Depois do nosso pequeno desentendimento por causa do teste de gravidez, as coisas melhoraram muito. Sabrina parecia totalmente empenhada em fazer o possível para que eu participasse da gravidez o máximo possível. Só de ver o esforço dela, já fiquei muito feliz. Seus esforços deram resultado: ela conseguiu uma obstetra particular com horários flexíveis. Depois disso, pude acompanhar todas as consultas e participar ativamente da gravidez.
No trabalho, as coisas iam muito bem. Eu só recebia elogios do Henrique e dos outros diretores. Já tinha quase certeza de que seria efetivada como vice-presidente, mas mesmo assim não deixei de me esforçar ao máximo. Quando estamos bem no profissional e no pessoal, tudo parece fluir melhor. Eu estava mais leve, mais tranquila, e isso só ajudava para levantar todos os dias com ânimo e disposição para o que vinha pela frente.
Infelizmente, isso não durou muito, mas foi tempo o suficiente para eu provar minha qualificação para ser vice-presidente. Quando fui efetivada no cargo, fiquei muito feliz. Não só eu, mas Sabrina e todas as minhas amigas me deram os parabéns, e eu percebi a sinceridade em todos eles. Eu iria ganhar um salário que, há alguns meses, parecia surreal para mim. Agora, poderia ajudar em todas as despesas com o mesmo montante que Sabrina e também ajudar meus pais de verdade. Queria muito fazer isso há muito tempo, mas não podia. Agora, isso era possível. O que mais me deixou feliz ao ser efetivada foi poder retribuir tudo o que eles fizeram por mim durante todos esses anos, especialmente na minha época de estudante.
Mas, infelizmente, logo notei que Sabrina estava diferente. Ela parecia mais desanimada, com um olhar cansado e um pouco distante. Imaginei que era porque sua barriga já estava bem grande e que isso provavelmente a estava cansando. Aos poucos, ela começou a deixar de lado os exercícios, ficava quase o dia todo na cama e me pediu para assumir seu lugar na boate. Eu sabia que seria cansativo para mim, mas como Diego iria ajudar, eu assumir a responsabilidade. Fiquei até feliz por poder ajudar Sabrina a ficar mais tranquila nos últimos meses de gravidez.
Nesse período, algo me deixou preocupada e chateada. Notei algumas mudanças em Sabrina; ela começou a me evitar. No início, deixei quieto, não queria chateá-la, mas um dia, depois de mais uma vez ser ignorada, decidi perguntar se estava acontecendo algo. Ela disse que andava meio indisposta por causa da gravidez, algo que eu achava normal. Porém, o jeito que ela falou não me convenceu. Ela baixou o olhar e sua voz não tinha a firmeza de sempre quando conversamos algo sério. Não insisti, fingi que acreditei e deixei para lá, mas tinha certeza de que ela estava mentindo para mim, o que me deixou chateada. Mas não era o momento de provocar uma discussão.
As coisas no meu trabalho estavam indo bem; na verdade, ficou mais fácil quando mudei de cargo. Até os horários ficaram mais flexíveis. A responsabilidade aumentou muito, já que agora minha assinatura estava em todos os contratos, ao lado do nome do Henrique. Mas, fora isso, tudo ia bem. Eu e Henrique pensávamos muito igual, o que facilitava nosso trabalho juntos. Ele levava minhas ideias e opiniões a sério e respeitava o que eu tinha a dizer. Isso era ótimo!
