Onde o mar nos levou - Capítulo XVIII

Um conto erótico de Rafa & Caio
Categoria: Gay
Contém 3180 palavras
Data: 11/10/2025 12:56:14

Capítulo XVIII — A Guerra Silenciosa

Eu sempre acreditei que minha vida profissional tinha começado a ganhar forma quando decidi trilhar meu próprio caminho, sem depender do sobrenome Montenegro. Cada campanha que participei, cada foto estampada em revista, cada contrato assinado... tudo isso era meu, fruto do meu esforço. Mas naquela manhã, quando coloquei a camisa clara, ajeitei o relógio que Caio havia me dado e peguei as chaves do carro, eu não fazia ideia de que aquele dia seria o marco de uma guerra que mudaria tudo.

Caio ainda dormia, o corpo relaxado sob os lençóis. Passei alguns segundos só observando-o. O peito dele subia e descia devagar, e o cabelo caía sobre parte do rosto. Eu me curvei, dei um beijo na testa dele e sussurrei:

— Volto logo, amor.

Ele resmungou algo como “vai com Deus” e se virou de lado. Eu sorri, tentando me encher de coragem, e fechei a porta devagar.

O caminho até a agência foi tranquilo, mas uma ansiedade estranha me corroía por dentro. Eu não sabia explicar, era como se algo estivesse prestes a dar errado. Quando estacionei, percebi que o prédio parecia mais silencioso que o normal. Entrei, cumprimentei algumas pessoas que desviaram o olhar rapidamente, e aquilo me incomodou.

A recepcionista, que sempre me recebia com um sorriso, estava diferente. O semblante dela era de constrangimento.

— Senhor Rafael Montenegro? — perguntou, hesitante.

— Sim. Tenho reunião com o diretor de criação. — respondi.

Ela respirou fundo e baixou os olhos para a tela do computador.

— Então... o contrato foi cancelado.

Por um momento achei que não tivesse ouvido direito.

— Como é que é? Cancelado? Deve haver algum engano, já entreguei material, já estava tudo certo!

Ela mordeu os lábios.

— Recebemos uma notificação ontem. Cancelamento por ordem das empresas Santos Montenegro.

Senti como se o chão tivesse se aberto sob meus pés. O ar faltou por alguns segundos. Respirei fundo, tentando não perder o controle na frente dela.

— Obrigado. — disse, seco, e saí.

Enquanto caminhava até o carro, meu coração batia forte no peito. Eu já sabia que Augusto começaria a se mover, mas não esperava que fosse tão rápido, tão direto. Entrei no carro e bati o volante com força.

— Desgraçado... — murmurei, engolindo a raiva.

Ao chegar em casa, Caio estava na cozinha, mexendo o café. Ele ergueu o olhar e percebeu na hora.

— Rafa? O que aconteceu?

Joguei as chaves sobre a mesa e me sentei, passando a mão no rosto.

— Cancelaram o contrato. O trabalho da agência... acabou.

— Mas... por quê?

— Por ordem de Augusto. Ele tá mexendo os pauzinhos. — minha voz saiu amarga.

Os olhos de Caio brilharam de indignação. Ele veio até mim, segurou meus braços e disse:

— Ele não pode fazer isso com você! Não pode controlar sua vida desse jeito!

Olhei fundo nos olhos dele.

— Pode. E vai continuar. Pra ele, eu sou só uma peça rebelde no jogo.

Caio me puxou para um abraço forte, como se tentasse segurar meus pedaços para que eu não desmoronasse ali mesmo.

— Então vamos enfrentar isso juntos. — disse com firmeza.

Ainda naquela tarde, meu celular começou a vibrar sem parar. E-mails, notificações, mensagens de colegas. Abri o notebook e me deparei com críticas infundadas surgindo em redes sociais. Algumas páginas de moda anunciaram que não publicariam mais meu ensaio. Marcas começaram a recuar.

Um colega me enviou mensagem:

“Rafa, sinto muito, mas recebi ordens de cima para não seguir com as fotos. Estão dizendo que você não é mais ‘comercialmente viável’. Eu não concordo, mas não posso lutar contra.”

