Final - Do Abismo ao Paraíso.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 6294 palavras
Data: 19/12/2025 16:23:14
Última revisão: 19/12/2025 16:24:36

Samuel, vendo o circo pegar fogo, virou para mim:

— E você, Jorge? Já pensou em provar algo diferente?

Eu dei uma gargalhada, porque sabia que ele não estava dando em cima de mim, era só seu jeito provocador, e ele já tinha total liberdade para qualquer brincadeira.

— Desculpa, Samuel — Respondi. — Eu gosto demais de mulher. Acho até que meu lado feminino é lésbico.

As meninas riram, e eu continuei, olhando para Bia e Sara, fingindo analisar as duas como se estivesse avaliando uma obra de arte:

— Agora… vocês duas juntinhas… isso deve ser uma cena linda de se ver.

Bia tapou o rosto com as mãos, rindo alto. Sara jogou o cabelo pro lado, cheia de pose, como se estivesse topando o desafio.

Samuel gritou:

— EU AVISEI! ESSA TURMA VAI DAR TRABALHO!

O celular do Samuel vibrou em cima da mesa, quebrando o momento. Ele olhou a tela, arregalou o sorriso e já começou a digitar como se a vida dependesse daquilo.

— Ih… — Ele levantou a sobrancelha, animado. — Olha quem resolveu aparecer.

Sara provocou.

— Um milagre aconteceu? Achei que você estava em retiro espiritual.

Bia entrou na zoeira na hora:

— Vai, Samuel… admite. É ficante novo ou ressuscitou algum antigo?

Ele levantou o copo, como se brindasse à própria sorte.

— Chamou pra sair agora. Disse que tava com saudade.

Sara bateu palmas, debochada:

— ALELUIA! — Ela riu. — O homem vai sair da seca!

— Já tava precisando desestressar — Ele completou. — Porque aqui hoje … — Olhou em volta, teatral. — Só tem xereca e bofe apaixonado.

Ele riu, já se levantando, pegando a jaqueta.

— Vocês são um bando de invejosos. — Apontou pra nós três, brincando. — Mas aproveitem aí… que essa noite promete.

Bia piscou para ele:

— Vai com Deus, primo. Ou com quem você quiser.

Quando a porta se fechou atrás dele, o apartamento ficou mais silencioso… e curiosamente mais quente. O clima esquentou rapidamente.

Sara se espreguiçou no sofá, cruzando as pernas outra vez, completamente à vontade. Bia reparou. E eu reparei que Bia reparou.

Ela virou o corpo de leve em direção à Sara, apoiando o braço no encosto do sofá.

— Então… — Disse, com um sorriso aparentemente inocente. — Aquela história de “reviver o lado lésbico”… foi só provocação ou você tava falando sério?

Sara ergueu uma sobrancelha, divertida, sem recuar um centímetro.

— E se eu disser que tava falando sério?

Bia inclinou a cabeça, estudando o rosto dela.

— Eu gosto de gente que não fala só pra causar. — Ela respondeu. — Gosto de autenticidade.

O silêncio que se seguiu não foi constrangedor. Eu senti no corpo inteiro. Resolvi jogar lenha na fogueira.

— Se serve de incentivo… — Falei, com um meio sorriso. — Eu conheço bem a Sara. Ela não costuma brincar com esse tipo de coisa.

Sara virou o rosto para mim, fingindo indignação.

— “Costuma”, não. — Ela corrigiu. — Eu escolho bem quando brinco.

Bia riu, se aproximando um pouco mais.

— Interessante… — Murmurou. — Porque eu também escolho.

As duas se encararam por alguns segundos que pareceram longos demais pra serem inocentes. Eu fiquei ali, observando, sem interferir, completamente confortável com a cena. E, confesso, curioso. Eu ainda não tinha noção de que o meu simples comentário ia gerar uma reação em cadeia.

Sara quebrou o silêncio, com um sorriso lento:

— Você testa todo mundo assim, Bia?

— Só quem me deixa com vontade de testar. — Ela respondeu, sem desviar o olhar.

Eu me recostei no sofá, cruzando os braços.

— Aviso só uma coisa. — Aumentei a aposta. — Aqui não tem plateia julgando. Só curiosidade genuína.

Sara soltou uma risada baixa.

— Você não dá ponto sem nó, Jorge.

E naquele momento, sem ninguém precisar dizer mais nada, ficou claro que a noite ainda tinha muito espaço para conversas… e possibilidades.

Sara estava paralisada no sofá, os dedos apertando o copo de vinho vazio.

— Precisamos de mais vinho, Jorge. — Disse Bia, se aproximando mais da Sara. — Estímulo líquido é sempre bem-vindo.

Sara engoliu seco.

— Eu concordo.

Estávamos os três perfeitamente sóbrios, e a tensão entre elas era algo físico, uma terceira pessoa na sala, respirando pesado.

Eu estava recostado no sofá, meu pulso martelando. “Essas duas estão me deixando maluco. Por que não resolvem essa… energia? Pensei.

Bia sorriu na hora, captando meu pensamento. Sem rodeios, ela segurou o rosto da Sara com as duas mais e a beijou. Sara, a princípio assustada, logo entrou no clima.