Porém, minha vida pessoal não andava nada bem. Sabrina praticamente fugia de mim dentro de casa. Dormíamos juntas, mas ou ela ia para a cama cedo e fingia estar dormindo, ou ficava deitada no sofá da sala até tarde, e nesses dias eu nem a via deitar. De manhã, ela nunca acordava quando eu saía. Claro que eu percebia tudo, mas resolvi não falar nada. Conversei com Ingrid e com minha psicóloga sobre o assunto. Ingrid, sendo pediatra e lidando com mães o tempo todo, já tinha ouvido várias histórias sobre problemas na gravidez. Ela acreditava que Sabrina poderia estar se sentindo feia, algo anormal, já que muitas mulheres ficam assim, principalmente no final da gravidez e durante um tempo após dar à luz. Algumas logo voltam ao normal, enquanto outras não conseguem recuperar o corpo de antes nem a autoestima. Nesses casos, um acompanhamento profissional ajuda muito. Ingrid disse que falaria com a obstetra da Sabrina para sugerir que ela tivesse acompanhamento psicológico na etapa final da gravidez. Minha psicóloga penava igual Ingrid e disse que eu poderia sugerir para a Sabrina procurar um psicólogo, mas se ela não quisesse, era melhor não insistir para não causar estresse. Ela também disse que era melhor eu evitar o assunto com Sabrina, que provavelmente ela voltaria ao normal após o parto e, se não voltasse, aí sim seria bom pedir ajuda profissional.
Segui os conselhos da minha psicóloga, mas Sabrina não quis fazer acompanhamento psicológico, ignorou minhas sugestões e as da obstetra. Assim, não pude fazer mais nada a não ser ter paciência e esperar que, após o parto, as coisas voltassem ao normal. Mesmo chateada por ela me mentir, procurei entender. Tentei deixar Sabrina o mais à vontade possível nas suas tentativas de me evitar. O importante agora era deixar o tempo passar da melhor maneira possível para que ela tivesse um restante de gravidez tranquilo.
Nossas interações, exceto sobre a gravidez, eram poucas. Mas o convívio era bom, e ela parecia mais tranquila, e isso era o que eu queria. Em uma das poucas vezes em que senti que a Sabrina que eu conhecia estava de volta, foi quando cheguei estressada em casa por causa de um idiota que um dos fornecedores mandou ao escritório da boate. Desde o início, não gostei da forma como ele me olhou, nem da expressão que fez ao ver a foto minha e da Sabrina sobre a mesa do escritório; ela foi tirada no dia do nosso casamento. Ele não disse nada, mas deu aquele sorriso sarcástico com o canto da boca. Respirei fundo e tentei tratá-lo com toda a educação do mundo. Quando terminei de fazer o pedido e me despedi, ele disse que eu era muito bonita. Até aí tudo bem, agradeci, mas com a cara fechada. Então, do nada, ele perguntou se eu não queria jantar com ele, talvez eu estivesse afim de comer algo diferente. Ele enfatizou o "algo diferente", e eu, que não sou idiota, entendi o que ele quis dizer. Respondi que nossos assuntos eram estritamente profissionais, que não tinha interesse em jantar com ele e que não lhe dei liberdade para fazer aquele convite, muito menos naquele tom. Pedi que se retirasse do escritório. Ele saiu, mas antes deu aquele sorrisinho idiota de novo. Fiquei furiosa e liguei na hora para o responsável pela fornecedora, dizendo que não queria aquele representante mais no meu escritório. Ele me garantiu que ele não voltaria mais e enviaria outra pessoa em seu lugar.
Naquele dia, cheguei irritada em casa, e Sabrina notou. Ela veio falar comigo, perguntou o que havia acontecido e eu expliquei, mas não entrei em muitos detalhes para não a irritar. Disse que já tinha resolvido e que estava tudo bem. Não queria estressá-la com aquele assunto. Fiquei muito feliz que ela se preocupasse comigo; minha raiva até passou e logo esqueci do problema. Naquela noite, jantamos juntas e conversamos bastante, considerando o que vinha acontecendo nos últimos dias. Infelizmente, no dia seguinte, tudo voltou a ser como antes.
