[AVISO AOS LEITORES]: Este é um capítulo de transição e não tem cenas de sexo. No entanto, vou compensar com duas grandes cenas de sexo no próximo capítulo.
Olá a todos. Eu me chamo Rogério. Atualmente, estou com 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas (e os nossos melhores amigos) parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar pela série.
A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.
A minha melhor amiga, Lorena, acabou de se mudar para o apartamento ao lado do nosso. A Lorena tinha 27 anos e era minha amiga desde o primeiro período da faculdade. Éramos tão próximos que ela havia sido madrinha do meu casamento com a Jéssica. Ela tinha se tornado sócia da empresa da minha família depois de formada e, com isso, trabalhávamos juntos no mesmo ambiente. Ela era morena de praia, magra, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Estava solteira e, segundo ela, muito bem assim.
No capítulo anterior, eu e a Jéssica tivemos nosso passado exibicionista descoberto pela dona Ângela, esposa do seu Arnaldo (que era o velhinho que assistia nossas transas). Não bastasse isso e fazermos uma transa a quatro (cada casal no seu canto, sem trocas), acabamos descobrindo que Ângela e Arnaldo eram os pais do Miguel, um médico amigo da Jéssica.
E eu ainda me meti em um pequeno escândalo dias depois, no sábado, quando impedi que o covarde do Maurício agredisse a esposa, Rebecca, e o velho seu Raimundo por um ataque de ciúmes (ver “Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 10” pra mais detalhes). E foi assim que todo mundo no condomínio descobriu que eu sabia autodefesa..
Era domingo, perto da hora do almoço. Na sala, onde a Jéssica assistia Netflix, usando um shortinho cinza de algodão e uma camiseta velha do meu time. O tecido era fino demais, revelava o contorno dos seios pequenos e firmes dela, os mamilos projetando discretamente o tecido. As pernas, douradas e lisas, cruzavam-se. Às vezes, eu esquecia completamente do que tava falando e só via o corpo da mulher que eu amava, do jeito mais puro e mais carnal possível.
Na mesa da cozinha, a Lisandra ouvia atenta enquanto eu terminava de contar a história da tarde anterior. Ela usava um vestidinho curto verde-musgo, leve, colado nas curvas. As coxas dela apareciam quando ela mudava de posição, e os cabelos loiros caíam de lado, brilhando à luz.
— Eu deixo de vir um dia pra esse prédio e perco o maior bafafá do ano! — exclamou, rindo, enquanto cruzava as pernas e me encarava. — Essas coisas só acontecem quando eu não tô por perto.
Eu só ri, dando de ombros.
— E desde quando você é bom de luta assim, hein? Porque ninguém sabia disso.
Dei uma risada meio envergonhada e cocei a nuca.
— Ah… Eu e a Lorena praticamos jiu-jitsu há uns quinze anos. Ela que me arrastou no começo. Eu fui só pra acompanhar, mas acabei curtindo.
— Jura? — Lisandra arregalou os olhos, se inclinando pra frente, o decote do vestido abrindo sutilmente. — Então você é desses que parece bonzinho mas sabe dar um mata-leão de cinema?
A Jéssica, sem nem olhar pra gente, interrompeu da sala:
— É verdade, viu? Quando a gente ficou noivo, ele me ensinou uns truques de autodefesa. Eu lembro até hoje como ele falava: “não é pra bater, é pra se defender”.
A Lisandra gargalhou.
— Claro que ele falava isso. Todo homem que sabe brigar diz que é pacífico. Mas na hora H... — Ela fez um gesto teatral com as mãos. — Pá! O faixa preta aparece.
— Tá, tá... Eu sou faixa preta. Eu e a Lorena, na verdade. Mas eu não gosto de comentar. As pessoas acham que é coisa de valentão. Pra mim, é só o último recurso, entende? Só uso se não tiver outro jeito MESMO.
— Hm — Lisandra olhou pra mim de um jeito meio divertido, meio curioso. — Bonzinho e perigoso. Agora faz sentido por que metade das mulheres do prédio confia em você e a outra metade te encara diferente.
A Jéssica virou-se pra nós com um sorriso que misturava orgulho e ironia.
— E a que grupo eu pertenço, hein, Lisandra?
— Você? — Lisandra sorriu de volta, maliciosa. — Você é a única que tem o passe livre.
Eu ri.
— E a Rebecca? — perguntou Lisandra. — O que aconteceu depois que ela expulsou o Maurício?
— Então… Ela que saiu. Tá hospedada no apartamento do Jonas por enquanto.
— No do Jonas? — estranhou Lisandra.
Antes que eu respondesse, duas batidinhas na porta anunciaram a chegada da Lorena. Ela entrou sem cerimônia, como se fosse dona da casa. E, de certo modo, era um pouco mesmo.
— Oi, valentão — disse ela, vindo direto até mim e bagunçando meu cabelo com um cafuné demorado.
Antes que eu respondesse, ela já estava diante da Lisandra.
— E você, perdeu os babados de ontem — disse Lorena, e deu dois selinhos na boca da loira, com um toque rápido da ponta língua nos lábios da loira entre eles.
Depois disso, foi até a sala, onde abraçou a Jéssica com carinho.
— Oi, minha linda. — Hesitou cheirando a cozinha. — Que cheiro bom.
— O Rogério se superou hoje — respondeu Jéssica, rindo.
A Lorena se sentou na mesa.
— Terminou de contar sobre a luta de ontem pra Lisandra?
A Lisandra inclinou a cabeça, o olhar brincalhão.
— Antes de fofoca, quero saber de uma coisa: é verdade que você é faixa preta em jiu-jitsu também?
— É — respondeu Lorena, sem nenhuma modéstia. — Eu e o Rogério somos. Começamos juntos, faz tempo.
