Dois meses após a noite no estábulo, a tensão que parecia superada voltou a crescer como erva daninha.
Caio estava cada vez mais distante. Dormia do lado oposto da cama, evitava toques longos, beijos demorados. Até que numa manhã qualquer, ao servir o café, ele disse:
— “A gente precisa conversar.”
Ela já sabia. O tom, o silêncio, o vazio no olhar. Tudo estava ali.
— “Você vai me deixar.”
— “Sim.” — A resposta veio direta. Sem hesitação. — “Mas não só isso.”
Ele puxou uma cadeira. Os olhos estavam calmos, mas carregados de algo diferente: libertação.
— “Luiza, aquela noite... me mudou também. Não foi só sobre você. Foi sobre mim. Eu vi o Felipe. Eu senti. Desejei. E entendi que minha repressão não era só com você... era comigo mesmo.”
Ela arregalou os olhos, mas ficou em silêncio. Ele continuou:
— “Eu estou com ele agora. Com o Felipe. E é diferente. Eu me sinto inteiro. Coisa que com você… não acontecia há muito tempo.”
A dor cortou como navalha. Mas a parte que mais doía não era o abandono. Era a frieza.
— “Então você me usou. Me colocou ali no meio pra se testar.”
Caio assentiu. Sem vergonha.
— “Sim. E descobri que eu gosto de ser possuído. Que gosto da força dele. E que... não quero mais viver fingindo. Nem ao seu lado, nem em silêncio.”
Ela levantou-se, com a dignidade ainda intacta, mas o coração em ruínas. Antes que saísse, ele disse:
— “A casa é minha. O nome em tudo é meu. Quero você fora até o fim do dia.”
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Horas depois
Luiza caminhava pela cidade com a mala de rodinhas, o salto afundando no asfalto quente. Lembrou-se das mãos de Caio em sua cintura. Lembrou-se das palavras doces que agora pareciam veneno diluído em chá.
Não chorou.
Não ainda.
Hospedou-se num hotel simples. Tomou um banho frio. E olhou para si no espelho.
— “Ele se descobriu? Ótimo. Mas me quebrou no caminho. Agora é a minha vez.”
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Duas semanas depois
Shopping luxuoso. Vitrine espelhada. Luiza de vestido vinho justo, sem sutiã. A pele livre, o batom cor sangue. Cada passo era vingança. Cada olhar era arma.
Sentou-se no lounge de um restaurante elegante. Pediu vinho branco. E quando Felipe e Caio passaram por ali, de mãos dadas, ela sorriu. Um sorriso que ardia.
Chamou o garçom, sussurrou algo. Segundos depois, o som ambiente mudou. A música deu lugar a uma gravação de voz — a voz de Felipe. Gemendo. Mandando áudios sujos. Áudios que só ela conhecia.
O restaurante congelou. Os dois homens pararam no meio do corredor.
Felipe empalideceu. Caio arregalou os olhos.
Luiza levantou-se devagar. Caminhou até eles. Puxou os dois pelo colarinho, um de cada lado. Encostou a boca entre os dois rostos e disse, rouca:
— “Vocês me deixaram. Me usaram. Mas esqueceram que quem guarda os segredos... tem o poder.”
Ela os soltou.
— “Divirtam-se, meninos. A fama de vocês já tá nas redes.”
E foi embora, deixando para trás o som dos gemidos e os olhares chocados.
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Mais tarde, no hotel...
Luiza abriu a porta do quarto para um entregador alto, moreno, braços fortes. Eles se encararam. O silêncio dizia tudo.
Ela tirou o vestido ali mesmo, na frente da porta. Sem cerimônia.
Ele entrou, fechando a porta com o pé.
No espelho, Luiza se via de quatro, o corpo marcado, as mãos dele puxando seu cabelo com fome. Gemidos sujos. Mordidas no ombro. Ela rebolava no ritmo que queria. O comando era dela agora.
— “Você gosta de mulher ousada, não gosta?”
Ele respondeu cravando os dentes em sua pele, enterrando-se mais fundo, enquanto ela gemia sem pudor, sem culpa, com a fúria de quem renasceu do desprezo.
Na cama, no chão, contra o espelho — ela foi tudo que Caio nunca soube lidar. Tudo que os outros não conseguiram segurar.
E quando terminou, acendeu um cigarro, nua, pernas abertas, sorriso calmo.
— “Quem perde... são sempre eles.”
Ela estava nua sobre a poltrona, pernas abertas, a pele ainda trêmula de prazer. A fumaça do cigarro desenhava espirais no ar enquanto o entregador — agora ajoelhado no chão — mergulhava entre suas coxas com devoção.
Ela não gemeu. Sorriu. Fechou os olhos e apenas respirou fundo, sentindo a língua quente, insistente, explorando cada centímetro como quem busca salvação.
Segurou o cigarro entre os dedos e soltou uma tragada lenta, como se cada movimento fosse ensaiado.
— “Assim… isso.” — murmurou, quase em silêncio, guiando os quadris contra a boca dele com ritmo e autoridade.
A sensação de ser adorada e servida, de estar no controle, a preenchia de uma forma que nem os três homens do passado haviam conseguido tocar.
Agora, ali, com um estranho de joelhos entre suas pernas e o fogo queimando de dentro pra fora, Luiza tinha certeza de uma coisa:
Ela não era de ninguém.
E, justamente por isso, era tudo que alguém poderia desejar — e nunca possuir.