AVISO DE CRONOLOGIA: Os eventos neste capítulo acontecem no passado do atual momento da novela. Este conto começa um pouco depois de “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 14” e termina pouco antes de “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 16” e “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu – Parte 08”.
Não é preciso reler esses capítulos, pois as cenas foram repetidas ou relembradas no ponto de vista do Miguel.
Meu nome é Miguel. Tenho 31 anos, 1,84m, corpo atlético (nada exagerado, mas me garanto), moreno claro, olhos cor de mel e barba bem cuidada, sempre no limite entre o alinhado e o desleixado. Meu sorriso é meio torto, daquele tipo que parece esconder uma piada. E gosto disso.
Nunca me levei tão a sério quanto talvez devesse. Gosto de bancar o malandro, chegar com uma piadinha, uma risada fora de hora, me meter onde não fui chamado. Faz parte. Sempre preferi ganhar as pessoas no papo e, confesso, adoro a companhia feminina. Conversar, ouvir, provocar. Nada forçado, só gosto de estar por perto. Amizade é amizade, sexo é sexo. Sabia diferenciar quem tava atrás do quê. Aliás, se eu tenho um talento, é o de sentir o ambiente... e fazer a pior coisa sem querer.
Objetivos? Quero viver leve, cercado de gente boa. Trabalhar bem, viver bem, amar bem, a ordem nem importa. Se eu puder ser lembrado como um cara do bem, que sabia rir e fazer rir, já valeu. O resto? A gente improvisa.
Trabalho em um hospital grande da capital. Trabalhar nele era uma mistura de plantão, novela e roda de samba. Eu sempre no meio. Não por ser o mais fofoqueiro (não que eu não fosse, só não era o principal), mas porque eu gostava de levantar o ânimo da galera. Sabe aquele cara que puxa assunto na copa, dá uma força pra quem precisa e solta uma piada na hora certa?
Mas a minha vida não se resumia ao trabalho. Quando eu estou enfiado até o pescoço em plantões, queria mesmo era sentir o corpo vivo: pegar o carro pra ir em algum praia deserta pra pegar onda, me ralar inteiro num parkour mal calculado, sumir em trilha no meio do mato sem sinal de celular, só eu, o vento e a sensação boa de estar exatamente onde meus pés aguentavam chegar. Sempre gostei dessa liberdade meio imprudente, desse cansaço que limpa a cabeça.
No fundo, a mulher que sonhava com quem me casaria era alguém de espírito leve, que topasse acordar de madrugada pra ver o sol nascer no topo de um morro, que não se assustasse com meu passado nem quisesse me consertar. Uma parceira que entendesse que liberdade não é falta de cuidado, é escolha consciente.
Meus pais e a Lisandra eram um capítulo à parte, tudo misturado num nó só. Eu briguei feio com meus pais quando decidi fazer medicina; eles queriam segurança, eu queria desafio, e achei que dava pra resolver tudo na base do orgulho. Fui embora, mudei de estado e passei quase dez anos sem olhar pra trás. Quem me puxou de volta foi a Lisandra, minha irmãzinha de criação e filha da diarista, que reencontrei ao voltar pra minha cidade natal. Foi por ela que voltei a falar com meus pais, já envelhecidos, cheios de manias, mas ainda meus. Não foi um reencontro simples, nem mágico, mas foi honesto.
Talvez seja isso que melhor me defina: um malandro gente boa que já tinha quebrado a cara o suficiente pra saber onde pisar. Eu flertava, zoava, provocava o mundo, mas carregava responsabilidade no jeito de tocar a vid. Eu sabia quem eu era, o que podia oferecer e o que não podia. E, no fim das contas, isso sempre me pareceu muito mais maduro do que prometer estabilidade quando o que eu tinha pra dar era movimento.
No capítulo anterior, eu falei sobre como conheci a Jéssica, a amiga gostosa do título, e sobre estava a minha vida naquela época.
O hospital nunca parava. Era plantão cheio, paciente impaciente, residente perdido, telefone tocando sem parar. A rotina era puxada pra caralho. A gente tinha uma equipe boa, competente, mas a demanda nunca dava trégua. Sempre faltava tempo, sempre faltava gente.
Ainda assim, eu gostava dali. No meio do estresse, eu tinha sorte de trabalhar com gente que podia chamar de amigo sem forçar a barra. Gente que segurava a onda junto, que ria no meio do caos, que salvava vidas e depois sentava comigo na copa pra falar besteira.
E, claro, também tinha a parte daquele hospital ser um ecossistema repleto de tensão sexual mal resolvida. Médicas, enfermeiras, residentes, o que não faltava era mulher bonita. Mesmo assim, no meio de tanta mulher incrível, existiam duas figuras que se destacavam.
A primeira era a Jéssica.
Ela não precisava fazer absolutamente nada pra chamar atenção. Ela entrava no corredor e o ambiente mudava de temperatura. Usava o pijama médico como os demais, verde-claro naquele dia. A blusa marcava de leve os seios pequenos e firmes, sem exagero. O tecido esticava sutilmente quando ela se movia, acompanhando a respiração. A calça era justa na medida exata pra desenhar as coxas torneadas e a bunda discreta, empinada, perfeitamente proporcional. Nada gritava “olha pra mim”, e talvez por isso todo mundo olhasse. O quadril se movia com confiança. O cabelo preso num coque baixo deixando o pescoço, aquela sacanagem silenciosa, à mostra.
O detalhe mais perigoso, no entanto, era o conjunto todo: a mistura de gostosa com inacessível. Casada, fiel, certinha. Aquele tipo de beleza que você respeitava e desejava. A Jéssica era musa exatamente porque não estava disponível.
