Onde o mar nos levou - Capítulo XI

Um conto erótico de Rafael & Caio
Categoria: Gay
Contém 2680 palavras
Data: 01/09/2025 13:01:03
Última revisão: 01/09/2025 22:03:28

Capítulo XI - Um adeus?

Caio narrando...

Os dias que seguiram depois da divulgação da campanha foram uma mistura de orgulho, surpresa e, confesso, um pouco de encantamento. Eu já sabia que o Rafael tinha um charme natural, aquele tipo de presença que faz a gente parar e olhar, mas ver o rosto dele estampado em outdoors, revistas digitais e até em anúncios na TV… isso era outro nível.

A campanha estourou de um jeito que nem a agência imaginava. As redes sociais dele começaram a ferver — comentários, compartilhamentos, gente marcando e dizendo coisas como “o olhar que prende”, “o sorriso mais bonito da campanha”, ou até mesmo aquelas declarações mais ousadas que eu lia em silêncio, apenas observando a cara de disfarce que ele fazia.

O mais impressionante foi o retorno financeiro. Quando ele recebeu a transferência do pagamento final — junto com o bônus pelo sucesso — lembro de vê-lo olhando a tela do celular, em silêncio, como se não estivesse entendendo os números. Sorria de canto, mordendo o lábio inferior, aquele gesto dele que eu conhecia bem e que denunciava emoção contida.

— Você merece, amor… — falei, me encostando no ombro dele, sentindo o calor do corpo dele encostar no meu.

— E eu te garanto: isso aqui é só o começo.

Ele me olhou e, com aquele jeito meio debochado mas carregado de sinceridade, respondeu:

— Só o começo… e com você do lado. Sempre.

As oportunidades começaram a pipocar. Agências de moda queriam fotos exclusivas, marcas de lifestyle queriam ele como garoto-propaganda, e até um projeto com uma emissora de TV foi colocado na mesa. Eu ficava admirando de longe quando ele estava ao telefone, sentado à mesa, falando sério, anotando, negociando. A postura dele era de quem já sabia onde queria chegar — confiante, elegante, mas sem perder o jeito leve que me conquistou.

E, no meio disso tudo, ele não mudou comigo. Continuava sendo o Rafa que acordava de manhã bagunçando meu cabelo, que passava pela cozinha e roubava um pedaço da minha torrada, que me puxava pro sofá no meio do dia só pra assistir um filme bobo.

Ele conseguia equilibrar o mundo que estava conquistando com o nosso mundo, que ele valorizava do mesmo jeito.

Foi numa manhã ensolarada que a campainha tocou e mudou o ritmo do dia. Abri a porta e dei de cara com um abraço forte e familiar:

— Miguel?! — falei rindo, surpreso.

— Surpresa, meu irmão! — ele respondeu, com aquele jeito expansivo e energético que sempre animava qualquer ambiente.

— Vim conhecer o famoso apartamento e roubar um pouco do tempo de vocês.

Rafa apareceu logo atrás de mim, descalço, de bermuda e camiseta branca, o cabelo bagunçado. Quando viu o Miguel, o sorriso foi instantâneo. Eles se abraçaram forte, trocaram uns tapas amistosos nas costas e começaram a rir de piadas internas que eu, claro, não entendi de primeira.

— Já sei… — disse Miguel, olhando para os dois — …vamos pra praia! Quero ver se essa vista de vocês é tão boa quanto o Rafa vive dizendo.

E lá fomos nós. O dia estava perfeito: céu azul sem nuvens, o mar com ondas suaves e uma brisa que refrescava sem atrapalhar o calor do sol. Escolhemos um ponto mais afastado, onde a areia estava praticamente vazia. Espalhamos as cangas, guardamos as mochilas e, sem pensar duas vezes, Rafa e Miguel correram pro mar. Eu fui logo atrás.

Passamos horas ali. Entre um mergulho e outro, eles disputavam quem conseguia atravessar mais longe, quem ficava mais tempo boiando, ou quem mergulhava melhor. A certa altura, Rafa me puxou pela cintura, me girando na água como se estivéssemos dançando, e Miguel começou a zoar:

— Ei, casal, cuidado que eu tô com ciúme aqui!

— Pode ficar com ciúme à vontade, que esse aqui é só meu — respondeu Rafa, me puxando ainda mais perto.