Cada linha que lia parecia um soco no estômago.

Caio se aproximou, leu por cima do meu ombro e disse:

— É boicote. Isso tá na cara.

Eu balancei a cabeça, fechando os olhos.

— Ele quer me destruir em silêncio, sem sujar as mãos.

Naquela noite, não consegui dormir. Fiquei encarando o teto, enquanto Caio, deitado ao meu lado, segurava minha mão. Às vezes eu pensava em desistir, mas quando olhava para ele, eu me lembrava de por que eu tinha escolhido resistir.

Nos dias seguintes, a perseguição só aumentou. A cada manhã, uma nova decepção. Uma revista desmarcou a entrevista que já estava confirmada. Uma marca de relógios encerrou um contrato antes mesmo de ele começar. Até uma participação em um programa de marketing foi cortada sem explicação.

Eu tentava me manter firme, mas Caio percebia o peso em meus ombros.

Numa das noites, sentei no sofá e deixei os e-mails abertos. Havia dezenas de mensagens recusando parcerias, todas com justificativas frias e vagas. Eu ri, sem humor, e falei:

— Parece que virei um maldito vírus, Caio. Todo mundo quer distância.

Ele se sentou ao meu lado, pegou minha mão e apertou.

— Você não é um vírus, Rafa. Você é o cara mais incrível que eu já conheci. Eles podem te virar as costas, mas eu nunca vou.

Eu respirei fundo e encostei a cabeça no ombro dele.

Pensei que não havia como piorar, mas então chegou a intimação judicial. Uma empresa alegava que as imagens da campanha que eu tinha feito eram plágio, que infringiam direitos autorais.

Joguei os papéis sobre a mesa, furioso.

— Isso é absurdo! Eu nunca faria isso!

Caio pegou os documentos e leu junto comigo, franzindo a testa.

— Isso é uma armação barata. Nem precisa ser advogado pra ver.

Eu bati na mesa.

— Só pode ser coisa do meu pai! Ele não vai descansar até me ver no chão!

Caio se ajoelhou diante de mim, segurando meu rosto entre as mãos.

— Então deixa ele jogar sujo. Você não vai perder quem você é. Eu tô aqui. Sempre vou estar.

As palavras dele me atingiram como um sopro de ar fresco no meio da tempestade.

Resistimos juntos... mesmo com tudo desmoronando, Caio não soltou minha mão. Ele cozinhava pra mim quando eu não tinha ânimo, me fazia rir quando eu só queria chorar.

Uma noite, deitado ao lado dele, falei baixinho:

— Se eu fosse você, já teria ido embora. Tô virando um problema.

Ele virou de lado, me olhando sério.

— Nunca mais repete isso. Você não é problema nenhum. Você é minha escolha. E eu não vou embora.

As lágrimas vieram sem que eu pudesse conter. O abracei com força.

Percebi então que Augusto podia me roubar contratos, pode me arrastar para tribunais, pode tentar apagar meu nome do mercado. Mas nunca poderia apagar o que eu tinha com Caio.

E talvez fosse isso que ele nunca entenderia: quanto mais ele tentava me destruir, mais nós dois nos fortalecíamos.

Caio narrando...

Eu não sei explicar o que é sentir o coração afundar de uma vez só, como se alguém tivesse enfiado a mão no meu peito e arrancado o ar de dentro de mim. Até aquele dia, eu só conhecia essa sensação em teoria, ouvindo histórias ou lendo em livros, mas quando aconteceu comigo, quando eu vi com meus próprios olhos os três pinos de cocaína escondidos entre as coisas de Rafael, eu entendi. Foi como se uma parte inteira da vida que a gente estava construindo tivesse se partido em pedaços invisíveis, que caíram no chão e se espalharam por todos os cantos da casa, difíceis de recolher.

Tudo começou naquela noite. Rafael tinha saído sem falar nada. Eu percebi a mudança nele nos últimos dias — estava triste, cabisbaixo, distante. Eu fazia perguntas, tentava arrancar alguma coisa, mas ele sempre dizia: “Tá tudo bem, amor… só tô cansado, muita coisa na cabeça”. Eu queria acreditar, queria me convencer de que era só isso, mas algo dentro de mim já gritava que não era. Ainda assim, eu calei. Talvez por medo da resposta, talvez porque a gente sempre acha que consegue segurar o mundo sozinho.

