com varanda de frente pro mar. Paredes de madeira, decoração simples, cheiro de café coado e pão de queijo quente. Sentou-se à mesa do canto e abriu um livro, mais por hábito do que por interesse.

Foi então que ele apareceu.

Primeiro, o som da voz — rindo de algo que o barista dissera. Depois, a presença. Um rapaz moreno, pele dourada, cabelos escuros cortados rente, corpo esguio e atlético, olhos verdes intensos, que pareciam atravessar os espaços sem pedir licença. Vestia uma regata clara, que deixava à mostra os braços marcados pelo surfe ou alguma atividade parecida. Tinha um jeito leve, como quem não devia nada ao mundo.

Rafael o notou, mas não olhou de imediato.

Disfarçou, folheou o livro. O peito apertou sem motivo. Aquele tipo de sensação que vem antes do pensamento.

— Com licença — a voz era quente, quase debochada — posso me sentar? Tá tudo lotado...

Rafael levantou os olhos e pela primeira vez encarou Caio.

— Claro — respondeu, com um aceno breve, tentando manter a pose que o trabalho ensinou: sóbrio, educado, inalcançável.

Caio sentou. O sorriso ainda estava nos lábios dele. Mas não era um sorriso qualquer. Era daquele tipo que parece ter história, como se dissesse mais do que mostrava.

— É impressão minha ou você tá meio fora do ar? — ele perguntou, encarando Rafael com uma ousadia tranquila.

Rafael arqueou uma sobrancelha.

— E você costuma analisar todo mundo assim que senta à mesa?

— Só os interessantes.

O comentário veio direto, mas com leveza. Caio apoiou os cotovelos na mesa e pediu um café com leite. Rafael deixou escapar um riso breve, baixando os olhos como se não quisesse ser visto sorrindo.

— Eu vim descansar. Fugir, talvez. E você? Mora aqui?

— Nasci aqui, mas nem sempre fico. Às vezes sumo por uns meses. Mas sempre volto. O mar tem esse negócio de puxar a gente de volta.

Rafael o observou por alguns segundos. Não era só o rosto bonito — era o jeito que ele falava, como se estivesse sempre numa conversa com o vento.

— Você fala como quem já viveu demais pra pouca idade.

Caio sorriu com a xícara nas mãos.

— E você fala como quem esqueceu de viver.

O silêncio entre eles ficou denso por um momento, mas não incômodo. Rafael olhou para fora, para o mar, e depois de volta para aqueles olhos verdes.

— Talvez eu tenha mesmo.

Caio não respondeu de imediato. Apenas observou Rafael como se estivesse tentando decifrá-lo. E de certo modo, estava.

— Vai ficar por aqui quanto tempo?

— Uns dez dias. Talvez um pouco mais. Não planejei muito.

— Isso é bom. Deixar a vida acontecer. Você parece alguém que planeja até a hora de respirar.

— E você parece alguém que não planeja nada.

— Exato. Gosto do improvável.

Um breve silêncio.

— A propósito — Caio estendeu a mão com naturalidade, como se aquele gesto fosse inevitável — Caio. Caio Amaral Júnior.

Rafael segurou a mão dele. O toque foi firme, mas discreto. O tipo de aperto que não intimida, mas marca.

— Rafael. Rafael Santos Montenegro.

— Nome forte — comentou Caio, ainda segurando sua mão por um segundo além do necessário. — Parece nome de quem carrega peso demais.

Rafael riu, mais pelo acerto da observação do que pela brincadeira.

— E o seu parece nome de quem tenta disfarçar que sente tudo.

Caio abriu um sorriso sincero, que se espalhou pelo rosto.

— Talvez a gente seja mais parecido do que imagina.

— Ou completamente opostos.

— O que também dá certo, às vezes.

Rafael bebeu um gole do café já morno e apoiou o copo na mesa.

— Você sempre conversa com estranhos como se os conhecesse há anos?

— Não. Mas com você não parece que é a primeira vez.

Rafael sentiu uma fisgada no peito. Uma vontade de saber mais, de esticar aquele momento até ele virar alguma coisa. Talvez era isso que faltava — uma pausa do mundo, um encontro sem roteiro, uma conversa que fosse além do que ele estava acostumado.