— É só um beijo, Sara. — Bia avançou mais um passo. — Quem mandou você me deixar curiosa…

Sara sorriu. Seus olhos, de um castanho claro e normalmente cheios de confiança, estavam escuros, arregalados, presos nos lábios carmim de Bia. Eu vi sua língua umedecer os próprios lábios, um movimento quase imperceptível. Um “sim” silencioso.

Foi tudo o que Bia precisou. Seu rosto já estava colado ao de Sara, e os beijos vieram em sequência. Lentos no começo, ganhando intensidade aos poucos, até ficarem lascívia, demorados, deliciosos…

Bia colocou uma mão no sofá, ao lado do quadril de Sara, inclinando-se. A outra mão subiu, os dedos se entrelaçando nos cabelos cacheados e escuros de Sara, puxando com uma gentileza que mais parecia uma ordem disfarçada.

Meu pau já latejava de duro preso na calça, querendo se libertar e participar.

Bia interrompeu o beijo por um instante, apenas um centímetro. A respiração de Sara era ofegante e irregular.

— Tá vendo? — Bia murmurou, o hálito quente misturado ao dela. — É só um beijo. E você é tão boa nisso.

Sara não disse nada. Em vez disso, levantou a mão vacilante e tocou o rosto de Bia, a ponta dos dedos traçando a linha da mandíbula. Um pedido. Uma confissão. Bia sorriu.

A hesitação de Sara evaporou, substituída por uma fome súbita e desajeitada. Ela gemeu alto no beijo, as mãos subindo para os ombros de Bia, depois para o pescoço, puxando-a mais para perto. Bia desceu do apoio de pé, ajoelhando-se no chão entre as pernas de Sara no sofá. O vestido de seda de Sara subiu, revelando as coxas nuas, e Bia colocou as mãos sobre elas, pele contra pele. O som que Sara fez foi puro desejo.

— Hummmm… que delícia.

Eu prendi a respiração. Era mais intenso do que eu imaginava. Ver os dedos de Bia, com aquelas unhas pintadas de vermelho-escuro, massageando lentamente as coxas de Sara, subindo, subindo… Sara arqueou as costas, interrompendo o beijo para ofegar.

— Bia… por favor.

O “por favor” saiu arrastado, uma súplica rouca.

— Por favor, o quê? — Bia perguntou, a voz embebida em uma doçura perversa.

Seu olhar encontrou o meu por um segundo, por cima do ombro de Sara. Seus olhos brilhavam com malícia e convite. Ela sabia exatamente o que estava fazendo, para nós dois.

— Não sei… — Sara gemeu, a cabeça rolando para trás contra o encosto do sofá. — Só… continua.

Bia não precisou de mais incentivo. Ela baixou a cabeça, substituindo as mãos pela boca. Beijou as pernas de Sara. Depois, a parte interna da coxa. Cada local de ebia um beijo quente, molhado. Sara tremia, os dedos se enterrando nos cabelos de Bia.

— Aqui? — Bia sussurrou contra a pele, a boca a um palmo da calcinha rendada de Sara.

Um grito sufocado foi a resposta.

— Ahhhhhh…

Foi a deixa que Bia esperava. Com uma mão, ela deslizou os dedos sob a renda da calcinha. Com a outra, segurou o quadril de Sara firmemente, prendendo-a no lugar. Eu vi os dedos dela desaparecerem. Vi o corpo de Sara se contorcer como se tivesse levado um choque.

— Oh, meu Deus — Sara choramingou, a voz quebrada.

Bia estava beijando seu pescoço agora, enquanto a mão trabalhava. Eu podia ver o movimento de seu braço, o ritmo estabelecido.

— É isso que você queria, não é? — Bia falava entre os beijos no pescoço e nos ombros.

— Sim… sim, eu… Bia, não vou aguentar.

— Aguenta, sim.

Bia aumentou o ritmo. O som vindo de Sara já não era mais um gemido; era um choro contínuo de prazer, rouco e urgente. Ela estava completamente exposta, as pernas abertas, uma mão nos cabelos de Bia, a outra agarrada ao braço do sofá como se fosse a única coisa a mantê-la ancorada à realidade.

Minha visão ficou turva. Meu pau estava tão duro que doía, mas meus pés estavam pregados no chão. Aquele momento era delas. Eu era só o espectador, o cúmplice privilegiado.

Sara começou a falar, em frases entrecortadas:

— Lá… assim… não para, por favor, pelo amor de Deus, não para…

Bia não parou. Ela observava o rosto de Sara, estudava cada contração, cada espasmo que percorria seu corpo. Era uma artista consumada diante de sua tela. Então, ela se inclinou e, sem tirar a mão, levou a boca ao seio de Sara, mordiscando o mamilo através do tecido fino do vestido.

Foi a gota d’água. O corpo de Sara enrijeceu num arco perfeito. Um som rouco e gutural rasgou-se de sua garganta, e ela gemeu alto, violentamente, as pernas tremendo, os dedos dos pés se retorcendo.

— Ahhhhhh… como isso é bom…

Eu vi os músculos do seu abdômen se contraírem, vi o pescoço se esticar, os olhos se fecharem com força. Foi uma explosão longa, sacudindo-a da cabeça aos pés, enquanto Bia a beijava e a tocava, prolongando cada onda.

— Puta que pariu… não para… mais…

Quando finalmente o tremor diminuiu para espasmos suaves, Sara desabou no sofá, uma massa mole e ofegante. Bia retirou a mão lentamente, levando os dedos à própria boca e lambendo, com um olhar de pura provocação, direto para mim.

