A abordagem

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 5557 palavras
Data: 05/07/2025 15:24:00

O interior tinha um cheiro. Jeferson sentia falta daquele cheiro mais do que de qualquer pessoa. Era o cheiro de terra molhada depois da chuva, o aroma adocicado do capim cortado secando sob o sol impiedoso, o cheiro de poeira subindo da estrada de chão batido quando uma moto passava. Era o cheiro de vida crua, honesta. Uma honestidade que ele perdera em algum ponto da Rodovia Castello Branco, entre uma placa de quilometragem e outra, enquanto o verde se transformava em um cinza doentio.

Em sua terra, seu corpo era uma ferramenta e um troféu. Uma ferramenta forjada no trabalho braçal, erguendo sacos de grãos, consertando cercas de arame farpado e cavando valas sob um sol que parecia querer liquefazer a pele. O troféu vinha depois, na academia improvisada nos fundos da borracharia do Zé. Pesos de cimento em latas de tinta, uma barra de ferro soldada, um banco de madeira que rangia como se estivesse em agonia. Ali, ele terminava de esculpir o que o trabalho começava.

O resultado era um espetáculo de pura masculinidade rústica. Com 1,88m de altura, Jeferson não andava, ele se impunha sobre o chão. Sua pele, de um tom de bronze profundo e uniforme, era um mapa de sua vida ao ar livre. Os olhos, de um castanho tão escuro que pareciam negros, eram intensos, quase ferozes, mas carregavam uma melancolia que poucos se davam ao trabalho de notar. O cabelo era preto e grosso, cortado à máquina, mas já crescendo de forma rebelde, formando um relevo teimoso em sua cabeça.

Ele tinha a postura de quem nunca precisou pedir licença para existir. Ombros largos, peito alto, um V perfeito que afunilava para uma cintura estreita e quadris sólidos. O jeito de andar era pesado, plantado, o caminhar de um homem acostumado a terrenos irregulares, não ao asfalto liso e traiçoeiro da capital. O sorriso era a sua arma secreta e sua maior vulnerabilidade. Raro, mas quando surgia, era devastadoramente honesto, revelando dentes brancos e perfeitos, com um canino levemente torto que quebrava a simetria e o tornava real. Uma pequena cicatriz, quase invisível, cortava sua sobrancelha direita – lembrança de uma queda de goiabeira na infância. Outra, mais longa e prateada, marcava seu antebraço, um beijo de um arame farpado. Eram marcas de vida, não de violência. Ainda.

A mudança para São Paulo não foi um sonho, foi uma fuga. Um pesadelo sussurrado nos cantos da cidade pequena. Envolveu o filho de um fazendeiro, um beijo roubado atrás do salão de festas, um mal-entendido que a homofobia e o poder transformaram em escândalo. Jeferson não era de levar desaforo, e o olho roxo do filhinho de papai foi a sentença que o expulsou de casa. Sua mãe, entre lágrimas e o medo do que o fazendeiro poderia fazer, juntou o pouco dinheiro que tinha e o colocou no primeiro ônibus para a capital. "Vai, meu filho. Some daqui antes que o pior aconteça."

O pior já estava acontecendo, só que em câmera lenta.

São Paulo o engoliu. O dinheiro acabou na primeira semana. A pensão na região da Luz era um buraco fétido que cheirava a mofo, desinfetante barato e desesperança. O quarto era um caixote com uma cama que rangia e um ventilador que só espalhava o ar quente e viciado. A humilhação vinha em doses diárias: nas entrevistas de emprego onde seu corpo era mais avaliado que seu currículo inexistente, nos "nãos" secos, na fome que roncava em seu estômago.

E os olhares. Ah, os olhares. Na cidade pequena, os homens o olhavam com admiração, as mulheres com desejo. Aqui, os olhares eram diferentes. Eram predatórios. Homens nos ônibus, nos metrôs, na rua. Olhavam para seus braços, seu peito, sua bunda, como se estivessem avaliando um pedaço de carne no açougue. Eram olhares que o despiam, o precificavam. No início, ele respondia com a mesma hostilidade que usara contra o filho do fazendeiro, um brilho de ameaça nos olhos. Mas a fome tem um jeito de amansar qualquer animal selvagem.

A descoberta não foi uma epifania, foi uma rendição. Foi um cara na fila do prato feito, um produtor de eventos de quinta categoria com olhos de doninha, que disse sem rodeios: "Com um corpo desses, você não precisa passar fome, garoto. Tem gente que paga pra ver. E pra tocar." A frase o enojou, mas fincou-se em sua mente. Naquela noite, deitado na cama fedorenta, com o estômago doendo, ele se olhou. Tocou os próprios músculos, o abdômen duro como pedra, os bíceps densos. Aquele corpo, sua única posse, seu orgulho. Podia ser sua única moeda.

