Do Paraíso ao Abismo 2.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 4224 palavras
Data: 05/11/2025 15:31:09

No começo, era como reviver um sonho. A gente começou a se ver quase o tempo todo. Um café entre as aulas, almoços em dias aleatórios, passeios no fim da tarde quando o campus já estava vazio. E, de repente, ela já fazia parte da minha rotina.

Ana ria das mesmas coisas que eu. Tinha aquele jeito leve que me desarmava, e eu me pegava rindo junto, esquecendo da vida antes dela. Era como se o destino tivesse resolvido me dar uma segunda chance, ou fazer um favor para nós dois.

Mas, aos poucos, comecei a notar que alguma coisa não batia. O rosto era o mesmo, claro. Os olhos, o sorriso... tudo igual à garota que conheci lá no Nordeste. Só que o jeito dela... era outro.

Os beijos, por exemplo, tinham mudado. Não só na forma, mas na intenção. Agora vinham com uma pressa diferente, uma intensidade quase ensaiada. E, às vezes, quando ela falava, parecia medir cada palavra. Como se quisesse me convencer de algo que eu ainda não entendia.

Mas a primeira vez que algo realmente me incomodou foi quando comentei, rindo, sobre minha alergia a camarão. Aquela mesma que quase acabou com nosso jantar na praia, no segundo dia em que nos conhecemos. Ela me olhou confusa por um instante, com um sorriso que demorou um pouco para chegar.

— Eu não me lembrei, desculpa. — Disse. — Provavelmente eu devo ter me confundindo.

Depois, rapidamente, ela se corrigiu.

— Talvez eu tenha esquecido porque foram dias tão intensos. Acho que só guardei “as melhores partes” na memória. — Ela sorriu com malícia, um sorriso safado.

Ri junto, mas, lá no fundo, alguma coisa me travou. Era impossível esquecer aquele episódio: eu passando mal, ela rindo, preocupada, me dando água de coco. Era uma lembrança viva demais para ter se apagado assim.

Tentei não dar importância. Talvez fosse coisa da minha cabeça. Paranoia, medo de sabotar uma coisa boa. Afinal, quem tem a sorte de reencontrar alguém assim, depois daqueles dias mágicos no Nordeste?

Uma tarde, no pátio da faculdade, ela me pegou olhando para ela de um jeito meio perdido.

— Você tá me olhando assim por quê? — Perguntou, sorrindo, encostada na mureta.

— Sei lá. — Respondi. — Acho que ainda tô tentando acreditar que foi o destino.

— Ué? Como assim? — Ela arqueou uma sobrancelha, divertida.

— Quero acreditar, mas às vezes parece bom demais pra ser verdade.

Ela riu, com aquele riso malicioso que parecia saber mais do que dizia, se aproximou e encostou a mão no meu peito.

— Então para de pensar, Jorge. Só sente. Às vezes o destino não gosta de ser questionado. Pode atrair coisa ruim.

E quando me beijou, deixei o pensamento se dissolver ali, no gosto de sua boca e no calor do fim de tarde. O beijo era diferente, sim, mas não menos viciante.

Ainda assim, lá no fundo, uma voz insistia em sussurrar: tem algo errado.

Com o passar dos meses, Ana começou a se encaixar cada vez mais na minha vida. Ou talvez eu tenha deixado que ela ocupasse espaço demais. No começo, tudo parecia natural. Eu gostava da companhia dela, do jeito como fazia os dias parecerem mais leves, mesmo quando a rotina da faculdade me engolia.

Ela queria conhecer meus amigos. Os poucos, mas os de verdade. Eu sempre fui reservado, e quem ficou por perto aprendeu a respeitar o meu jeito. Entre eles, estava a Sara.

Sara era família para mim. Crescemos juntos, e ela conhecia meus silêncios melhor do que muita gente conhecia minhas palavras. Quando comentei sobre a Ana, ela riu, mexendo o café.

— Finalmente, hein? Até que enfim abriu esse coração de pedra.