A outra musa era a Fernanda.
A Fernanda era o oposto complementar da Jéssica. Onde uma era contenção, a outra era provocação. A Fernanda entrava no mesmo corredor e ocupava a visão de todos. O pijama médico branco dela parecia sempre um número menor. A blusa moldava os seios volumosos, o tecido fazendo um esforço honesto pra cumprir sua função sem sucesso total. A cintura fina desenhava uma curva linda até os quadris largos, e a calça acompanhava cada linha com precisão cirúrgica. A bunda era redonda, firme. Impossível ignorar quando ela se apoiava no balcão ou cruzava os braços e jogava o peso pra um lado só. As pernas longas pareciam ainda mais longas dentro daquele uniforme.
O cabelo solto, levemente ondulado, caía pelos ombros bronzeados, e os braços finos, definidos, se moviam com leveza enquanto ela falava, sempre gesticulando, sempre rindo. A Fernanda tinha um sorriso safado no melhor sentido da palavra.
Enquanto a Jéssica era a certinha casada, a Fernanda era livre, bissexual e curiosa. E gostava de brincar de “competir” com os homens solteiros do hospital quem iria levar a próxima gostosa solteira pra cama. Digamos quando não era o Enéias ou eu, era ela. Entre mim e ela, a coisa sempre foi clara. Amizade primeiro, desejo quando calhava, zero ilusões. Quando os dois ficavam umas semanas sem sexo, a gente combinava de transar. Sem neura, sem ilusões, sem expectativas escondidas.
As minhas aventuras da vez começaram em um sábado de noite inusitado. Estávamos na copa. Eu encostado de um lado da mesa, apoiado no balcão de fórmica, tentando parecer um juiz imparcial. O que, convenhamos, não combina muito com a minha fama. Do outro lado, sentados lado a lado, Jéssica e Gustavo pareciam dois alunos obrigados a conversar depois de uma treta no intervalo.
A Jéssica estava linda como sempre. Alta, corpo seco de quem vive em academia mas sem paranoia, bunda perfeita dentro do scrub azul, coxas firmes, cintura definida. O Gustavo era o oposto do impacto visual. Quarenta e poucos anos, calvície já assumida, barriga de cerveja honesta, postura meio encolhida. Falava baixo pensando o tornasse profundo. O olhar ia e voltava, tenso.
— Vocês me chamaram aqui pra eu ser o juiz da treta. Já é esquisito suficiente que vocês são um casal que nunca imaginaria brigados.
— Não somos um casal — interrompeu Jéssica.
— Poderíamos ser um casal por uma hora ou duas apenas — emendou Gustavo.
— Ok. Não chamar vocês de casal. Vamos lá. Quem começa?
A Jéssica cruzou os braços, visivelmente irritada.
— Eu começo. O Gustavo e a esposa dele, a Márcia, chamaram eu e o Rogério pra um jantar a quatro. Casal amigo, conversa, vinho... Tudo normal. Só que era uma desculpa pra sexo com troca de casais.
Gustavo soltou um suspiro curto, já se preparando pra retrucar.
— Entendi, tudo... — intervim. — Você comeu a Jéssica e agora a Jéssica tá puta contigo porque você foi claramente abaixo das expectativas dela. Normal. Ela é acostumada com o Rogério que é...
— MIGUEL!
Parei a piada e deixei o Gustavo falar.
— Eu não menti pra Jéssica e pro Rogério em momento nenhum — respondeu Gustavo. — Nós os convidamos pra um jantar agradável e o jantar estava sendo agradável. Escolhemos nosso restaurante favorito.
— Ah, pelo amor de Deus, Gustavo — rebateu Jéssica. — O jantar era o caminho até o motel.
Cocei a barba, tentando organizar aquilo tudo. De todos os médicos, o Gustavo foi o que foi mais longe na proposta de comer a Jéssica, pensando até em como “neutralizar” a questão da fidelidade e do marido. Coragem! Porque noção...
— Deixa ele falar a parte dele — intervim. — Os dois vão dar as suas versões.
O Gustavo ajeitou sua postura. Ele tinha jogado e perdido a chance de comer a Jéssica, mas não queria ficar com a fama de tarado.
— Eu convidei os dois, sim. E, durante o jantar, eu propus a troca de casais. Mas em nenhum momento forcei nada. A Jéssica e o Rogério aceitaram — disse ele, olhando pra ela, meio magoado — Eles conversaram a noite inteira. Fizeram eu e a Márcia acreditarem que estava tudo certo, até entraram no grupo de WhatsApp. A gente ficou esperando no motel. Por horas. Então, eles saíram do grupo e sumiram.
Jéssica bateu a mão na mesa.
— Porque era o único jeito de escapar daquela situação! Você não entende como é difícil dizer “não” sem deixar um climão horrível?
Eu levantei a mão, pedindo calma, enquanto pensava que aquilo era um baita curso intensivo de comunicação emocional mal feita.
— Pera. Vocês acharam que enrolar até cansar era mais maduro do que dizer “não”?
— Não é isso — respondeu Jéssica, respirando fundo. — É que a gente trabalha junto. Iam ser olhares estranhos e constrangimento eterno.
— Jéssica, eu e a Márcia somos adultos — disse Gustavo, um pouco mais firme — Um “não, obrigado” teria sido suficiente. A gente saberia lidar.
Ela virou o rosto por um segundo, depois voltou pra ele.
— Fácil falar agora.