Foi assim que ele encontrou o "Valhalla". O nome era uma piada de mau gosto. Não havia nada de glorioso naquele porão úmido na Bela Vista. Para entrar, era preciso passar por uma porta de aço sem identificação e descer uma escada escura que fedia a álcool derramado e cigarro. O lugar era um breu cortado por luzes de neon azul e vermelho que faziam a pele de todos parecer doentia. O ar era denso, uma mistura sufocante de suor, perfume caro, bebida barata e uma tensão sexual quase palpável, rançosa.

O público era um desfile de clichês: homens mais velhos, a maioria com alianças brilhando nos dedos, os olhos famintos, buscando nos corpos jovens e duros no palco a virilidade que o tempo e a vida suburbana lhes roubaram. Buscavam uma aventura suja para depois voltarem para suas esposas e seus jardins aparados.

Jeferson aprendeu rápido. O primeiro dia foi um borrão de vergonha e adrenalina. Ele só precisava dançar, tirar a roupa lentamente, deixar que os olhares o devorassem. Não olhe nos olhos de ninguém. Finja que não está aqui. Pense no cheiro de terra molhada. O dinheiro era bom. Bom o suficiente para pagar a pensão, para comer duas vezes ao dia, para comprar roupas novas que acentuavam ainda mais o que ele estava vendendo.

Mas havia uma violência silenciosa no ar. A violência do dinheiro, do poder. A certeza daqueles homens de que podiam comprar qualquer coisa, qualquer um. As notas de cinquenta e cem reais enfiadas na barra da sua sunga eram como contratos não assinados. Eles pagavam pelo show, mas achavam que estavam comprando um pedaço da sua alma.

O incidente aconteceu em sua terceira semana. Ele estava no pequeno palco circular no centro do clube. A música eletrônica batia em seu peito como um punho. As luzes estroboscópicas o cegavam. Ele se movia no automático, as mãos percorrendo o próprio corpo, um mapa que ele conhecia, mas que agora parecia pertencer a todos. Seus olhos estavam vidrados, focados em um ponto inexistente na parede do fundo.

Um cliente, um homem calvo de uns cinquenta anos com um relógio de ouro e hálito de uísque, estava na beira do palco. Ele já havia enfiado três notas de cem na sunga de Jeferson. Seus olhos pequenos e suínos não piscavam. Enquanto Jeferson se virou de costas, arqueando o corpo para a batida da música, sentiu o toque. Não foi o toque frio do dinheiro, foi o calor de uma mão. Uma mão suada, grossa, que agarrou sua nádega com uma intimidade possessiva e nojenta.

O circuito elétrico de Jeferson entrou em curto.

A música, as luzes, a fumaça, tudo desapareceu. Só restou aquele toque invasor. Aquele insulto. O instinto, o mesmo que o fez socar o playboy em sua cidade, assumiu o controle. Ele se virou de supetão, o rosto uma máscara de fúria.

"Tira a mão", ele rosnou, a voz baixa e perigosa, quase inaudível sob a música.

O homem sorriu, um sorriso bêbado e arrogante. "Eu paguei por isso, gracinha. Agora relaxa." Ele tentou tocar de novo, desta vez na virilha de Jeferson.

Foi o suficiente. Jeferson não pensou. Ele empurrou. Não foi um soco, foi um empurrão com a palma da mão aberta no peito do homem. Mas a força de Jeferson era a força de quem erguia sacos de cimento, não de quem digitava em um teclado. O homem voou para trás, caindo sobre uma mesa de vidro, que se estilhaçou com um barulho ensurdecedor.

O caos foi instantâneo. A música parou. Gritos. O homem no chão, gemendo, mais pelo orgulho ferido do que pela dor. Amigos dele se levantaram, xingando. Os seguranças do Valhalla, dois armários de músculos anabolizados, convergiram para Jeferson.

Ele não recuou. Ficou ali, no centro do palco, o peito subindo e descendo, o suor brilhando em sua pele de bronze sob as luzes de emergência que agora banhavam o lugar em um branco fantasmagórico. Ele estava encurralado, um animal selvagem exposto em uma jaula quebrada.

Foi quando a polícia chegou. Dois uniformizados, abrindo caminho pela multidão com a autoridade que só a farda confere. O primeiro era mais velho, barrigudo, com cara de tédio. O segundo... o segundo era diferente.

Seu nome era Cleber. Ele entrou no clube e seus olhos varreram a cena com uma calma profissional. Ignorou o homem rico no chão, os seguranças, os curiosos. Seus olhos pousaram em Jeferson. E pararam.

Não era o olhar avaliador dos clientes. Não era o olhar de desprezo que ele recebia nas ruas. Era algo mais. Mais intenso, mais focado. Um olhar que o desnudava de uma forma completamente diferente. Era um olhar de predador, sim, mas um predador inteligente, paciente. Um olhar que via o garoto do interior assustado por baixo do homem furioso. Um olhar que via a beleza bruta no meio da sordidez. Um olhar que reconhecia, que cobiçava, que prometia.