— Se quiser… depois do café, posso te mostrar um lugar aqui perto. Não é ponto turístico, mas tem uma vista linda. Fica no alto de umas pedras. E é tranquilo. Dá pra escutar o mar conversando.

Rafael hesitou por um segundo. Mas havia algo na presença de Caio que o desconcertava de um jeito bom.

— Você sempre chama estranhos pra caminhar contigo por penhascos?

— Só os que precisam lembrar que ainda estão vivos.

A resposta ficou no ar. Rafael se permitiu sorrir de verdade. E respondeu apenas com um aceno de cabeça.

— Então me mostra esse lugar, Caio.

Caio terminou o café, se levantou e ofereceu a mão. Rafael a segurou sem pensar. E, naquele instante, alguma coisa dentro dele se aquietou. Como se uma nova história tivesse começado — não com uma promessa, mas com uma simples caminhada.

Saíram do café sem pressa. O sol já começava a se inclinar no céu, lançando uma luz dourada sobre as calçadas de paralelepípedos. Caio caminhava à frente, às vezes virando o rosto para checar se Rafael o seguia. Rafael vinha logo atrás, mãos nos bolsos, olhos varrendo o caminho, como se quisesse guardar tudo na memória — ou talvez apenas entender o que, exatamente, estava fazendo.

— É longe? — perguntou, meio por perguntar, meio para puxar assunto.

— Depende de pra onde você tá com pressa — respondeu Caio, sem olhar pra trás. — Mas vale a caminhada. Eu sempre venho aqui quando preciso me lembrar que o mundo é maior do que os meus problemas.

Passaram por uma ruela estreita, depois por uma trilha de areia batida que cruzava um pequeno trecho de mata. O canto dos pássaros se misturava ao som distante das ondas. O cheiro do mar ficou mais forte a cada passo. E então, após atravessarem um caminho entre pedras cobertas de musgo, ela apareceu: a praia escondida.

Era um pedaço quase secreto do litoral. A areia era mais fina, mais clara. O mar, de um verde translúcido, deixava ver o fundo mesmo de longe. Rochas se erguiam em curvas suaves, criando sombras onde a água lambia suas bases. Ali não havia turistas, nem música alta, nem guarda-sóis. Só o som das ondas e o silêncio bom dos lugares que ainda não foram descobertos.

Rafael parou por um instante, impressionado.

— Isso existe mesmo?

— Existe — disse Caio, sorrindo. — Mas só pra quem precisa.

Desceram por um pequeno caminho de pedras até a areia. Rafael tirou os sapatos, afundou os pés e respirou fundo. Caio observava sem dizer nada, como quem entende o valor do silêncio.

— Quer mergulhar? — Caio perguntou, já tirando a camiseta, revelando o corpo esguio, bem definido, marcado pelo sol e pelo mar.

Rafael hesitou por um instante. Então tirou os tênis e dobrou a barra da calça.

— Só os pés, por enquanto.

Caio correu até a beira e se jogou no mar com um grito alegre, como um menino que reencontra um velho amigo. Rafael caminhou devagar até onde a água tocava a areia. Molhou os tornozelos e observou Caio nadar, mergulhar, brincar com a espuma como quem conhecia cada centímetro daquele oceano.

Depois de alguns minutos, Caio saiu da água e balançou os cabelos, sorrindo.

— Você devia tentar. A água tá perfeita.

— Prefiro observar. Tem alguma coisa em ver alguém livre que é… bonito.

Caio o olhou com mais atenção naquele momento. Os olhos verdes pareciam mais intensos sob a luz do entardecer.

— Você fala como quem esqueceu de ser livre.

Rafael apenas sorriu de lado, sem responder.

— Vem. Quero te mostrar o mirante antes que o sol baixe demais.

Subiram por uma trilha estreita entre pedras cobertas por liquens e arbustos baixos, onde as raízes se confundiam com degraus improvisados. Rafael vinha logo atrás, sentindo o vento cada vez mais forte à medida que ganhavam altitude. O cheiro do sal se misturava ao aroma da vegetação quente pelo sol. A voz das ondas ficava mais grave, como um tambor distante ecoando contra os penhascos.

Caio olhava pra frente, mas parecia atento ao silêncio de Rafael.

— Cansa? — perguntou, virando o rosto.

— Não. — Rafael sorriu, ofegante. — Eu só tô… observando. É tudo tão diferente do que eu costumo viver.

— Então você não vive. Só sobrevive.

A frase veio simples, mas bateu fundo. Rafael parou um instante, não sabia se pelo cansaço ou pelo impacto daquilo. O jeito que Caio falava — sem julgamento, mas com verdade — mexia com ele de um jeito desconfortavelmente bom.

Chegaram ao topo poucos minutos depois.

O mirante era um platô natural de pedras escuras e quentes, com vista ampla para o oceano. Dali, o mar se abria inteiro diante deles, em tons de verde e azul, como um lençol em movimento. Mais à frente, gaivotas rasgavam o céu em círculos lentos. O vento ali era mais forte, bagunçava os cabelos de Rafael, empurrava o peito, como se exigisse dele uma entrega.

— Uau… — murmurou, quase sem perceber.

— Bem-vindo ao meu lugar favorito — disse Caio, aproximando-se devagar, até ficar ao lado dele. — Quando eu era moleque, vinha aqui quando queria fugir. Quando queria sentir que não era só mais um no meio de tudo.

Rafael sentou-se sobre uma das pedras e puxou os joelhos. Caio fez o mesmo.

Ficaram assim, em silêncio por um tempo. O tipo de silêncio que não pesa, mas acompanha. O tipo que se compartilha com quem se entende mesmo sem palavras.

— E agora? — Rafael perguntou, olhando pro mar. — Você ainda vem aqui pra fugir?

— Não. Agora eu venho pra lembrar. De quem eu sou. Do que eu sinto. Do que importa de verdade.

Ele virou o rosto e encarou Rafael.

— E você? Fugiu de quê?

Rafael abaixou os olhos, passou a mão pelos cabelos, respirou fundo.

— De tudo. Do trabalho. Da pressão. Da vida montada que todo mundo espera que eu viva.

— E de você mesmo?

Rafael mordeu o canto do lábio, sorriu com amargura.

— Talvez. Acho que, às vezes, a gente vira personagem do que esperam da gente. E se acostuma. Eu me acostumei.

Caio o olhava com atenção, mas sem pressa. Como quem espera que a ferida se conte por conta própria.

— É difícil desaprender a agradar os outros — Rafael continuou. — Mas acho que, pela primeira vez em muito tempo, eu tô tentando me escutar. Essa viagem foi isso… um grito que eu tentei dar, mesmo calado.

Caio sorriu com doçura.

— Que bom que você gritou. Eu tava aqui pra escutar.

Os olhos deles se encontraram. Longamente.

Sem defesas. Sem personagens. Só dois homens ali, no alto de um mirante, com o coração na pele.

— O engraçado — disse Rafael, baixo — é que eu não esperava nada. Só queria silêncio. E encontrei… você.

— Eu sou parte do silêncio. Só um pouco mais barulhento — respondeu Caio, sorrindo.

O riso deles se misturou ao vento. Caio se aproximou um pouco mais, o corpo agora quase encostando no de Rafael. O calor da pele, o leve arrepio, o toque do joelho no joelho.

— Você tem um jeito de olhar… — Caio disse, num tom mais rouco. — Como se tivesse medo de sentir. Mas tá sentindo.

Rafael não respondeu. Só o olhava. E o olhar dele já era resposta demais.

Então Caio se inclinou. Devagar. Com a ousadia suave de quem respeita o tempo do outro. O nariz dele quase roçou o de Rafael. Os olhos verdes buscaram permissão, mas não perguntaram. Sabiam.

E então o beijo aconteceu.

Lento. Quente. Roubado, mas permitido.

Não houve urgência. Foi como se os lábios se encontrassem pela primeira vez depois de muito tempo procurando. Um beijo que não prometia nada, mas dizia tudo.

Quando se afastaram, por um segundo ficaram ali, colados um no outro, respirando juntos.

— Desculpa… — sussurrou Caio.

— Não. — Rafael respondeu, olhando nos olhos dele. — Obrigado.

O vento soprou mais forte. As gaivotas gritavam lá embaixo. E o mar, lá embaixo, continuava se movendo — como se soubesse que alguma coisa tinha começado.

Claro, Theos. Aqui está a continuação da história, respeitando o tom poético, introspectivo e sensual que estamos construindo juntos — com a alternância de narradores, diálogos profundos e a progressão emocional entre Rafael e Caio:

O beijo de Caio não foi afoito, tampouco hesitante. Ele tocou os lábios de Rafael como quem toca um segredo — e Rafael, por um instante, esqueceu a brisa, o mar, o próprio peso nos ombros.

Os olhos de Caio permaneceram abertos por um segundo depois do beijo, como quem pedia permissão. Rafael manteve o olhar no dele, respirou fundo e respondeu sem dizer nada. Apenas se aproximou, passou a mão pelos cabelos de Caio, e foi ele quem o beijou agora — com um misto de ternura e desejo contido. Um beijo mais longo, com os corpos se inclinando um para o outro, quase como se fossem se abraçar por dentro. Caio o segurou pela cintura, e Rafael sentiu as pontas dos dedos do outro como brasas, queimando de leve, aquecendo lugares que nem sabia que estavam frios.

— Eu não sei o que está acontecendo aqui — murmurou Rafael, ainda próximo, o nariz tocando o de Caio — mas tem algo em você que parece que eu já conhecia... antes de te conhecer.

Caio sorriu com os olhos e respondeu baixo:

— Talvez seja porque eu estava esperando por você, Rafa.

A forma como ele disse Rafa fez algo vibrar dentro de Rafael, como se aquela praia, o mirante, o vento e tudo o mais tivesse conspirado para aquele momento. E por mais que ele quisesse racionalizar, entender, escapar... não havia escapatória para aquilo que nascia ali.

— Você é sempre assim direto? — Rafael brincou, com um sorriso lateral.

— Nem sempre. Só quando sinto que vale a pena.

Rafael olhou para o mar abaixo do mirante, as pedras desenhando um contorno selvagem e belo, e respondeu com um suspiro:

— E você acha que eu valho?

Caio se aproximou mais, colando o corpo no dele, o que fez Rafael arrepiar-se da nuca ao pé.

— Eu não acho. Eu sinto. E quando eu sinto... eu vou até o fim.

Houve um silêncio, mas não daqueles incômodos. Era como se a natureza ao redor também tivesse parado para ouvir o que viria depois.

— Rafa... — Caio voltou a falar, com a voz mais suave. — Quer passar a noite comigo?

Rafael franziu as sobrancelhas, não por espanto, mas por tentar captar a intenção por trás da pergunta. Caio completou:

— Não tô falando só de sexo, se é isso que pensou. É que... sei lá. Eu moro aqui perto. Faz tempo que eu não sinto essa vontade de ficar perto de alguém. E você parece estar precisando de um pouco de paz.

Rafael sorriu, ainda sério nos olhos.

— Você me parece uma confusão daquelas que traz paz. E isso é novo pra mim.

— Então vem — Caio estendeu a mão. — Meu apartamento não tem luxo, mas tem café quente, rede na varanda e uma playlist decente.

— Isso já é mais do que muita coisa que deixei pra trás.

Rafael aceitou a mão, e juntos desceram do mirante. Enquanto caminhavam em direção ao carro de Caio, os dedos entrelaçados como quem se conhece há anos, Rafael olhou de canto de olho e disse:

— Caio Amaral Júnior, né?

— É. E você... Rafael Santos Montenegro. Nome de escritor.

— Ou de alguém que ainda vai escrever a própria história.

Caio sorriu com o canto da boca e respondeu:

— Então escreve a próxima página comigo?

Rafael não respondeu com palavras. Apenas apertou mais forte a mão que segurava a dele. E seguiu.

Continua...

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 2Seguidores: 2Seguindo: 0Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

Comentários

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Parabéns, adorei o primeiro capítulo. Por favor continua.

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