— Tá, até aqui eu vejo duas coisas — entrei de novo, — Gustavo, você e a Márcia foram com muita sede ao pote. Tentaram no primeiro jantar, não leram o casal, já foram com a intenção de transar enquanto eles queriam um jantar e amizade. Jéssica, você e o Rogério fingiram aceitar algo que não queriam de verdade. Todo mundo tropeçou na própria falta de honestidade.
A Jéssica respirou fundo, mas ainda tinha bala guardada.
— E além disso — disse, encarando Gustavo —, você admitiu que sempre foi louco pra me comer. Agora, eu vou ter que trabalhar sabendo que tem um colega tarado em mim.
Gustavo não levantou a voz. Pelo contrário.
— Você sempre soube, Jéssica. Eu só nunca tinha dito em voz alta. E eu disse isso fora do nosso ambiente de trabalho. Aqui dentro, nunca te desrespeitei como médica ou como minha colega. Nunca fiz nada que passasse do limite profissional.
Aquilo me fez pensar em mim mesmo. No trabalho, eu flertava, brincava, fazia pose de malandro. Talvez, eu fosse um péssimo profissional nesse quesito.
A Jéssica ficou em silêncio por alguns segundos. Olhou pra mesa, depois pra mim, depois de volta pra ele.
— Tá. Essa parte é verdade. Você sempre me respeitou como colega.
Satisfeito, Gustavo pigarreou, ajeitou o corpo na cadeira e falou, baixo.
— Já que a verdade entrou na sala, eu só criei coragem de falar de sexo contigo depois do sonho que o Enéias me contou.
Ops... Ele não devia ter falado desse sonho...
— O que o Enéias tem a ver com isso? — a mera menção do nome Enéias dava raiva na Jéssica.
— Foi um sonho que ele contou. Que o arraial do hospital virava um mega surubão e ele comia todas e era o rei do arraial. Durante o surubão, ele disse que quem teria te comido primeiro tinha sido eu — narrou Gustavo. — Disse que foi um sonho bizarro, mas que parecia muito real.
A reação da Jéssica foi exatamente a que eu esperava. Ela inclinou o corpo pra frente, apoiou os cotovelos na mesa e encarou o Gustavo como quem estava a segundos de mata-lo.
— Você tá me dizendo — falou bem devagar — que decidiu falar comigo e com o meu marido sobre troca de casais e sobre como estava louco pra me comer porque o Enéias sonhou com nós dois?
O Gustavo percebeu o quão ruim foi essa ideia apenas naquele momento.
— Eu pensei: se até o Enéias, que é... — ele fez vários gestos com a mão — aquilo tudo de homão do caramba e o maior comedor que já conheci na vida, sonha que eu conseguiria te comer uma vez, talvez eu tivesse alguma chance. Pensei que fosse algum sinal, sei lá.
O cérebro masculino é uma coisa fascinante quando quer se iludir. Respirei fundo. Acho que era melhor contar sobra a insanidade coletiva que rolava no hospital.
— Se te consola, por algum motivo bizarro, mais da metade do pessoal do hospital já sonhou com vocês dois transando — revelei, coçando a barba. — Já ouvi isso em conversas de corredor, em plantão, em bar depois do expediente. Por algum motivo, quase todo mundo teve sonhos eróticos em que o Gustavo te comia de tudo quanto é gente. E normalmente com o Enéias chorando ao fundo. E, por algum motivo, todo mundo descrevia uns sonhos detalhados demais. Com umas posições que nem mesmo eu tentei fazer na vida real.
A Jéssica arregalou os olhos.
— Você tá brincando.
— Eu queria estar — eu falei. — Às vezes eu acho que todo mundo comeu alguma coisa estragada no mesmo dia.
— Você nunca sonhou nada comigo? — perguntou Gustavo.
— Eca.
A Jéssica olhou pro Gustavo de uma forma que me fez até me afastar um pouco da mesa. Se rolasse briga, eu teria que apartar antes que vissem. Mas tava com medo de apanhar dela também.
— Já — revelou Jéssica, pra surpresa geral. O Gustavo até arregalou os olhos.
— Sério?
— Foi só uma vez. E não teve sexo. Não contigo. — Ela inclinou a cabeça, pensativa. — Eu era uma vampira e fazia muito tempo que não me alimentava. Ainda estava no meio do plantão e eu não queria atacar os pacientes ou diminuir as reservas de bolsas de sangue que tínhamos. Mas estava com muita sede. Aí, você apareceu pra lanchar após algumas consultas, eu me alimentei de você.
— Você me comeu???
— Eu suguei seu sangue. É diferente.
— E eu virei, sei lá, seu servo sexual?
— Não. Eu suguei até você quase morrer por falta de sangue. Eu me limpei, tratei do pescoço, te coloquei numa maca e te mandei pra emergência.
— Ah. Certo.
— Eu estava com muita sede, muita sede mesmo. Mas era uma médica e meu juramento me impedia de me alimentar dos pacientes. Aí vi você e pensei que era o mais descartável ali.
Ele respirou fundo, absorvendo o golpe.
— Pelo menos, fui útil...
— Salvou minha vida. — Parou e pensou. — Se bem que vampiros são mortos-vivos.
Eu observei os dois e pensei que aquele sonho dizia muito mais sobre a Jéssica do que sobre o Gustavo. Todo o romance destinado ao Rogério. Aos pacientes, senso de responsabilidade até no delírio. Aos demais homens, pragmatismo.
Ela respirou fundo, cruzou os braços de novo, mas agora menos agressiva e mais cansada.
— Tá, mas vamos voltar pro que importa. Quem foi o errado nessa história do jantar?
