A Verdade Não Importa Para um Filho da Puta

Um conto erótico de Bayoux
Categoria: Heterossexual
Contém 4970 palavras
Data: 17/08/2025 09:11:45

Dentro de um envelope selado com goma arábica, uma carta escrita com caligrafia bem cuidada traz um convite, acompanhado de um relato detalhado. Enquanto corre boquiaberta por aquelas páginas, uma jovem se revoltava a cada parágrafo. Logo no início, a história menciona a Inácia.

Esse foi o nome dado à pequenina de pele escura e olhos verdes como contas marinhas que nasceu na periferia. Poucos sabem disso, pois essa maneira de chamá-la caiu no esquecimento. Madalena, o nome adotado por escolha própria, foi como ela fez fama e ficou conhecida.

Na adolescência, seu rosto moreno estampava um sorriso honesto e os olhos verdes somados aos lábios grossos formavam um conjunto tão presente que ninguém poderia ignorá-la. O rosto adornado por cabelos negros desenhados com tranças finas e longas, remetia às suas origens ancestrais que a mãe, ex-escrava, zelava por manter.

Com um vestido leve que exibia suas panturrilhas torneadas e as coxas grossas logo abaixo de suas nádegas firmes e redondas, seu corpo forte porém delicado era um monumento à genética miscigenada e chamava a atenção por onde passava.

Chegava a ser desconcertante compará-lá a qualquer filha da aristocracia, dessas com uma beleza clássica, estática, como uma pintura antiga na parede. A beleza de Inácia era viva, tinha cheiro e movimento, feito um ato da natureza. Na dura vida de quem não pertencia à elite numa colônia distante, sua beleza era sua maior vantagem.

Aos dezoito, com corpo de moça feita e cabeça sonhadora, Inácia tinha por função ajudar à mãe. O dinheiro que o pai ganhava tocando a carroça com as cargas do porto não era mal, mas a renda se complementava lavando roupa para fora.

Já fazia um par de anos que Inácia se encarregava de entregar as roupas nas casas grandes da redondeza. Gostava dessa função, andar pelas ruas, conhecer lugares bonitos e sentir o perfume de lavanda quando entregava os fardos de roupa quentinhos à tarde.

Segundo contava, só não lhe agradava ter que ir à casa dos Alevinho.

No início, os filhos do dono costumavam ser rudes, sempre fazendo graça sobre a cor de sua pele. Com o passar dos anos, à medida que ela se tornava mulher e os rapazes cresciam, a graça foi dando lugar aos gracejos. Eles agora já não mangavam de sua cor, ao contrário, elogiavam e enalteciam. Mas o faziam de uma maneira tosca, sempre com referências impróprias sobre seu corpo ou sua beleza incomum. Quem geralmente intercedia por ela era Sebastião, o mais velho dos quatro. Talvez por ser mais maduro, ele era o único que não participava da troça.

Inácia até gostava do rapaz, com sua presença atlética e loira. Um dia, ao cair da tarde, a casa parecia vazia. Inácia chamou na porta com a roupa limpa, mas ninguém veio atender. Quando já ia se retirando, decepcionada por não poder cobrar pelo trabalho, a porta se abriu: era Sebastião. Gentil como sempre, convidou-a para entrar, serviu-lhe o copo d’água e pediu que esperasse enquanto buscava o pagamento.

Era uma tarde quente, Inácia havia passado por várias casas, estava cansada. Sentou-se um pouco para recobrar energias. Sebastião demorou mais do que o esperado. Inácia sentia o corpo pesado, tudo parecia mais lento ao seu redor, bocejou um par de vezes. Sentiu uma leve desconexão, como se o pensamento não acompanhasse os olhos, a visão demorando a ajustar o foco quando mexia a cabeça.

Com aquele torpor crescendo, quis se levantar e não conseguiu, quase caiu. Se recostou um pouco no sofá - e nada de Sebastião voltar. Adormeceu, ou algo assim. Quando acordou já era noite e a primeira coisa que sentiu foi dor de cabeça.