— Então me diz, você acha que seria capaz de derrotar o Enéias na porrada?
A Lorena deu uma risadinha curta.
— Eu nunca lutaria com ninguém sem provocação. Mas se ele, ou qualquer outro, tentasse atacar eu ou as minhas amigas, eu botava no chão sem pensar duas vezes.
— Meu Deus, eu amo vocês — disse Lisandra, gargalhando.
Eu ri, fingindo mexer no celular distraído, enquanto a Jéssica se juntava a nós na mesa.
— E a Rebecca? — perguntou Lisandra. — Por que ela tá hospedada no apartamento do Jonas?
— Porque o Jonas e a Cinthia convidaram — respondi.
— E por que vocês não convidaram antes? — perguntou, olhando pra mim e pra Lorena.
Lorena suspirou.
— Foi falha minha. Eu achei que o Rogério fosse oferecer primeiro, e quando percebi, o Jonas já tinha se adiantado. Marquei bobeira.
Eu abri a boca pra responder, mas hesitei. A Jéssica tomou a frente.
— Na verdade, foi decisão minha — disse ela. — Eu fiquei com medo do que os vizinhos iam pensar se o Rogério se envolvesse ainda mais nessa história. Já bastava a confusão de ontem.
— Hm — fez Lisandra, com um sorrisinho torto. — Política mesmo?
— É aquela velha máxima: não basta a mulher de César ser honesta, ela precisa parecer honesta. A gente precisa aplicar isso até nas pequenas coisas, se quiser bater de frente com o grupinho da Marieta nas assembleias.
O forno apitou e eu aproveitei a deixa pra levantar.
— Pronto, hora de servir. Fiquem à vontade — falei, pegando as luvas e abrindo a tampa do forno. O cheiro do frango assado com ervas invadiu o ar.
— Um homem que cozinha, luta e ainda defende as damas… — comentou Lisandra, rindo. — A Jéssica acertou na mosca.
A Jéssica riu alto.
— Mas o Vinícius tem jeito de ser que nem ele. Menos a parte da luta. E talvez a da cozinha. E talvez
— Ah, deixa o Vinícius. Ninguém é perfeito — respondeu Lisandra. — Ele não tem que ser um segundo Rogério, mas ele mesmo.
Eu comecei a servir os pratos, observando as três.
Algumas horas depois, o apartamento estava silencioso depois que a Lorena e a Lisandra foram embora. Eu e a Jéssica ficamos sozinhos e aproveitei o momento.
Fui até o quarto sem dizer nada. Abri a gaveta, peguei a coleira preta com meu nome gravado e voltei pra sala. Coloquei-a sobre a mesa, perto dela, e fiquei a observando.
Os olhos da Jéssica mudaram na hora. Um brilho quente tomou conta do rosto dela. Ela mordeu o lábio, respirou fundo e, sem dizer uma palavra, pegou a coleira e a colocou no pescoço.
Ela ficou ali, de vestido leve e coleira, olhando pra mim. Aquilo sempre me deixava sem ar. A forma como a coleira contrastava com a pele dela e destacava o contorno do pescoço. Era sensual e íntimo.
— Mestre... — disse ela com a voz rouca e o olhar firme. — Eu sou sua pra lhe servir e obedecer, mas ainda tô de bucho cheio. Não seria uma boa ideia transar agora.
Sorri e balancei a cabeça.
— Eu sei, minha serva. Não quero transar agora. — Fui até ela, segurei o queixo com leveza pra que ela me olhasse nos olhos. — Quero que você apenas obedeça e me diga a verdade. Só a verdade, entendeu?
Ela assentiu devagar, um rubor subindo pelas bochechas.
— Sim, mestre. Sempre digo a verdade pra você.
— Eu sei que não preciso da coleira pra isso — falei, encostando o dedo no meu nome. — Mas sei que você gosta. E é uma boa forma de apimentar as coisas.
Ela sorriu aquele sorriso tímido e provocante que só ela tinha.
— Então, me diga a verdade, Jéssica. Você foi contra a Rebecca se hospedar aqui por causa do sonho que eu te contei? Aquele em que nós três virávamos um trisal?
Ela desviou o olhar, depois riu, meio sem graça.
— Meio a meio... — confessou. — Eu fiquei com ciúmes, sim. Na hora que notei que as coisas estavam se encaminhando pra gente hospedar ela, eu lembrei do sonho e tive uma pontinha de ciúmes e medo. Mas, depois, eu pensei melhor. Eu confio em você, confio na Rebecca. Nunca iria rolar nada entre os dois além de amizades e sonhos esquisitos. Mas, ainda assim, eu não confio no que os outros iriam falar. As pessoas falam demais. Dependendo de como a história foi contada, vai parecer que você espancou o Maurício pra ficar com a Rebecca como um prêmio. Se ela não se hospedasse aqui, isso seria evitado.
— Então foi ciúmes e medo de fofoca, né?
— Sim... — Ela mordeu o lábio de novo.
— Mas admito que fiquei com um pouquinho mais de ciúmes que o necessário, já que era a regra pra contarmos os sonhos. A Rebecca é linda, inteligente, tem aquele jeitinho tímido... Sei lá, você só tem amigas lindas.
Ela estava se referindo à Lorena, Lisandra, Rebecca e Sarah.
— E todas elas também são suas amigas. Nenhuma delas é talarica.
— Eu sei... Apenas fui impulsiva demais — respondeu num sussurro. — Mas eu confio plenamente em você.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, observando-a. A coleira, a voz suave, o corpo relaxado...
— Minha serva Jéssica — disse, finalmente. — Você tem duas opções agora. Pode tirar a coleira e a gente sai pra um cineminha mais tarde. Ou pode ficar com a coleira e quando a digestão passar, a gente passa a tarde inteira trepando.
O sorriso surgiu na sua face.
