O ar de do Mato Gross do Sul em janeiro tinha peso e cheiro. Pesava como um cobertor úmido sobre a pele, e cheirava a terra molhada pela garoa fina que teimava em cair sobre o asfalto quente, levantando um vapor que distorcia as luzes dos postes. Para Fagner, então com quinze anos, o verão era uma unidade de medida para o tédio. Os dias se arrastavam na mesma cadência lenta e previsível do ventilador de teto da sala, girando e empurrando o mesmo mormaço de um canto para o outro.
Até aquele verão. O verão em que seus tios de São Paulo, e com eles seu primo Rafael, decidiram que o “ar puro” do interior faria bem.
Fagner lembrava da chegada do carro como uma anomalia, um evento cromado e barulhento rompendo a monotonia da rua. E de dentro dele, saiu Rafael. Não era um primo, era uma entidade. Aos dezenove, ele parecia pertencer a um universo diferente. O cabelo era de um loiro que o sol do Sudeste parecia ter beijado com mais vontade, caindo sobre a testa com uma displicência estudada. Os olhos, de um azul que Fagner só via nas revistas ou na televisão, pareciam analisar e descartar o mundo ao redor com uma velocidade entediada. E havia as tatuagens. Um tribal escuro subia pelo antebraço e desaparecia sob a manga de uma camiseta de banda que Fagner não conhecia.
A atração não foi uma faísca. Foi um soco no estômago. Um calor que subiu do fundo da barriga e se instalou na garganta, deixando-o mudo quando sua mãe o empurrou para frente. “Este é o Fagner, seu primo”. Rafael apenas acenou com a cabeça, um sorriso mínimo no canto dos lábios, mas seus olhos azuis demoraram em Fagner um segundo a mais que o necessário. Um segundo que registrou tudo: o cabelo escuro e liso demais, o corpo magro e ainda desajeitado de adolescente, o jeans surrado e, Fagner sentiu com uma pontada de vergonha e excitação, sua bunda. Ele sentiu o olhar de Rafael nela, um olhar rápido, quase clínico, mas que o marcou a ferro quente.
Naquela primeira noite, o choque de mundos foi evidente. Rafael falava de festas, de shows, de uma vida que soava como ficção científica para Fagner. Ele se movia pela casa pequena com uma posse que não lhe pertencia, mas que ninguém ousava questionar. Era o convidado, a estrela. Fagner, por outro lado, se sentia um estranho na própria casa, um satélite orbitando aquele sol loiro e tatuado. Observava de longe, da segurança do seu quarto, o jeito como ele se espreguiçava, a camiseta subindo e revelando uma faixa de pele pálida e um caminho de pelos loiros que desaparecia para dentro da calça de moletom. Cada movimento era um espetáculo involuntário, e Fagner era sua única e devota audiência.
O jogo começou no terceiro dia. Um jogo silencioso, sujo e terrivelmente excitante.
A casa tinha apenas um banheiro funcional, e o calor infernal de janeiro exigia múltiplos banhos diários. Rafael foi o primeiro a instituir o ritual. Ele pegava a toalha, passava pelo corredor e, ao entrar no banheiro, deixava a porta não apenas destrancada, mas entreaberta. Uma fresta de talvez dois centímetros. O suficiente.
Da primeira vez, Fagner achou que era um descuido. Seu coração martelou contra as costelas. Ele estava no seu quarto, a porta também entreaberta, e a geometria do corredor lhe proporcionava uma visão pecaminosa e limitada daquela fresta. Ele ouviu o som do chuveiro ligando, o barulho da água batendo nos azulejos. Prendeu a respiração, rastejou pelo chão como um ladrão e se posicionou. O medo era um gosto metálico na boca, o medo de sua mãe ou seu pai aparecerem, o medo de ser descoberto. Mas o tesão era uma força maior, uma correnteza que o arrastava para o abismo.
Pela fresta, o mundo era um fragmento de vapor e pele. Fagner via recortes de Rafael. O ombro largo e pálido, a água escorrendo sobre a tinta preta da tatuagem, fazendo-a brilhar.
