Tudo começou com uma ideia estúpida de "aventura".
Não me entenda mal, a premissa era ótima. Eu (**Marcos**) e minha esposa, **Lúcia**, junto com nossos dois casais de melhores amigos, tínhamos alugado uma cabana isolada no topo da Serra da Mantiqueira. O anúncio prometia "*isolamento total*", "vista para as araucárias" e "silêncio absoluto". Era pra ser um feriado de churrasco, vinho barato e risadas.
A "*ideia estúpida*" foi a logística.
**Ricardo**, nosso amigo que vive na academia e tem crise de meia-idade precoce, convenceu a gente a ir de moto.
— Vai ser épico! — ele dizia. — A sensação do vento, a liberdade... Eu levo a carretinha na minha Big Trail com as malas de todo mundo. As motos de vocês vão leves.
Parecia fazer sentido. Eu fui na minha Shadow com a Lúcia na garupa. Ricardo e sua esposa, **Patrícia** (a **Pati**), na V-Strom dele, puxando o reboque coberto com uma lona azul amarrada com extensores elásticos. E o **Eduardo (Edu)** com a **Fernanda (Fê)** na Triumph clássica dele.
Os primeiros 150 quilômetros foram, admito, cinematográficos. Sol, asfalto bom, paradas pra café e pão de queijo. Mas assim que começamos a subir a serra propriamente dita, o clima de Minas Gerais decidiu nos lembrar quem manda.
O céu fechou num tom de roxo-hematoma em questão de minutos. O ar esfriou dez graus de uma vez só. E então, o céu se abriu.
Não foi uma chuva. Foi um castigo.
A água caía tão forte que parecia granizo, batendo nos capacetes como pedras. A estrada de terra, que o dono do sítio disse ser "tranquila", virou um sabão de argila vermelha. A visibilidade caiu para menos de dois metros. Eu mal conseguia ver a lanterna traseira da moto do Ricardo à minha frente.
A Lúcia, agarrada à minha cintura, gritava coisas que o vento abafava, mas eu sentia as unhas dela cravando na minha jaqueta de couro a cada derrapada da roda traseira. Meus coturnos já tinham virado dois aquários. A água escorria pelo pescoço, entrava pelas luvas, gelava a espinha.
Foram quarenta minutos de inferno lamaçento até avistarmos o portão de madeira bruta e, ao fundo, a cabana.
Quando desligamos os motores sob a proteção precária do telhado da varanda, o silêncio do motor foi substituído pelo rugido ensurdecedor da chuva no telhado de zinco.
— Puta que pariu! — Ricardo berrou, levantando a viseira e cuspindo água. — A gente quase morreu naquela curva!
— Eu quero descer! Eu quero descer agora! — A Fê chorava enquanto descia da garupa do Edu, tremendo tanto que mal parava em pé. — Nunca mais! Nunca mais eu subo nessa moto!
Nós estávamos ensopados. Não apenas molhados, mas saturados. O tipo de molhado que faz a roupa pesar cinco quilos a mais.
— Vamos logo pegar as coisas e entrar, pelo amor de Deus — Lúcia disse, tirando o capacete. O cabelo loiro dela estava grudado na testa, pingando. Os lábios estavam roxos.
Ricardo foi até a traseira da moto dele para desengatar a carretinha e pegar as chaves da casa que estariam no bolso da mala dele.
Foi quando ele parou.
Ele ficou imóvel, olhando para o reboque. A chuva açoitava as costas dele, mas ele não se mexia.
— Ricardo? — Pati chamou, abraçando os próprios braços. — Abre logo isso, amor.
Ele se virou devagar. O rosto dele estava pálido, mesmo no frio.
— A lona... — ele sussurrou.
Eu me aproximei. A lona azul não estava cobrindo a carga. Ela estava rasgada, presa por apenas um elástico lateral, chicoteando tristemente ao vento. E a tampa traseira da carretinha estava aberta, batendo solta.
Olhei para dentro.
Vazio.
Apenas uma poça de água barrenta no fundo de metal e, num canto, preso milagrosamente por uma deformação no assoalho, um fardo de latas de cerveja e um pacote de carvão encharcado.
— Cadê... cadê as malas? — Edu perguntou, a voz sumindo.
— Caíram — Ricardo disse, passando as mãos no cabelo molhado, em choque. — Devem ter caído quando a gente passou naquele buraco grande lá embaixo. Ou quando a lona rasgou.
— Tudo? — A Fê gritou, histérica. — Minhas roupas? Meus remédios? A comida?
— Tudo — confirmei, sentindo um buraco no estômago.
