Uma carta enigmática traz a promessa de violência e sangue, caso seu remetente não seja atendido imediatamente. Enquanto Nür revela aos demais seu conteúdo ameaçador, sente-se responsável por aquilo pois as linhas escritas se dirijam a ele, cuja história começou tempos atrás num lugar distante.
Na porção ocidental da África, desde que o príncipe Nür nasceu, os últimos quinze anos foram de chuva e bonança. Os povos viviam em paz, havia caça para todos e fartura de comida. Sua chegada ao mundo podia ser pura coincidência, mas o reino dos Maputos o via como responsável por aquelas bençãos e o idolatrava.
Valente e habilidoso, em seu ritual de iniciação Nür devia caçar um animal, tendo sido ensinado para isso desde pequeno. Antes do dia amanhecer tomou rumo, esperando abater um antílope e, para espanto de todos, aquele menino voltou ao final da tarde trazendo a cabeça de um leopardo. Sua fama transcendeu as fronteiras e despertou atenção.
Ao crescer, Nür era um exemplo de perfeição. Jovem e forte, a pele retinta como a pintura de um noturno, o sorriso de dentes implacavelmente brancos e os olhos sagazes de mirada profunda. Não à toa, quando chegou a idade de casar-se, não faltaram reis vizinhos oferecendo princesas em matrimônio.
Dentre todas, Kindela foi a escolhida. A jovem negra de corpo esbelto, seios pequenos, cintura fina e quadris largos era elegante como se fosse talhada em ébano, e seu rosto delicado apresentava uma simetria tão perfeita que nem parecia humana, mas sim divina.
Na noite de núpcias, a luz da lua iluminou o corpo jovem e irresistível de Kindela enquanto ela se desnudava para o deleite de Nür. Ao deitar-se ao seu lado sobre as peles, o calor dos corpos se abraçando na noite morna da savana os deixou cobertos de excitação.
Kindela explorava com suas mãos o membro teso de Nür, que retribuía estimulando as partes íntimas de sua esposa ao se beijarem. Com a respiração ofegante, Nür ouviu a jovem implorando que a fizesse mulher, ao acomodar-se deitada e afastar os joelhos dobrados à espera de ser penetrada.
Cuidadoso como quem lapida uma pedra preciosa, Nür foi introduzindo-se em Kindela aos poucos, até sentir a resistência da membrana se rompendo. As unhas da jovem fincaram-se nos braços musculosos do rapaz e ele estancou, com receio de machucá-la, mas ela rogou que seguisse, até sentir que o marido a preenchia por inteiro.
Eram feitos um para o outro. Amaram-se apaixonadamente várias vezes naquele encontro, experimentando posições diferentes e passando por sensações de gozo e prazer, até caírem exaustos. A noite nupcial fora tão efetiva que, passado algum tempo, Kindela já enjoava e sua barriga crescia. A benção de um novo príncipe era algo para celebrar.
Durante a cerimônia de proteção à gravidez, enquanto todos se distraíam comemorando a promessa de um futuro ainda melhor para ambos reinos, o peso do destino se abateu sobre eles. Numa emboscada, invasores vindos sabe-se lá de onde cercaram a tribo e aprisionaram a muitos, inclusive o casal.
Amarrados com as mãos pelas costas e sentados em fila no chão, sob a mira de uma arma que cuspia fogo, os cativos estavam rendidos enquanto viam aqueles homens de pele branca se divertirem, tratando-os como se fossem bichos. Passavam de um a um pelos prisioneiros, dando tapas e cuspidas no rosto dos homens e fazendo gestos despudorados para as mulheres.
Nür sentiu verdadeiro terror quando se detiveram em frente a Kindela. Sua beleza singular e o torso desnudo deixando à mostra seus seios de mamilos pontudos e escuros chamou-lhes a atenção. Diferentemente do que fizeram com as outras, a levantaram e puxaram da fila. Pelo menos três deles a cercaram, passando as mãos rudes por seu corpo e apalpando-lhe as nádegas.