— Não é bem assim. — Respondi. — Quero que a conheça antes de tirar conclusões. Você me zoa, mas nunca aprova qualquer interesse amoroso que eu tenha.

Sara me provocou:

— É que eu enxergo além. Sou mulher e sei quando é apenas interesse financeiro, ou interesse real, em você. Vai por mim, já errei alguma vez?

Marcamos um barzinho perto da faculdade e Ana chegou antes de mim, o que era raro. Estava linda, como sempre, e quando me viu, veio direto. Me abraçou, me beijou ali mesmo, na frente de todo mundo. Um beijo longo demais pra um primeiro encontro com meus amigos.

Quando a Sara chegou, eu vi a faísca no olhar das duas antes mesmo de qualquer palavra.

— Oi! — Disse Ana, se adiantando antes que eu pudesse apresentá-las. — Você deve ser a Sara, né? Sou a namorada do Jorge.

“Namorada.” A palavra me atingiu em cheio. A gente nunca tinha falado sobre isso. Nem eu, nem ela.

Sara sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos.

— Prazer Ana. — Sara apertou a mão dela com firmeza, o olhar direto, avaliando.

— O prazer é meu! — Respondeu Ana, mantendo o contato visual. — O Jorge fala bastante de você.

A conversa seguiu, mas o ar ficou denso. Ana dominava os assuntos, fazia perguntas, ria alto, tocava meu braço o tempo todo. A cada gesto, eu via a Sara se afastar um pouco mais. Não fisicamente, mas dando espaço para Ana falar, a estudando, em constante avaliação.

Quando ela foi embora, me deu um abraço rápido e sussurrou no meu ouvido:

— Cuidado, Jorge. Nem tudo que brilha é ouro. — Fiquei com aquilo martelando na cabeça.

No caminho pra casa, Ana falava empolgada sobre o encontro, sobre como achava a Sara “interessante”, e eu percebia o veneno escondido por trás de suas palavras.

Naquela noite, antes de dormir, fiquei olhando pro teto, tentando entender: em que momento a minha vida começou a se parecer tanto com uma história que eu não lembrava de ter escrito?

Não sei exatamente quando a Ana começou a ficar mais do que devia. Primeiro eram as noites de sexta, depois os finais de semana inteiros e, quando percebi, ela já tinha uma escova de dentes no meu banheiro e um canto no guarda-roupa.

Não pedi que ficasse. Também não pedi que fosse embora. As coisas foram simplesmente acontecendo, ou melhor, sendo cuidadosamente conduzidas por ela, que sempre tinha uma desculpa pronta para não voltar para casa.

— Hoje não dá, Jorge. Meus pais estão insuportáveis. — Dizia, tirando o tênis e jogando a bolsa no sofá.

— Tá chovendo demais, e eu ainda tenho que estudar pra prova… — Murmurava, se aninhando no meu peito, como se ali fosse o único lugar seguro do mundo.

E eu, feito um idiota encantado, acreditava. Aquela presença constante me dava a sensação de companhia, mas também me sufocava, mesmo que eu não quisesse admitir.

O apartamento era pequeno, eu era sustentado pelos meus pais, e antes dela, era o meu refúgio — o único espaço onde eu podia simplesmente ser eu. Com o tempo, passou a ser o nosso apartamento. E o “nosso”, dito por ela, soava sempre como posse, como um lembrete de que o espaço agora também lhe pertencia, mesmo que ainda não morasse oficialmente comigo.

Os livros, antes organizados na estante, cederam lugar a maquiagens, perfumes e aquelas velas aromáticas que ela dizia ajudar a estudar.

Os meus horários mudaram. As minhas rotinas também. Quando percebi, já era ela quem escolhia o que íamos comer, o que íamos assistir… até o que eu deveria vestir.

Perguntei algumas vezes sobre a casa dela.

— Um dia eu te levo lá, prometo. — Dizia sempre no mesmo tom leve, com o mesmo sorriso de quem esconde mais do que revela. — É que minha família é meio complicada… você não vai gostar.

E eu aceitava. Porque, no fundo, queria acreditar que ela confiaria em mim no tempo dela.