Quando ele voltou, estava estranho. Evitou me olhar muito nos olhos, foi direto para o banheiro dizendo que precisava de um banho. Eu fiquei no quarto, dobrando umas roupas, mexendo em gavetas, tentando ocupar a cabeça. Foi nesse movimento mecânico, quase distraído, que encontrei.

Três pinos pequenos, mas que pesavam como chumbo quando caíram na minha mão. Eu gelei. Senti o sangue sumir do meu rosto, as pernas ficaram bambas. Eu fiquei olhando praquilo como se fossem bombas prestes a explodir. Por alguns segundos, não respirei. Depois, um nó subiu na garganta e eu não consegui mais segurar. Larguei aquilo de volta na gaveta, como se queimasse, e saí do quarto com os olhos já marejados.

Eu fui pra varanda, porque dentro de casa parecia que o ar tinha sumido. Encostei na grade e deixei as lágrimas caírem, sem conseguir segurar. Não era só raiva. Era decepção. Era dor. Era medo. Era lembrar de todas as vezes que ele tinha prometido que não ia mais se destruir daquele jeito, que ia lutar por nós, por ele mesmo, e perceber que agora… agora ele tinha voltado.

Eu chorei baixo, tentando engolir o soluço, mas o peito pesava demais. Foi nesse estado que Rafael apareceu. Saiu do banho ainda com o cabelo molhado, só de toalha na cintura, e chamou meu nome na sala:

— Caio? — a voz dele ecoou, normal, como se nada tivesse acontecido. — Você tá aí?

Eu não respondi. Não consegui.

Ele caminhou até a cozinha, olhou em volta, estranhou meu silêncio. Quando abriu a porta da varanda, me encontrou encostado, os olhos vermelhos, as lágrimas ainda escorrendo. Eu vi a expressão dele mudar na hora. Confusão. Preocupação. Ele se aproximou um pouco, devagar, e perguntou:

— O que foi, amor? O que aconteceu?

Eu respirei fundo, mas minha voz saiu embargada:

— Eu que te pergunto, Rafa… o que aconteceu com você?

Ele franziu o cenho, parecia não entender. Mas eu não aguentei segurar mais. As palavras saíram entre soluços:

— Eu achei, Rafael… eu achei os pinos.

O rosto dele mudou completamente. Ficou pálido, os olhos arregalaram, o corpo travou. Eu senti como se o chão tivesse desabado entre nós dois.

— Caio… — ele tentou se aproximar, mas eu levantei a mão. — Não, por favor… não fala nada agora. Eu não entendo… você prometeu. Você disse que não ia mais se destruir desse jeito. Você olhou nos meus olhos e jurou que não ia voltar pra isso.

Ele abriu a boca, fechou, não disse nada. Apenas ficou parado. Eu chorei ainda mais forte, encostando as mãos no rosto.

— Eu te amo tanto, Rafael… tanto… — minha voz saiu quase num sussurro, quebrada. — E ver você voltar pra isso… é como se tudo o que a gente construiu fosse mentira.

Ele não respondeu. Apenas me olhou com os olhos marejados, mas não conseguiu soltar uma palavra. E, sem falar nada, virou as costas e foi para o quarto. Eu ouvi o barulho dele se jogando na cama e depois… o choro. Um choro alto, desesperado, como o de uma criança. Eu fiquei na varanda, ouvindo, sem forças pra entrar. Porque naquele momento, eu também estava destruído.

Os dias seguintes foram um inferno silencioso.

Eu não consegui dividir a cama com ele. Dormia no sofá, enrolado em um cobertor fino, fingindo que estava confortável. Ele me chamava algumas vezes durante a noite, eu fingia que não ouvia. Não era vingança, era dor. Eu precisava de espaço, precisava respirar.

Rafael andava pela casa cabisbaixo, tentando puxar assunto, mas eu respondia com monossílabos. Ele fazia café de manhã, deixava na mesa, eu apenas bebia em silêncio. Quando ele tentava se aproximar, eu me afastava. O apartamento, que antes era cheio de risadas, músicas e cheiros de comida, agora parecia um quarto de hospital, frio, silencioso, onde cada movimento doía.