Os dias foram passando e chegou o grande dia do nosso filho vir ao mundo. Na verdade, era a nossa filha, Sophia. Eu acompanhei o parto na sala, e assim que terminou o procedimento, a obstetra me entregou ela nos braços. Inicialmente, eu ia pedir para colocá-la nos braços da Sabrina, mas a obstetra já me entregou e disse que era um pedido da Sabrina. Disse para eu a segurasse com cuidado e a colocasse nos braços da outra mãe. Nesse momento, senti uma felicidade incrível. O gesto de Sabrina me fez esquecer todos os problemas que enfrentamos. Fiquei emocionada com aquilo; ela estava deixando claro que nós duas éramos mães daquela criança e que eu tinha uma importância igual à dela. Não consigo nem explicar o quanto aquilo foi significativo para mim, mas foi o gesto mais bonito que ela fez por mim até hoje.
Depois que Sophia nasceu, a alegria simplesmente voltou a existir diariamente dentro da nossa casa. Foram dias seguidos de visitas queridas; minha mãe e minha sogra ficaram com a gente por um bom tempo. Pedi à minha sogra para vir ajudar a cuidar da Sabrina nos primeiros dias, acreditando que ela poderia se sentir mais confortável com ela, já que eu poderia ser um problema na hora do banho ou de levá-la ao banheiro. Minha sogra aceitou e ficou com a gente por 60 dias, e nossa convivência foi ótima. Quando ela foi embora, a babá ajudava a Sabrina com a Sophia. Sabrina nessa época já se movimentava bem e conseguia fazer suas coisas sozinha.
Esperei mais um mês e achei que estava na hora de tentar voltar à nossa rotina. Sabrina já estava com o corpo quase normal; na verdade, os seios ainda estavam maiores e ela estava um pouco mais cheinha, mas era coisa mínima. Em uma noite, resolvi arriscar e acabei me decepcionando. Ela me evitou de novo e disse que Sophia estava deixando-a cansada. Mais uma vez, não olhou na minha cara, e eu sabia que era mentira. Tentei tocar no assunto do psicólogo de novo, mas isso a irritou. Para não virar uma briga, saí do quarto e fui chorar no sofá. Estava realmente triste e chateada. Não era só porque ela não quis fazer amor comigo; claro que eu estava com saudades dela, de sentir ela nos meus braços de novo, mas o que mais me incomodava era a mentira. Isso me chateou muito.
Decidi não insistir sobre o psicólogo e esperar mais alguns dias. Talvez esse tenha sido meu maior erro; eu deveria ter insistido, deveria ter falado que sabia das mentiras, mas não fiz e tudo desandou.
Sabrina resolveu voltar para a academia, tomar conta da boate durante o dia e viver sua vida de antes. Fiquei feliz com isso; ela parecia estar voltando ao normal e vi ali uma esperança de voltarmos a ser um casal de verdade. Eu trabalhava o dia todo, e quando chegava em casa, curtia minha filha por um bom tempo. Só depois ia tomar banho e jantar. Geralmente, quando ia dormir, Sabrina ficava na sala com nossa filha. Eu acordava cedo e ia para a cama mais cedo, mas antes sempre ia até a sala e dava um beijo de boa noite nas duas. Logo notei que Sabrina estava mais animada e seu corpo estava cada vez mais próximo do normal.
O tempo foi passando e então começaram meus problemas. Eu chegava do trabalho e Sabrina estava amamentando a Sophia. Claro, ela dormia e Sabrina a colocava no berço para dormir. Depois, Sabrina ia preparar suas batidas com suplementos e eu ficava olhando Sophia dormir; me dava vontade de pegar ela, mas não o fazia para não acordá-la. Na semana seguinte, comecei a acordar no meio da noite com o choro manhoso da Sophia. Eu levantava e só de pegá-la o choro parava. Ela ficava nos meus braços, ou eu a colocava na cama e fazia companhia até altas horas. Quando a fome apertava, ela começava a chorar de novo. Com muita dificuldade, acordava Sabrina para amamentar e ia dormir com o que me sobrava de tempo.