Em poucos meses, Ana praticamente já morava comigo. E quando eu olhava em volta, o apartamento parecia outro. Cada detalhe, cada mudança silenciosa, era parte de um plano que eu não sabia que estava em andamento. Às vezes me pegava pensando se ela realmente gostava de mim… ou se gostava de ocupar os espaços que antes eram só meus.

E então, como um namorado bem adestrado, o dia em que a Ana conheceu os meus pais chegou naturalmente. O jantar, lá na minha casa de infância, foi um evento feito sob medida pra ela brilhar.

A mesa impecável, os talheres alinhados como se fossem parte de uma vitrine, e aquele ar formal que pairava sobre tudo. Eu cresci naquele ambiente onde sorrisos eram educados, mas raros, e as palavras pareciam sempre medidas antes de sair da boca.

Quando contei que levaria Ana pra conhecê-los, minha mãe ficou genuinamente animada. Meu pai apenas levantou os olhos do jornal e disse:

— Ótimo. Já estava na hora.

Meus pais nunca foram elitistas ou preconceituosos. Desde que uma pessoa mostre valor, que seja competente, não importa o berço em que nasceu, ela sempre será bem aceita.

No carro, a caminho da casa, Ana parecia tranquila demais. Enquanto eu repassava mentalmente o que poderia dar errado, ela olhava pela janela, distraída, cantarolando alguma coisa.

— Nervosa? — Perguntei, tentando disfarçar a minha própria tensão.

— Por quê estaria? — Ela respondeu com um sorriso confiante. — Sua família vai me adorar.

E, como de costume, ela estava certa. Desde o momento em que cruzou a porta, Ana parecia ter nascido para aquele ambiente. Cumprimentou minha mãe com um abraço leve, mas sincero, e elogiou a casa com a naturalidade de quem realmente se impressionava.

Com meu pai, foi além: em dez minutos, já estavam conversando sobre mercado financeiro, investimentos e tendências econômicas.

— Interessante como o comportamento das pessoas muda com o humor do mercado. — Disse ela, olhando firme para o meu pai, que parecia genuinamente surpreso. — No fundo, tudo é sobre confiança, não é?

Ele sorriu, satisfeito.

— Concordo plenamente. Você entende mais disso do que muito executivo que eu conheço.

Com minha mãe, a conversa fluiu de outro jeito.

— A senhora tem um gosto impecável — Elogiou, analisando discretamente a decoração. — Essa combinação de tons é linda, delicada, mas com personalidade.

Minha mãe sorriu, derretida. Em poucos minutos, já falavam de moda, viagens e até das vitrines da Europa.

Eu fiquei só observando. A mulher que, na maioria dos dias, mal me deixava em paz pra estudar, estava ali, articulada, encantadora, carismática. Era impossível não se orgulhar.

Durante o jantar, ela manteve o equilíbrio perfeito entre recato e confiança. Ria das histórias do meu pai, ajudava minha mãe a servir o vinho, fazia perguntas na medida certa.

Quando fomos embora, meus pais me acompanharam até o portão.

— Ela é encantadora, Jorge. — Disse minha mãe. — Educada, culta, simpática. Você tem bom gosto, meu filho.

Meu pai apenas assentiu, com aquele meio sorriso satisfeito que eu via raramente. E eu acreditei que talvez nosso relacionamento estivesse mesmo no caminho certo.

No caminho de volta, Ana encostou a cabeça no meu ombro.

— Eu te disse que ia dar certo. — Sussurrou, com a voz suave.

E por um instante, eu esqueci de duvidar. Esqueci de me perguntar como ela sabia tanto sobre investimentos, ou por que parecia se encaixar tão perfeitamente em qualquer ambiente. Eu só pensei que, talvez, daquela vez, o destino estivesse mesmo do meu lado.

Algumas semanas depois do jantar com meus pais, Ana parecia diferente. Menos risonha, mais distante. Passava longos minutos no celular, e às vezes eu a pegava encarando o nada, como se tivesse o peso do mundo nas costas.