Sara estava arfando, tentando recuperar o fôlego. Abriu os olhos, vidrados. Olhou para Bia ajoelhada entre suas pernas, depois para mim, ao lado. Não havia vergonha, apenas a euforia brilhando em seu rosto.

Bia se levantou, suave como uma gata. Seu lábio ainda brilhava. Ela caminhou até mim, parando bem perto. Eu podia sentir o calor radiando dela, o cheiro de Sara em sua pele.

— E aí, amor? Gostou do que viu?

Sua mão desceu e apertou a protuberância rígida nas minhas calças, fazendo-me soltar um grunhido.

— Ainda quer só observar?

Através de um véu de desejo puro, vi Sara se apoiando nos cotovelos no sofá, ainda desgrenhada, os olhos escuros fixos em nós dois. Ela não parecia mais assustada. Parecia… faminta.

Um silêncio pesado e úmido pairava na sala, quebrado apenas pelo arfar ainda acelerado de Sara. Ela olhava para Bia e depois para mim, e algo se acertou dentro dela. Uma decisão. E antes que eu pudesse me mover, Sara se levantou do sofá, as pernas um pouco trêmulas, mas com uma determinação nova nos olhos ainda.

Ela percorreu a curta distância até Bia, que ainda estava de pé diante de mim, com aquele sorriso de dona do mundo. Em vez de falar, Sara colocou as mãos nos ombros de Bia e a empurrou com uma suavidade surpreendente, fazendo-a dar alguns passos para trás, até que a luz do abajur a iluminou por completo.

— Minha vez. — disse Sara, e sua voz, antes quebrada, agora tinha uma ressonância baixa, rouca do prazer recente.

Suas mãos foram para as alças do vestido de de Bia, os dedos contra o tecido cor de pérola. Ela deslizou as alças para baixo, tão devagar que parecia um ritual. O vestido cedeu, escorregando sobre os seios de Bia, revelando a curva suave, a pele cor de mel sob a luz quente.

Bia prendeu o ar, o sorriso se transformando em uma expressão de puro êxtase antecipado. Ela não ajudou nem atrapalhou. Apenas observou Sara.

O tecido continuou descendo, passando pela cintura sinuosa, pelos quadris largos, até se aglomerar em volta dos tornozelos. Bia ficou nua diante de nós, salvo por um fio dental de renda preta que parecia um risco de carvão em sua pele. Ela era deslumbrante. Uma escultura de carne e desejo.

Sara ajoelhou-se. O movimento foi tão natural, tão fluido, que parecia o próximo passo inevitável de uma dança. Ela colocou as mãos na cintura de Bia, fixando-as ali, e então inclinou a cabeça. O primeiro beijo foi na curva do quadril, um toque de lábios quentes na pele tensa. Bia soltou um suspiro, uma vibração longa e feliz.

— Isso… — Bia murmurou, os olhos se fechando. — Assim, Sara.

Encorajada, Sara começou sua jornada. Seus lábios subiram, traçando o osso da bacia. Beijos abertos, molhados, nos quais a língua acariciava a pele. A língua desenhando círculos lentos ao redor do umbigo. Bia tremia, os músculos se contraindo sob cada carícia.

Eu me aproximei, puxado por uma corrente magnética. Minhas mãos encontraram as costas de Bia, os dedos se espalhando sobre a pele quente e aveludada. Ela se arqueou para trás, encostando os ombros no meu peito, a cabeça recostando no meu ombro. Seu cheiro, misturado ao perfume floral de Sara, era intoxicante.

— Ela sabe o que faz, amor? — Bia sussurrou para mim, os olhos semicerrados.

Eu só conseguia concordar, hipnotizado.

Sara beijava os seios da Bia. Segurou um com cada mão, massageando com uma força que fazia Bia gemer baixo. Levou a boca a um mamilo cor de rosa escuro, chupando-o, envolvendo-o com a língua. O som era obsceno e lindo. Bia enterrou uma mão nos cabelos cacheados de Sara, puxando, guiando-a.

— Mais — Bia ordenou.

Sara obedeceu, alternando entre os seios, mordiscando de leve, lambendo as pontas endurecidas como pedras preciosas.

Mas Sara tinha um objetivo. Sua boca desceu novamente, uma trilha de beijos molhados pela linha média do corpo de Bia. Passou pela barriga, pelos quadris, até ficar de joelhos bem entre as pernas abertas de Bia. Minha visão era apenas parcial, mas eu podia ver os cabelos de Bia balançando a cada movimento de Sara.

Foi quando eu desci também. Ajoelhei-me atrás de Bia, apoiando-a contra mim. Minhas mãos se juntaram às de Sara. Enquanto sua boca se ocupava do tecido preto da renda, eu passei os dedos pelas laterais do corpo de Bia, subindo até os seios, apertando-os, sentindo os mamilos roçarem contra minhas palmas. Ela era um vulcão prestes a entrar em erupção.

— Tira — Sara ordenou, me olhando, indicando a calcinha de Bia.

Minhas mãos desceram, encontrando as mãos de Sara nos quadris de Bia. Trabalhamos juntos: meus dedos nas laterais do tecido minúsculo, os dela na frente. Puxamos, e a peça deslizou pelas pernas de Bia, deixando-a completamente nua. O ar gelado do ar-condicionado contrastou com o calor que irradiava dela.