— É — continuou Gustavo.— Foi por isso que chamamos você, Miguel.
Eu encostei de novo no balcão. Eu já tinha a sentença pronta antes daquele desvio.
— Os dois erraram. Mas erraram em coisas diferentes.
Eles ficaram atentos.
— Gustavo, você errou em não ser claro desde o início. Convidar pra jantar quando a intenção principal era sexo sem que eles soubessem disso os colocou em um impasse social. Mesmo que você ache normal, não é justo colocar alguém nessa situação sem aviso.
Ele baixou o olhar.
— Jéssica, você e o Rogério erraram em fingir que aceitaram. Enrolar, alimentar expectativa e sumir depois machuca mais do que um “não” direto. Mesmo que o “não” fosse desconfortável.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, depois assentiu devagar.
— Então, o Gustavo pede desculpa à Jéssica por não ter sido transparente no começo. E a Jéssica ao Gustavo pela mentira e pelo ghosting.
Gustavo foi o primeiro.
— Jéssica, eu sinto muito. Eu devia ter sido claro desde o começo. Coloquei você numa situação desconfortável e isso não foi justo.
Ela respirou fundo.
— Obrigada. E eu sinto muito por ter sumido. A gente devia ter dito não e pronto.
O clima mudou. Não ficou leve, mas ficou mais resolvido.
— Como punição, vocês dois devem prometer ao outro que serão bons parceiros de plantão uma vez por semana até o final do ano. Assim, vão trabalhar em dupla e parar de tratar o outro como colega descartável ou material pra masturbação.
— Concordo com os termos — disse os dois, em sincronia.
Antes que alguém dissesse algo, a Jéssica se levantou, pegou a bolsa e falou, meio ameaçadora:
— Agora, com licença. Eu vou atrás de todo mundo que sonhou comigo dando pro Gustavo pra ter uma conversinha.
Ela saiu da copa determinada. Foi a parte mais divertida daquela semana. O resto foi... complicado.
Três dias depois foi um bom exemplo. Plantão engrenado, paciente complicado. Eu caminhava pelo corredor com Enéias ao meu lado.
— O caso do 18 tá estranho — disse Enéias. — Sintoma não bate com exame.
— Também achei — respondi.
Entramos no quarto, refizemos o atendimento. Quando saímos, encontramos Jéssica e Gustavo discutindo no corredor.
— Entendo seu ponto, mas fico receoso com essa medicação agora — disse Gustavo.
— Por isso mesmo estou sugerindo observação mais próxima — respondeu Jéssica. — Não é pra correr risco.
Eu tinha sentenciado os dois a serem parceiros pelo resto do ano de brincadeira. Mas os dois levaram a sério. Antes que eu pudesse entender o que rolava, a enfermeira Bruna passou quase correndo.
— Miguel, paciente do 22 tá precisando de você.
Naquela noite, eu não parei quase um minuto sequer. Por sorte, nem todas as noites são assim. Uma que foi bem mais relaxante e prazerosa, foi no sábado seguinte.
Naquele sábado, eu estava na copa, só descansando e aproveitando um final de turno dos mais tranquilos. A enfermeira Iolanda estava encostada na pia, mexendo o açúcar no café. A enfermeira Bruna estava sentada na bancada, mexendo no celular.
— Miguel, você sabia que aqueles que sorriem que nem você tem 37% de chance de pênis grande?
— Fonte? — perguntei.
— Minha cabeça. Mas confio nela.
— Pode confiar que está validado.
Ela veio pra perto de mim e se apoiou ao meu lado, ombro roçando de leve no meu braço. Intencional.
— Se vocês fizerem bagunça aqui, eu expulso — avisou Iolanda.
— Não sou homem de levar as colegas pra cama — respondi. — Pelo menos não dentro do ambiente de trabalho.
— Sei... — insinuou Iolanda.
— Se duvida de mim, por que não vem conosco lá em casa mais tarde? — arrisquei.
Iolanda e Bruna se entreolharam e me olharam em silêncio por um tempo. Tinha sido bem ousado na tática do ménage ou nada. O Enéias vive dizendo que isso é pedir pra ficar com “nada”.
Por sorte, as duas riram. E eu comemorei.
Horas depois, no meu apartamento, a Iolanda foi a primeira a ir ao banheiro primeiro. Depois, a Bruna e, por fim, eu.
Para minha surpresa, quando voltei pra sala, a Bruna e a Iolanda já estavam se beijando no sofá. Aquilo iria ser muito melhor que a encomenda. As duas notaram minha presença e não arreguei de ir até as duas. Beijei primeiro a Bruna, já que ela quem tinha começado o flerte. Depois, encarei a Iolanda nos olhos e demos um beijo de tirar o fôlego. Nossas línguas invadindo a boca do outro. Nossas mãos arrancando a camisa do outro. Foi tão tesudo que a Bruna nos separou apenas pra se meter no meio do beijo triplo.
Fomos logo tirando a roupa de todo mundo. A Bruna quem tomou a iniciativa, tirando a própria roupa enquanto despia a Iolanda. Eu poderia tirar a minha, mas era mais prazeroso deixar aquelas duas gostosas tirarem o que faltava da blusa, a calça e a cueca.
— Não é que eu estava certa? — brincou Bruna, ao ver o meu pau ainda meia bomba.
Fui conduzindo as duas peladas pro meu quarto e, mal sentamos na cama, começamos a pegação novamente. A Bruna avançou sobre a Iolanda, a beijando, apalpando seus seios e sua bundinha, mordendo seu pescoço. A Iolanda gemia baixinho. Eu sabia que as duas eram amigas próximas, quase grudadas e não era ingênuo de achar que era a primeira vez das duas. Só queria saber quanto tempo, elas transavam no sigilo e o quanto isso teve de influência da Fernanda, que com toda a certeza foi quem iniciou as duas nos prazeres do sexo lésbico.