Uma noite, ela suspirou fundo e disse:

— Preciso te contar uma coisa… mas promete que não vai se preocupar?

A frase já bastou pra me deixar tenso.

— Fala, Ana. O que foi?

Ela desviou o olhar, mexendo no anel que usava no dedo.

— Minha família está com alguns problemas financeiros. Nada grave, mas… meu pai disse que não vai poder mais me ajudar com a faculdade.

Fiquei em silêncio por alguns segundos.

— Poxa… sinto muito. Mas olha, se for só isso, eu posso…

Ela levantou os olhos rapidamente, quase ofendida.

— Não, Jorge. Nem pensa nisso. Você não tem obrigação nenhuma. — A voz dela era firme, mas o tremor nas mãos a denunciava. — Eu já te dei trabalho demais.

Fiquei sem saber o que dizer.

— Trabalho? Ana, que bobagem. Nós somos…

— É sério. — Ela me interrompeu, respirando fundo. — Eu já consegui um emprego. Dá pra me manter, pagar minhas contas… só vou ter que organizar umas coisas.

Tentei sorrir, mas aquela sensação de desconforto me acompanhou o resto da noite.

— Fora isso, precisa de mais alguma coisa?

— Não, não preciso. — Ela forçou um sorriso. — Só preciso de um banho e de uma boa noite de sono. Amanhã tudo volta pro eixo.

Ela se trancou no banheiro e ficou lá por quase uma hora. A água correndo, o som abafado, e eu, do outro lado da porta, sem conseguir deixar de sentir que algo não se encaixava.

Mais tarde, acordei no meio da madrugada com sede. Quando passei pela sala, a luz ainda estava acesa — e Ana, sentada no chão, cercada por folhas, notas espalhadas e planilhas abertas no notebook. O rosto cansado, os olhos marejados.

— Ei… — Murmurei, me aproximando. — Não era pra você estar dormindo?

Ela deu um meio sorriso, sem tirar os olhos da tela.

— Não consigo. Tô tentando ver se dá pra continuar na república ou se entrego a vaga. Mas tá tudo tão apertado…

Fiquei ali, em pé, observando aquela cena. Parte de mim sentiu pena; outra parte queria resolver tudo de uma vez. E antes que eu pudesse pensar direito, as palavras escaparam:

— Fica aqui de vez, então. — Falei, meio brincando, meio sério. — Deixa eu te ajudar com isso pelo menos.

Ela me olhou, surpresa.

— Você tá falando sério? — Perguntou, num tom quase sussurrado, como se tivesse medo da resposta.

— Claro. Cê já tá aqui quase todo dia mesmo. Facilita pra nós dois.

Por um instante, o silêncio pareceu preencher todo o espaço. Ana desviou o olhar, mordeu o lábio e, enfim, murmurou:

— Se é isso que você quer…

E foi assim — simples, sem promessas, sem planos — que Ana deixou de “ficar de vez em sempre” para realmente morar comigo.

Eu achei que estava sendo generoso, compreensivo. Mas hoje, olhando para trás, sei que aquele foi o primeiro passo para me perder completamente.

No início, tudo parecia normal depois que ela se mudou. Ana passou a cuidar de quase tudo, como se fosse uma obrigação, ou talvez uma forma de retribuir. O café sempre pronto, o apartamento arrumado, e eu chegando da faculdade com a sensação de voltar para casa, para um lar de verdade. Mas logo o ritmo mudou.

Certa noite, ela apareceu vestida de preto, com um vestido justo, com um perfume novo e uma bolsa que eu nunca tinha visto.

— Vai sair? — Perguntei, sem disfarçar a surpresa.

— Começo no trabalho novo hoje. — Ela respondeu, prendendo o cabelo diante do espelho.

— Mas a essa hora? São quase sete da noite.

Ela me olhou pelo reflexo, com um sorriso calmo, quase divertido.

— Relaxa, Jorge. Eu tô trabalhando como hostess. O horário é esse mesmo.

A palavra soou estranha, solta no ar e ficou ecoando dentro de mim por um tempo.