Sara não hesitou. Colocou as mãos nas coxas de Bia, abrindo-as mais, e mergulhou, beijando, lambendo e sugando cada centímetro de pele que encontrava.

Bia gritou. Um som agudo e sem vergonha que ecoou pelas paredes.

— Vocês estão acabando comigo… não parem…

O corpo dela se debateu contra mim, e eu a segurei com mais força.

— Segura ela, Jorge — Sara ordenou.

A autoridade na voz dela me fez estremecer. Eu prendi Bia nos meus braços, enquanto Sara a devorava. Eu via o movimento rítmico dos ombros de Sara, ouvia os sons molhados e obscenos. Via o rosto de Bia se contorcer num êxtase tão profundo que beirava a dor. Sua boca se abria em gritos silenciosos, os olhos revirando.

— Assim, Sara… não para, não para… — Bia gemia, as palavras saindo entrecortadas.

Minha própria excitação era uma dor latejante e insistente. Eu me esfreguei contra as nádegas de Bia, o atrito do jeans áspero contra sua pele já era insuportável. Mas aquele momento não era meu. Era delas.

Sara parecia possuída. Uma fome recém-descoberta a consumia. Ela bebia de Bia, os dedos se enterrando nas nádegas para puxá-la mais fundo contra a boca. Bia estava quase inconsciente, sustentada apenas pelos meus braços e pela voracidade de Sara. Seus músculos tremiam incontrolavelmente.

— Eu vou… Sara, eu vou… — Bia gemeu, um aviso verdadeiro, um lamento de pura entrega.

Sara respondeu aumentando o ritmo, sugando, lambendo e chupando com mais intensidade. O corpo de Bia se arqueou para a frente num espasmo violento, depois se contraiu para trás, esmagando-se contra meu peito. Seu grito foi abafado pelo meu ombro. Eu a senti pulsar, uma onda atrás da outra, sacudindo-a da cabeça aos pés.

Foi longo, interminável, e Sara não deu trégua, prolongando cada contração até que Bia ficou mole, um peso quente e suado em meus braços.

— Ahhhhhhhh… que loucura…

Sara finalmente se soltou, ofegante. Seu queixo estava molhado, brilhando. Ela olhou para cima, primeiro para o estado de absoluta devastação no rosto de Bia, depois para mim. Seus olhos escuros tinham um brilho feroz, triunfante.

— Agora ele… — Bia sussurrou, a voz irreconhecivelmente rouca. Ela ainda tremia. — Agora é a vez dele, Sara.

O ar ainda carregava o eco do gemido rouco de Bia. Ela era um peso quente e mole nos meus braços, a pele úmida de suor colada na minha camisa. Sua respiração, ainda ofegante, soprava contra meu pescoço.

Sara se levantou. Seus lábios estavam brilhantes, umedecidos. Ela os limpou com as costas da mão, sem desviar o olhar de mim. Aquele brilho feroz nos olhos escuros agora tinha um novo alvo.

— Você ouviu ela. — Sara disse, e não era uma pergunta. Era uma afirmação. Um fato.

Minha boca estava seca. Eu só consegui concordar em silêncio, sentindo Bia se mexer lentamente contra mim. Ela riu.

— Está esperando o quê, Jorge? — Bia sussurrou, virando a cabeça para que seus lábios roçassem meu ouvido. — Um convite formal?

Sara parou bem na minha frente, seu corpo a apenas alguns centímetros do de Bia, que eu ainda segurava. Seu perfume, agora intenso, invadia meus sentidos. Sua mão subiu. A ponta dos dedos frios tocou meu queixo, virando meu rosto para que eu olhasse diretamente para ela.

— Tira a camisa. — Ela ordenou.

A voz não titubeava. Minhas mãos soltaram Bia, que se apoiou em mim enquanto eu obedecia. Puxei a camisa pela nuca, passando-a sobre a cabeça e deixando-a cair no chão. O ar frio do ar-condicionado fez meus mamilos se contraírem. Sara apreciou a visão, seus olhos percorrendo meu peito, meu abdômen.

— Agora você. — Bia murmurou para Sara, a voz recuperando um fio de força. — Ele precisa ver o que está prestes a ter.

Sara segurou a barra de seu próprio vestido de seda. Com um movimento lento, teatral, puxou-o para cima e sobre a cabeça, deixando-o cair. Ficou apenas de calcinha. Seus seios eram firmes, os mamilos de um tom de chocolate profundo, já endurecidos pelo ar e pela excitação. Do jeito que eu me lembrava. A luz do abajur pintava sombras nas curvas de seu corpo atlético.

Ela sempre fora deslumbrante.

— Toca nela. — Bia me instruiu, suas próprias mãos descendo para desabotoar minha calça. — Enquanto eu cuido disso.

Minhas mãos encontraram a cintura de Sara. A pele era quente, suave como cetim polido. Puxei-a para perto, até que nossos corpos se tocaram. Seus seios se achataram contra meu peito, uma pressão elétrica. Baixei a cabeça, mas ela recuou um pouco, segurando meu rosto.

— Não… — ela sussurrou. — Faz assim.

Ela me guiou. Minhas mãos desceram para suas nádegas, apertando a carne firme. Puxei-a contra mim, sentindo a umidade quente da calcinha através do meu jeans. Ela gemeu, uma vibração que senti em meus próprios ossos. Então, inclinou-se e finalmente nos beijamos.