Ríamos muito. Era leve, natural. Entre brincadeiras e conversas sérias, vi que Rafa e Miguel estavam se reconectando de um jeito bonito. Miguel ouvia com atenção quando Rafa falava dos trabalhos, dava dicas, contava histórias de quando eles eram mais novos e sonhavam com coisas que agora estavam acontecendo de verdade.

No final da tarde, ficamos sentados na areia. O sol se punha devagar, pintando o céu de laranja e dourado. Miguel, olhando pro horizonte, soltou:

— Cara, você nasceu pra isso, Rafa. Modelo, mídia, o que vier… Se eu fosse você, surfava nessa onda até o fim. Rafa ficou alguns segundos calado, olhando pro mar. Então disse:

— É… mas também não esqueço de quem tá comigo dentro d’água, mesmo quando o mar tá bravo.

Ele olhou pra mim e sorriu. E naquele instante, sem eu saber, estávamos vivendo uma das últimas tardes tranquilas antes de tudo mudar.

Depois daquele dia de praia, voltamos pro apartamento cansados, mas leves. Miguel ficou pra jantar, e a noite foi cheia de risadas, histórias e provocações entre ele e o Rafa. Lá pelas dez, Miguel se despediu, prometendo voltar em breve, e ficamos só nós dois.

Eu achava que o dia tinha acabado ali, mas o Rafa, sentado no sofá, me olhou com aquele sorrisinho que eu conhecia bem.

— Vamos dar uma volta? — perguntou, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— Agora? — ri. — Tá tarde.

— É justamente por isso… a cidade fica mais bonita à noite.

Pegamos o carro e saímos sem destino. O vento entrava pela janela, trazendo aquele cheiro de mar que eu amava. Passamos pelo calçadão, onde alguns casais caminhavam de mãos dadas, e seguimos para ruas mais tranquilas.

Foi então que percebi algo estranho. Um carro preto, vidros escuros, estava atrás de nós. No início, achei coincidência, mas ele repetiu nossos movimentos nas últimas curvas.

— Rafa… aquele carro… ele tá seguindo a gente.

Ele olhou pelo retrovisor e franziu o cenho.

— Eu também vi. Vamos parar num lugar mais movimentado.

Estacionamos perto de uma praça. Ainda tinha gente passando, famílias com crianças, alguns casais. Achei que ali estaríamos seguros. Mas, no instante em que descemos, duas silhuetas surgiram de uma esquina próxima. Vinham rápido, e quando chegaram perto, um deles puxou uma arma.

— Perdeu, perdeu! — o homem da frente gritou, a voz grave e agressiva. — Ninguém grita, ninguém reage! Passa tudo!

Meu corpo inteiro gelou. O outro bandido, mais baixo, se aproximou por trás, olhando em volta para garantir que ninguém se metesse.

— Vai, playboy! — ele apontou pra mim. — Carteira, celular… rápido!

Rafa deu um passo à frente, me colocando atrás dele como se fosse um escudo.

— Calma, a gente vai dar o que vocês quiserem. Não precisa disso. — A voz dele estava firme, mas calma, tentando ganhar tempo.

— Eu não pedi conversa! — o mais alto gritou, avançando. — Passa logo, ou eu furo o teu namorado aqui!

Eu engoli seco, tentando pegar minha carteira no bolso.

— Tá aqui, tá aqui… — comecei a dizer.

Mas, quando levantei a mão com a carteira, o homem mais baixo apontou a arma direto pro meu peito.

— Anda logo! — ele rosnou. — Mexeu devagar demais, eu atiro.

Rafa deu um passo firme à frente.

— Olha pra mim, não pra ele! — disse, encarando o homem armado. — Quer dinheiro? Quer celular? Pega tudo comigo, mas deixa ele fora disso.

— Tá se achando o herói, é? — o homem debochou, aproximando a arma do rosto do Rafa. — Um passo em falso e eu apago os dois.

O bandido mais alto começou a olhar em volta, nervoso, e gritou:

— Rápido, rápido! — e o da arma virou novamente pra mim.

— Eu já falei! — Rafa se colocou mais à frente, quase encostando no cano da arma. — Com ele, você não mexe!

— Você tá pedindo pra morrer, cara… — o ladrão disse num tom gelado, e naquele instante eu vi o dedo dele apertar o gatilho.

O barulho do disparo foi seco e ensurdecedor. Senti o corpo do Rafa estremecer antes de desabar nos meus braços.

— RAFA! — meu grito saiu rasgado. O sangue quente começou a se espalhar pela minha camisa enquanto eu o segurava. — Não faz isso comigo… fica comigo!