— É uma espécie de recepcionista, anfitriã de eventos. — Ela se virou pra mim. — É numa empresa de eventos. Eles organizam festas, coquetéis, coisas assim. Eu fico na entrada, recebo o pessoal, às vezes fico no camarote, nada demais.

— E onde é isso? — Perguntei, tentando entender.

— Depende. — Ana respondeu, enquanto passava batom diante do espelho. — Cada evento acontece num lugar diferente. Hoje, por exemplo, vai ser num salão de festas alugado.

“Cada evento num lugar diferente.” A frase ficou ecoando na minha cabeça, mas eu não quis insistir. Ela parecia tão segura, tão certa do que dizia.

Com o tempo, o tal “trabalho” virou rotina. No começo, saía uma ou duas vezes por semana. Depois, quase todos os dias. De quinta a domingo era certo, às vezes até nas quartas. Sempre o mesmo horário: saía por volta das sete da noite e voltava entre meia-noite e uma da manhã.

Eu tentava ficar acordado para quando ela chegasse. Às vezes conseguia, mas na maioria das vezes o sono me vencia. Quando voltava, estava cansada, mas tranquila. Tomava banho, trocava de roupa, nem comia, apenas se jogava na cama e dormia.

Perguntei uma vez se não podia me mandar o endereço, só por segurança, caso acontecesse alguma coisa. Ela riu.

— Amor, você vai fazer o quê? Me buscar no meio de uma festa? — Disse, entre risadas. — É tudo tranquilo. Eu fico na recepção ou no camarote. Nem tenho contato direto com o público.

De algum modo, ela sempre sabia o que dizer pra me convencer. A voz, o olhar, a forma como me tocava, tudo me fazia sentir que eu estava exagerando, que o problema era comigo. Mas, no fundo, eu sabia que algo não se encaixava. O trabalho sem endereço fixo. O celular, agora sempre no silencioso. As histórias que mudavam de uma semana para outra… Ana sempre tinha uma explicação. E eu, sempre uma desculpa para acreditar nela.

Quanto mais Ana trabalhava, mais minhas noites eram solitárias. Por mais estranho que tudo parecesse, ela nunca deixou de ser minha namorada, minha amante, minha parceira. Tinha o próprio jeito de me compensar, fosse com carinho, com jantares surpresa, ou com sexo. Mesmo exausta, Ana nunca deixava nossa vida esfriar.

Fazia semanas que eu não via Sara. A vida tinha engolido os dois: o trabalho, Ana, a rotina, o cansaço… quando ela mandou mensagem perguntando se podia passar lá em casa, eu nem hesitei. Disse que sim. Precisava dela, da leveza que sempre trazia.

Sara chegou com uma sacola de mercado e um sorriso genuíno.

— Eu cozinho, você abre o vinho. Negócio fechado?

— Fechado. — Respondi, aliviado.

A noite foi simples, boa, como costumava ser antes de tudo ficar… mais complicado. Conversamos, rimos, lembramos de histórias da escola. Quando percebi, já passava da meia-noite e então, a porta se abriu.

Ana entrou. O cabelo ainda úmido, preso de qualquer jeito. A roupa desalinhada — um moletom leve, uma regata por baixo. Parecia mais ter saído de um dia de praia do que de um turno de trabalho.

Ela parou na porta, imóvel, e o sorriso de Sara se desfez aos poucos. O ar pareceu mudar de peso. Ana olhou para nós, depois para a garrafa aberta sobre a mesa, e por um instante o silêncio foi absoluto. Um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.

— Eu… não sabia que você vinha hoje. — Disse Ana, encarando Sara, num tom calmo, mas com os olhos cortando o ar.

— Chegou cedo. — Respondi, tentando manter o clima leve. — A gente tava só colocando a conversa em dia. Faz tempo que não nos víamos.

Ela se aproximou devagar, avaliando a cena como quem lê um livro cujo final já conhece.

— Conversando, aham. Com vinho, risadinhas… e à meia-noite.

Sara riu, mas foi aquele tipo de riso que cutuca, direto.

— Relaxa, Ana. A gente se conhece desde antes de você aparecer na vida dele.