Um pedaço do peito, salpicado de pelos loiros e molhados. Ele se moveu, e Fagner viu o contorno de sua bunda, redonda e firme, contrastando com o resto do corpo mais esguio. A visão era imperfeita, quebrada pelo vapor e pelo ângulo, e isso a tornava ainda mais insuportável. Era uma tortura deliciosa.
Na segunda vez, Fagner soube que não era acidente. Rafael passou por ele na sala, os olhos azuis faiscando com uma diversão secreta. “Tá calor pra caralho, né, priminho? Vou tomar uma ducha pra ver se viro gente.” A palavra “priminho” saiu com um veneno doce, uma provocação velada. E de novo, a porta ficou entreaberta.
Dessa vez, Fagner foi mais ousado. Esperou os sons da casa se acalmarem e se aninhou no corredor escuro, o olho colado na madeira fria da porta. O espetáculo havia mudado. Rafael não estava apenas se lavando. Ele estava de costas para a porta, mas Fagner podia ver seu reflexo distorcido no espelho embaçado do armário. O vapor era denso, mas através dele, Fagner viu a mão de Rafael descer por seu abdômen, passando pelo emaranhado de pelos loiros, até encontrar seu pau.
O coração de Fagner parecia que ia explodir. Era demais. Era proibido e sujo e a coisa mais excitante que já havia acontecido em sua vida miserável e monótona. Ele via o reflexo do braço de Rafael se movendo, para cima e para baixo, num ritmo lento e torturante. Rafael inclinou a cabeça para trás, os lábios entreabertos, os olhos fechados. Ele não gemia alto, apenas um som baixo, gutural, quase inaudível por cima do barulho do chuveiro. Era uma performance de intimidade, uma invasão consentida. Rafael sabia. Ele tinha que saber. Ele estava se exibindo para sua plateia cativa de um único espectador.
Fagner sentiu seu próprio pau latejar dentro da bermuda, uma dor aguda de desejo não realizado. Ele queria estar lá dentro, queria sentir o cheiro de sabonete e de suor, queria tocar aquela pele, provar aquele gosto. A vontade era tão forte que era quase uma dor física. Ele apertou os dentes, a respiração presa na garganta, enquanto via o ritmo do braço de Rafael acelerar. Um espasmo percorreu o corpo refletido no espelho, a cabeça jogada para trás com mais força. E então, ele parou, ofegante, a mão ainda em volta do próprio membro, como se saboreasse a sensação.
Fagner recuou para seu quarto, o corpo tremendo, a mente em curto-circuito. Ele se jogou na cama e se tocou com uma fúria desesperada, a imagem fragmentada de Rafael no banheiro gravada em suas pálpebras. O gozo foi rápido, quase doloroso, e o deixou se sentindo vazio, culpado e faminto por mais.
A tensão entre eles nos dias seguintes era quase palpável. Um olhar trocado na mesa do café da manhã, um roçar de ombros no corredor. Rafael parecia se divertir com o poder que tinha sobre Fagner. Ele andava pela casa só de bermuda, o corpo dourado e tatuado em exibição constante. Fagner, por sua vez, vivia num estado de alerta erótico permanente, cada movimento do primo um gatilho para a sua imaginação.
A quebra veio no lugar mais inesperado. Numa quarta-feira, um tio da fazenda convidou a todos para um churrasco. A fazenda era o oposto da casa claustrofóbica. Era um espaço de sol impiedoso, poeira vermelha e o barulho ensurdecedor de maquinário agrícola.
Fagner estava perto do galpão, observando de longe enquanto Rafael, com a autoconfiança de quem nasceu para ser o centro das atenções, conversava com os peões, fascinado por um trator antigo que estava sendo usado para roçar o pasto. Fagner se sentia em seu lugar novamente: o observador, o periférico. A bunda de Rafael, marcada dentro de uma bermuda de surf, era um ponto de luz em meio à paisagem rústica.
O que aconteceu em seguida foi uma sucessão de borrões violentos. Um som. Um estalo metálico, agudo e errado. Um grito. Um grito que não era humano, um som rasgado de dor e choque que cortou o ar pesado da tarde.
Todos se viraram. Rafael estava no chão, agarrado à própria perna, o rosto uma máscara de pânico e dor. O azul de seus olhos estava arregalado, vidrado. Ao lado dele, projetada no chão como uma lança maligna, estava uma das facas da roçadeira do trator. Ela havia se soltado em alta velocidade.