— Difícil escolha, mestre... — murmurou. — Acho que eu fico com a coleira.
Cheguei mais perto e beijei o pescoço dela, bem onde a peça tocava a pele.
— Boa escolha.
Ela riu baixinho.
— E você sabe que eu adoro quando você me obedece — murmurei no ouvido dela.
Ela se arrepiou toda e respondeu num sussurro rouco:
— E eu adoro quando você manda.
No domingo de noite, a nossa mesa da cozinha, nossa única mesa de tamanho decente, estava tomada por um quebra-cabeça de cinco mil peças. Cinco mil. Quem teve essa ideia mesmo? Ah, claro... a Jéssica.
Ela estava sentada à minha frente, com o cabelo preso num coque bagunçado e uma camiseta branca larga que deixava um dos ombros de fora. Por baixo, o sutiã bege aparecia um pouco. O shortinho de algodão marcava de leve o contorno da bunda pequena e empinadinha. As pernas, cruzadas, exibiam uma pele lisa e amendoada. Eu olhava pra ela e pensava que, mesmo em roupas simples, era a mulher mais linda que já existiu.
Ao meu lado, a Lorena estava com um short de moletom cinza e uma regata azul clara. Sentava de perna dobrada sobre a cadeira, o que fazia o tecido da roupa subir e revelar parte das coxas bronzeadas. Ela sempre teve um jeito leve, brincalhão, meio provocador sem querer. O decote deixava ver o contorno pequeno, mas perfeito dos seios.
Do outro lado da mesa, a Carolina se inclinava sobre o tabuleiro. Vestia uma blusa de tricô solta, que deixava ver a alça do top preto por baixo. O tecido, esticado, mal disfarçava o volume generoso dos seios fartos que o top sustentava, os maiores do trio. A calça legging escura delineava suas curvas. O cabelo caía em ondas escuras pelo ombro, e quando ela prendia uma mecha atrás da orelha, o gesto parecia ensaiado de tão natural.
A Jéssica suspirou, olhando o tabuleiro.
— Acho que essa não foi uma das minhas melhores ideias... — disse. — Agora vamos ficar sem mesa até terminar essa monstruosidade.
— Amor, se serve de consolo, já montei móveis piores. — Apoiei o queixo na mão. — A diferença é que esse tem mais peças e menos parafusos.
A Lorena riu, balançando a cabeça.
— Você tem uma paciência de santo, Rogério. Eu já teria jogado metade dessas peças pela janela.
A Carolina, concentrada, encaixava mais duas peças.
— Não é tão difícil assim — disse, sem desviar o olhar. — É só começar pelas bordas e ir agrupando por cor. Olha aqui, já fechei quase um quarto da lateral.
— Gente, essa mulher é uma máquina! — Lorena olhou pra mim, rindo. — Acho que achei minha nova ídola.
— O segredo é paciência e método — respondeu Carolina, rindo também. — E talvez um pouco de obsessão.
Ficamos um tempo em silêncio, só o som das peças se encaixando e dos suspiros frustrados ecoava. Eu aproveitei pra quebrar o clima.
— O aniversário da Lorena é daqui a quinze dias.
— Isso mesmo — respondeu ela, ajeitando o cabelo. — Mas nem me fala, quero fingir que tô nos vinte e poucos ainda.
Carolina levantou o olhar, surpresa.
— Sério? O meu também é daqui a quinze dias!
Lorena arregalou os olhos.
— Mentira! Que coincidência!
— Pois é! — disse Carolina, rindo. — Então somos irmãs de data.
— Vocês deviam comemorar juntas — sugeri. — Reservem o salão e façam uma festa pras duas. Ia ser ótimo.
A Lorena olhou pra Carolina com um sorriso travesso.
— Olha, não é má ideia, hein? A gente podia juntar os amigos, a turma da academia e fazer algo bonito.
Carolina assentiu.
— Topo fácil. Já tava pensando em fazer algo pequeno, mas se for com a turma toda, vai ser divertido.
— E barato! — completou Jéssica, rindo. — A festa coletiva das aniversariantes mais charmosas do condomínio.
As risadas preencheram o ambiente. Depois de um tempo, Jéssica voltou ao assunto que trouxe as duas pro apartamento.
— A gente tem que retomar o plano pra arregimentar mais aliadas.
A Carolina ergueu o olhar.
— Soube que algumas mulheres solteiras daqui fazem musculação e pilates naquela outra academia, na outra esquina.
A Lorena apoiou o queixo na mão, pensativa.
— Devíamos colocar uma espiã lá. Antes que a Marieta recrute elas pra turma dela.
— Exato — disse Carolina. — E é melhor ser logo. A Anacleta já faz musculação lá. Mesmos horários.
— Amanhã decidimos quem vai — disse Jéssica. — Uma de nós pode se matricular e passar um mês infiltrada. Quem sabe a Letícia topa?
— Ou a Natália — sugeriu Carolina.
As três riram, e eu apenas observei. Então, Carolina olhou pra mim.
— E você, Rogério? Podia tentar se aproximar dos homens do condomínio. Conseguir uns votos pra gente.
Hesitei.
— É... não sei se sou exatamente o cara pra isso.
A Lorena me salvou, rindo.
— Ele não tem muitos amigos homens, Carolina. É o tipo que prefere conversar com mulheres inteligentes.
— Ah, nem parece — respondeu Carolina. — Você é tão simpático, gentil, cavalheiro... A Sarah vive falando tão bem de você, sabia? Te imagino rodeado por amigos em todo canto que vai.
Foi a vez da Jéssica vir ao resgate.
— Ele é assim com quem conhece. Mas, no fundo, é tímido.
Carolina ajeitou uma mecha de cabelo e olhou pra mim de um jeito que me fez desviar o olhar.
— Mesmo assim, acho que seria ótimo se você tentasse. Eu confio no seu taco.