O jovem queria reagir, mas nem bem se mexia e um quarto branco dava-lhe bordoadas na cabeça para que se aquietasse. Era o prenúncio de um desastre, os homens agarraram a mulher pelos braços e a fizeram ajoelhar-se, enquanto o mais velho deles se postava diante dela abrindo as calças. Kindela chorava e gritava insultos, mas os brancos a escolheram e não retrocediam.
O velho exibiu um membro grande e mal-cheiroso a poucos centímetros da face da negra, enquanto os demais riam e forçavam sua cabeça para começar a chupar aquilo. Vendo que a jovem resistia, apertaram-lhe o maxilar para que abrisse a boca e o velho enfiou a genitália, enquanto outro lhe beliscava um dos mamilos expostos.
E foi então que Kindela, desesperada ao borde de ser currada na frente do marido, desferiu com toda força uma mordida no homem. O velho gritou, retrocedendo de olhos arregalados e dando-lhe uma bofetada que fez a negra cair ao chão. Em seguida, sacou a arma e disparou na testa da esposa de Nür. Kindela jazia morta, e tudo estava terminado.
Em menos de um mês, um jovem negro magro e abatido era aferroado nos grilhões de um porão úmido, juntamente a outros apinhados ali. Incontáveis dias se passaram em alto mar em meio a borrascas repentinas e o tormento de Nür, repassando uma e outra vez os últimos momentos de Kindela, seu corpo caído e o sangue escorrendo pela areia.
De mais de cem cativos embarcados, menos de cinquenta chegaram com vida à colônia. Nür quase não sobreviveu, de tão esquálido parecia um fantasma e nem de perto lembrava o príncipe de antes. Nestas condições, foi vendido num lote com outros dez, onde caso um deles morresse não traria tanto prejuízo.
E assim Nûr foi dar na Fazenda Esperança, uma enorme propriedade produtora de cana de açúcar, a atividade mais promissora da colônia. No entanto, se havia realmente esperança ali, esta era reservada aos brancos. Dormindo amontoado com os demais escravos na senzala, comendo restos que mais pareciam lixo e tendo que trabalhar incessantemente nas plantações, a vida dos negros era bruta.
Não obstante as péssimas condições, Nûr conseguiu seguir adiante. A vida sob o sol e o trabalho na lavoura se encarregaram disso. Em questão de meses seu corpo já se via ereto e forte outra vez - mas sua alma seguia vazia. Sem sentido de existir, Nür vivia como uma máquina: acordava, trabalhava, comia e dormia, nada mais.
Os escravos o identificavam como príncipe, por isso não lhe faltavam ofertas de amizade dos homens ou mesmo de algo mais, por parte das mulheres. Mais de uma vez alguma escrava o procurou na senzala à noite, aconchegando-se em sua esteira, os corpos voluptuosos de carnes fornidas colados ao seu, os seios provocantes esfregando-se nele, os sussurros dizendo que desejavam serví-lo.
Contudo, Nür se recusava. Seu corpo e sua mente estavam conectados à Kindela e nenhuma outra mulher o faria esquecer o que passou. Além disso, o jovem não via razão em estabelecer laços naquele ambiente: apegar-se a alguém estando sob domínio dos brancos era arriscar ver toda a história repetir-se outra vez.
Desta maneira, o único percalço em sua vida era tentar evitar a chibata de Salomão, o impiedoso feitor da fazenda. Certa vez, devido a um negro que fugira, Salomão colocou um por um no tronco. Enquanto Nür era castigado, o feitor se irritou ante sua pouca resistência. Era como se ele quisesse morrer e visse ali uma oportunidade, não uma pena.
“Seu Infeliz! Se quer que eu te mate, lhe atendo com gosto! Hoje você vai encontrar com sei lá qual demônio os negros adoram!” - gritava Salomão ao descascar com o chicote as costas ensanguentadas de Nür. Ao borde de desmaiar, o rapaz emitiu um sorriso com a ideia de voltar a encontrar Kindela no reino de Olorum, o deus criador de tudo.