Não era como o beijo com Bia, um complemento perfeito. Era mais selvagem, mais direto. Familiar até. Uma afirmação. Sua língua invadiu minha boca, saborosa, dominante. Enquanto isso, eu sentia Bia atrás de mim, seus dedos ágeis abrindo meu jeans, puxando o zíper. A calça caiu pelos meus quadris.

O toque de Bia me fez estremecer. Ela me envolveu, a mão firme iniciando um movimento lento, ascendente, punhetando com calma.

— Duas mulheres, amor. — Ela sussurrou no meu ouvido, enquanto a mão trabalhava. — Toda essa atenção só para você. Você aguenta?

Eu não consegui responder. Sara interrompeu o beijo, seus lábios se movendo para o meu pescoço, mordiscando, sugando. A mão dela desceu, sobrepondo-se à de Bia. Juntas, as mãos me envolviam, criando uma fricção perfeita. Soltei um gemido, as pernas vacilando.

— Caralho… vocês se uniram rápido demais…

Bia riu, uma risada baixa e vitoriosa.

— Ele está quase lá, Sara. Tá vibrando na nossa mão. Vamos mudar isso.

Ela parou. A mão saiu. De repente, eu estava nu diante delas. Sara se afastou, os olhos escuros percorrendo meu corpo com uma avaliação que me fez queimar de ansiedade.

— No chão. — Bia ordenou, dando um leve empurrão no meu ombro.

Eu desci, as costas encontrando o tapete macio da sala. Bia ficou de pé sobre mim, os pés de cada lado dos meus quadris. Ela ainda estava nua, gloriosa e imponente. Sara ajoelhou-se ao meu lado, a mão voltando a me tocar, agora sem barreiras.

— Você acha que sabe o que quer, Jorge? — Bia perguntou, olhando para baixo. — Mas eu sei melhor.

Ela se ajoelhou, sentando-se em cima de mim, mas não sobre a minha ereção. Em vez disso, posicionou-se mais para cima, as coxas abraçando minhas costelas. Estava de frente para Sara.

— Vem cá. — Bia disse a Sara.

Sara entendeu. Moveu-se, rastejando sobre o tapete até ficar de joelhos entre as minhas pernas, o rosto alinhado com a parte inferior do meu corpo. A respiração quente sobre minha pele era uma tortura deliciosa.

— Sara vai me comer. — Bia anunciou, olhando-me diretamente nos olhos enquanto se inclinava para trás, apoiando as mãos nas minhas coxas. — E você, meu amor, também vai me comer. As duas coisas ao mesmo tempo. Você consegue se concentrar?

Ela não esperou por uma resposta. Em vez disso, me guiou, posicionando meu pau na entrada da xoxota. Estava quente, incrivelmente quente e úmido. Ela desceu um pouco, apenas o suficiente para a cabeça entrar.

No mesmo instante, Sara inclinou a cabeça. Sua língua foi certeira. Uma lambida longa, da base até o início da cabeça da pica.

— Caralho, mulher… assim é covardia. — Gemi alto.

Sara segurou firme no pau, tirando a cabeça de dentro da buceta de Bia e o abocanhando com fome. Meus músculos abdominais se contraíram num espasmo involuntário. A safada começou a mamar com vontade, enfiando tudo na boca, até o fundo da garganta.

Ela alternava chupadas no pau, com lambidas na buceta da Bia. Nós dois gemiamos juntos.

Bia, não se aguentando mais, pediu licença à Sara e sentou de uma vez, iniciando um balanço lento e profundo dos quadris, tomando cada centímetro de mim dentro do calor úmido dela. Cada elevação era uma retirada agonizante; cada descida, um alívio explosivo.

Quando Bia subia, a boca de Sara descia. Quando Bia afundava, a língua de Sara subia da base até a ponta. Era um contraponto perfeito, uma coreografia de pura perversão que mantinha a pressão constante, a excitação escalando em uma linha reta, sem alívio.

— Isso… assim… — Bia gemeu, as mãos se agarrando ao meu peito, as unhas cravando-se levemente na minha pele. O rosto estava virado para o teto, o pescoço em arco tenso. — Não para, Sara… não deixa ele respirar.

Sara aumentou o ritmo, a boca se tornando mais insistente, mais voraz. A língua se enrolava em torno da cabeça a cada sucção, os lábios criando um vácuo perfeito. Minhas mãos se enterraram no tapete, os dedos se contorcendo na lã macia.

O pau passava da boca de Sara para a xoxota da Bia, me levando ao limite extremo do prazer. Eu tentava me concentrar, tentava sustentar, mas era uma guerra perdida. A sensação de Bia me envolvendo, quente e pulsante, combinada com a técnica implacável de Sara, era demais. Um suor frio percorreu minhas têmporas.

— Ele está lutando. — Bia anunciou, como se lesse meus pensamentos.

Ela abriu os olhos e olhou para baixo, para mim, o rosto uma máscara de prazer concentrado.

— Não lute, Jorge. Só sente. Só… deixa.

Ela mudou o ângulo, inclinando-se mais para a frente. A mudança foi mínima, mas imediata. O grelo roçando no meu púbis. O gemido subiu de tom.

Era uma tortura refinada. Sara lambendo e sugando, Bia subindo e descendo, se esfregando. Era uma atenção meticulosa, quase científica.