Ele tentou falar algo, com a respiração fraca.

— Caio… tá tudo bem…

— Não tá nada bem! — eu respondi, desesperado. — Fica comigo, amor… pelo amor de Deus…

Os ladrões correram para o carro preto, mas antes de entrar, o que atirou olhou pra mim com um jeito estranho, como se me conhecesse. Eu não entendi na hora, mas aquele olhar ia me perseguir depois.

A praça ficou em choque. Algumas pessoas vieram ajudar, outras ligaram para a ambulância. Eu só conseguia segurar o Rafa, sentindo o peso dele e lutando contra o medo paralisante de perdê-lo ali mesmo.

O som da sirene da ambulância cortava a noite como um grito desesperado, reverberando dentro do meu peito acelerado, fazendo cada batida parecer um tambor de guerra. O cheiro forte de sangue misturado com o antisséptico entrava em minhas narinas, me fazendo fechar os olhos por um instante, tentando afastar o pânico que ameaçava me consumir. Eu estava ali, segurando a mão do Rafa com toda a força que eu tinha, tentando passar a ele qualquer sinal de vida, de esperança, mesmo sabendo que ele estava imóvel, com a respiração fraca.

— Rafa, amor… aguenta, por favor… — eu sussurrava, a voz embargada — lembra das promessas que fizemos? Daquele plano nosso de ver o sol nascer juntos amanhã? Não me abandona agora, não… — minhas lágrimas caiam silenciosas enquanto eu falava.

Quando a ambulância chegou ao hospital, o caos tomou conta. Portas se abriram, enfermeiros correram, vozes gritavam ordens e termos médicos desconhecidos. Uma médica se aproximou de mim com os olhos sérios e a voz firme:

— Senhor, ele precisa ser levado imediatamente ao centro cirúrgico.

— Posso ir junto? — tentei, a voz quase sumindo. — Infelizmente não, senhor. Precisa aguardar aqui, por favor.

Vi a maca ser empurrada pelo corredor, o som das rodas aumentando a distância, e cada metro que ele se afastava parecia que arrancava um pedaço do meu coração. A porta do centro cirúrgico se fechou com um estalo frio, e eu fiquei ali, paralisado, olhando para o vazio, sentindo um frio cortante que subia da garganta até os olhos.

Com mãos trêmulas, liguei para Miguel, a voz embargada:

— Miguel… o Rafa levou um tiro. O silêncio do outro lado foi quase insuportável.

— Como assim, Caio? Onde vocês estão?

— No Hospital Municipal. Preciso de você. Vem rápido, por favor…

Não sei quanto tempo se passou até Miguel chegar correndo. Quando me viu, veio direto, sem palavras, só um abraço forte que tentou me segurar no mundo quando ele parecia desabar.

— Respira, irmão… tô aqui, fica firme. Eu não conseguia parar o choro.

— Eu não sei o que fazer, Miguel… e se ele não voltar? E se ele… Ele me segurou pelos ombros, olhando profundamente nos meus olhos.

— Para com isso, Caio. O Rafa é forte, você sabe. Ele vai sair dessa. E eu tô aqui contigo. Não vai passar por isso sozinho, não.

A porta do centro cirúrgico se abriu, e um médico apareceu duas horas depois.

— Retiramos a bala, mas ele sofreu uma perfuração pequena no pulmão. Está em coma induzido e respira com aparelhos para preservar suas funções vitais.

Minha cabeça girou.

— Como assim coma? — perguntei, quase sem fôlego.

— É necessário para protegê-lo. Está estável, mas delicado.

Senti um peso esmagador no peito. Miguel me segurou antes que eu caísse.

— Você vai aguentar, cara. — Ele falou firme.

Meu corpo parecia fraquejar, uma enfermeira percebeu e se aproximou.

— Vamos levá-lo para observação, ele está pálido demais.

Horas depois, a porta da sala de espera se abriu. Dona Eloísa entrou com aquele olhar que eu conhecia tão bem — mistura de dor, força e uma calma que vinha de anos enfrentando tempestades. Logo depois, minha mãe chegou, apressada, preocupada. Elas trocaram um olhar silencioso, cheio de cumplicidade, que falou mais do que qualquer palavra.

Dona Eloísa veio até mim, voz embargada:

— Caio… eu tô aqui do seu lado. Sempre estive, você sabe disso. Antes que eu respondesse, ela me puxou para um abraço firme e protetor.