O mundo de Fagner encolheu até se resumir àquela cena. O cheiro de churrasco foi substituído pelo cheiro acre de medo e, logo em seguida, pelo cheiro metálico e quente de sangue. As pessoas correram, gritando. Fagner ficou paralisado por um instante, o cérebro incapaz de processar a imagem: seu deus loiro, o objeto de seu desejo sujo e secreto, estava quebrado e sangrando na poeira vermelha.
Então, ele correu. Correu como se sua vida dependesse disso. Ele se ajoelhou ao lado de Rafael, sem saber o que fazer. A bermuda de surf estava rasgada e encharcada de um vermelho vivo que se espalhava rapidamente. O corte era profundo, hediondo. Um talho longo e irregular na lateral da coxa. A pele estava aberta, e no meio do sangue e da carne retalhada, Fagner podia ver o brilho branco do osso.
A imagem o atingiu com a força de um soco. A vulnerabilidade de Rafael era absoluta. O corpo que ele idolatrava em segredo agora estava profanado, ferido. A arrogância tinha desaparecido dos olhos azuis, substituída por um terror puro e infantil.
O pânico tomou conta de todos. O tio gritava ordens, alguém correu para pegar um pano, outro ligou para a cidade. A fazenda era isolada demais; uma ambulância levaria horas. A solução, drástica e imediata, foi um avião. Um monomotor de um vizinho fazendeiro que faria o resgate.
Enquanto esperavam, Fagner permaneceu ao lado de Rafael. Ele não disse nada. Apenas pegou a mão do primo. A mão de Rafael, geralmente tão firme e confiante, agarrou a sua com uma força desesperada. Estava fria e suada. Fagner viu a tatuagem de perto, a tinta preta contrastando com a palidez mortal da pele. Ele olhou para o rosto de Rafael, para as lágrimas silenciosas que escorriam de seus olhos azuis, e sentiu algo novo se misturar ao turbilhão de desejo e culpa: um instinto protetor, uma onda de afeto doloroso. O deus havia caído do pedestal, e em seu lugar estava apenas um garoto assustado e ferido.
O som do avião se aproximando foi o som da salvação e da despedida. Carregaram Rafael em uma maca improvisada. Seus olhos encontraram os de Fagner uma última vez antes de ser colocado na aeronave. Não havia provocação naquele olhar, nem poder. Havia dor, medo e algo mais. Um reconhecimento. Uma conexão forjada no segredo do banheiro e agora selada em sangue e pânico.
Naquela noite, a casa ficou silenciosa e vazia. O quarto de Rafael, intacto. O cheiro dele ainda estava no travesseiro. Fagner não conseguiu dormir. A imagem do corte não saía de sua cabeça. A imagem do sangue na poeira. A imagem dos olhos azuis cheios de terror.
Rafael sobreviveu, claro. A cirurgia foi um sucesso, não houve sequelas motoras. Mas aquele verão, para Fagner, terminara no instante em que a faca voou. A partida da família de São Paulo, dias depois, foi apenas uma formalidade.
O tempo passou. Anos se passaram. Mas a memória daquele verão permaneceu, não como uma lembrança nostálgica, mas como uma ferida aberta. E com ela, a imagem da marca que ficaria para sempre na pele de Rafael. Uma longa e pálida cicatriz na coxa. Um memorial físico e permanente daquele calor, daquele desejo, daquele jogo perigoso. A cicatriz que pertencia àquele verão, mas que, de alguma forma suja e secreta, pertencia também a Fagner. Era o mapa do tesouro de sua obsessão, a prova indelével do poder que Rafael ainda exercia sobre ele, mesmo a mil quilômetros de distância.
Quatorze anos. Tempo suficiente para um garoto se tornar um homem, para o tédio do interior ser trocado pela ansiedade calculada da vida adulta, para memórias se tornarem fantasmas. Fagner, aos 29 anos, era um arquiteto com uma vida organizada, um mundo de linhas retas e projetos previsíveis. Mas o fantasma daquele verão nunca o abandonou completamente. Ele vivia em noites solitárias, em desejos inconfessos, na imagem persistente de uma cicatriz pálida numa coxa bronzeada.