— É. Mas agora eu estou na vida dele. — Respondeu Ana, firme, sem piscar.

O silêncio que veio depois foi pesado, quase palpável. Eu tentei intervir, mas qualquer palavra minha parecia perigosa. Se defendesse Sara, seria insensível. Se defendesse Ana, injusto. Fiquei entre dois mundos, o que eu era, e o que eu estava me tornando.

— Acho que já deu pra perceber que eu tô sobrando aqui. — Disse Sara, pegando a bolsa. — Até a próxima, amigo. Foi muito bom te ver, saber que está bem.

Sara passou por mim, deu um tapinha no meu ombro e se inclinou no ouvido de Ana.

— Trabalho, né? — cochichou, com aquele sorriso venenoso. — Trabalho que termina com cabelo molhado e cheiro de sabonete de motel?

Ana ficou rígida. O ar pareceu endurecer entre nós. Sara provocou e saiu, batendo a porta com uma suavidade quase cruel. Fiquei parado, sem saber o que dizer. Ana virou devagar, e o olhar dela misturava mágoa, raiva e algo mais profundo: cautela.

— Então é isso? Eu chego do trabalho e encontro minha rival cozinhando na minha casa?

Respirei fundo.

— Ela não é sua rival, Ana. É minha amiga. Sempre foi.

— Amiga. — Repetiu, saboreando a palavra como se ela tivesse outro gosto. — E eu sou o quê, Jorge?

— Você é quem eu escolhi, minha namorada.

Ana me olhou por alguns segundos longos, intensos. O ciúme no rosto dela foi se dissolvendo devagar, até dar lugar a algo que não era emoção, era cálculo. Ela deu um passo à frente, encostou a ponta dos dedos no meu peito e sussurrou:

— Então, prove.

O ciúme se fez presente outra vez, possessivo, visível em seus olhos, na maneira como seus dedos se apertaram no próprio braço. Ela respirava fundo, tentando se controlar, mas eu já tinha passado do ponto de controlar qualquer coisa. Aquele show de possessividade, a forma quase cruel como ela havia praticamente colocado a Sara para fora… aquilo não era só raiva. Era um pedido. Um desafio.

— Prova pra mim… prova que eu sou a única. — Ela exigiu novamente, a voz em tom de desafio, mas passando vulnerabilidade, na verdade. — Prova que você é meu. Só meu.

A ação era a única resposta que faria sentido naquele momento. Avancei para ela em dois passos largos, e meus braços se fecharam em torno dela, puxando-a para mim, o que fez seus olhos se arregalarem por uma fração de segundo. Não havia medo neles. Havia um triunfo antecipado.

Ela queria força, pegada, dominância. Eu ia dar a ela exatamente o que ela queria.

Girei seu corpo e a empurrei contra a parede da sala, o impacto abafado pelo seu pequeno suspiro ofegante. Minha perna se insinuou entre as dela, afastando-as. Arranquei o moletom, a regata, a bermuda, a calcinha… não pedi autorização, apenas a despi, descobrindo a pele lisa e quente por baixo.

— Jorge… — Ela tentou falar, mas meu nome saiu como um gemido rouco de prazer.

Não fui gentil. Pincelei o pau na entrada da xoxota e empurrei devagar, mas sem parar. Entrando aos poucos, constante, até me enterrar inteiro dentro dela.

— Safado, gostoso… tá tudo dentro… mete, fode essa buceta. — Um som profundo e gutural saiu da sua garganta quando estoquei mais forte. — Ahhhhh…

Suas mãos, que antes estavam defensivas, agarraram meu cabelo, mantendo minha boca exatamente onde estava. Sua perna se enrolou em torno da minha cintura, puxando-me com uma urgência que igualava a minha. O calor interno que vinha dela já estava me queimando por completo.

— É isso que você queria? — Provoquei. — É prova o bastante?

— Si… sim. — Ela gaguejou, ofegante. — Isso.

Meu polegar circulou o clitóris, firme e rápido, e ela empinou mais a bunda, melhorando o ângulo da penetração.

