Eu nunca pensei que fosse acontecer. Nunca, em nenhum momento dos meus quarenta e poucos anos, imaginei que fosse olhar para a minha própria filha daquele jeito. Mas aquele 23 de novembro de 2019 quebrou alguma coisa dentro de mim, alguma barreira que eu nem sabia que existia.
A Bia tem 19 anos. Minha menina. Minha única filha. Torcedora fanática como a mãe, criada no meio das bandeiras, dos fogos, das noites em claro vendo Libertadores. Quando o Flamengo ganhou a vaga pra final em Lima, ela me olhou com aqueles olhos castanhos enormes e disse: “Mãe, a gente tem que ir. Só nós duas. Como sempre foi.”
E fomos.
Dois dias em Lima, dormindo no mesmo quarto de hotel simples em Miraflores, dividindo a mesma cama de casal porque era mais barato. Eu dizia que era só pra economizar, mas no fundo eu adorava sentir o cheiro dela no travesseiro, o calor do corpo dela encostando no meu de madrugada.
No estádio, foi o inferno e o paraíso ao mesmo tempo. Quando o Gabigol virou o jogo, eu e ela nos abraçamos tão forte que senti o coração dela batendo contra o meu peito. Ela gritava no meu ouvido, chorando, me apertando pela cintura, e eu… eu beijei o topo da cabeça dela como sempre fiz, mas dessa vez minha boca ficou ali mais tempo. Meu nariz no cabelo dela, sentindo o cheiro de suor, de cerveja, de vitória. E alguma coisa mudou.
Saímos do estádio flutuando. A cidade inteira era festa. Mas a gente só queria voltar pro hotel, tomar banho, deitar e chorar mais um pouco juntas. No táxi, ela encostou a cabeça no meu ombro. A mão dela repousava na minha coxa, por cima do short jeans. Eu não tirei. Não consegui.
Chegamos no quarto. Luz baixa, ar-condicionado gelado. Ela tirou a camisa do Flamengo suada e jogou no chão, ficando só de top preto e sutiã por baixo. Eu fiquei parada na porta do banheiro, olhando. Olhando de verdade pela primeira vez. O corpo dela bronzeado, a barriguinha definida de quem joga vôlei na praia, o suor ainda escorrendo entre os seios. Ela virou pra mim e sorriu, aquele sorriso que eu conheço desde que ela nasceu.
“Mãe, vem tomar banho comigo pra economizar água?”, brincou, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu deveria ter rido e dito não. Deveria. Mas minha boca disse: “Tá bom, filha.”
Entramos no chuveiro juntas. A água caindo quente, o vapor enchendo tudo. Ela estava de costas pra mim, ensaboando o cabelo. Eu passei a mão nas costas dela, devagar, tirando o sabonete. Ela não se mexeu. Só respirou fundo.
Eu me aproximei. Encostando meu corpo no dela por trás. Meus seios contra as costas dela. Minhas mãos subindo devagar pela cintura, pela barriga. Ela tremeu. Mas não afastou.
“Filha…”, eu sussurrei no ouvido dela, a voz rouca de tanto gritar no estádio e de outra coisa que eu nem sabia nomear.
Ela virou o rosto. Olhou pra mim. E eu vi. Vi que ela queria também. Que aquele olhar não era mais de filha pra mãe. Era de mulher pra mulher.
Eu beijei ela.
Beijei minha própria filha debaixo daquele chuveiro, com a água caindo nos nossos corpos, com o barulho da torcida ainda ecoando lá fora na rua. Ela abriu a boca pra mim, gemeu baixinho quando minha língua encontrou a dela. Minhas mãos desceram pro quadril dela, puxando ela pra mais perto. Ela agarrou meu pescoço, me beijou com fome, com desespero, como se tivesse esperado aquele momento a vida inteira.
Saímos do banheiro pingando, sem nos secar. Caímos na cama ainda molhadas, eu em cima dela. Tirei o top dela com as mãos tremendo. Beijei o pescoço, os seios, o ventre. Ela arqueava o corpo, chamando “mãe” de um jeito que nunca tinha chamado antes. Um jeito sujo, gostoso, proibido.
Eu desci mais. Abri as pernas dela. E quando minha boca encontrou ela ali, quando eu provei minha filha pela primeira vez, eu soube que não tinha mais volta. Ela gozou gritando, agarrando meu cabelo, chorando meu nome.
Depois ficamos deitadas, abraçadas, nuas, com o cheiro de sexo e vitória no ar. Ela encostou a testa na minha e sussurrou:
“Eu te amo, mãe. Não só como filha.”
Eu beijei a boca dela de novo, devagar, e respondi:
“Eu também, meu amor. Desde Lima… desde sempre.”
E ali, naquela cama de hotel em Lima, depois do bicampeonato do Flamengo, eu e minha filha nos tornamos outra coisa.
Uma coisa que ninguém nunca vai entender.
Mas que é só nossa.
Pra sempre. ❤️🖤