— Ele está quase. — Sara murmurou, os lábios roçando minha pele.

— Eu sei. — Bia sussurrou, e havia em seu rosto um triunfo lindo. — Segura, amor. Só mais um pouco.

Ela parou de se mover. Ficou imóvel, envolvendo-me completamente, os músculos internos se apertando ao meu redor num aperto quase transcendental. A pausa foi brutal. A necessidade de me mover, de buscar alívio, gritava em cada nervo.

No vácuo do movimento de Bia, Sara atacou, lambendo meu saco, sugando as bolas. Foi profundo, rápido, um ritmo implacável. Bia voltou a se mover, subindo e descendo, me deixando no limite das forças.

— Agora. — Bia ordenou, intensificando seus movimentos.

E Sara sincronizou perfeitamente. Foi o golpe final. A coordenação era impossível de resistir. A pressão, construída com tanto cuidado, explodiu. Meu corpo se arqueou, descolando do tapete. Um rugido rouco saiu do meu peito. Eu estava vindo, e a sensação era de ser esvaziado, arrancado de dentro para fora, em jatos intermináveis.

— Ahhhhhhhh… — Bia gritou, o próprio corpo se contorcendo sobre mim.

Os músculos internos em espasmos ao meu redor, apertando cada última gota. Ela veio comigo, gozando quase ao mesmo tempo.

Sara não recuou. Manteve o ritmo, tirando o pau de dentro e engolindo, voltando a enfiar, prolongando cada contração até que o último espasmo passou e meu corpo desabou, uma massa exaurida e trêmula contra o chão.

O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo som de três pares de pulmões lutando por ar. Bia desabou para a frente, os braços cedendo, o corpo quente e suado descansando sobre o meu peito. Sara se soltou lentamente, ofegante, o queixo brilhando.

Eu estava destruído. Vazio. Incapaz de pensar ou me mover. Foi Sara quem quebrou o silêncio. Ela se arrastou para o lado, deitando-se no tapete ao meu lado, o rosto perto do meu. Os olhos escuros estudavam meu rosto, buscando algo.

— E então? — Perguntou, a voz um fio de som. — Foi igual antigamente?

Bia riu, um som fraco e abafado contra meu peito. Virou a cabeça para olhar para Sara, um sorriso exausto e satisfeito nos lábios.

— Vocês, hein? Quem diria… — Murmurou.

Bia se levantou com esforço, se sentando de pernas cruzadas no tapete. Olhou para Sara, depois para mim, e apontou um dedo suave para o espaço entre nós.

— Minha vez de observar. Mostrem para mim.

A respiração pesada da sala parecia pulsar no meu ouvido. Bia, sentada de pernas cruzadas, nos observava com olhos brilhantes. Ela aguardava para ver quem ia tomar a iniciativa.

Sara fez diferente, se movendo sobre Bia, virando-se, apoiando-se nas mãos e nos joelhos, até ficar sobre, de quatro. Suas costas formavam uma linha suave e tensa à luz baixa do abajur, a curva das nádegas uma oferta direta para mim.

Bia não parou de beijá-la. Apenas ajustou o ângulo, a boca agora mordiscando a nuca de Sara, depois deslizando para o ombro. As mãos, livres, desceram pelas costas de Sara, acariciando, até se firmarem em seus quadris, apertando, segurando-a no lugar.

Foi então que seus olhos encontraram os meus, por cima do ombro de Sara. Não havia mais perguntas neles. Apenas instrução. Bia levantou a mão direita, deixou-a plana no ar por um instante e então apontou um dedo, claro e lento, para a entrada úmida e entreaberta de Sara. O convite era silencioso. Era um comando.

Um tremor percorreu meu corpo exaurido. A visão das duas mulheres, uma dominando a outra, apresentando-a para mim, fez uma nova onda de desejo, surpreendente e violenta, subir das cinzas da minha exaustão. Eu estava mole, esvaziado, mas alguma coisa mais profunda reacendeu.

Arrastei-me para a frente, os joelhos encontrando o tapete macio entre as pernas abertas de Sara. O cheiro dela, intenso e adocicado, misturado ao perfume de Bia, me inundou. Coloquei as mãos nas nádegas de Sara, sentindo a pele quente e suada tremer sob meu toque. Ela arqueou as costas ainda mais, um pequeno gemido escapando enquanto Bia continuava a morder e beijar seus ombros.

— Jorge… — Bia murmurou, a voz um sussurro rouco contra a pele de Sara. — Ela está pronta. Ela está mais do que pronta. Sente?

As pontas dos meus dedos escorregaram para a frente, através da umidade que já escorria pelas coxas de Sara. Ela estava encharcada, quente, pulsante. Um tremor convulsivo percorreu o corpo inteiro quando toquei seu centro.

— Por favor… — Sara gemeu, a palavra abafada, o rosto enterrado no colo de Bia.

Alinhei a cabeça da pica na entrada da xoxota, encontrando aquele calor. A resistência foi mínima, quase inexistente. Com um único impulso dos quadris, entrei. Completamente.

— Ahhhh… que delicia… que saudade… — Sara gemeu alto.

A bucetinha pulsando num aperto quente e intenso. Era uma sensação familiar, mas não menos incrível. Eu via cada músculo das costas dela se tensionar, sentia cada contração interna enquanto se ajustava a mim.