Aproveitei pra dar uma geral nos corpos de ambas. Elas tinham seios médios e uma bucetona das bem apetitosas. A Bruna mantinha uma pequena e aparada porção de pelinhos, enquanto a Iolanda raspara tudo.
Para não ficar só de voyeur, puxei a Iolanda pra cima de mim, fazendo ela sentar no meu colo. Assim, a Iolanda se dividia entre trocar carícias comigo e beijar a Bruna. E me beijar enquanto explorava o corpo da Bruna com as mãos. Não demorou muito pro meu cacete se elevar ao teto.
Assim que viram o meu pau em seu plenitude, as duas fizeram uma cara de safada. Deveria ser bem como elas tinham imaginado. Com a Iolanda no meu colo, a Bruna aproveitou pra passar na frente e caiu de boca no meu falo. A enfermeira começou passando a língua na cabeçona vermelha. Gemi alto com a sua língua.
Estava extasiado com aquela língua na cabeça do meu pau. A Bruna ia da cabeça descendo até o saco. Ali, ela ficou brincando um pouco com a língua e as mãos. A Iolanda cansou de só assistir e foi lá participar, lambendo a cabeça. As duas se comunicaram por olhares e a Bruna se afastou pra Iolanda colocar o meu pau todo em sua boca.
Com a amiga ocupada fazendo uma garganta profunda no meu cacete, a Bruna aproveitou pra deixar a Iolanda de quatro na cama. Elas se arrumaram e logo estavam os três conectados: a Bruna chupar a bucetona da Iolanda, que chupava o meu pau.
Ficamos assim, só chupando e gemendo até que as duas resolveram trocar. A Bruna ficou de quatro e passou a gemer forte com meu pau em sua boca e com a língua da Iolanda em sua buceta. Não pude deixar de aproveitar pra esticar o braço e dedilhar a buceta da Iolanda. Ver uma chupando a outra enquanto a outra me chupava era uma visão do paraíso.
Logo, a Bruna começou a estremecer e tivemos o primeiro orgasmo da noite. A Bruna caiu desfalecida na cama. Esperamos um pouquinho e logo coloquei a Bruna de quatro novamente. Encapei o meu pau e logo enfiei o caralho na bucetona da Bruna. Ela gemia alto, maravilhada e pedia por mais.
Pedido feito era pedido atendido. Foi dando estocadas mais e mais fortes. Curtia aquela posição, vendo os peitos dela balançarem a cada metida. A Bruna respondia, cada vez mais louca de tesão. Enquanto eu metia, a Iolanda assistia tudo, acariciando a própria buceta e esperando a sua vez. Entendi que ambas queriam que as duas tivessem momentos “a sós” comigo.
Continuei metendo, implacável. Era cada socada na buceta que ouvíamos o barulho do choque dos nossos corpos ecoando no quarto. Logo, a Bruna gozou mais uma vez, caiu exausta na cama e pediu para descansar um pouco. Era a vez da Iolanda.
Deixamos a Bruna descansando e recuperando o fôlego. Logo, puxei a Iolanda pra e já fui beijando ela. A deitei na cama, abri suas pernas e comecei a beijar seu corpo. Entre beijos, parti da boca, fui descendo pro seu pescoço, ficando um tempo em seus seios, mordiscando seus mamilos, desci para sua barriga, cheguei em suas coxas e deixei a buceta por último.
Caí de boca naquela buceta. Lambi, chupei, dei mordidinhas leves e a cada mordidinha que dava, Iolanda tinha um espasmo. Isso a deixava louca. Ela botou a mão em meu cabelo e me empurrava contra sua pélvis. Enquanto ela gozava na minha boca, aproveitava pra explorando cada centímetro do corpo dela.
Logo, a Bruna já havia se recuperado e não quis deixar a amiga se divertir sozinha. A enfermeira se sentou em cima do rosto da Iolanda, com a buceta em sua boca, pra que a Iolanda a chupasse. Eu olhava praquilo e me perguntava quantas vezes a Fernanda tinha chupado as duas.
Enquanto era chupada por mim, a Iolanda continuava chupando Bruna com vontade. Mas a real era que eu já estava querendo meter na Iolanda logo. Deixei as duas se divertirem mais um pouco, enquanto chupava aquela bucetona mais uns minutos, mas não queria deixar a Iolanda gozar.
Mandei que ela ficasse deitada de costas, com a bunda para cima. A Iolanda e a Bruna zoaram com a minha voz de comando, mas ela logo obedeceu. Assim, eu encaixei o pau na entrada da buceta e fui metendo o cacete. Primeiro, devagar. Depois, fui estocando com vontade. Cada vez mais forte. Isso ia deixando a Iolanda louca.
Ela mandava eu meter com força e até me desafiava, perguntando se era só isso que eu tinha. Ou dizendo que o Enéias metia melhor. Acabei deixando meu lado competitivo sobressair, e fui metendo com força. Metia até o talo, querendo fazer a Iolanda gemer e dizer que estava errada. Comecei a bombar com força. Nessa hora, já estava louca de tesão e passei a dar tapas na bunda da Iolanda enquanto a xingava de puta, safada e gostosa.