Antes da chibatada final, o feitor parou o açoite. Imerso na dor que sentia, Nür somente ouviu vozes discutindo ao longe. Uma mulher enfrentava Salomão, exigindo que parasse imediatamente. Quando foi desamarrado sob protestos do feitor, o jovem tombou e não viu quem o salvou, mas foi levado de volta à senzala.
No dia seguinte não foi exigido dele ir à lavoura, pois uma febre o acometeu. Em meio a sonhos confusos, onde pedia perdão a Kindela por não ter se unido a ela na morte, Nür sentiu um par de mãos suaves limpando suas feridas. Ao divisar quem o cuidava, para seu espanto, viu uma jovem branca ajoelhada ao seu lado na senzala vazia.
Nûr pouco sabia do que se passava na casa grande onde viviam o senhor daquelas terras e sua família, mas a donzela lhe era conhecida. Em mais de um ano ali, ele somente viu a sinhazinha Mariana um par de vezes, acompanhando o patrão. Entre o choro e o riso desenfreado, Nür concluiu ser uma alucinação da febre, pois seria inimaginável que a filha do senhor fosse à senzala por conta dele.
Em seu delírio, a sinhazinha aplicava um pano úmido em sua testa e cantava canções de aconchego com voz doce. Depois, descia o pano sobre seu peito e ia limpando o sangue seco dos maus tratos sofridos. Quando o pano passou sobre seu abdômen de músculos delineados, a jovem comentou sobre como seu corpo era belo e forte, pintado com aquela cor negra.
A alucinação ganhou contornos mais inusitados quando ela pareceu olhar para os lados, verificando se estavam a sós e desceu mais ainda a mão, introduzindo-a por dentro da bermuda de Nür. Ele não sentia o toque de uma mulher há anos, e uma ereção não demorou a surgir. O rapaz tinha verdadeira aversão aos brancos, responsáveis pela desgraça que se abatera sobre ele, mas estava tão fraco pelo castigo do chicote que nem conseguiu reagir.
A jovem, vendo que ele se agitava, ordenou que se acalmasse e a deixasse cuidar de suas feridas. Pôs uma mão em seu peito para detê-lo e com a outra, deixou o pano para segurar em torno de seu membro avantajado. Na ilusão de Nür, arqueando a sobrancelha com ar de surpresa, Mariana deixava escapar: “Mas olha só o que descobri aqui… Seu corpo é realmente um monumento!”
Abismado com a fantasia concebida por que mente, Nür agonizava ao sentir uma jovem branca se deleitando ao masturbá-lo. As pequenas mãos brancas subindo e descendo em torno de sua masculinidade, apoderando-se daquilo como se ele não tivesse vontade própria, lhe provocavam um misto de repulsa e prazer.
Aumentando a velocidade de suas investidas, a jovem parecia determinada a fazê-lo atingir o orgasmo e não cederia. Vendo a proporção que o membro lustroso e de cabeça vermelha atingiu, a sinhazinha se debruçou sobre ele. Nür não viu o que acontecia, mas teve a impressão de que agora ela tinha abocanhado aquilo e o sugava entre os lábios cor de rosa, forçando a própria cabeça sobre ele de maneira a caber o máximo que conseguia em sua boca.
Nür gozou, sentiu os espasmos de sua ejaculação saindo aos golpes, jorrando diretamente para a boca da sinhazinha. Era tão real, até parecia que a filha do patrão estava mesmo bebendo de seus fluidos. Esgotado fisica e eocionalmente por aquela demência febril, o negro caiu inconciente. Quando voltou a si, estava novamente sozinho na senzala e sua febre cedera.