— Agora. — Ela ordenou. — Agora, amor. Por favor. Mais forte… Ahhhhhh…

Ela estava incrivelmente quente, incrivelmente apertada, cada contração interna um espasmo de prazer que comprimia e ordenhava o meu pau.

Parei por um segundo, ofegante, sentindo cada tremor que percorria seu corpo.

— Meu Deus, Ana… — Respirei mais fundo, minha voz falhando.

— Não para. Por favor, não para. — Ela moveu os quadris, rebolando. Um movimento pequeno, calculado.

Comecei a estocar mais forte, mais rápido, uma exploração deliberada de sua profundidade. Sem perder o ritmo. A fera que ela tinha despertado em mim exigiu controle. Meus quadris encontraram um ritmo selvagem, implacável, batendo contra ela, mantendo-a presa entre meu corpo e a parede. O som da nossa pele se encontrando, úmida de suor, encheu o ar.

Seus dedos cravaram nas minhas costas, através da minha camisa. Seus gemidos se transformaram em gritos abafados a cada vez que eu a atingia mais fundo.

— Mais forte… mais… — Ela suplicou. — Fode essa buceta. Não para.

Cada músculo do meu corpo estava tenso, meu mundo tinha se reduzido ao ponto onde nossos corpos se conectavam, à sensação de ela me envolvendo, ao som de sua respiração ofegante. Uma de minhas mãos agarrou sua coxa, abrindo-a ainda mais, mudando o ângulo. Quando a próxima enfiada a atingiu, seu rosto se transformou em puro êxtase.

— Aí! — Ela gritou. — Assim mesmo… desse jeito… Ahhhhh…

Eu me concentrei naquele ângulo, martelando sem piedade. Seu corpo começou a tremer de verdade, seus músculos ficando tensos como cordas. Eu sabia que ela estava perto. Eu podia sentir a tensão subindo, a maneira como sua respiração ficou irregular.

— Vem pra mim… solta tudo… — Incentivei. Minha voz em comando. — Vem agora… vem comigo…

Foi o que bastou. Seus olhos se arregalaram e ela gritou.

— Ahhhhhh… — Um som longo e ininterrupto que pareceu rasgar o ar.

Seu corpo estremeceu violentamente contra mim, suas contrações internas se tornando um aperto ritmado e irresistível em torno do meu pau. Cada uma, uma onda de prazer tão intensa que eu podia senti-la como se fosse minha.

Ver ela perder o controle, sentir o poder cru de seu orgasmo, foi a minha ruína. Enterrei meu rosto em suas costas e me deixei levar, gozando com um rugido abafado.

— Cacete, Ana… o que foi isso?

A explosão de hormônios e neurotransmissores decorrente do orgasmo — oxitocina, dopamina, endorfinas… — sugava cada grama da minha força, cada pensamento da minha cabeça, enquanto eu jorrava dentro dela, preenchendo-a, marcando-a como ela tinha me pedido.

Por um tempo interminável, ficamos ali, ofegantes, ainda conectados, nossos corpos tremendo com os espasmos finais. O suor escorria pelas minhas têmporas. O peso dela em meus braços era a única coisa real no mundo.

Aos poucos, nossa respiração foi se acalmando. Ela soltou um suspiro profundo e trêmulo, e seus lábios encontraram os meus em um beijo suave e molhado.

— Então… — Ela sussurrou, sua voz rouca e cansada. — Tá mais do que provado… Pelo menos, por enquanto.

Continua…

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Comentários

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Top. Ele falou foi minha ruina, será que ela engravidou.

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interessante mas esse trabalho noturno e os cabelos molhados nao e simples recepção

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Nesse caso até que está fácil...

É só colocar as coisas dela em uma mala e deixar na rua...

Um aviso bem grande dizendo que sabe de tudo pq viu a traição e já era... vida que segue.

Tem pessoas que merecem apenas e somente o desprezo, não vale a pena nem querer saber o pq.

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Será que é tão simples assim?

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Nós já sabemos que nas duas histórias, nada “é tão simples assim” !!!

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