A Iolanda curtia cada tapa e cada xingamento. Ela tava louca, mandava eu foder com mais força, meter mais gostoso, fazer dela sua putinha. E eu não resistia e fazia o mandava. Mais estocadas, mais tapas na bunda, mais xingamentos. A Bruna via isso e não queria ficar de fora. Ela se deitou na frente da Iolanda, abriu as pernas na frente dela, puxou os cabelos da Iolanda para trás e empurrou com força o rosto da Iolanda contra sua buceta.
Agora, eu tava comendo a Iolanda que chupava a Bruna. Passei a meter mais e mais forte. A Iolanda gemia deliciosamente a cada estocada, enquanto a Bruna gemia com a língua da Iolanda em sua buceta. Não demorou pra eu sentir as fisgadas.
Quando vi que não ia aguentar mais, tirei o pau de dentro da Iolanda e puxei ela e a Bruna pra perto. As duas ficaram sentadas na minha frente, esperando meu gozo. Tirei a camisinha e não demorou muito e gozei na boca das minhas duas colegas. Tentei alternar uma jatada em cada boquinha, mas claro que não tinha tanto controle assim e esporrando a cara delas.
Elas não fizeram de rogadas e compartilharam meu leite em um beijo delicioso e depois se aproximaram para chupar o meu pau, limpando o meu pau inteirinho com suas línguas. Desabamos na cama e ficamos ali, descansando por um tempo.
Depois de bom tempo, cada um foi se limpar no banheiro. E decidimos dormir juntos os três na cama. Era espaçosa, mas dormimos abraçadinhos, comigo entre as duas.
Alguns dias se passaram depois disso. Eu tava almoçando com a minha amiga colorida, Tatiana. O restaurante ficava a duas quadras do hospital, e era nosso point quando queríamos almoçar só pra jogar conversa fora. Eu estava sentado de frente pra Tatiana, já com o prato quase pela metade, observando mais ela do que a comida.
A Tatiana tinha aquele tipo de beleza que não fazia esforço pra chamar atenção. Usava uma calça de alfaiataria clara que marcava de leve o quadril estreito e seguia justa o suficiente pra denunciar as coxas firmes. A camisa preta de tecido fino, abotoada até onde o ambiente permitia fingir formalidade, desenhava o contorno discreto dos seios pequenos e bem postos. A franja caía quase nos olhos, e ela jogava o cabelo pra trás com um gesto automático que eu já conhecia bem demais.
Eu sabia que ela queria mais sexo. Com mais frequência. Que fosse rotineiro. Toda quinzena ou toda semana. Mas a rotina, pra mim, sempre foi a porta de entrada pros sentimentos. Sentimentos que eu não tinha como prometer. Eu nunca escondi isso dela. Nunca escondo de ninguém. Nós dois éramos diferentes demais pra arriscarmos sermos namorados sem um dos dois sair magoado. Mas posso oferecer minha amizade pra sempre e meu pau amigo enquanto ela não arrumar um namorado mais adequado que eu.
— Você tá quieto hoje — disse ela, espetando um pedaço de frango. — Plantão pesado?
— Quase. O último foi até tranquilo.
— Médico quando fala isso tá pedindo tragédia.
— Jornalista supersticiosa é novidade pra mim.
— Você não sabe da reza a metade... — Ela balançou a cabeça, rindo. — E como tá a vida radical? Ainda se jogando de lugares altos pra fingir que não sente medo?
— Eu sinto medo, só não deixo ele decidir por mim.
— Filosófico hoje.
— Influência sua.
Foi nesse momento que eu vi a Fernanda chegando com o prato na mão, andando com aquela confiança espalhafatosa que era só dela.
A Fernanda era uma das mulheres mais gostosas que eu conhecia. Usava um vestido azul de trabalho, simples, mas colado o bastante pra deixar claro o corpo que carregava: cintura fina, quadris generosos, seios cheios sustentados sem esforço aparente, o tecido esticando levemente quando ela se movia. Pernas longas, bronzeadas, coxas firmes. O cabelo caindo bonito no ombro.
— Miguel! — ela abriu um sorriso largo. — Sabia que era você.
Ela olhou pra Tatiana com curiosidade imediata.
— Interrompo?
— De jeito nenhum — respondi. — Vem cá. Tatiana, essa é a Fernanda. A Fernanda trabalha comigo no hospital. Fernanda, essa é a Tatiana. Jornalista e você provavelmente já leu alguma coluna dela.
— Prazer — disse Fernanda, já avaliando, do jeito dela, sem disfarçar.
— Prazer — respondeu Tatiana. — Senta com a gente?
— Aceito — Fernanda já puxou a cadeira sem cerimônia. — Pensei que ia comer sozinha.
Eu observei as duas se estudando com interesse genuíno. Duas mulheres inteligentes, bonitas, fortes, cada uma com um tipo de energia completamente diferente.
— Vocês se conhecem há muito tempo? — perguntou Fernanda.
— Alguns meses — respondeu Tatiana. — Estava fazendo uma reportagem no hospital.
— Isso explica muita coisa — disse Fernanda, me lançando um olhar rápido.
Eu mastiguei devagar, deixando elas conversarem.
— Você não vai perguntar como foi meu plantão? — perguntou Fernanda pra mim, em tentativa de surpresa.
— Eu sei como foi. Você vai reclamar por cinco minutos, fazer piada com dois pacientes e depois dizer que ama o que faz.
— Desgraçado — ela riu. — Me conhece demais.
Tatiana observava, apoiando o queixo na mão.
— Vocês são bem íntimos.
Essa frase acabou sendo o catalisador pras duas somarem um mais um. Elas se olharam como se reconhecessem que eram mais parecidas do que pensavam. A Fernanda se ajeitou melhor na cadeira, apoiando os dois antebraços na mesa. A Tatiana descruzou as pernas e ficou levemente inclinada pra frente.