A viagem a São Paulo foi uma obrigação familiar. Sua avó queria visitar a mãe, a "bisa" da família, uma senhora de quase cem anos que vivia em Higienópolis, um relicário de móveis escuros e cheiro de naftalina. Fagner foi o motorista e acompanhante designado. Ele não pensou em Rafael. Ou melhor, ele se forçou a não pensar.
Mas o destino, ou talvez o desejo, tem um senso de humor cruel. Na tarde de sábado, a campainha tocou. Fagner ouviu a voz antes de ver o dono. Uma voz mais grave, mais rouca, mas com a mesma cadência arrastada e confiante que ele lembrava.
“E aí.”
O coração de Fagner deu um solavanco violento, um baque surdo contra as costelas. Ele ficou paralisado no corredor, a xícara de café tremendo em sua mão. Quando finalmente criou coragem e foi para a sala, lá estava ele.
O fantasma era de carne e osso. E a realidade era infinitamente mais devastadora que a memória.
Rafael, aos 33, era a versão amplificada e perigosa do garoto de 19 anos. O corpo, antes esguio, agora era denso, preenchido por anos de academia. Os braços eram mais grossos, cobertos por novas tatuagens que se entrelaçavam com as antigas, criando um mapa complexo de tinta preta sobre a pele clara. Usava uma bermuda cargo e uma camiseta simples, mas o tecido parecia se esforçar para conter os músculos do peito e dos ombros. Uma barba rala e bem aparada cobria seu maxilar, mas os olhos... os olhos eram os mesmos. Um azul elétrico, penetrante, que encontrou os de Fagner por cima do ombro da avó e o desnudou ali mesmo, no meio da sala de estar da bisavó.
O olhar de Rafael desceu pelo corpo de Fagner, sem pressa, avaliador. Demorou-se em seu rosto, em seu peito, e Fagner sentiu o calor subir pela nuca quando o olhar do primo varreu sua bunda, agora mais cheia e definida pelos agachamentos na academia. Era o mesmo olhar daquele primeiro dia, catorze anos atrás, mas agora não havia inocência ou curiosidade adolescente. Havia certeza. Havia conhecimento.
E então, o olhar de Fagner desceu. E lá estava ela. A cicatriz. Visível na pele bronzeada da coxa, uma linha prateada e longa que nascia sob a barra da bermuda. O memorial do verão. O elo físico que os conectava. A tensão na sala ficou tão densa que Fagner achou que ia sufocar.
“Fagner. Caralho, quanto tempo”, disse Rafael, o sorriso de canto de boca surgindo, o mesmo sorriso que assombrava Fagner há anos. “Você tá diferente. Tá... grande.”
O elogio era uma carícia e uma provocação. Fagner apenas conseguiu murmurar um “Você também”.
A conversa familiar fluía ao redor deles, mas eles estavam em sua própria bolha de eletricidade estática. Mais tarde, enquanto a avó cochilava na poltrona, Rafael se aproximou. Ele cheirava a um perfume caro, amadeirado, misturado com o cheiro de homem, de pele, de suor.
“E aí, priminho. Cansado de ficar mofando com as velhas?”, ele disse, a voz baixa, quase um sussurro. “Bora tomar uma cerveja. Te mostro um pouco da cidade de verdade.”
Não era um convite. Era uma intimação. Fagner, prisioneiro daquele campo de força invisível, apenas assentiu.
O bar era um lugar qualquer no bairro da Vila Madalena, barulhento, cheio de gente bonita e conversas animadas. Mas para Fagner, o mundo exterior não existia. Sentado numa mesa pequena, de frente para Rafael, ele se sentia o mesmo garoto de quinze anos, intimidado e excitado. A cerveja gelada descia rasgando, mas não aliviava o fogo em seu estômago.
Eles falaram de banalidades. Trabalho, família, a vida em Naviraí versus a loucura de São Paulo. Mas a conversa era apenas um prelúdio, e ambos sabiam disso. Rafael o observava por cima da borda do copo, os olhos azuis faiscando com uma diversão predadora.
Depois da segunda cerveja, ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa. A música e as vozes do bar pareceram desaparecer.