Isso aconteceu a semana toda, e no final de semana eu estava um caco de sono e ainda tinha que ir para a boate na sexta e no sábado, porque Sabrina não podia ir, já que não tinha como levar Sophia. Ela voltou a fazer tudo na boate, exceto passar as noites de sexta e sábado. O resultado disso foi que eu estava dormindo muito pouco e no domingo, que eu poderia curtir minha filha, passava quase o dia todo dormindo. Isso se repetiu na semana seguinte e na outra. Eu já estava no meu limite. Chegava do trabalho com sono, tomava banho, jantava e ia dormir, porque sabia que logo teria que cuidar de Sophia na madrugada.
Certa noite, perguntei à babá como era a rotina de sono da Sophia durante o dia. Ela me explicou, e então entendi. Sophia dormia à tarde e no início da noite; claro que ela acordaria de madrugada. Sabrina estava passando a tarde toda na academia e, depois, ia para a boate, voltando para casa morta de cansaço. Fazia a filha dormir e ia dormir também. Na madrugada, acordá-la para amamentar era quase impossível, com o choro manhoso da Sophia, ela nem se mexia. Como eu passava pouco tempo com minha filha, usava a madrugada para ficar com ela. Porém, isso estava me desgastando muito.
Passaram-se três meses e pouco, e finalmente Sabrina voltou a trabalhar à noite. Sophia já estava pronta para a mamadeira e, graças a Deus, gostou. Agora, eu poderia pelo menos dormir um pouco de sexta para sábado e de sábado para domingo. Não era muito, porque Sophia acordava toda madrugada e eu tinha que ficar com ela, mas era melhor que nada. Na semana seguinte, na terça-feira, estava indo dormir quando notei que Sabrina não tinha chegado e já eram quase 21 horas. Era para ela estar em casa há muito tempo e não estava. Então liguei, mas ela não atendeu. Passaram-se uns dois minutos e ela me mandou uma mensagem dizendo que estava conversando com Diego e esqueceu da hora, que já estava indo para casa. Eu apenas respondi que estava tudo bem, que só liguei porque me preocupei, me deitei e logo dormi. Acordei de madrugada com o choro manhoso da Sophia, Sabrina já estava deitada ao meu lado. Ela estava linda, e seu corpo estava perfeito de novo.
Era hora de tentar de novo. Eu queria minha esposa de volta e agora não havia nada de diferente em seu corpo. Talvez os seios, mas era coisa mínima. Na quinta, o trabalho estava tranquilo, então avisei Henrique que iria para casa mais cedo para fazer uma surpresa para a minha esposa. Liguei para minha sogra e ela disse que cuidaria de Sophia aquela noite com muito prazer. Eu sabia que Sabrina não estava em casa, então comprei um buquê de flores e fui para casa. Preparei a comida que ela mais gostava e arrumei a mesa. Sabrina geralmente chegava por volta das sete horas, e eu fiquei esperando por ela.
O tempo passava e nada dela aparecer. Já eram 21 horas e ela nem sinal. Liguei e só dava caixa postal. Comecei a me preocupar. Quando pensei em ligar para Diego, recebi uma foto da Talita no meu WhatsApp. Era uma foto da Sabrina sentada em uma mesa de um restaurante, ela estava toda arrumada; parecia um jantar romântico pela forma como a mesa estava decorada. Talita escreveu logo abaixo da foto que eu estava atrasada e que minha mulher já estava me esperando. Mas não era eu que ela estava esperando, e sim outra pessoa. Mesmo assim, não queria acreditar no pior.
Enviei uma mensagem para Talita dizendo que não era eu que Sabrina estava esperando, mas que queria saber quem era. Pedi para ela não deixar Sabrina ver e tirar uma foto assim que a companhia dela chegasse. Talita não respondeu, mas depois de cinco minutos, chegou uma foto. Ela escreveu "desculpe" e colocou um emoji triste.
Abri a foto e, ao ver quem era, minha vontade era de vomitar. Eu já havia sido substituída, e por alguém que eu realmente não esperava.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper