Prólogo - Onde o mar nos levou...
Por Rafael.
Não sei ao certo em que ponto tudo começou.
Se foi quando meus olhos cruzaram os dele numa tarde quente à beira-mar...
Ou se foi quando decidi que fugir da vida que haviam escolhido pra mim era, na verdade, o primeiro passo para finalmente vivê-la.
Às vezes acho que o amor nos escolhe no silêncio — entre uma respiração descompassada, uma risada sincera, um toque que parece simples, mas acende mundos. Foi assim com ele. Com Caio.
Eu não sabia que estava prestes a encontrar um lar.
E não falo de paredes ou janelas. Falo de um olhar que me reconheceu. De um corpo que me acolheu. De uma alma que, ainda sem saber, me esperava.
Havia em Caio uma calma que me desarmava e, ao mesmo tempo, um fogo que me fazia querer mais — de mim, dele, da vida. Era como se o mundo todo desacelerasse ao seu redor, e de repente, eu quisesse existir naquele tempo, no tempo dele. Um tempo feito de conversas à beira do mar, de mãos entrelaçadas sem medo, de risos que curavam feridas que eu nem sabia que ainda sangravam.
Mas como todo amor real, o nosso também enfrentou marés.
Houve tempestades, ventos contrários, noites que pareceram eternas.
Houve perdas, silêncios, dores que tentaram nos afogar.
Houve dias em que eu pensei em voltar para a antiga versão de mim mesmo — aquela que vestia máscaras, que sorria para agradar, que seguia roteiros escritos por outras mãos.
Mas... houve também reencontros.
Promessas sussurradas em lençóis.
Mãos firmes mesmo quando o chão sumia.
Abraços que diziam "fica", mesmo quando a boca tremia de medo.
Houve fé — não no amanhã, mas no agora. No que a gente era um para o outro.
E acima de tudo: houve escolha.
A escolha de permanecer.
De ficar mesmo quando seria mais fácil partir.
De amar mesmo quando o orgulho gritava.
De recomeçar, mesmo quando tudo parecia perdido.
Essa não é apenas uma história de amor.
É uma história de reconstrução.
De dois homens que ousaram desafiar o medo e se entregar ao improvável.
Que se olharam quando tudo dizia para desviar o olhar.
Que disseram “sim” um ao outro mesmo quando o mundo dizia “não”.
Essa é uma história feita de instantes que mudam tudo.
De gestos pequenos que seguram uma vida inteira.
De um amor que foi além do desejo — que se fez cuidado, paciência, perdão.
E é assim que começa.
Ou talvez... é assim que eu escolho lembrar.
Porque no fim de tudo — de toda dor, de toda entrega — foi o mar quem nos levou.
Mas foi o amor que nos trouxe de volta.