Às vezes eu olhava pra ele escondido. Via o peso nos ombros, a culpa estampada no rosto. Ele chorava sozinho no quarto, achando que eu não percebia. Mas eu via. Eu ouvia. E cada lágrima dele me feria também. Mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia perdoar. Não ainda.

As noites eram as piores. Eu deitava no sofá, encarando o teto, lembrando de cada promessa, de cada palavra que ele disse, de cada beijo que carregava um “eu vou melhorar”. E agora… agora aquilo tudo parecia distante. Eu me perguntava se o amor era suficiente pra segurar alguém no meio de tanta dor, tanta recaída.

Mas no fundo, eu sabia. Mesmo magoado, mesmo destruído, eu não queria desistir dele. Eu só precisava entender como continuar.

E foi assim que os dias passaram. Entre lágrimas escondidas, silêncios pesados e a sensação de que algo enorme estava nos afastando, mesmo quando o amor ainda gritava dentro de mim.

Rafa narrando...

Naquela manhã, acordei com o peso da noite mal dormida ainda grudado no corpo. Caio continuava distante, magoado, e eu sabia que a culpa era toda minha. Ainda assim, não consegui suportar o silêncio que havia tomado conta do apartamento. Decidi sair, respirar outro ar, tentar encontrar alguma coisa que me fizesse sentir vivo outra vez. Vesti uma bermuda leve, uma camiseta branca e chamei por ele na cozinha:

— Amor, vou até a praia… quer vir comigo?

Ele levantou os olhos do café pela primeira vez em dias, mas a expressão era dura. Apenas balançou a cabeça e disse:

— Não tô com cabeça pra isso, Rafa. Vai você.

A dor atravessou o peito como uma faca. Não insisti. Apenas peguei a chave, coloquei o óculos escuro e saí.

A praia me recebeu como um abraço que eu não merecia. O mar estava calmo, o sol refletia na água como pequenos cristais, e a brisa parecia querer me lembrar que ainda existia beleza no mundo. Caminhei pela areia molhada, deixei as ondas beijarem meus pés e, por um instante, fechei os olhos. Queria apagar tudo: os erros, a cocaína, a decepção no rosto de Caio. Mas nada se apagava.

Deitei na areia, olhei o céu azul e pensei: “Preciso mostrar a ele que ainda sou digno. Preciso provar que o meu amor é maior que qualquer erro.” Foi nesse instante que a ideia surgiu — gravar na pele aquilo que eu já sentia gravado na alma.

Levantei, lavei o rosto no mar e fui direto ao estúdio de tatuagem. O lugar tinha cheiro de tinta e álcool. Sentei na cadeira, tirei a camiseta e pedi ao tatuador algo que vinha do fundo da minha alma:

— Quero uma âncora no peito… e quero que escreva: ‘Caio, meu equilíbrio…’

Ele me olhou sério, perguntou se eu tinha certeza. Eu tinha. A agulha começou a trabalhar, e cada picada era como uma punição justa. Doía, mas era uma dor que me fazia sentir que estava limpando a sujeira dentro de mim. Quando terminou, me olhei no espelho: a âncora estava ali, firme, pesada, com o nome dele. Sorri pela primeira vez em dias.

Saí do estúdio sentindo que carregava um pedaço de esperança no peito.

Voltei para casa no fim da tarde. O apartamento estava vazio. Procurei por Caio nos cômodos, mas ele não estava. Liguei a TV, tentando enganar a solidão, mas o caderno azul me chamou da estante. Peguei-o nas mãos e deixei que a caneta deslizasse, como se meu coração finalmente tivesse encontrado voz. Escrevi um poema, sem pensar em métrica, apenas deixando transbordar tudo o que estava preso:

"Errei no escuro da alma,

feri quem mais amo,

me perdi em vícios que não me cabem,

mas em você encontro o norte,

em você encontro perdão.

Caio, meu equilíbrio,

me ancora quando tudo me arrasta,

me levanta quando eu caio,

me ensina a amar sem condição.