A Jéssica apoiou a mão no meu braço.
— Pensa com carinho, amor.
— Tá bom — respondi, sorrindo. — Mas só se eu não tiver que montar outro quebra-cabeça depois.
Elas riram, e voltamos à montagem. As horas passaram devagar, com o som das peças sendo giradas, testadas e encaixadas. Continuávamos mergulhados no quebra-cabeça quando a Carolina, de repente, veio com um convite maluco:
— Gente, vocês acreditam que o clube do livro que eu participo me selecionou pra fazer uma apresentação sobre “Les liaisons dangereuses”, do Choderlos de Laclos? Tenho três semanas pra preparar, e vai dar um trabalhão montar o salão, organizar o material, tudo.
Eu ergui o olhar, surpreso.
— Ih, literatura francesa não é comigo, não. Eu mal consegui terminar “O Pequeno Príncipe”.
A Lorena, que encaixava uma peça do céu, fez uma careta.
— Nem me chama pra isso, Carolina. Eu admiro, mas esses livros cheios de intriga e cartas me dão dor de cabeça. — Balançou a cabeça e riu. — Sou mais suspense moderno.
A Jéssica, concentrada, completou um canto da moldura e respondeu sem levantar os olhos.
— Eu também passo. Mal tenho tempo de estudar os casos do hospital, imagina ler e apresentar um livro inteiro.
Carolina soltou um gemido teatral.
— Ah, não... ninguém vai me ajudar? Eu sei que sou a única que gosta dessas coisas aqui, mas montar tudo sozinha vai ser impossível. — Ela apoiou o queixo nas mãos e fez um olhar pidão. — Por favor, alguém? Eu juro que vou dever um favor gigantesco pra quem topar. Eu faço qualquer coisa que pedirem.
Eu olhei pra Jéssica e Lorena, que pareciam igualmente hesitantes. A promessa de “favor” fez as duas se entreolharem. A Lorena suspirou primeiro.
— Tá bom, tá bom. Eu te ajudo — disse ela, sorrindo. — Mas você vai me pagar esse favor um dia, combinado?
Carolina abriu um sorriso largo.
— Fechado! Você não vai se arrepender. — E estendeu a mão pra selar o acordo.
Antes que pudéssemos continuar, a campainha tocou. Levantei-me pra atender. Abri a porta e lá estava Jonas, com aquele sorriso confiante de sempre. 46 anos, barriguinha de chope, cabelo penteado pra trás, camisa pólo escura. Um cara simpático, sempre gentil comigo.
Mas havia algo diferente naquele dia. O jeito como ele olhou em volta, avaliando o ambiente e as três mulheres reunidas na cozinha, tinha algo de silenciosamente predatório, como quem fareja terreno fértil. Eu, distraído, não achei nada demais. Ele sempre tinha sido um cara observador, afinal.
— Fala, Rogério! Tudo bem? — disse, estendendo a mão. — Vim pegar aquele Blu-ray que você falou que tinha.
— Ah, claro, entra aí. Tá na sala — respondi, virando-me pra buscar.
Enquanto eu procurava o disco, ouvi as vozes dele e das mulheres na cozinha. Jonas foi cumprimentando uma a uma.
— Jéssica! — disse ele, apertando a mão dela de maneira educada. — Como vai, doutora?
Depois, voltou-se pra Lorena, e percebi algo diferente no tom.
— Lorena, prazer em revê-la. — O aperto de mão foi mais longo, e o olhar parecia o de um leão analisando a presa antes de dar o bote. Os olhos dele percorriam discretos o decote leve da blusa dela. Ao ver aquilo, por um instante, senti uma pontada estranha na minha calça.
E então veio a vez da Carolina. O Jonas se aproximou, passou a mão pelos cabelos dela fazendo um cafuné, como quem testa limites, e falou:
— A Carolina foi minha aluna há uns nove anos, sabiam? Uma das melhores que já tive.
A Lorena ergueu as sobrancelhas.
— Sério?
O Jonas continuou, os olhos cravados nela como um caçador observando uma gazela distraída.
— Foi uma das melhores alunas da turma. Inteligente, dedicada... Até participei do TCC dela. Não é à toa que virou uma profissional de sucesso, enquanto alguns da turma estão rodando de Uber por aí.
A cada frase, o olhar dele descia um pouco mais, acompanhando o movimento do corpo da Carolina, e o top justo deixava evidente o quanto havia pra admirar ali. Eu achava engraçado o quanto o cara parecia encantado pelo intelecto da ex-aluna. Porque ou era isso era um olhar de quem queria comer a Carolina e transformá-la em sua putinha particular. E o Jonas não era esse tipo de cara.
Carolina manteve o sorriso educado, mas respondeu com calma.
— Ah, professor, cada um seguiu seu caminho, né? Nem todo mundo teve as mesmas oportunidades. O importante é estar bem hoje.
A Lorena interveio.
— Já que você admira tanto a Carolina, podia ajudá-la com a apresentação dela no clube do livro. Ela tava justamente pedindo socorro aqui agora há pouco.
O Jonas pareceu se interessar de verdade.
— Clube do livro? Que interessante. Qual obra mesmo?
— “Ligações Perigosas”, de Laclos — respondeu Carolina.
— Humm... gosto desse tipo de coisa — disse Jonas, sorrindo.
— Ela disse que vai dever um favorzão a quem ajudar ela — entregou Lorena. — Ela faria qualquer coisa pra quem a ajudar.
— “Faria qualquer coisa”? — perguntou Jonas, interessado. Ele se virou para Carolina. — Tenho sua palavra?
— Sim — confirmou Carolina.
— Eu estava mesmo precisando de uma ex-aluna que me devesse um favor... — respondeu Jonas, com um tom de voz que parecia quase sexual. — Se você quiser a minha ajuda, eu posso ajudar, sim. Vou começar a ler hoje mesmo.