Sara soltou um suspiro de satisfação, os olhos se fechando por um segundo.

— Isso… assim mesmo.. — sussurrou.

Bia queria participar. As mãos nas ancas de Sara, apertando, guiando.

— Vai devagar, amor. Deixa ela sentir cada centímetro.

Obedeci. Recuei, uma retirada lenta e torturante, até quase sair, e então avancei novamente, afundando naquele calor úmido com uma cadência deliberada. Cada investida era um estudo.

— Isso… mete tudo… até o fundo… — Sara se entregava completamente.

Bia baixou uma mão, passando pelos flancos de Sara até encontrar o ponto onde nossos corpos se uniam. Os dedos se esfregaram ali, misturando a umidade dela com a minha, sentindo o movimento.

— Ela tá totalmente entregue. — Bia provocou, com malícia na voz.

E voltou a beijar a Sara.

— Está sentindo ele todo? Cada centímetro? Cada veia?

Sara só conseguiu balançar a cabeça, um movimento negativo e positivo ao mesmo tempo, os dedos se enterrando nos ombros de Bia, que ria satisfeita, excitada, e então se inclinou para a frente, a boca encontrando a orelha de Sara.

— Então me conta… — Ela sussurrou, alto o suficiente para eu ouvir. — Me conta o que está sentindo. Senão eu paro ele.

A ameaça era vazia. Nós três sabíamos, mas funcionou. Sara tentou falar, a voz trêmula e abafada.

— Está… está tão fundo… — Ela gemeu. — Queima… mas é bom. Me preenche… toda.

— Toda? Até o fundo? — Bia insistiu.

A mão que estava em mim deslizou para a frente, os dedos encontrando o clitóris de Sara. Ela esfregou num círculo lento e firme. Sara gritou novamente, o corpo se contorcendo.

— T-tudo… — Sara choramingou, as palavras saindo entre suspiros ofegantes. — Tá me preenchendo por completo, Bia.

— Bia, nada… — Bia corrigiu, o dedo acelerando o ritmo. — É o Jorge. O Jorge tá te fodendo. De novo.

Eu aumentei o ritmo. A fadiga desaparecera, substituída por uma energia nova e crua. Agarrar os quadris de Sara, sentir os músculos dela trabalhando, vê-la sendo beijada e dominada por Bia enquanto eu a possuía… era uma combinação de estímulos que me levou ao limite em segundos.

— Ela está perto… — Bia anunciou, lendo o corpo de Sara como um livro aberto.

Os dedos agora trabalhavam rápidos e precisos.

— Vai, Jorge. Faz ela gozar. Faz ela gritar seu nome.

As palavras foram o gatilho. Perdi toda a moderação. Meus quadris bateram contra os dela com força bruta, cada investida uma afirmação. O som era animal, primitivo. Sara gritava agora, gritos contínuos e roucos, abafados pelo corpo de Bia. O interior dela pulsava ao meu redor, um aperto rítmico e frenético.

— Ahhhhhh… não para… mais forte…

— Agora! — Bia gritou.

E o comando foi a faísca final. O corpo de Sara estremeceu num tremor violento. O grito dela se tornou um uivo longo e ininterrupto de pura liberação. A sensação de ela se contorcer, apertar, puxar-me para dentro enquanto gozava foi demais. Empurrei-a contra mim, fundo, e explodi, ondas de prazer tão intensas que apagaram o mundo, jorrando dentro dela em jatos intermináveis, sincronizados com cada espasmo do clímax dela.

Desabei sobre as costas de Sara, o peso do meu corpo esmagando-a contra Bia, os três num emaranhado de membros trêmulos e suados. A única coisa que eu ouvia era o som dos nossos corações batendo e a respiração ofegante de Sara, que se contorcia silenciosamente, sacudida pelos últimos espasmos.

Foi Bia quem quebrou o silêncio. Ela soltou um suspiro longo e teatral, os dedos acariciando o cabelo de Sara.

— Meu Deus… — Ela murmurou, feliz. — Preciso de uma água. Ou algo mais forte. Vocês não estão mortos, estão?

Sara gemeu algo ininteligível, um som de protesto preguiçoso. Consegui mover a cabeça o suficiente para ver Bia sorrir, os olhos brilhando com uma luz de diversão e malícia.

— Vou buscar vinho. — Anunciou.

Começou a se desvencilhar com cuidado, deslizando para fora do nosso emaranhado. O corpo dela, suado e glorioso, ergueu-se com uma graça felina. Esticou os braços para o alto, arqueando as costas, e por um momento fiquei simplesmente hipnotizado pela curva da coluna, pela forma como a luz brilhava sobre a pele.

Ela caminhou até a cozinha, os passos quase silenciosos no piso frio. Sara finalmente virou a cabeça, o rosto marcado pelo tapete, os olhos semicerrados. Olhou para mim, e um sorriso pequeno, quase envergonhado, tocou seus lábios.

— Isso… aconteceu mesmo? — Ela sussurrou.

— Sim. Acho que nossos corpos ainda se lembram. Foi incrível.

Ela me beijou com o rosto corado. Mais como um agradecimento, uma carícia.

Bia voltou momentos depois, trazendo não uma taça, mas a garrafa inteira de vinho tinto e três taças grandes, segurados pelos cabos em uma única mão. Parou à nossa frente, observando-nos como uma curadora satisfeita diante de uma obra de arte caótica.