— A gente tem que voltar! — Ricardo fez menção de subir na moto.
— Nem fodendo! — eu segurei o braço dele. — Olha pra essa estrada, Ricardo. Virou um rio. Já tá escurecendo. Se a gente descer agora, sem visibilidade, a gente vai se matar.
Ficamos ali parados, seis figuras encharcadas, olhando para o vazio da carretinha. Nossas roupas secas, toalhas, lençóis, comida para três dias... tudo espalhado pela serra, debaixo daquela tempestade.
— A chave da casa — Lúcia disse, prática como sempre, embora seus dentes batessem. — Onde tá a chave?
— Tava no bolso da minha jaqueta, não na mala — Ricardo tateou o bolso interno, aliviado. — Pelo menos isso.
Entramos na cabana como refugiados de guerra. O lugar era bonito, rústico, cheirando a madeira e poeira de casa fechada. Mas estava gelado. Uma geladeira.
Eu e Edu fomos direto para a lareira. Havia uma pilha de lenha seca ao lado. Com as mãos trêmulas e duras de frio, levamos dez minutos para conseguir fazer uma chama decente pegar.
Enquanto isso, as mulheres inspecionavam a casa.
— Não tem aquecedor elétrico — Pati anunciou, voltando da cozinha. A blusa branca dela estava transparente, colada nos seios fartos. Dava para ver perfeitamente os mamilos duros e escuros contra o tecido frio. — E o fogão é a gás, mas o botijão tá lá fora.
— Toalhas? — perguntei, soprando as brasas.
Fê voltou do corredor dos quartos, a expressão desolada.
— Nada. O armário de roupa de cama tá vazio. Só tem... — ela levantou dois panos de prato velhos e encardidos. — O dono avisou que não fornecia enxoval. Lembra? A gente trouxe o nosso. Que tá na estrada.
O fogo finalmente pegou, crepitando alto. Nos amontoamos em volta dele, tremendo. A água escorria das nossas roupas, formando poças no chão de madeira.
O desconforto físico era excruciante. Minha calça jeans, pesada de água e barro, parecia uma lixa gelada nas pernas. Minha cueca estava encharcada. Eu via a Lúcia se abraçando, tentando parar de tremer, o vestido colado em cada curva do corpo dela.
— Gente... — Ricardo começou, a voz rouca. — A gente não pode ficar com essa roupa.
— Ah, jura, Sherlock? — Pati retrucou, irritada. — E vamos vestir o quê? As cortinas? O tapete da sala?
Ricardo olhou para ela, sério.
— Não. A gente tem que tirar a roupa. E ficar sem nada.
Um silêncio pesado caiu na sala. Só o barulho da chuva e do fogo.
— Você tá sugerindo que a gente fique pelado? — Fê perguntou, ajustando os óculos embaçados. — Todo mundo? Aqui na sala?
— É questão de hipotermia, Fê — eu intervi. — Estamos a 1.600 metros de altura. A temperatura tá caindo. Se a gente continuar com essa roupa molhada sugando o calor do corpo, vamos ficar doentes de verdade. Precisamos tirar tudo, pendurar em volta do fogo pra secar.
— Eu não vou ficar nua na frente dos amigos do meu marido! — Fê disse, cruzando os braços.
— Então fica de calcinha e sutiã — Edu sugeriu, tentando acalmar.
— Minha calcinha tá encharcada, Edu! — ela rebateu. — Tá tudo molhado!
Lúcia suspirou fundo. Ela se desencostou da lareira e olhou para todos nós.
— O Ricardo tem razão. E o Marcos também. Isso aqui é uma emergência, não um clube de swing. Somos amigos há dez anos. Já nos vimos de biquíni, de sunga. Qual é a grande diferença?
— A diferença é o biquíni, Lúcia! — Pati riu nervosa.
— Eu não aguento mais esse frio — Lúcia disse, decidida. — Podem olhar se quiserem, ou virem de costas. Eu vou me secar.
Minha esposa levou as mãos à barra do vestido encharcado.
Nós, os homens, viramos de costas instintivamente. As outras mulheres ficaram olhando, meio chocadas.
Ouvi o som molhado do vestido sendo puxado pelo corpo, o \*ploc\* dele caindo no chão.
— A lingerie também, Lúcia? — ouvi a voz da Pati perguntar, num misto de choque e admiração.
— Tudo, Pati. O sutiã tá gelado. A calcinha tá pinicando de tão molhada. Vou tirar tudo.
Ouvimos o clique do fecho do sutiã. O som da calcinha sendo baixada. Lúcia estava nua atrás de nós.
— Pronto — ela disse, a voz firme, mas pude notar uma leve tremulação. — E quer saber? É um alívio. O calor do fogo na pele é... nossa.
Eu me virei devagar.
Lúcia estava parada diante da lareira, de costas para a sala, estendendo o vestido numa cadeira. A luz do fogo dourava a pele dela, as curvas dos quadris, a bunda redonda que eu conhecia tão bem. Ela pegou um dos panos de prato e começou a secar o cabelo.
A visão da minha mulher nua, tão casualmente, na frente dos meus amigos, mandou uma descarga elétrica pela minha espinha. Olhei de relance para o Ricardo. Ele estava olhando. Tentava disfarçar, mas estava olhando para a bunda da Lúcia.
— Que se dane — Pati disse de repente. — Eu também vou.
Ela nem pediu para virarmos. Ali mesmo, na nossa frente, Pati cruzou os braços, agarrou a barra da blusa branca e puxou. Ela não usava sutiã. Os seios dela saltaram para a vista, grandes, pesados, balançando com o movimento. Ela não teve pudor nenhum. Desabotoou o short jeans, empurrou para baixo junto com a calcinha minúscula e chutou as roupas para longe.
— Ah... — ela gemeu de prazer, esticando os braços para o fogo, completamente nua, exibindo o corpo de academia, o matinho aparado entre as pernas. — Muito melhor.
Agora éramos dois caras vestidos, um cara (Edu) apavorado, e duas mulheres nuas na sala.
— Vamos nessa, rapazes — Ricardo disse, começando a abrir o cinto. — Solidariedade.
Nós três começamos a nos despir. O processo masculino foi menos gracioso. Pular num pé só para tirar a bota cheia de lama, o som de jeans molhado sendo arrancado com dificuldade.
Ficamos de cueca por um segundo.
— Cueca molhada é o fim da picada — Ricardo disse, e baixou a box dele.
Eu fiz o mesmo. Tirei tudo.
Lá estávamos nós. Três homens nus, tentando parecer naturais, segurando as roupas na frente da virilha antes de pendurá-las nas cadeiras. Meus ovos estavam encolhidos de frio, meu pau reduzido a quase nada. Graças a Deus. A última coisa que eu precisava agora era de uma ereção.
Só faltava a Fernanda.
Ela estava sentada numa poltrona no canto escuro, abraçada aos joelhos, ainda vestida, tremendo violentamente.
— Fê... — Edu foi até ela. Ele estava nu. A cena era quase cômica se não fosse tensa. Ele se agachou na frente dela. — Amor, você tá roxa. Por favor.
— Eu tenho vergonha, Edu — ela soluçou baixinho.
— Ninguém vai olhar — Lúcia disse, cobrindo os seios com o braço, mas se aproximando. — Vamos fazer assim: Marcos, apaga a luz da sala. Deixa só a lareira. Fica escurinho. A gente promete não ficar encarando.
Eu fui até o interruptor e cliquei.
A sala mergulhou na penumbra. Agora, a única luz vinha das chamas laranjas e amarelas, criando sombras longas e dançantes nas paredes de madeira, escondendo detalhes, suavizando tudo.
— Tá bom — a voz da Fê veio do escuro.
Ouvimos o som de zíperes. Respirações. O som de roupas caindo.
— Pronto — ela sussurrou.
Ela veio caminhando devagar até a luz do fogo, os braços cruzados sobre os seios pequenos, as mãos tentando tapar a virilha. Ela era magra, pálida, com uma beleza frágil que a nudez só acentuava.
Agora estávamos todos ali. Seis amigos. Nus.
As roupas formavam uma barricada fumegante em volta da lareira, cheirando a lã molhada e couro.
Ricardo foi até o canto e pegou o fardo de cerveja morna.
— Bom — ele disse, abrindo uma lata. O som do gás escapando foi alto no silêncio. — O churrasco já era. As roupas já eram. Mas a gente tem cerveja e fogo.
Ele estendeu uma lata para a Lúcia. Ela pegou, sorrindo sem graça, a mão roçando na dele.
— Um brinde — eu disse, pegando a minha lata, tentando não olhar fixamente para os peitos da Pati, que brilhavam com o suor do calor do fogo. — À aventura mais desastrosa das nossas vidas.
— Saúde — todos disseram.
Bebemos o primeiro gole da cerveja quente. O álcool desceu queimando, aquecendo o estômago.
Lá fora, a tempestade rugia. Aqui dentro, nus e vulneráveis, uma tensão nova começava a preencher o ar, mais quente que a lareira. Ninguém falava, mas todos sabiam: aquelas roupas não secariam tão cedo. E a noite era longa.
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>>> Continua…