Carolina abriu um sorriso tímido.
— Sério? Poxa, obrigada. Vai ser ótimo ter ajuda de alguém que entende de oratória.
— Vai ser divertido trabalhar com vocês duas — completou ele, com aquele tom que fazia cada palavra parecer um elogio.
Ele se virou pra mim quando voltei com o Blu-ray na mão.
— Valeu, Rogério. Prometo devolver em uma semana.
— Tranquilo, Jonas. — Entreguei o disco. — É bom te ver, cara.
Antes de sair, Jonas afagando os cabelos de Lorena e Carolina. O olhar dele se demorou nos pescoços das duas e, por um segundo, pensei que ele estivesse imaginando o tamanho da coleira que cabia nos pescoços dela. Como eu fiz com a Jéssica ao comprar a dela.
A porta se fechou atrás dele.
— Gente boa, o Jonas — comentei. — Um dos caras mais legais daqui do prédio, sério mesmo.
A Lorena olhou pra mim levantando uma sobrancelha, mas não disse nada. Eu voltei pro meu canto da mesa, sem entender muito bem o que aconteceu.
— Então, Carolina — perguntei, sobre o que é esse livro mesmo?
Ela riu, como quem sabe que vai se empolgar demais explicando.
— “As Ligações Perigosas”. É um romance francês do século XVIII. Conta a história de dois nobres que fazem um tipo de jogo cruel de sedução e vingança. Eles manipulam as pessoas em volta, escrevem cartas, se divertem com o sofrimento alheio... É tudo sobre poder e desejo disfarçado de amor.
Jéssica fez uma careta.
— Já começou a me dar ranço desses dois. Tem coisa mais insuportável do que gente que brinca com o sentimento dos outros?
— Eu prefiro aqueles livros de aventura mesmo — comentei. — Com final feliz.
A Lorena levantou o olhar das peças e sorriu.
— Eu li esse livro faz uns dez anos. É denso, mas muito bom. Só que é o tipo de história que você precisa reler pra pegar todos os jogos psicológicos. Eu não lembro nem 10%.
— Então você vai ter que revisar tudo de novo comigo — disse Carolina. — Vai ser bom ter uma aliada que entende o lado filosófico da coisa. Porque a moral da história é pesada. Fala sobre corrupção moral, aparências e tentação.
— Parece aquele tipo de livro que você termina meio desconfortável — comentei, mexendo em uma peça de canto.
As horas seguintes foram um fluxo tranquilo: montagem, risadas e conversas que iam do trabalho às memórias de escola. A Carolina e Lorena descobriram mil afinidades. As duas falavam com empolgação sobre viagens, livros e desastres amorosos, trocando confidências em tom baixo que eu fingi não ouvir.
— Gente, olhem isso — disse Jéssica, perto da meia-noite. — Acho que já fizemos um quarto. Não tá nada mal, hein?
— Um quarto do quebra-cabeça. Em mais três domingos terminamos — brinquei. — Exceto que as duas vão estar ocupadas na festa de aniversário delas e na apresentação do livro.
A gargalhada geral veio natural, mas todos estavam quase a bocejar. Carolina e Lorena estavam se levantando pra se despedir, aquela noite tinha cimentado uma amizade entre as duas. Enquanto elas saíam pros seus apartamento, eu fiquei observando as duas, pensando em como o destino criava laços de formas inesperadas.
Mas ao mesmo tempo, parecia uma rima. Se eu era amigão da Sarah, a Lorena seria amigona da Carolina.
Era terça à noite. Eu e a Jéssica estávamos no sofá, assistindo a quarta temporada de Lost na Netflix.
— Eu ainda tô chocado que você nunca viu Lost — comentei, pegando uma pipoca.
Ela riu, ajeitando o cabelo no ombro.
— A série tem o quê, quase vinte anos? Não era como se eu fosse me interessar por isso na época. Eu via desenho animado, Rogério.
— Mesmo assim. Achei absurdo você também nunca ter visto House.
— Nunca gostei dessas séries de médico — respondeu, sem tirar os olhos da tela. — Tipo Grey’s Anatomy. Um saco.
— Ei, House não é sobre medicina, é sobre Sherlock Holmes. Só que no hospital.
— Ah, sim. E tal qual os contos do Sherlock, quem viu um, viu todos. Mesmo roteiro: um caso misterioso, o gênio descobre a resposta no final, todo mundo aplaude, e ele continua sendo um babaca. Fórmula pura.
— Herege — falei, rindo.
Ela virou pra mim, com um sorrisinho meio travesso, meio nervoso.
— Posso confessar uma coisa errada que eu fiz hoje à tarde?
— Ih, lá vem — brinquei. — O que foi?
— No grupo da turma da academia, as garotas fizeram uma votação pra ver se elas podiam ou não mandar o nude de um cara muito bem-dotado do prédio. E eu votei “sim”.
Olhei pra ela, surpreso.
— Você votou “sim”?
— Votei — respondeu rápido, como quem arranca um curativo. — E antes que você fale qualquer coisa, eu sei que foi errado. Eu só tive um momento de ciúmes.
— Ciúmes do quê?
— Ah, Rogério, poxa — ela suspirou. — Você já recebeu nudes da Lisandra, já viu a Lorena pelada algumas vezes e vai saber quantos grupos só de homem você participa, recebendo esse tipo de coisa o tempo todo. Eu sei que você deve apagar a maioria sem nem ver. Mas eu, sei lá, queria me sentir igual. Modernosa. Parar de me sentir a santinha trouxa.
— Jéssica, os grupos de homens que eu participo são tão focados em assuntos tão específicos que não rola nada disso.