“Sabe, Fagner...”, ele começou, a voz perigosamente calma. “Aquele verão lá na sua cidade... eu penso bastante nele.”
O coração de Fagner acelerou. “É... o acidente...”, ele tentou, a voz saindo fraca.
Rafael riu, um som baixo e rouco. “O acidente também. Mas não é disso que eu tô falando.” Ele fez uma pausa, saboreando o momento, o poder. “Eu via você me olhando no banheiro.”
O mundo de Fagner parou de girar. O ar fugiu de seus pulmões. O sangue subiu para seu rosto com a força de uma maré, queimando suas orelhas, sua nuca. Ele abriu a boca para negar, para se defender, mas nenhum som saiu. A vergonha era um nó em sua garganta.
Rafael sorriu, o sorriso de canto de boca agora pleno, vitorioso. “Eu deixava a porta aberta de propósito. Era pra você ver mesmo.” Ele se inclinou ainda mais, a voz agora um sussurro íntimo e sujo que era só para Fagner. “Você gostava do que via?”
Fagner não conseguia respirar. Estava exposto, dissecado sobre a mesa do bar.
“Responde, priminho”, insistiu Rafael, a voz aveludada, mas com um fio de ordem. “Gostava de me ver tocando meu pau?”
A vergonha e o desejo travaram uma guerra dentro de Fagner. O desejo venceu. Ele fechou os olhos por um instante, a imagem do reflexo de Rafael no espelho embaçado invadindo sua mente. Com um esforço monumental, ele assentiu. Um movimento mínimo, quase imperceptível, mas que era uma rendição completa.
O sorriso de Rafael se alargou. “Eu sabia.” Ele bebeu um gole de sua cerveja, os olhos nunca deixando os de Fagner. “Gostou do tamanho dele?”
Outro aceno. Desta vez, mais firme. A vergonha estava se dissolvendo, sendo queimada e substituída por uma excitação crua, vertiginosa. A verdade estava na mesa. Não havia mais para onde fugir.
Rafael se inclinou, sua boca agora perto do ouvido de Fagner. Seu hálito quente cheirava a cerveja e a menta. “E você ainda gosta, não gosta? Quer ver de perto? Quer tocar, sentir ele dentro de você?” Cada palavra era uma facada de prazer, um prego em seu caixão de autocontrole. “Pode ter certeza que ele aumentou bastante desde aquela época.”
Fagner estremeceu, um arrepio percorrendo sua espinha. Ele não conseguia formar uma frase. Sua mente era uma tela em branco, preenchida apenas pela voz de Rafael e pelas imagens que ela conjurava.
Rafael se recostou na cadeira, o predador satisfeito. Ele terminou sua cerveja, jogou o dinheiro na mesa e se levantou. “Vem, vou te levar pra casa.”
No caminho de volta, no silêncio do carro, a tensão era tão espessa que podia ser mastigada. Fagner olhava para as luzes da cidade passando pela janela, o corpo inteiro formigando, a mente em parafuso. Ele estava vivendo a fantasia que o atormentou por metade da sua vida.
Quando pararam no semáforo, Rafael agiu. Sua mão, grande e quente, se moveu pelo espaço entre eles e cobriu a de Fagner, que descansava inerte na própria coxa. Os dedos de Rafael se entrelaçaram nos seus. Então, ele guiou a mão de Fagner, sem pressa, até seu colo.
O choque foi elétrico. Fagner sentiu o tecido grosso da calça jeans e, por baixo, a realidade sólida e pesada do que o esperava. Era um volume impressionante, uma dureza que parecia viva sob seus dedos. Rafael não disse nada, apenas apertou a mão de Fagner contra seu pau duro, forçando-o a sentir o contorno, o peso, a promessa.
“Sente isso”, sussurrou Rafael, a voz rouca de desejo. “É só uma amostra do que te espera.”
O semáforo abriu. Rafael soltou sua mão e continuou a dirigir como se nada tivesse acontecido. Fagner puxou a mão de volta para seu colo como se estivesse em chamas. Seus dedos formigavam, marcados pelo calor e pela forma daquela ereção.
Rafael o deixou na porta do prédio, o motor do carro roncando baixo na rua silenciosa.