— Obrigada por proteger meu filho quando ele mais precisava.

— Eu queria poder ter feito mais… — minhas palavras falhavam.

— Você fez tudo que um coração pode fazer — respondeu, apertando minhas mãos — Ele te ama, e juntos vamos passar por isso.

Minha mãe me abraçou logo depois, acariciando meu rosto:

— Filho, você tem que ser forte. Ele precisa que você esteja forte agora.

— Eu tô tentando, mas a dor é maior que eu…

— Eu sei, amor. Mas é hora de segurar essa força por ele.

O médico voltou.

— Podemos vê-lo? — perguntei, a voz frágil.

— Ainda não — disse ele — o quadro exige cuidados rigorosos. Ele está sedado para evitar estímulos que possam piorar o estado.

Antes de sair, acrescentou:

— Rafael vai precisar de transfusão de sangue. O tipo dele é raro e o banco está com baixo estoque. Precisamos testar familiares e amigos.

Dona Eloísa fechou o rosto, a voz embargada:

— O sangue dele é O negativo… um dos mais raros que existe.

Passamos pelos exames. Só Miguel era compatível.

— É o meu tipo também — disse ele, decidido — posso doar assim que for possível. Apertei a mão dele com força.

— Miguel, não sei como agradecer.

Ele sorriu, calmo.

— O importante é salvar o Rafa.

Enquanto ele era levado para a coleta, eu fiquei olhando para a porta da UTI, sentindo o tempo congelar. Meu corpo doía, minha alma também, mas eu sabia que não podia desistir.

O corredor do hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz branca fria dos plafons. Miguel já havia retornado da coleta e não desgrudava de mim, seu apoio e presença eram reais. Depois de horas na sala de espera, sentindo o peso esmagador da incerteza, eu e Miguel decidimos sair para tentar comer algo — um pequeno intervalo para recarregar as forças que já estavam quase no limite.

Caminhávamos lado a lado, mas o silêncio entre nós não era confortável; era pesado, cheio do que não havia sido dito. Finalmente, eu quebrei o silêncio com a voz fraca:

— Miguel... eu não sei se consigo suportar tudo isso. Sinto como se estivesse afundando, sabe? Parece que cada minuto que passa é uma eternidade esperando uma notícia melhor, uma palavra de esperança... — minha voz falhou e eu respirei fundo para continuar — …e essa sensação de impotência, de não poder fazer nada… dói demais.

Ele parou, me olhou nos olhos com aquela calma de sempre, e falou com firmeza, mas também com carinho:

— Eu sei, Caio. É foda demais. Eu também tô assustado, preocupado, com medo de perder o Rafa. Mas a gente não pode deixar o medo dominar a gente. Ele precisa da nossa força, mesmo que a gente não sinta que tem.

Me sentei num banco perto da lanchonete do hospital, cabeça baixa, mãos entrelaçadas.

— Às vezes eu penso que se eu tivesse feito algo antes, se eu tivesse feito algo diferente, talvez ele não estivesse nessa situação. É uma culpa que não sai da minha cabeça.

Miguel sentou ao meu lado, e falou com uma voz quase baixa, carregada de sinceridade:

— Olha, a culpa… a gente tem que tentar deixar de lado. A gente não controla tudo, Caio. Nem tudo está nas nossas mãos. O Rafa sabe o quanto você o ama, o quanto você lutou por ele. Você não falhou, não mesmo.

Respirei fundo e levantei a cabeça, tentando enxergar além da dor.

— É só que essa espera… esse tempo parado… é o pior. Não sei se consigo ser forte o suficiente.

Ele me apertou o ombro, olhando firme:

— Você é forte, Caio. Mais do que imagina. A gente vai passar por isso juntos, irmão. E quando o Rafa abrir os olhos, vai saber que a gente nunca desistiu dele.

Eu deixei escapar um sorriso fraco, e uma lágrima caiu sem que eu percebesse.

— Obrigado por estar aqui, Miguel. De verdade. Eu não sei o que faria sem você.

Ele sorriu, com um brilho nos olhos.

— E eu não vou sair daqui. A gente vai fazer de tudo para trazer ele de volta.

E assim, naquele instante simples, entre a dor e a esperança, eu senti que não estava sozinho — que mesmo na escuridão, a luz da amizade e do amor podia nos guiar.

Continua...

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 12Seguidores: 4Seguindo: 2Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

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