— Eu sei. Eu acredito em você. Eu só... A culpa foi toda minha. Eu acabei tendo um acesso de curiosidade. Tavam dizendo que era um caralho de 25 cm. Eu não aguentei de curiosidade, nunca vi um assim nem em filme pornô. Eu só queria saber se era verdade. Aí, na minha cabeça. racionalizei que isso era algo comum entre os homens e não teria problema.
— 25 cm??? Caralho!
— Pois é. Caralho mesmo. Mas quando eu vi as fotos... Eu não fiquei excitada. Eu só me senti vazia. E culpada.
— Como assim?
— Isso era diferente de ver um filme pornô ou daquelas revistas de mulher pelada. Parecia mais aqueles “revenge porn”, embora a Letícia parecesse mais interessada em fazer propaganda do que se vingar.
Continuei a ouvi-la.
— Fiquei pensando como eu me sentiria se você ou outro fizesse isso comigo. Tipo, mandar fotos minhas pra amigos, sem eu saber, ainda fazendo propaganda. Me senti... baixa.
— Entendo — murmurei, sincero.
— Apaguei as fotos — continuei. — Apaguei do meu celular. Me senti errada. Não era pra eu ter visto aquilo, não era pra eu ter votado ‘sim’.
— E essa rola de 25 cm era de alguém que a gente conhece? Porque do jeito que você falou, pareceu ser de alguém conhecido.
Ela hesitou, baixou os olhos.
— Pior que era. É do Antônio.
Eu quase engasguei com a pipoca.
— O Antônio, que é aluno do Carlos e da Natália? O ex da Letícia?
— Ele mesmo — respondeu, a voz quase sumindo. — Foi a Letícia quem mandou. Quando vazou o... “tamanho” do mastro dele, parte do pessoal pediu e insistiu. Aí, teve a votação e ela enviou as fotos dele como prova,
— Então, ele nem sabe?
— Não. Por isso, estou me sentindo tão errada. — Ela baixou a cabeça. — Eu devia ter tido o caráter da Natália, da Rebecca e da Sarah, que foram contra até o final.
— Bem. Todo mundo erra — falei, tentando ser gentil. — Você foi humana. Ciúmes, curiosidade... acontece. A diferença é que você teve consciência do erro. Isso é o que importa.
Era quarta-feira de noite. Eu ainda sentia o zumbido do estádio nos ouvidos quando a gente saiu das cadeiras. O chão vibrava com os passos de mais de cinquenta mil pessoas indo embora ao mesmo tempo. A torcida estava muda, um silêncio pesado, só quebrado por uns gritos isolados de raiva, tipo “Time sem vergonha!”. Três a zero. Em casa. No mata-mata da Libertadores. O tipo de jogo que a gente lembra por anos, mesmo querendo esquecer. A arquibancada ainda tremia de frustração. Era uma daquelas noites em que até o vento parecia triste.
A multidão se movia em bloco, como um corpo só. Gente com a camisa do time, bandeiras enroladas, rostos pintados que agora só mostravam cansaço e raiva. O som dos passos, das reclamações, dos palavrões, dos copos de plástico sendo amassados sob os pés, tudo formava uma espécie de lamento coletivo. Eu e a Sarah estávamos no meio daquilo, descendo a rampa das cadeiras.
A Sarah vinha do meu lado, abatida. A camisa do time, justa demais, parecia feita sob medida pros peitos enormes dela. A camisa colava na pele suada. A calça jeans apertava bem a bundinha, desenhando tudo. Um monte de cara olhava quando a gente passava. Ela nem percebia. O rosto dela tava arrasado. Olhos marejados, expressão de quem queria chorar e quebrar uma cadeira ao mesmo tempo. Uma no juiz, uma no atacante que perdeu o gol feito, uma no zagueiro que furou no segundo gol, uma no time todo na verdade.
— Não fica assim, Sarah... — falei, meio rindo, meio tentando aliviar o clima. — Mas a culpa é sua mesmo. O Érico bem que avisou.
Ela me olhou, ofendida.
— Como é que é?
— Ué, o Érico nos avisou a semana. Todas as vezes que você veio pro estádio, deu ruim. Todas.
— Ai, Rogério, para. Eu não sou pé-frio.
— Sarah, ele me mostrou o histórico. TODAS as vezes que você veio ao estádio, deu ruim. Goleada, eliminação, ou jogador saindo chorando de maca e ficando quase um ano parado.
— Isso é coincidência — respondeu, batendo o pé. — Sempre foi meu sonho ver o meu time num mata-mata de Libertadores ao vivo.
Ela bufou, cruzando os braços. Os seios se juntaram no meio do peito de um jeito que fez até um torcedor passar mais devagar pra olhar.
— Coincidência, né? — ri. — Qual foi a única partida da Seleção Brasileira que tu foi ao estádio?
— Não interessa!
— Foi no 7 a 1, Sarah. O Érico me lembra isso todo jogo da Seleção.
— Aquilo não conta!
— Claro que conta. É tipo o troféu do pé-frio, pô.
— Eu devia ter vindo sozinha, sabia? Você é insuportável quando o time perde.
— Sozinha? — ri. — Seu marido implorou de joelhos pra você não vir. Na frente da turma toda. E mesmo assim você quis vir. Moveu mundos e fundos pra conseguir esses ingressos. Eu quis vir porque não acreditava nisso. Mas...
Ela revirou os olhos, mas deu um meio sorriso de canto, meio sem graça. A gente continuou andando, seguindo o fluxo pro estacionamento. A multidão se arrastava devagar, meio em silêncio. Só se ouvia o barulho de latinha chutada, o som de buzina, e uns comentários soltos tipo “Tem que mandar o técnico embora!”.
O cheiro de cerveja e pipoca fria se misturava com o da fumaça dos espetinhos que os ambulantes ainda tentavam vender na saída. A Sarah suspirou.