Confuso, não conseguia concluir se fora somente loucura de sua mente ou se Mariana esteve ali de verdade. Mais aind, mesmo que fosse só ilusão, não aceitava ter sonhado com ela. Ele odiava os brancos e rejeitara todas as negras da senzala, por mais cativantes que fossem, porque era fiel de corpo e mente à Kindela. Não seria aquela branca magricela e sem atrativos que conseguiria roubar-lhe a determinação!
Nür se recuperou e voltou ao trabalho. Era notável como Salomão não o perseguia desde o ocorrido no tronco. O feitor agora procurava evitá-lo, mas era visível o ódio no olhar do branco quando o encontrava. Por outro lado, mais de uma vez Nür viu Mariana passeando com seu pai e, quando ela sorria discretamente para ele, o negro apenas ignorava e virava o rosto.
E foi então que o destino moveu suas rodas e tudo se tornou uma bagunça. O pai de Mariana foi à tradicional festa do Governador Geral da Colônia, onde o rei estaria presente. Não demora, chegou a notícia de que os rebeldes a favor da independência haviam provocado um incêndio no Palácio e matado a todos os convidados, a elite da colônia, juntamente com o Rei.
A balbúrdia tomou conta até mesmo das fazendas mais distantes. Quando a voz correu entre os escravos, não havendo mais senhor naquelas terras, a revolta estourou. Os campos foram queimados e a casa grande depredada. Nür apreciava a confusão com o olhar vazio, sem tomar parte. Os assuntos dali pouco lhe importavam, o senhor da fazenda tampouco e os demais escravos também.
Um grupo passou por ele e o convidou para ir buscar um quilombo que se escondia nas montanhas, mas ele nem fez caso. Nür estava entregue ao destino, seja lá qual fosse. Já perdera tudo na vida, até mesmo a liberdade, não tinha razões para fugir. Para ele, tudo podia ir para os infernos.
Depois que todos se foram, sentado sozinho na porta da senzala, Nür viu algo inesperado. Mariana passou correndo, suas vestes estavam rasgadas, seu penteado desfeito e o pânico estampava seu rosto. Logo atrás dela, afoito como quem persegue um animal, vinha Salomão. Ele a alcançou em frente a Nür, à poucos metros de distância.
Agarrando-a pelos braços, terminou de rasgar seu vestido e a atirou no chão, gritando enquanto abria as calças: “Sua amante de negros descarada! Acha que eu esqueci a humilhação que me fez passar? Pois agora que não tem papaizinho pra te proteger, vai pagar caro! Anda, vagabunda, vira essa bunda para o alto que hoje vou te foder como a puta que você é!”
Mariana soluçava e gritava por clemência, mas o feitor estava dominado pelo ódio. Agarrando a jovem pela cintura, ele a pôs de quatro, deixando suas vergonhas de pêlos loiros emaranhados expostas. Então veio por trás da sinhazinha, já posicionando o membro em riste para conseguir penetrá-la, quando sentiu um violento baque seco na nuca e caiu desacordado.
Quando olhou para trás, Mariana viu a Nür, arfando, de pé com um porrete na mão, vendo o sangue escorrendo da cabeça do capataz. Mariana nada importava a ele, mas presenciar aquela cena o remeteu à quando mataram Kindela. Por isso, algo surgiu dentro dele, a necessidade urgente de agir e evitar aquele abuso.
A jovem, nua e assustada, tapou suas partes e saiu correndo para a senzala. Nür, à sua vez, ficou tentando entender por quê matara a um branco. Aquilo iria ter revide, ele devia esconder-se. Como não conhecia nada na colônia, saiu caminhando a esmo, tentando pensar onde ir.
Meia hora depois, Mariana o alcançou. Vinha correndo pelo caminho descalça, vestindo roupas masculinas rudes e folgadas, coisas de escravos que encontrou na senzala. Segurou Nür por um braço e agradeceu por tê-la salvado, ao que ele deu de ombros, virou o rosto e continuou a caminhar, apressando o passo.
Percebendo que a jovem ainda o seguia ele questionou a sinhazinha, que respondeu transtornada: “Eu vou com você. Meu pai morreu, a fazenda acabou e não tem ninguém mais lá. Não vou ficar esperando pelo próximo que tente me violentar.” Nür objetou, sugerindo que era melhor ela buscar rumo no povoado mais próximo.
Mais à frente, deu-se conta de que Mariana ainda vinha atrás, calada. Enrvando-se, o negro disse que decidira procurar o quilombo e que uma mulher branca não seria bem recebida lá. A sinhazinha, plantada com os braços cruzados, terminou a discussão dizendo que pouco importava: Sentia-se segura a seu lado e o seguiria para onde fosse.
Nür procurou o quilombo por vários dias e a chegada deles ali não foi tranquila. Muitos pareciam felizes ao ver que mais um foragido chegava, mas logo mostravam insatisfação ao perceber que ele vinha seguido de uma branca. Nenhum negro confiava nos brancos. Aos poucos, uma multidão foi se juntando ao redor.
Palavras e gestos agressivos eram dirigidos aos dois, até que um negro velho postou-se no chão diante de Nür, beijando seus pés. Era um súdito de sua antiga tribo, alguém que o reconhecia como príncipe. Como sua fama era conhecida na África, Nür passou de ser um enjeitado pelo quilombo para tornar-se a pessoa de mais alto status ali, para o espanto de Mariana.
Deram-lhes casa e comida, com a condição de que Mariana permanecesse encerrada. Nür frequentemente era chamado para participar dos assuntos deles e, devido ao preparo que tivera em sua terra natal, não tardou em destacar-se como líder, enquanto Mariana definhava aos poucos, feita prisioneira dentro de uma choupana.
Nür sabia que isso passaria. Seu cálculo era que, depois de um tempo, a sinhazinha desistiria dessa ideia de viver entre os quilombolas. Foi visitá-la numa tarde após os afazeres do dia e, para sua surpresa, encontrou Mariana muito diferente do que imaginara, rodeada de outras negras e conversando animadamente na linguagem local. Vendo que Nür ingressava pela porta ela pediu que as demais se retirassem, o que fizeram com risinhos de cumplicidade.
Mariana trazia um vestido rústico e seus adornos pessoais, antes feitos de metais e pedras preciosas, agora eram artesanatos feitos de ossos. Sua vasta cabeleira loira dera lugar a um mar de trancinhas douradas, recolhidas num penteado africano. Seu corpo ganhara outras curvas naquele vestido, seus seios pareciam mais fartos e suas cadeiras mais largas, provavelmente pela falta de espartilhos.
Se via tão bela e à vontade, tão mais mulher feita que a jovem da fazenda, que Nür ficou desconcertado. Ademais, Mariana nem lhe deu chance de falar, contando sem interrupções tudo o que já aprendera com as mulheres e o quanto estava feliz em sua nova vida. A avalanche de palavras era tal que Nür se desconcentrou e só pensava que, apesar de já estarem sentados, Mariana ainda não soltara sua mão.
O rapaz foi arrancado de seus pensamentos quando, em meio a tudo que ela dizia, ouviu de Mariana: “Eu gosto de homens negros. Sempre quis ser negra. Me sinto presa nessa pele, é como se ela não me pertencesse. Foi por isso que o procurei aquele dia na senzala!”
“Eu… Eu achava que era um delírio da febre, nunca acreditei que você realmente esteve lá cuidando de mim e… e…” - foi tudo que ele conseguiu balbuciar.
Mariana riu alto pelo embaraço de Nür, dizendo que ele ficava ainda mais bonito assim. Abaixando a voz e chegando mais perto, lhe confessou que ela agiu sem pensar naquele dia. Sob o pretexto de cuidar de suas feridas, o que ela realmente queria era estar perto dele e tocar seu corpo. Ao fazê-lo, não resistiu e terminou pegando em seu membro, e aquilo disparou nela uma ansiedade tão grande que foi adiante e terminou com pênis de Nür jorrando em sua boca.