Encontrava-se num matagal e não tinha lembrança de como chegou ali. Notou que suas roupas estavam rasgadas. Ao levantar, percebeu que seu corpo doía, as pernas, os braços, seus músculos. Más não era só isso, havia uma dor mais profunda, algo dentro de si.

Seu sexo doía, seu ânus ardia, a calcinha tinhas manchas escuras. Era sangue seco.

Durante a difícil caminhada até sua casa, memórias desconexas lhe surgiam. Sebastião sobre ela, puxando-a para o quarto. Um de seus irmãos, rasgando-lhe a roupa. Um outro, com o membro ereto. O caçula, talvez, rindo e passando a mão nela. Mais de um deles, sobre ela, atrás dela, em volta dela. Os quatro ao mesmo tempo. Confusa, sem ter consciência do que se passou, entrou em casa. Sua mãe perguntou pelo dinheiro e ela não sabia. Seu pai gritava com ela, mas Inácia só queria dormir.

Uns meses depois, Leônidas crescia em sua barriga e Inácia foi expulsa de casa pelo pai, que nunca acreditou que a filha houvesse sido deflorada contra sua vontade. Rondando pelo centro, abandonada pela família, Inácia batiana porta dos comércios oferecendo trabalho em troca de comida e um lugar para dormir.

Num armazém de miscelâneas, um senhor de meia idade chamado Vasco apiedou-se da jovem e deixava que dormisse numa caminha improvisada ao fundo, entre sacas e tonéis. Inácia limpava o estabelecimento e recebia comida. Não era salubre gestar um filho ali, mas ainda assim era melhor que dormir pelas ruas.

Uma noite, Inácia foi arrancada do sono por Vasco. O homem falava arrastado e tinha os olhos vermelhos, embriagado. Veio sobre ela, apalpando seu corpo e puxando-lhe a camisola para cima. Inácia quis gritar, mas, enquanto tapava-lhe a boca com uma mão, o homem já se posicionava entre suas pernas para penetrá-la.

Apesar do pesadelo, Inácia se deixou possuir naquela noite, mas sentiu que algo se rompera em seu ser por ser abusada outra vez. Vasco até que não era má pessoa, sempre fora gentil e cortês com todos, mas quando a aguardente lhe subia à cabeça, voltava à despensa e exigia coisas de Inácia.

Ali, ela teve que cavalgá-lo, sentada sobre o corpo atarracado e peludo de Vasco, sentindo o volume de sua masculinidade indo e vindo dentro de si, tomando cuidado para que isso não fizesse mal à criança em seu ventre.

Quando a barriga cresceu e era difícil repetir essa posição, foi Inácia quem sugeriu a Vasco que a tivesse por trás, tentando preservar o filho. Ajoelhada na cama, gritando abafado com o rosto no travesseiro, agarrando os lençóis com as mãos fechadas e suas vergonhas apontadas para o alto, Inácia recebia Vasco até suas pregas cederem e já não doer tanto.

Mesmo no último mês de gravidez, Vasco insistia em “cobrar o aluguel”, como chamava seus abusos. Inácia, com uma barriga enorme e mal conseguindo se mover, se postava ajoelhada e aceitava que ele a puxasse pelas tranças, trazendo aquele monstro para dentro de sua boca. O homem estocava fundo, a fazia engasgar e dava tapas no seu rosto, até chegar ao clímax e ejacular, exigindo que ela engolisse.

Apesar de tudo, Inácia conseguiu ter o filho. Leônidas nasceu saudável e era lindo, tal como a mãe fora. A existência da criança, seus choros tão presentes e o cheiro das fraldas sujas, contudo, contrariou Vasco. O homem chamou Inácia e lhe disse que o arranjo já não funcionava, mandando-a para a rua, dessa vez com o filho no colo.

Foi neste então que o Rei e a elite local morreram num incêndio misterioso, o qual todos atribuíam ao movimento pela independência da colônia. Passaram-se semanas tumultuadas, onde a ausência de um poder estabelecido vinha com disputas entre as pessoas proeminentes que restaram.

E o que faria uma jovem de cor e sem muitos estudos, com um recém-nascido nos braços, em meio a este turbilhão, sem conhecer a ninguém e nem ter como sobreviver? Essa parte da história era a que mais doía a Leônidas.

Numa estalagem perto do cais do porto, onde os marinheiros iam comer e encher a cara de aguardente, sua mãe foi trabalhar de puta. Foram tempos duros para Inácia, que deixaram marcas profundas. Mas essas marcas não eram de Inácia, eram de Madalena, o nome que adotou daí para frente.

O que seria de Leônidas sem ela? Como teria chegado até ali, não fosse a determinação da mãe em enfrentar a vida? Pode que não tenha sido um sonho, mas ele reconhecia que nunca lhe faltou o essencial. Desde que começou a estudar sempre houve dinheiro para o internato, um luxo que poucos poderiam pagar.

Embora poupasse Leônidas dos detalhes sórdidos, Madalena nunca omitiu sua verdadeira fonte de ingressos. Assim, mesmo quando não entendia o que era uma puta, Leônidas já sabia que sua mãe era uma delas.

Uma criança não imagina uma fila de marinheiros sedentos, esperando a vez para entrar e comer numa mulher que se obriga a ficar deitada na cama a noite inteira, de pernas abertas, vendo homem após homem se suceder dentro de si, até perder a conta.

Alguém inocente não é capaz de conceber o que é estar de quatro e permitir que metam entre suas nádegas, recebendo tapas na bunda e sendo xingada de nomes impróprios, só para ganhar umas moedas a mais. Nem sequer tem noção de que às vezes o movimento cai e entram três ou quatro homens ao mesmo tempo, para rachar a conta - e que uma boa puta tem que fingir que gosta, para que voltem depois.

Felizmente, Leônidas não conhecia a realidade degradante do trabalho de Madalena quando era criança mas, quando se tornou um rapazola, isso era inevitável.

Apesar dos anos transcorridos, a beleza de Madalena ainda chamava tanta atenção, e sua fama de devassa já era tão grande, que um cliente especial, bonito, loiro e aparentando ser homem de posses, apareceu por ali pedindo especificamente por ela. Era Sebastião.

Em vez de exigir seu corpo, o homem só quis conversar. Começou por desculpar-se do ocorrido há tantos anos atrás. Disse que foi coisa da juventude, quando não se mede as consequências dos próprios atos. Ele não sabia que os irmãos apareceriam e até quis impedi-los de participar, mas foi fraco e terminou cedendo.

Não fizera nada daquilo por mal, apenas a desejava muito e não sabia como conseguir. Madalena escutava essas palavras com desconfiança, enquanto o homem estava quase às lágrimas, pedindo perdão - mas anos e a vida de puta haviam endurecido seu coração.

Então, Sebastião confessou-lhe que jamais a esquecera, apesar de ter casado com uma jovem da elite, elegante e refinada. Disse que nunca deixou de pensar naquela moça linda da juventude e, agora que estava estabelecido economicamente, era hora de ajudá-la.

Propôs levá-la dali para uma vida melhor, onde ela não teria que se preocupar com dinheiro. Não queria conhecer o jovem filho, julgando ser inadequado criar laços com o bastardo, mas desejava compensar ajudando a pagar pelos estudos do filho.

Leônidas, que agora ingressava na faculdade de direito, lembrava-se do alívio quando recebeu notícias da mãe, dizendo que não trabalharia mais no cais do porto. Era estranho para Madalena não estar rodeada da balbúrdia do puteiro, o prazer do silêncio na casa era algo que ela já havia esquecido, mas aceitou a oferta - tudo pelo filho.

A primeira noite como amante de Sebastião foi calma. Ele a tratou bem, fizeram um sexo convencional, desapaixonado, sem extravagâncias. Apenas um homem desfrutando de uma mulher até gozar. Madalena olhava para o teto enquanto Sebastião, com certa dificuldade, se esforçava para ter um orgasmo, resfolegando sobre ela. Após conseguir ejacular, ele só virou para o lado e dormiu.

Na manhã seguinte, Madalena fez o café e esperou que ele se levantasse. O homem veio sonolento, quase ao final da manhã. Mandou que ela se preparasse, porque já tinham negócios naquela tarde. Era parte do acordo, Sebastião tinha idoneidade para alugar o local e conseguir bons clientes, ela trabalharia menos e ganharia mais, contanto que dividisse os ganhos com ele. Pela primeira vez na vida, Madalena tinha um cafetão.

Políticos e homens de negócios tinham que agendar com Sebastião com antecedência para uma tarde com Madalena. Quem ali se apresentasse, encontrava uma puta bem vestida, arrumada e disposta, como uma dama da sociedade. A fila era tão grande quanto a beleza da mulher, e todos queriam prová-la. Grande parte dos clientes era polida, não exigindo muito na cama. A vida era quase tranquila e o dinheiro vinha em quantidade.

Mas isso só durou até que Sebastião propusesse a ela iniciar os filhos de seus clientes, pois via ali a oportunidade de ampliar seus ganhos. Começaram a nova linha do negócio cobrando o triplo e prometendo que os rapazes poderiam fazer tudo que desejassem.

Os homens são crianças, não importa a idade. Não podem ver a beleza sem querer conspurcá-la. Se ganham um brinquedo, querem romper e desmontar. Os jovens não eram diferentes, além de não terem amarras nem freios. Vinham estimulados a honrar o nome e Madalena foi usada de tudo quanto é jeito, submetendo-se a bizarrices inomináveis.

O primeiro de todos já chegou puxando-a para a cama, todo impetuoso. Abriu-lhe o vestido fazendo saltar os botões e mordeu com força seus seios, deixando marcas de dentes. Madalena teve que conter os gritos antes mesmo dele começar a penetrá-la.

Outro, um rapaz alto e forte, jogou-a no chão, puxou suas pernas retendo-as no ar, meteu forte e de uma só vez, sem carícias preliminares. Enquanto a comia cheio de fome, cuspiu na face de Madalena e a xingou de ordinária. Madalena não o questionou e abriu mais as pernas, para que penetrasse mais fundo.

Houve um que exigiu dela ficar nua, sentada à sua frente, as pernas arreganhadas na poltrona enquanto ela se masturbava, afastando os lábios e fingindo que suplicava para que ele fosse meter.

Amarrada na cama com os lençóis por outro rapaz que tinha um membro extraordinário, ela foi abusada por meia hora, quase a ponto de rasgá-lá. Extenuada, quase desfalecida, sentiu um líquido quente despejado em seu corpo e percebeu que ele mijava sobre ela. Madalena teve que abrir a boca e beber seu jorro ácido até engasgar.

Se por ventura algum deles brochasse ao sentir-se intimidado por sua beleza, Madalena chupava quem fosse até levantar a alma, para que pudessem cumprir a função. Mesmo nos casos mais extremos, a mulher não decepcionava. Ia até a cozinha e voltava com o que fosse, legumes ou frutas, para que enfiassem dentro dela.

Não havia limites, pois não há humanidade nem compaixão nos homens. Madalena sabia dessa verdade como ninguém, mas aguentava tudo por Leônidas, para pagar a faculdade e garantir-lhe um futuro digno.

Em um par de anos, praticamente todos os jovens da elite foram inaugurados por Madalena - e jamais esqueceriam dos momentos junto a ela. Contudo, estes rapazes geralmente estudavam direito, ou seja, muitos eram colegas de Leônidas. Foi através dos amigos que o rapaz teve a real noção do que sofria sua mãe.

Nos grupinhos da faculdade, sempre havia alguém contando sobre as façanhas de sua primeira vez. O pai havia conseguido a puta mais bonita da cidade, a mais devassa de todas, a Madalena, para que comessem uma mulher de verdade. Leônidas, amuado, escutava o que faziam com sua mãe, calado para não revelar que era o filho da tal puta.

Em meio a este tormento, no penúltimo ano da faculdade, durante as festas natalinas, um pequeno intervalo permitiu que saísse do alojamento estudantil para visitar a mãe. Ao chegar no centro, a tarde iniciava. Na sala o silêncio dominava, mas podiam ouvir-se ruídos desde o quarto de sua mãe.

Pela fresta da porta, pode divisar a cabeça de Madalena voltada em sua direção, os cabelos caídos pela frente. A mãe arfava e resfolegava, como se sofresse convulsões. Quando sacudiu os cabelos e levantou o tronco apoiando-se nos braços sobre a cama, Leônidas viu que ela mordia o lábio inferior e tinha os olhos fechados, enquanto os seios pendurados balançavam cadenciadamente.

O espanto de ver a nudez de Madalena em plena catarse o impedia de compreender o que se passava, somente o fez quando vislumbrou um vulto ajoelhado atrás dela, agarrando-a pela cintura e movendo-se na mesma cadência de seus seios. Como se não bastasse, ouviu-a dizer: “Vai, safado! Você não é homem? Então, mete logo tudo no meu cú!”

Ao parecer, as exigências de sua mãe surtiram efeito. O vulto agora fazia movimentos mais longos, oscilando para frente e para trás, enquanto ela agarrava os lençóis com as mãos fechadas e gemia, gozando ao ser invadida por entre as nádegas. Leônidas se assustou, por mais que soubesse o que faziam com sua mãe, nunca havia presenciado.

Retrocedeu cambaleando, catatônico, tropeçou nas próprias pernas e caiu com estrondo. Em segundos, sua mãe estava na porta, nua, toda desarrumada, com cabelos desgrenhados e maquiagem borrada. Ao ver o filho, pareceu mais assustada que ele. Numa reação rápida, cobriu suas vergonhas com as mãos e mandou-o dar umas voltas.

A cabeça de Leônidas zumbia enquanto caminhava sem rumo. As palavras de sua mãe, por mais que proferidas como parte do trabalho, o impactaram. Quando voltou, ela o esperava sentada na mesa na cozinha, vestindo um penhoar. Antes de Leônidas dizer uma palavra, ela já se desculpava pelo ocorrido. Não imaginava que o filho chegasse para visitá-la.

Leônidas argumentou que não era possível ela estar trabalhando, já era feriado de natal e ele havia avisado há mais de um mês que viria. Madalena retrucou, com certo descontentamento, que aquilo fora algo de última hora que não podia recusar. Leônidas estava inconformado. Não bastasse tudo que ouvia dos amigos sobre a mãe, ela agora preferia dar por trás a passar o natal com ele?

Foram dormir assim, sem ceia de Natal ou carinho no coração, sem outro presente mais que aquela embaraçosa lembrança. Pensando na contrariedade do rapaz, Madalena preocupou-se. Ele estava começando a odiá-la, logo a ela, que fizera tudo por ele. A relação entre eles não podia terminar assim. Essa raiva que Leônidas trazia necessitava ser direcionada, ter um foco, um nome - e não podia ser o dela.

No dia seguinte, Madalena serviu-lhe o café com certa rispidez e disse que precisavam conversar. Sem olhar nos olhos, com uma voz um tanto apagada, Madalena contou que o homem da noite anterior não era um cliente qualquer: era o pai dele, Sebastião.

Leônidas ficou embasbacado. Sabia que fora gerado involuntariamente e, por isso, nunca falavam sobre o pai. Sem permitir interrupções, sua mãe prosseguiu, dizendo que o pai era dono de tudo ali, inclusive dela. Adicionou em tom grave: “São tempos duros. Ele tem família e precisa sustentá-la. Eu preciso pagar sua faculdade. Isso aqui ajuda.”

O jovem ficou sem reação, enquanto sua mãe contava que Sebastião nunca a esquecera e se arrependia por não tê-la assumido, casando-se com outra. Não é que ela gostasse dele, mas os dois tinham um acordo frágil e Madalena precisava satisfazer ao homem às vezes, de forma a mantê-lo atado.

Impaciente, terminou dizendo que hoje, como um presente de natal, o filho de alguém importante perderia a virgindade com ela - e que Leônidas não deveria permanecer ali. O jovem, contrariado, decidiu voltar para o alojamento da faculdade. Ficar sozinho era melhor que voltar a escutar palavras sujas saindo da boca da mãe enquanto ela gozava.

Em meio à solidão, Leônidas aprendeu a odiar o pai. Ele ressurgira do passado, mesmo depois de ter estuprado sua mãe. Em lugar de agir corretamente, seguiu abusando dela na cama, vendia a beleza de seu corpo para os rapazes e mantinha sua família às custas dela. Estava tudo errado e o culpado era Sebastião!

O ódio tem essa coisa de correr as pessoas por dentro, e com Leônidas não era diferente. O rapaz já não conseguia se concentrar nos estudos e se afastou dos amigos, receoso de escutar mais histórias sobre o que faziam com sua mãe.

Começou a faltar às aulas, espreitando por dias a casinha de Madalena. Presenciou homens de todas idades entrando e saindo dali, viu como a mãe os recebia bem vestida e sorridente, escutou seus gritos enquanto abusavam dela e testemunhou como Madalena os despedia, esgotada. Permaneceu vigiando até concluir que o homem alto, loiro e elegante, que aparecia nas tardes de quarta-feira, era seu pai.

Seguiu-o por um par de ruas, até encontrar sua casa. Era uma mansão pomposa, onde uma mulher, também alta, loira e bonita, recebeu Sebastião à porta com um abraço e um beijo nos lábios. Pela janela, uma moça também loira e de aspecto elegante, tão bela quanto a esposa do homem, sorria e acenava feliz pela chegada do pai.

Provavelmente esta era sua irmã, a jovem Anastasia Alevinho.

Para este então, os últimos dias letivos se passavam, a formatura se aproximava, e Leônidas não sabia o que pensar de si, de sua mãe ou de seu pai. Não sabia mais a quem amar, ou a quem odiar. Não sabia mais nada.

Ficou olhando a jovem na janela. Seu sorriso e sua felicidade pareciam sinceros e, talvez, ela fosse de verdade. Talvez, ela fosse a única coisa verdadeira em tudo aquilo. Talvez, ela fosse a única luz naquele poço de mentiras.

Por isso Leônidas decidiu escrever a carta para Anastasia. Ele o fez ante a necessidade de compartilhar com alguém toda a história sórdida dos abusos cometidos por Sebastião. E quem melhor que sua meia-irmã, filha do canalha, para ajudá-lo a desmascarar o pai?

Nos dias que se seguiram Anastasia se viu inquieta, sem pensar em outra coisa. A carta terminava por convidá-la à formatura de Leônidas e a decisão a ser tomada era se compareceria ou não à cerimônia, para conhecer aquele personagem obscuro que alega ser o filho bastardo de seu pai com a maior puta da cidade.

Agora, era Anastasia que sentia a necessidade de esclarecer as coisas, pois a história que conhecia não coincidia com a de Sebastião. Ela chegou à solenidade cheia de expectativas e curiosidade, mas com desejo de fazer justiça. Quando o mestre de cerimônias anunciou Leônidas e o rapaz subiu ao palco, o coração da jovem bateu na garganta.

Então aquele era seu possível irmão? Com a aparência de homem já feito, o jovem escuro, alto e atlético, de olhos vivos e despertos e cabelos bem curtos, rentes o cráneo forte que ressaltava sua masculinidade, Leônidas não se parecia em nada com ela - mas bem se podia notar certas semelhanças com seu pai.

Anastasia o procurou após a cerimônia, incomodada, atendendo ao convite para se conhecerem melhor. Leônidas, ao contrário dela, não se via inquieto. A calma e a docilidade de suas palavras equilibraram aquele encontro, transmitindo à jovem uma paz diferente. Talvez por isso, durante o café numa confeitaria próxima, enquanto Anastasia teimava em negar a carta de Leônidas, a jovem não sentia raiva nem aversão pelo rapaz.

Para ela, a história de Madalena era bem conhecida, mas totalmente diferente. Seu pai nunca abusou de ninguém. Foi a jovem Inácia quem se ofereceu a ele e aos irmãos, desejosa de perder a virgindade com os quatro ao mesmo tempo, usando de sua beleza incomum para seduzir e desencaminhar os rapazes.

Continuou dizendo que Inácia fora expulsa de casa não por estar grávida, mas porque seus pais não admitiam ter uma ninfomaníaca ali. E fora justamente Sebastião quem a socorreu, encontrando um lugar no centro onde ela poderia sobreviver: o estabelecimento de Vasco.

Segundo Anastasia, foi a Inácia quem desencaminhou o pobre senhor, atiçando-o até que, transtornado e sem poder mais resistir, cedeu aos apelos da carne e possuiu a mãe de Leônidas. Daí por diante Vasco não teve mais descanso, Inácia exigia favores dele todas as noites, ameaçando contar à sua família caso ele não comparecesse para atender a seus tresloucados desejos.

Vasco se entregou à bebida por ter que imiscuir-se cotidianamente com uma mulher grávida, preso numa mentira que o sufocava por enganar sua família. Contudo, foi de Inácia a iniciativa de sair e instalar-se no porto, visto que um bêbado impotente já não a saciava.

E assim Inácia se tornou Madalena, a mulher devassa que chafurdava com as tripulações dos navios do porto, vivendo o sonho de lascívia que construíra para si mesma com uma fila de marinheiros à sua porta.

Sebastião soube do destino de Madalena ao encontrar Vasco mendigando no centro da cidade, sem mais companhia que uma garrafa de aguardente. Decidiu por bem procurá-la na estalagem do cais e, para sua surpresa, encontrou Madalena atendendo com um pequeno menino brincando ao lado da cama: Leônidas.

Antes que a criança crescesse, foi Sebastião quem tomou a iniciativa de colocá-lo num internato, de forma que não presenciasse a perdição de sua mãe. Desde esse então, o pai de Anastasia visitava regularmente a Madalena para saber como ia - e pagava sem falta o internato do menino. Não o fazia por obrigação, era somente por apiedar-se da criança.

Quando Leônidas terminou os estudos, foi Sebastião quem sugeriu que ele fizesse faculdade de direito, propondo à Madalena que seguiria bancando seus estudos. É certo que o homem nunca assumiu o rapaz, pois ele poderia ser de qualquer um de seus irmãos, ou de qualquer outro jovem. Mas nem por isso se negava a apoiar àquela que um dia fora uma moça linda - e que lhe roubou a virgindade quando era quase um menino inocente.

Movido por este sentimento, Sebastião alugou a casinha no centro onde instalou Madalena, de forma que não tivesse mais que prostituir-se. E qual não foi sua surpresa ao descobrir que, em lugar de assentar-se, Madalena seguiu com seus desejos infindáveis e continuava vendendo o corpo como pretexto para entregar-se a jovenzinhos, muitos deles colegas de faculdade de Leônidas.

Segundo Anastasia, o pai não amava Madalena e nunca sentiu por ela algo além de compaixão. Sebastião se submetia a acostar-se com a mãe de Leônidas porque ela o chantageava: exigia seus favores na cama para manter em segredo que tinham um filho, um bastardo escondido cuidadosamente pelo homem.

Angustiado, Sebastião discutiu o caso com a mãe e o casal concluiu que, pelo bem da filha que tinham, deveriam ceder à chantagem de Madalena e evitar um escândalo que pudesse contaminar o destino de Anastasia. A jovem nunca se conformou desde que soube dessa história. E tudo era culpa de Madalena, a mulher que ela aprendera a odiar.

Vendo que as histórias diferiam, cada um certo de sua versão dos fatos, os dois jovens chegaram a um impasse. Consternados, sairam da confeitaria sem saber o que fazer. Enquanto Leônidas acompanhava Anastasia até sua casa, o rapaz estava cabisbaixo e soturno. Já Anastasia caminhava lentamente, reflexiva e silenciosa.

Ao despedirem-se num parque perto da casa de Anastasia, a jovem percebeu uma lágrima no canto do olho de Leônidas. Num impulso, ela o abraçou apertado, como quem consola uma criança machucada.

Sussurrando em seus ouvidos, Leônidas contou que desejava muito que a versão dela fosse verdade, confessando: “Desde que a vi pela primeira vez, quis que você não fosse minha irmã. Mas eu acho que talvez seja mesmo, porque sinto ao seu lado um conforto que nunca tive.”

Retrocedendo o rosto, suavemente, Anastasia fez com que seus lábios se encontrem e o beijou. Ao terminar, teceu uma confidência também em voz baixa, como se fosse proibido escutar o que dizia: “Eu também quero que não sejamos irmãos. Sinceramente, acho que não somos. Irmãos não sentem atração um pelo outro como sentimos.”

Leônidas, instigado pelo corpo de Anastasia colado ao seu, o calor daquele abraço e as palavras sinceras da jovem, segurou suas faces com as duas mãos e voltou a beijar-lhe a boca, mas agora era um beijo diferente, ávido, impetuoso. Um beijo faminto de carinho e de afeto. Um beijo do tipo que ninguém esquece.

Uma chuva começou a cair, cada vez mais forte. Completamente molhados, os dois resistiram em separar-se, em desfazer aquele abraço, em deixar aquele beijo. Suas mãos percorreram um ao outro ansiosas, sentindo o corpo alheio, explorando músculos e ossos, se tocando, apertando e comprimindo, até se deitarem sobre a grama encharcada.

Anastasia abriu ansiosa a calça de Leônidas procurando por sua masculinidade negra e rija. Leônidas, afoito, retirou a roupa íntima de Anastácia, procurando por sua intimidade intocada e desejando sentir seu calor.

No parque vazio em meio à tormenta, os jovens se fizeram amantes, com Leônidas deitado entre as pernas de Anastasia, penetrando lentamente sua flor até romper seu hímem, enquanto sorvia com seus lábios grandes um dos seios que havia confiscado para si. Já Anastasia fincou as unhas nas nádegas do rapaz, sentindo a dor e o prazer de se entregar a um homem pela primeira vez.

Depois da inocência perdida, o sexo se tornou mais compulsivo, firme e decidido. Leônidas fustigava a jovem profundamente com o membro desperto, enquanto ela o recebia afastando ainda mais as pernas para que a penetração lhe tocasse a alma.

Depois dessa tarde, na capital nunca mais se soube deles.

Os jovens desapareceram sem vestígios, para desespero de seus pais. Em Madalena lhe doía profundamente que o filho a tivesse rejeitado depois de toda uma vida dedicada ao rapaz. Já Sebastião procurou sem sucesso por notícias da filha durante meses, e seu desaparecimento o levou à desesperança, ao fim de seu casamento e à ruína financeira.

Os dois somente entenderam que os filhos estavam juntos quando Sebastião bateu à porta de Madalena, sem ter mais para onde ir nem consolo que fizesse aquele sentimento de ausência desaparecer.

A partir daí, passaram a viver na casinha do centro, um estranho casal formado pela dor, uma união que tem o gosto amargo de ser o que nunca deveria ter sido, mas que era tudo que lhes restava: a aceitação da impotência de ambos ante o destino.

Mais de um ano depois, muito longe dali, onde ninguém os conhecia e nem existia um passado tormentoso que os assombrasse, Leônidas e Anastasia deram a luz a uma menina saudável e linda, com a cor de Madalena e os olhos de Sebastião.

Se eles eram mesmo irmãos? Não importa. Quando se troca a dor por um amor tão grande, a verdade não importa.

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Comentários

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Que história sensacional, incrível, excelente.

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Obrigado Samas! Geralmente, quando escrevo ficção, fantasia ou história, poucos leitores curtem - e por isso valorizo ainda mais os que gostam!

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