Bia serviu o vinho, e entregou uma taça para cada um de nós.

— Um brinde. — Disse, erguendo o copo. Os olhos percorreram nossos rostos. — À cumplicidade, ao prazer compartilhado.

Batemos as taças. O som íntimo. O vinho era encorpado, amadeirado, e desceu pela minha garganta como um bálsamo.

Estávamos felizes, saciados, mas aquela noite ainda prometia muito mais.

{…}

Algum tempo depois…

Com o tempo, o que eu e a Bia tínhamos deixou de ser apenas uma conexão intensa e virou escolha. Não foi um pedido formal, nem uma cena de filme. Foi simples, quase silencioso. Em algum momento, a gente percebeu que já estava junto. E decidiu ficar.

Oficializamos do nosso jeito. Sem alarde, sem promessas grandiosas demais, mas com uma honestidade que eu nunca tinha vivido antes. A gente se escolheu sabendo exatamente quem o outro era. E, talvez por isso mesmo, deu tão certo.

Optamos por continuar no estilo de vida liberal, mas sem fazer disso um compromisso ou uma necessidade. Não virou regra, nem rotina. É mais um tempero do que o prato principal. Um espaço de liberdade que existe porque há confiança, e não o contrário.

A Sara continuou presente. Não como um elo obrigatório, nem como terceira fixa, mas como alguém que caminha perto da gente, quando a vontade aparece, quando o clima pede, quando o encontro faz sentido. Sem cobranças, sem posse, sem aquele jogo de expectativas que costuma estragar tudo.

O curioso é que, quanto mais livres nos permitimos ser, mais forte ficou o que existia entre mim e a Bia.

Encontramos parceria nas pequenas coisas. Cumplicidade no silêncio, nas risadas bobas, nas conversas longas que começam sem rumo e terminam com a sensação de casa. Descobrimos que liberdade não é sair por aí sem limites — é poder ficar porque se quer, não porque se precisa.

No fim, não foi o liberalismo que definiu nossa relação. Foi o respeito. Foi o afeto. Foi a escolha diária de caminhar lado a lado, sabendo que o mundo é grande, mas que ainda assim é ali, um no outro, que a gente prefere estar. E isso, para mim, sempre foi mais do que suficiente.

A notícia nem era mais esperada, mas ela chegou numa tarde qualquer, sem aviso.

Percebi que a Sara estava diferente, com aquela expressão de quem traz uma notícia que encerra um ciclo.

Estávamos eu, a Bia, o Samuel e ela, num fim de tarde tranquilo, quando a Sara respirou fundo, apoiou o taça na mesa e disse, quase como quem tira um peso do peito:

— Fiquei sabendo de uma coisa… lembram da Ana Flávia? A gêmea do mal?

Eu senti o corpo reagir antes mesmo da cabeça. Não por medo. Era mais um reflexo antigo, automático. A Bia cruzou os braços, atenta. O Samuel arqueou a sobrancelha, curioso.

Sara continuou, com a calma de quem já tinha digerido a história:

— Ela foi presa.

O silêncio durou só alguns segundos, mas pareceu maior. Sara explicou que a pilantra tinha tentado mais um golpe, dessa vez no interior de Goiás. Filho de fazendeiro, dinheiro velho, nome forte na região. O roteiro era conhecido: pureza ensaiada, história triste, envolvimento rápido. Veio com golpe da barriga, depois a chantagem emocional, a coação velada… tudo muito parecido com o que a gente já conhecia dela.

Só que, dessa vez, o pai do rapaz não comprou a personagem. Desconfiou cedo demais da santidade exagerada, contratou gente para investigar, puxou ficha, cruzou histórias. Em poucos meses, a máscara caiu. Provas, testemunhas, inconsistências demais para ignorar. A “moça indefesa” virou ré.

— Ela está em prisão preventiva — Sara concluiu. — Aguardando o andamento do processo.

Bia soltou o ar devagar, como se estivesse segurando aquilo há anos. Não era satisfação. Era alívio. Samuel balançou a cabeça, meio incrédulo, meio resignado:

— Tem gente que não aprende nunca.

Eu não disse nada. Fiquei pensando em como certas histórias parecem destinadas a se repetir até que o fim seja inevitável. A Ana Flávia sempre apostou na própria esperteza, na ideia de que era mais inteligente que todo mundo. No fim, foi traída pelo próprio padrão.

Não senti alegria. Também não senti pena. Senti o encerramento. Como se um capítulo que ficou aberto tempo demais tivesse, finalmente, sido fechado por alguém que não fazia parte da nossa história, e por isso mesmo conseguiu fazer o que a gente nunca precisou: dar um ponto final definitivo.

A vida seguiu ali, à mesa, com vinho, conversa e riso contido. O nome dela não trouxe peso algum. Ela era a vilã de sua própria história. Não cabia mais nas nossas vidas.

Fim!!!

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Comentários

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Belo encerramento da história

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Fantástico, Lukinha!

Parabéns! E obrigado.

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Muito bom, mas gostaria de saber o que aconteceu com o amigo talharico.

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Acho que ele teve o fim merecido. O esquecimento.

Li, há muito tempo, que algum povo, não sei se os egípcios, quando queriam demonstrar a total aversão a alguém, apagavam todos os escritos referentes àquela pessoa. Dessa forma a alma também desaparecia no além vida.

É o que merece o talarico: o nada.

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