— Você já comeu a Tatiana — disse Fernanda, olhando diretamente pra mim, sem rodeio nenhum.
— E você já comeu a Fernanda também — disse Tatiana, sem hesitar.
Eu respirei fundo, tentando segurar o riso.
— Eu não posso confirmar nem negar — respondi, de brincadeira. — Um cavalheiro não expõe as damas.
Fernanda bufou, teatral.
— Tirando a Jéssica e as pacientes, tem alguém mulher que pisou naquele hospital que você não enfiou o pau?
— Já disse que o meu tipo são as solteiras acima dos 24 que queiram ir pra cama comigo.
A Tatiana soltou um riso curto, balançando a cabeça. A Fernanda apontou pra mim com o garfo.
— Mas vamos combinar uma coisa? — disse ela. — Se a gente tá aqui, sentada na mesma mesa, rindo dessa sua cara de pau, é porque você não foi um escroto com nenhuma de nós.
As duas riram juntas, e eu senti um alívio gostoso no peito de quem escapa de uma saia justa em potencial. Isso dizia muito sobre elas.
— Tá — continuou Fernanda, apoiando o cotovelo na mesa. — Agora me explica uma coisa. Como é que você consegue manter a amizade com todas as mulheres que você já comeu?
— Esse é meu superpoder.
— Superpoder ou habilidade social básica que a maioria dos homens se recusa a desenvolver? — brincou Tatiana.
— Um pouco dos dois — respondi. — Mas não se iludam. Vocês são exceção.
— Como assim? — estranhou Fernanda.
— A maioria não vira amiga — expliquei, sem rodeio. — A maioria, depois de uma semana ou duas, o contato esfria e a vida segue. E tá tudo bem.
— Isso é bem a vida mesmo — comentou Tatiana.
— Melhor do que aquele papo de “vamos ser amigos” que nunca vira nada e só cria climão — disse Fernanda.
— Eu só fico por perto quando tem espaço real pra isso. Quando ninguém tá esperando algo que eu não posso dar.
— E isso não te incomoda? — perguntou Tatiana.
— É só o ciclo normal das coisas.
Pensei, enquanto falava, que muita gente confundia desapego com frieza. Pra mim, eram opostos. Desapego exigia cuidado.
E foi assim que a Fernanda e a Tatiana ficaram amigas. Achei melhor não contar pra Tatiana que, se ela bobeasse, a Fernanda daria em cima dela e a levaria pra cama também. A Tatiana saberia se virar quando acontecesse.
Mais alguns dias passaram e era terça à noite.
Eu tinha acabado de sair do apartamento dos meus pais. Visitar eles era estranho, porque passamos tanto tempo sem nos falarmos, mas ao mesmo tempo, eles pareciam as mesmas pessoas ainda. Pelo menos, a parte boa das lembranças. A conversa tinha sido tranquila. Mais do que esperava. E um recomeço sempre é bom.
Fechei a porta e segui pelo corredor em direção ao elevador, fui pensando na vida, quando ouvi alguém gritar meu nome.
— Miguel!
Virei com o sorriso já pronto. Reconheci o Rogério, marido da Jéssica, quase na hora.
— Fala, Rogério! — disse, estendendo a mão. — Fazendo o quê por aqui, meu rapaz?
Ele apertou minha mão, visivelmente surpreso.
— Pois é. Cê tá visitando alguém por aqui?
Eu ia responder, mas o elevador apitou bem naquele instante e a porta se abriu. A Jéssica surgiu dentro do elevador. Cabelo preso num coque meio torto, mochila jogada no ombro, aquela expressão clássica de quem sobreviveu a um plantão de 24 horas na base do café e do ódio. Mesmo cansada, continuava linda de um jeito injusto.
Ela foi direto até o marido, deu um beijo rápido e, em seguida, me cumprimentou com aquele toque de mãos que a gente sempre fez, meio combinado, meio piada interna.
— Miguel! Cê veio visitar a gente — disse ela, sorrindo.
Eu ri, genuinamente surpreso.
— Vocês moram neste andar? Que coincidência! — falei. — Não, vim só visitar meus pais.
Percebi o olhar dela mudar de curiosidade pra estranhamento em um piscar de olhos.
— Seus... pais? — perguntou Jéssica.
— Sim — respondi, tranquilo. — A Ângela e o Arnaldo. Não sabia? Jurava que a Gasparzinha tinha contado tudo pra ti. Tava na hora de fazer as pazes, faz tempo que a gente não se via direito.
No exato segundo em que terminei a frase, senti o clima do corredor despencar. A Jéssica levou a mão à boca, os olhos arregalaram e, sem dizer uma palavra, ela se virou e entrou correndo no apartamento. A porta bateu com força, ecoando pelo corredor silencioso.
Eu fiquei parado, piscando, tentando entender que raio de terremoto emocional tinha acabado de passar por ali.
— Ei... ela tá bem? — perguntei, franzindo a testa.
— Tá, tá. Deve ser o cansaço do plantão — disse Rogério, forçando um sorriso que não enganava ninguém. — Eu vou ver ela lá.
Ele se despediu rápido e entrou no apartamento, deixando o corredor de novo naquele silêncio de condomínio de noite.
Fiquei alguns segundos parado, sem entender nada. Alguma coisa ali não batia. A Jéssica nunca reagia daquele jeito. Respirei fundo. Não iria descobrir nada parado ali e não era meu estilo invadir espaço emocional dos outros. Depois, ela me contaria o que tava rolando. Se ela quisesse contar.