Vendo a incredulidade nos olhos do jovem, ela ainda completou que só não perdeu a virgindade naquele momento porque ele estava doente - e porque seria algo terrivelmente proibido a filha do senhor da fazenda se deitar com um escravo. Mas no quilombo, esclareceu ela, tudo era diferente. Nür era um príncipe e ela não era ninguém, era só mais uma mulher. Agora já não existiam impedimentos.
Ouvir Mariana falar aquelas coisas e ver sua transformação numa mulher absolutamente livre, foi algo que mexeu com Nür. Num gesto de admiração, ele ergueu a mão e tocou sua face com as costas dos dedos. Mariana sorriu e, trazendo a mão dele que ainda retinha entre as suas, a depositou sobre um de seus seios, sussurrando: “Esqueça o passado, príncipe. Você não me escapa mais, nunca mais!”
O beijo que se seguiu era inevitável, assim como sentir sua língua explorando a boca de Mariana fez Nür descarregar-se toda a dor e sofrimento. Era como se uma eletricidade corresse por sua pele, levando-o a apertar o seio que tinha em seus dedos e provocar na mulher um gemido de desejo impossível de ser ignorado.
Os dois rolaram pelo chão da choupana enroscados um no outro, beijando-se com avidez, se apalpando e arrancando as roupas, até restarem completamente nús, com o grande corpo de Nür sobre o pequeno ser de Mariana, ela abraçada em seu pescoço e arregalando os olhos de prazer enquanto ele se apoiava sobre os braços e se movia entre suas pernas, penetrando-a com sua masculinidade e sentindo cada centímetro das intimidades aveludadas da mulher, até fazer com que ela não fosse mais virgem.
Noite adentro, Mariana cavalgou sobre Nür com volúpia e desejo, movendo seu quadril encaixado sobre o membro escuro e lustroso do homem, permitindo que suas mãos grandes lhe tocassem onde desejavam e sentindo o prazer do negro a possuindo-a por inteiro, beijando-a onde nunca havia sido beijada e apertando seu corpo nas partes mais erógenas, enquanto gozava em profusão.
Elevada à condição de companheira de Nür, Mariana circulava livremente durante os dias que se seguiram, mas à noite seu destino era certo: deitada na esteira do príncipe, recebia o homem com todo o entusiasmo da primeira vez, inclusive pedindo que ele fizesse outras coisas um tanto diferentes para a época.
Mas esa paz durou somente até a chegada da tal carta misteriosa, entregue por um negro alforriado que negociava trocas com os quilombolas. A cada palavra lida na sala do trono, Nür se via mais preocupado.
Era uma exigência do governo. Mariana, a jovem branca “sequestrada pelos negros”, deveria ser devolvida à “civilização”. Caso isso não acontecesse em cinco dias, o quilombo seria invadido e todos seriam mortos. Ao final, a carta vinha assinada pelo novo representante para assuntos quilombolas: Salomão.
O conselho via as coisas com claridade, eles mandariam a branca embora para evitar maiores problemas e estava resolvido. Contudo, Nür se via mais apreensivo que todos. Salomão não havia morrido - e agora desejava pôr as garras em Mariana a qualquer custo. Além disso, a carta dava a entender que os brancos sabiam onde estava o quilombo e podiam chegar até ali. Eles eram um alvo fácil.
O debate foi longo e, ao final, todos tiveram que ceder. Os que nunca concordaram com a presença de Mariana conseguiram forçar que Nür aceitasse devolvê-la, ao passo que o príncipe logrou convencer os demais de que precisavam mudar o quilombo para o mais adentro da mata o possível.
Uma delegação informou à Mariana da decisão. Nür, sério e cabisbaixo, mal conseguia olhar nos olhos da branca. Ela, de início desesperada, terminou aceitando: o quilombo estava em risco por sua causa, e jamais se perdoaria se todos fossem mortos.
A última noite entre Nür e Mariana foi melancólica. O sexo entre eles, antes ardente e afoito, transformou-se em algo mais afetivo e calmo, com seus corpos compassadamente se entregando a carícias suaves, quase tênuas, antecipando a separação. Depois passaram o resto da noite falando sobre como imaginavam suas vidas depois dali.
Ao amanhecer, Nür dividia e despachava pequenos grupos em diferentes direções, numa estratégia para despistar os brancos. Todos se reuniriam novamente num antigo terreiro indígena abandonado para fundar o novo quilombo. Enquanto isso, uma delegação saía com Mariana rumo à antiga Fazenda Esperança para devolvê-la.
A jovem estava abatida, tanto tempo ao lado de Nür deixou marcas que seriam difíceis de superar. Pedia seguidamente ao grupo que a escoltava para descansar, de forma que somente chegaram à fazenda no limite do prazo estipulado.
Salomão estava só no terreiro abandonado da fazenda. Quando divisou Mariana entre o grupo de negros, chegou a levar a mão até suas partes para ajeitar a ereção que crescia. Foi cordial com os quilombolas dizendo que haviam tomado a decisão correta em devolvê-la, mas a jovem podia adivinhar o velho ódio escondido em seu olhar.
Nem bem os visitantes se retiraram, Mariana fez menção de ir embora, mas Salomão a impediu, amarrando-a pelos pulsos como se fosse uma escrava. Enquanto a prendia no tronco destinado aos castigos, em meio à discussão que se armou entre eles, o feitor agora gritava abertamente: “A Sinhazinha ainda me deve, pensou que eu esqueci? Pois se você age como uma negra e até vive no meio deles, hoje eu vou te comer como sempre fiz com as outras escravas daqui… Hoje vai ser por trás, sua vagabunda”
Com Mariana inclinada no tronco, Salomão subiu-lhe o vestido e abaixou sua roupa interior, deixando à mostra suas intimidades. Com uma risada sádica, o feitor retirou o cinto e passou a fustigar-lhe com chibatadas, até deixar Mariana gritando de dor e com marcas vermelhas bem marcadas no traseiro. Mariana então sentiu com nojo a língua áspera do feitor passeando entre suas nádegas e se esparramando por seu sexo. Excitado, o homem gemia e de prazer ao segurá-la pelo quadril e afundar o rosto em seu traseiro, umedecendo suas carnes para facilitar a penetração.
Salomão abaixou a calça e começou a bater com o membro sobre o traseiro de Mariana, dizendo-lhe mais obscenidades e gargalhando ao vê-la rendida, totalmente entregue às suas vontades libidinosas. Em seguida, desejoso por finalmente concretizar a tara antiga que tinha pela filha do seu patrão, colocou o instrumento em posição e começou a forçar. Mariana seria currada por trás, não havia amor nem carinho, não havia Nür, não havia mais nada, só ela e aquele homem sem escrúpulos, em meio ao terreiro deserto.
E justo quando tudo parecia perdido, Salomão pareceu afrouxar as mãos que a detinham na posição, retrocedeu e caiu ao seu lado, com uma lança atravessando-lhe o peito. Nür havia chegado conforme o combinado. Um pouco tarde, é certo, mas justo a tempo de evitar o desastre. Mariana estava livre outra vez, e agora Salomão realmente havia morrido.
Um mês depois, o quilombo já estava totalmente adaptado à sua nova sede, quando chegou a notícia da abolição da escravidão pela nova república que se instaurou no país. Todos celebravam, mas Mariana e Nür já não se encontravam entre eles. Desde o dia em que Mariana foi entregue aos brancos e Nür organizou a mudança do quilombo, ninguém mais os vira, como se houvessem desaparecido no ar sem rastros.
Enquanto isso, a milhas de distância do outro lado do oceano, os Maputos celebravam um novo ciclo de fartura e bonança. O principe Nür estava de volta e retomara o trono, tornando-se o primeiro rei negro de todo o continente a ter uma escrava branca a seu dispor, a devotada Mariana.