“Amanhã eu passo. Umas oito da noite”, ele disse, o tom casual, mas os olhos carregados de uma intensidade avassaladora. “Se prepara.”
Fagner saiu do carro, as pernas bambas. Ele ficou parado na calçada, vendo as luzes traseiras vermelhas do carro de Rafael desaparecerem na esquina, deixando-o sozinho na noite de São Paulo, com o corpo em chamas, a mente em caos e a promessa de uma rendição que demorou catorze anos para chegar. A tortura havia apenas começado.
As vinte e quatro horas que se seguiram foram a tortura mais deliciosa da vida de Fagner. Cada minuto se arrastava, denso e pesado com antecipação. Ele mal falou com a avó ou a bisa, respondendo em monossílabos, a mente perdida na memória do toque de Rafael, no peso de sua mão, na dureza de seu pau contra seus dedos. Ele estava vivendo em dois planos: o mundo real, monótono e familiar do apartamento da bisavó, e o universo paralelo e febril da promessa de Rafael.
Pontualmente às oito da noite, seu celular vibrou. A mensagem era curta, um comando.
"Desce. Tô na frente."
Fagner inventou uma desculpa sobre encontrar um amigo da faculdade, sentindo o olhar desconfiado da avó em suas costas. Quando entrou no carro de Rafael, o ar era o mesmo da noite anterior: elétrico, carregado. Mas hoje não havia conversa, não havia desvios. Rafael apenas acenou com a cabeça e acelerou, as luzes de São Paulo se tornando um borrão pela janela.
Eles dirigiram por uns quinze minutos em silêncio, um silêncio que gritava. Fagner não perguntou para onde iam. Ele não tinha mais controle, e a sensação era aterrorizante e libertadora. Rafael parou em frente a uma casa térrea, de muro alto e portão de garagem fechado, numa rua tranquila e arborizada do Pacaembu. Não era o apartamento de Rafael, Fagner sabia. Era um lugar neutro, impessoal. Um palco. O portão se abriu com um clique do controle remoto, e eles entraram na garagem escura. O motor foi desligado, e o silêncio que se instalou foi absoluto, sagrado.
“Vem”, foi tudo que Rafael disse.
A casa por dentro era como Fagner imaginou: limpa, moderna, mas sem alma. Móveis de design, paredes brancas, nenhuma foto, nenhum livro. O único propósito daquele lugar era o que estava prestes a acontecer. Rafael o guiou por um corredor até o quarto nos fundos. Havia uma cama de casal grande, com lençóis cinza-escuros, e um abajur que emitia uma luz baixa e âmbar. Era um santuário para o pecado.
Rafael apontou para a cama. “Senta. E não se mexe.”
Fagner obedeceu, o corpo movendo-se por instinto, não por pensamento. Sentou-se na beirada do colchão, as mãos espalmadas ao lado do corpo, o coração martelando em um ritmo selvagem. O show ia começar.
Rafael ficou de pé no meio do quarto, a luz do abajur esculpindo seu corpo. E ele começou a se despir. Devagar. Cada movimento era um ato deliberado, os olhos azuis fixos nos de Fagner, um sorriso mínimo brincando em seus lábios. Primeiro, a camiseta. Ele a puxou pela gola, revelando o peito largo, os ombros e os braços cobertos de tinta. A peça de roupa voou pelo ar e pousou no colo de Fagner. O tecido ainda estava quente, impregnado com o cheiro dele.
Depois, a calça. O botão, o zíper. Ele a empurrou para baixo pelos quadris, revelando as pernas musculosas e, de um lado, a longa e pálida cicatriz, que pareceu brilhar na luz fraca. A calça se juntou à camiseta no colo de Fagner. As meias vieram em seguida, uma de cada vez.
Agora ele estava ali, parado, vestindo apenas uma cueca boxer preta que mal continha o volume de seu pau já completamente duro. A ereção pulsava visivelmente sob o tecido. Rafael se aproximou, parando a um passo de Fagner. Ele enganchou os polegares no elástico da cueca.
“Cheira”, ele ordenou.
A história não para aqui. O clímax é apenas para os seus olhos. Veja como eles terminam em: https://privacy.com.br/@Inimigointimo