Entrei no elevador e fui descendo. No andar de baixo, as portas se abriram no andar seguinte e a noite teve mais uma reviravolta. Ela deu um passo pra dentro e congelou. Eu percebi na hora.
A mulher era linda. Usava um top preto justo que sustentava e realçava os peitões de forma quase indecente, sem ser vulgar. A calça legging vinho moldava o quadril e descia colada pelas coxas cheias, fortes. O cabelo estava preso num rabo de cavalo alto, deixando o pescoço exposto, daqueles que dão vontade de beijar só pra ver a reação. Era uma mulher impossível de não ser notada. E mais impossível ainda de não achar belíssima.
— Oi — iniciei, abrindo um sorriso.
Ela demorou um tiquinho a responder, como se tivesse sido pega de surpresa por algo que não estava no seu roteiro.
— O-oi.
Ela esticou a mão para apertar o botão do térreo. Movimento rápido, meio nervoso. Achei fofo. As gatas também fica, sem jeito, quem diria.
— Você mora aqui? — perguntou ela, tentando soar casual enquanto se encostava na parede de aço. As pernas denunciavam sua tensão.
— Não, não — respondi, rindo leve. — Vim visitar meus pais.
— Ah, entendi. Achei que fosse novo por aqui, nunca te vi antes.
— Me chamo Miguel — estendi a mão.
Quando ela segurou, senti firmeza e um calor imediato. Não era imaginação minha: havia interesse ali. Não aquele interesse exagerado, carente. Era curiosidade misturada com atração.
— Sarah.
— Prazer, Sarah.
— Prazer... — respondeu, desviando o olhar logo depois.
Eu observei sem disfarçar. O top, a legging, o encaixe do corpo dela. Não por falta de respeito, mas porque ela claramente percebia e não se fechava. Pelo contrário. Havia uma troca silenciosa ali.
— Indo pra academia?
— Uhum — ela assentiu, ajeitando o cabelo. — Eu tento ir todo dia, mas confesso que nem sempre consigo. Hoje quase desisti. Ainda bem que não desisti, né? — riu, nervosa.
Eu sorri de canto. Ela estava mesmo interessada. Não era só educação.
— Ainda bem mesmo. — deixei a voz descer meio tom, sem exagerar. — Seria um desperdício não te ver assim hoje.
Ela riu, daquele jeito que a pessoa tenta disfarçar que sentiu. As pernas dela mudaram de posição, como se o corpo tivesse reagido antes da cabeça.
— Você sempre fala assim com as pessoas que conhece no elevador?
Gostei da pergunta. Direta.
— Só quando eu realmente quero falar — respondi, tranquilo.
Eu dei um passo mínimo pra frente. Nada invasivo. Só o suficiente pra deixar claro que não era coincidência.
— E você? Mora aqui há muito tempo? — perguntei.
— Moro sim, faz uns... — ela hesitou. — Anos.
Sorri. Sinal verde clássico. Não forcei, não precisei.
— Isso é bom. Facilita as coisas.
— Facilita o quê, exatamente?
Inclinei levemente a cabeça.
— Conversas, convites... — pisquei.
Ela estava quente. Dava pra sentir no jeito desajeitado das mãos, no riso curto demais.
— Você é direto, hein?
— Sempre fui. A vida é curta, Sarah. Quando a gente encontra algo ou alguém que chama a atenção, é melhor aproveitar.
Ela riu de novo. O elevador parecia descer mais devagar do que o normal.
— E o que você faz, Miguel?
— Sou médico. — deixei meus olhos percorrerem o corpo dela. — E você?
Foi aí que ela travou de vez e começou a despejar seu currículo. Disse a profissão, a construtora onde trabalhava, onde se formou, onde fez doutorado, o assunto da tese dela, no que ela trabalhou semana passada... Eu só observava, divertido. Inteligente, bonita, interessada. Combinação perigosa.
— Bom saber — eu disse quando ela terminou. — Quem sabe a gente marca de se ver outro dia. Sem pressa, sem elevador.
— Talvez... — respondeu ela, como que dizia “sim”.
Trocamos WhatsApp ali mesmo. Natural. Sem promessas, sem joguinhos. Do jeito que eu gosto: claro e honesto. As portas se abriram no térreo.
— Foi um prazer te conhecer, Sarah.
— O prazer foi meu.
Saí caminhando em direção à saída, pensando que em como a Sarah era linda. E no que o futuro poderia nos reservar.
Pois bem, leitor. No próximo capítulo, eu vou descobrir a verdade envolvendo meus pais e a Jéssica (!), além de conhecer o seu Geraldo e o Zé Maria.
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, teremos a continuação.
Os próximos capítulos serão:
(ARCO DO FINAL DE SEMANA)
* Eu, minha amiga gostosa e os vizinhos dela - Parte 03
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 14 (PoV Carlos)
* Louco para enrabar a professora ruivinha, enrabei a <SPOILER> primeiro
* Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 12 (PoV Jonas)
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 15 (PoV Carlos/Eliana)
* Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 19 (PoV Rogério)
NOTA DO AUTOR 01: Não esqueci do arco sobre a Jéssica contando pro Rogério os seus sonhos sobre o Lucério vampirão chupando a Jéssica de jeitos que só (e nem) Rogério fez e transforma em uma vampira sedenta de sangue e sexo.
NOTA DO AUTOR 02: O capítulo 02 do Miguel ficou tão grande que eu preferi dividir em dois por questão de ritmo. Por isso, o próximo conto será a parte 03 do Miguel.