— Ele vai me encher o saco até a próxima Libertadores. Vai dizer que tava certo, como sempre. Que eu devia ter ficado em casa vendo no sofá.
— É, e vai estar certo — respondi. — Mas relaxa, todo mundo tem uma zica dessas. O problema é que a sua é lendária.
Caminhamos por uns bons vinte minutos. A avenida que levava pro estacionamento era um rio de gente frustrada. Casais discutindo baixinho, grupos de amigos tentando encontrar o carro pelo aplicativo.
Sarah andava ao meu lado, chutando uma garrafinha vazia de vez em quando, o som ecoando no concreto.
— Você acha que dá pra quebrar esse azar? — perguntou, olhando pra mim com um meio sorriso. — Tipo, fazer alguma simpatia ou sei lá.
— Sei lá... — pensei um pouco. — Talvez você tenha que assistir um jogo do rival e torcer pra eles. Aí transfere a zica. Tipo maldição reversa.
Ela deu risada.
— Nem morta. Prefiro parar de ver futebol.
— Ou então — continuei — você tem que vir a um jogo com o Érico, mas vestido com a camisa do adversário. Isso confundiria os deuses do futebol.
Ela gargalhou, e por um momento até pareceu esquecer o resultado.
— Nossa, imagina a cena. O Érico me matava.
— Matava nada. Ele ia ficar aliviado de te ver tentando se curar dessa praga — brinquei. — O mundo te agradeceria.
Quando chegamos ao estacionamento, já era quase meia-noite. O vento frio batia nos rostos, e o eco do estádio ainda se ouvia ao longe.
Entramos no carro e ficamos um instante em silêncio, ouvindo o barulho distante da torcida cantando mesmo depois da derrota. O tipo de canto que mistura amor e desespero.
— Sarah, na moral... — falei, ligando o carro. — Da próxima vez, você vê pela TV.
Ela riu, balançando a cabeça. Olhamos o grupo do futebol no WhatsApp.
[Carlos]: “O que mais dava pra esperar do time de vocês?”
[Érico]: “Eu avisei, galera. Sarah no estádio = desastre.”
[Carlos]: “3x0, que beleza!"
[Sarah]: “Vão dormir, seus chatos.”
[Natália]: “Olha pelo lado bom. Pelo menos o estádio é bonito e não caiu porque você entrou nele.”
[Érico]: “Eu implorei pra Sarah não ir.”
[Sarah]: “Vai dormir no sofá hoje, safado.”
[Érico]: “Não se eu tiver no sétimo sono quando tu chegar.”
[Sarah]: “Cretino.”
Saímos do estacionamento e tinha um pequeno trânsito. A gente ia chegar de madrugada em casa.
— Sarah, você sabe que é uma das minhas melhores amigas e eu te amo de coração, né? — disse, entrando na avenida.
— “Mas”?
— Mas, eu juro que nunca mais piso num estádio contigo em dia de jogo.
— Cretino. — Ela respondeu, olhando pela janela. — Sou uma vítima da coincidência do destino.
Eu não respondi. Os dois tavam putos com a derrota e não queria passar dos limites no bullying. Depois, pensaria em algo pra tirar essa zica dela. Ou jogar a zica no Carlos mesmo.
Era quinta à noite, e eu e a Lorena voltávamos do trabalho. Ela olhava o celular, lendo mensagens e soltando uns resmungos baixos, provavelmente de clientes indecisos.
— Os próximos fins de semana vão ser uma loucura — ela disse, se virando pra mim. — No domingo da semana que vem, tem a festa de aniversário minha e da Carolina. No outro, a apresentação dela no clube do livro. E no outro, o seu aniversário. — Ela me olhou com aquele sorriso travesso. — Já pensou no que vai querer fazer?
— Ainda não, pra falar a verdade — respondi. — Mas eu sei o que não quero: algo enorme, cheio de gente que eu nem conheço direito. Prefiro algo mais simples, mais pessoal, sabe?
Ela riu, depois virou-se pra mim.
— Eu acho que você devia fazer algo no sítio. Tipo o aniversário da Jéssica. Foi ótimo, lembra?
— Lembro — falei, e percebi o leve azedume no tom dela antes mesmo dela completar:
— Ainda bem que você lembra, já que eu não tenho como lembrar, já que não fui convidada... — disse, olhando pela janela.
— Ah, Lorena... — suspirei. — Isso já ficou pra trás.
— Eu sei — ela respondeu rápido, mas sem esconder o rancorzinho. — Só tô dizendo que você podia fazer algo parecido pra eu ir desta vez.
— Sinceramente, eu queria algo menor — falei. — Mais simples, mais pessoal.
— Tipo o quê? — perguntou, curiosa.
— Pensei numa casa de praia. — Sorri. — Só com o pessoal mais próximo. Eu, Jéssica, você, Carlos e Lisandra. Mas claro, se o Carlos, você ou a Lisandra quiserem levar alguém, tudo bem.
— Hum... gostei disso — ela disse, empolgada. — Eu topo fácil. E a praia é uma ótima ideia, ainda mais pra fechar essa sequência de eventos.
Passamos um momento em silêncio no sinal vermelho, aí ela continuou.
— Você acha que a Lisandra vai levar o Vinícius?
— Se levar, é porque tá interessada mesmo — disse. — E aí o negócio é sério.
— Acho que ela gosta dele — comentou Lorena. — Só que o Vinícius às vezes parece muito certinho e inseguro pra Lisandra. Ela é meio que das minhas. Gosta da solteirice.
Enquanto conversávamos, ela já abria o aplicativo do Airbnb.
— Vamos ver umas opções então. Já que você deu a ideia, eu organizo. — Ela rolava a tela com o polegar. — Casa de praia... Mínimo quatro quartos, né?
— Isso. Um pra mim e a Jéssica, um pra você, um pro Carlos e um pra Lisandra. — Olhei de relance. — Talvez um extra, caso alguém leve acompanhante.
— Achei uma aqui, olha — ela virou o celular pra mim. — Piscina, churrasqueira, vista pro mar. Mas tá meio longe, umas três horas daqui.
— Três horas é tranquilo — falei. — Se o lugar for bom.
— É bom. — Ela ampliou as fotos. — Olha isso! Tem uma rede na varanda, cozinha enorme... — Ela fez uma careta. — Mas o preço é meio salgado.
— Quanto?
Ela disse o valor.
— É, dá pra achar coisa parecida mais barata.
— Deixa eu ver mais umas aqui. — Ela deu risada. — Relaxa, eu sei escolher casa. Olha essa outra: Boiçucanga. Tem jacuzzi. E churrasqueira de alvenaria.
— Lorena, você tá planejando uma festa ou uma micareta? — brinquei.
— Ei! — Ela me cutucou no braço. — O aniversário é seu, mas quem vai garantir que a festa seja boa sou eu. Alguém precisa pensar no conforto e no estilo.
— Essa outra parece boa... só que só tem três quartos. E essa aqui... uau. Essa é linda.
Olhei rápido pra tela.
— Essa parece perfeita.
— Né? — Ela sorriu. — E tem avaliação ótima. O pessoal elogiando a limpeza, o atendimento... E tem uma praia praticamente deserta na frente. — Ela virou pra mim, empolgada. — Imagina um churrasco lá no pôr do sol.
— Seria ótimo — falei, e por um momento visualizei a cena. — Mas preciso falar com a Jéssica antes de decidir qualquer coisa.
Lorena me olhou, meio brincalhona, meio provocadora.
— Claro, né. “Preciso falar com a Jéssica.” — Ela fez aspas com os dedos. — Finalmente aprendeu a falar com a esposa antes de tomar decisões importantes.
— Um pouco — admiti.
— Deixa comigo. Eu te ajudo a montar a lista das opções e você apresenta pra ela como se fosse ideia sua. — Piscou o olho. — Trabalho em equipe, como sempre.
— Fechado. — sorri, sincero. — Trabalho em equipe.
O resto do caminho foi leve, cheio de piadinhas, trocas rápidas e comentários sobre as casas que ela continuava pesquisando. Quando chegamos no condomínio, estavam os dois satisfeitos com as opções.
— Bom, missão quase cumprida. Falta só convencer a Jéssica.
PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 1 mês e 1 semana.
Pois bem, leitor. No próximos capítulo, eu e a Jéssica participaremos do aniversário da Carolina e da Lorena. Muita confusão e um casal que vivia se desencontrando finalmente vai se conhecer. Além disso, vamos encarar um maluco querendo comer tanto a Jéssica quanto eu(!).
No capítulo 17.5, teremos o sonho da Jéssica em que o Lucério é um vampiro de verdade. Minha esposa sonhou tanto com o Edward de Crepúsculo que ele virou o Lucério...
Agora, e pelos próximos capítulos, vou deixar as opções em aberto pra votação sobre o que deve acontecer.
Coloquem nos comentários o que vocês torcem que aconteça no lance Jonas/Carolina/Lorena e POR QUE torcem pra isso:
1) Vitória completa do Jonas: Jonas come Carolina e Lorena e transforma as duas em suas putinhas particulares por um tempo.
2) Vitória parcial do Jonas: Jonas come Carolina e Lorena ao mesmo tempo, mas apenas uma vez.
3) Vitória parcial do Jonas: Jonas come apenas a Carolina, enquanto a Lorena escapa dele.
4) Vitória parcial do Jonas: Jonas come apenas a Lorena, enquanto a Carolina escapa dele.
5) Vitória das duas mulheres: Tanto Lorena quanto Carolina escapam do Jonas.
Ou a opção mais votada ou a que tiver o melhor argumento a favor será a vencedora e vai rolar na série do Jonas.
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, teremos a continuação.
Os próximos capítulos serão:
* Turma da Academia: Entre Ligações Perigosas e Nudes Vazados
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 13
* Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 10
* Eu, minha amiga gostosa e os vizinhos dela - Parte 02
* Queria Ser Síndica, mas Porteiros e Zeladores Me Viram Pelada (One-shot da Tatiana)
* Neste Condomínio em que Ninguém é de Ninguém, Exijo o Meu Vintém - Parte 01
* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 14
* Minhas coleções de calcinhas, amantes e putinhas - Parte 10
* Louco para enrabar a professora ruivinha, enrabei a <SPOILER> primeiro
* Quem Vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 11
* Eu, minha amiga gostosa e os vizinhos dela - Parte 03
* Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 17.5
* Apostei que Faria Aquela Médica Certinha Virar Minha Putinha - Parte 04
NOTA DO AUTOR 01: Consegui resolver meus problemas pessoais mais cedo e, por isso, decidi publicar os cinco capítulos que estavam parcialmente prontos logo este mês.
Sim. É bem evidente que estou com problemas pra terminar de escrever os capítulos do Miguel e da Tatiana, por isso estou jogando eles mais pra frente.
NOTA DO AUTOR 02: Pelo meu planejamento até o final da novela, entre manipulações e acordos, o Jonas deve comer umas oito das doze mulheres da turma da academia (já substituindo a Jéssica pela Anacleta pelo fato da Jéssica ser 100% de cogitação).
Algumas já estão definidas, outras já estão descartadas. Não vou dizer quem, quando ou como. Mas achei interessante deixar criar esse método interativo com os leitores em que eles podem influenciar na decisão sobre se ele vai comer algumas das protagonistas PoV ou mesmo torna-las suas putinhas particulares (com coleira e tudo) por alguns capítulos. Ou influenciar a impedir essas personagens de cair nesse destino.