Que minhas falhas não apaguem meus passos,

que meus erros não calem meu amor.

Porque em você,

eu encontrei a parte de mim que faltava."

As lágrimas borraram algumas palavras. Fechei o caderno, deitei no sofá e adormeci com ele contra o peito, como se fosse meu último escudo.

Caio narrando...

Quando cheguei em casa, o silêncio era estranho, mas não pesado. Parecia outro tipo de silêncio, como se algo tivesse mudado. Passei pela sala devagar e vi Rafael no sofá, adormecido, abraçado ao caderno azul. O coração apertou. Havia uma expressão cansada no rosto dele, mas também… havia paz.

Aproximei-me, tirei devagar o caderno de seus braços e fui até a varanda. O vento da noite soprava leve, trazendo cheiro de maresia. Abri o caderno, e lá estava. As linhas tortas, borradas por lágrimas, mas cheias de alma.

Comecei a ler em voz baixa, e a cada verso meu peito se desfazia:

"Errei no escuro da alma… feri quem mais amo…"

Minhas mãos tremiam. Eu sentia a dor dele misturada à minha. Continuei lendo, cada palavra como um pedido de socorro, mas também como uma declaração de amor que nenhum de nós poderia negar.

Quando cheguei no fim, não aguentei. Encostei as costas na parede da varanda e chorei. Chorei como não chorava desde o dia em que descobri os pinos de cocaína. Mas agora era diferente. Não era mágoa pura. Era mágoa misturada com esperança.

Fechei o caderno, pressionei-o contra o peito e olhei para o céu. “Será que consigo perdoar?”, pensei. A resposta veio sozinha: “Eu já perdoei, só não consigo admitir ainda.”

Voltei para a sala, olhei Rafael dormindo, e percebi a tatuagem aparecendo sob a gola da camiseta. Me aproximei, puxei o tecido e li: “Caio, meu equilíbrio…”

As lágrimas voltaram. Ele não sabia que eu tinha visto, mas naquele momento eu soube: ele estava tentando, mesmo caindo, mesmo errando, estava tentando.

Rafael narrando...

Acordei com um barulho suave, o vento entrando pela varanda e Caio de costas, olhando as estrelas. Notei que o caderno azul não estava mais comigo. O coração acelerou. Ele tinha lido. Parte de mim queria correr e me esconder, mas outra parte sentiu um alívio imenso.

Levantei devagar, fui até ele.

— Você leu, né? — minha voz saiu baixa, rouca.

Ele não virou, apenas segurou o caderno contra o peito e disse

— Li.

O silêncio entre nós durou segundos que pareceram eternos. Até que ele se virou, os olhos ainda vermelhos, e perguntou:

— Rafa… por que você faz isso comigo? Por que se destrói desse jeito se diz que me ama tanto?

Não tive resposta imediata. Apertei os lábios, segurei as lágrimas, mas no fim, a verdade saiu:

— Porque eu sou fraco, Caio… mas você é a minha força.

Ele me olhou fundo, os olhos marejados, mas havia um brilho diferente neles. Aproximou-se, encostou a testa na minha e sussurrou:

— Então, por favor, não me solta mais.

Aquele instante foi o mais intenso da minha vida. Eu sentia a dor dele, mas também a entrega. Rafael não precisava de promessas grandiosas, precisava de alguém que o lembrasse todos os dias de que ainda havia luz. E eu estava ali, magoado, mas não conseguia desistir.

Abracei-o forte, como se pudesse colar as rachaduras dele com o meu próprio coração. Senti a tatuagem no peito dele roçar contra mim, e percebi que estávamos ancorados um no outro, de uma forma que nem o passado, nem as drogas, nem Augusto poderiam apagar.

Naquela noite, não resolvemos tudo, mas algo se transformou. O poema, a tatuagem, o silêncio compartilhado… tudo era uma surpresa intensa, uma revelação de que, apesar de tudo, ainda havia amor suficiente para nos segurar.

E eu decidi, ali, que não importava o quão fundo ele caísse, eu seria a âncora dele.

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 19Seguidores: 4Seguindo: 2Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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