Jeferson sustentou o olhar, a adrenalina ainda bombeando em suas veias. O policial, Cleber, se aproximou lentamente, sua presença silenciando o murmúrio ao redor. Ele não disse uma palavra a Jeferson. Apenas circulou a cena, deu ordens curtas ao seu parceiro, dispersou os curiosos.

Quando a situação parecia controlada e os seguranças estavam prestes a arrastar Jeferson para o escritório do gerente, Cleber passou por ele. Foi rápido, quase imperceptível. Um esbarrão deliberado. Jeferson sentiu algo ser pressionado em sua mão fechada em punho. Um pequeno pedaço de papel dobrado.

Cleber não olhou para trás. Continuou andando em direção à saída, sua silhueta alta e imponente recortada contra a luz da rua. Ele desapareceu na noite sem dizer uma única palavra, deixando Jeferson ali, no meio da confusão, com o coração martelando contra as costelas e um número de telefone queimando em sua palma suada. A noite que começara com um toque violento terminara com uma promessa silenciosa, e Jeferson não sabia qual das duas coisas o assustava mais.

O papel amassado na mão de Jeferson parecia um segredo sujo. De volta à pensão, o cheiro de mofo e solidão era mais forte do que nunca, um contraste brutal com a adrenalina que ainda corria em seu sangue. Ele se jogou na cama, o colchão afundando com um gemido cansado. O quarto era uma jaula, e ele, o animal capturado. Aquele número de telefone era a chave. Mas abriria a porta para a liberdade ou para uma armadilha ainda mais perigosa?

Ele alisou o papel. A caligrafia era firme, masculina. Apenas números, sem nome. Uma ordem silenciosa. Por duas horas, Jeferson travou uma guerra consigo mesmo. O orgulho do interior, ferido e desconfiado, gritava para que ele jogasse aquilo fora. Era um policial. Um homem que representava tudo o que ele aprendera a temer: a autoridade arbitrária, o poder que esmaga.

Mas a curiosidade, essa serpente traiçoeira, se enrolava em seu estômago. E havia algo mais: o desejo. O olhar daquele homem não o humilhou como os outros. O olhar de Cleber o despiu, sim, mas com uma precisão cirúrgica, uma cobiça que parecia enxergar além da carne, diretamente na sua alma assustada e furiosa. Era um olhar que não o via como um pedaço de carne à venda, mas como um prêmio a ser conquistado, dominado. E essa sensação, por mais doentia que fosse, era inebriante.

Com os dedos trêmulos, ele desbloqueou o celular barato, a tela rachada dificultando a visão. Salvou o número como "Policial" e abriu o WhatsApp. A foto de perfil era neutra, uma paisagem de serra ao amanhecer. Sem rosto, sem identidade. Mais um jogo. Jeferson respirou fundo, sentindo o coração bater na garganta, e digitou a palavra mais covarde e corajosa que conseguiu pensar.

> Jeferson: Oi.

A mensagem foi enviada. Um tique azul. Dois tiques azuis. Lida. O silêncio que se seguiu foi mais alto que a música infernal do Valhalla. Minutos se arrastaram como horas. Jeferson já se amaldiçoava pela milésima vez quando o celular vibrou em sua mão.

> Policial: Quem é?

A secura da resposta foi como um soco no estômago. Frio, impessoal. Uma abordagem. Jeferson sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

> Jeferson: Do clube. Vc me deu seu número.

Outra pausa. Outra tortura.

> Policial: Lembro. O que você quer?

Direto. Cortante. Jeferson podia quase ouvir a voz de comando, sentir o peso da farda através daquelas poucas palavras. Não havia gentileza, apenas a expectativa de uma resposta. Ele estava sendo interrogado. Uma parte dele queria recuar, pedir desculpas pelo incômodo. Mas a outra parte, a que estava faminta por algo que nem sabia nomear, sentiu uma faísca de excitação.

> Jeferson: Não sei. Agradecer, talvez. Por não ter me levado junto.

> Policial: Eu não faço caridade. Se não te levei, tive um motivo.

O coração de Jeferson acelerou. Isso. Era isso. O jogo. Ele decidiu entrar.

> Jeferson: E qual foi o motivo?

A resposta demorou um pouco mais, como se o homem do outro lado estivesse saboreando o momento.

> Policial: Gostei do que vi. Simples assim. Um animal selvagem enjaulado. Gosto de animais selvagens.

A imagem era crua, degradante, mas acertou Jeferson como um afrodisíaco. Ele não era mais uma pessoa, era um tipo. Um fetiche. E em vez de se sentir ofendido, ele se sentiu... visto.

> Jeferson: E o que vc faz com eles?

> Policial: Eu domo.

A palavra ficou flutuando na tela. Domo. Jeferson sentiu o pau começar a enrijecer dentro da calça de moletom barata. Ele estava duro por causa de uma conversa, por causa de um homem que ele mal vira, um homem que poderia arruinar sua vida.

A conversa, a partir daí, mudou de tom. A secura de Cleber deu lugar a uma curiosidade investigativa, enquanto Jeferson, sentindo-se mais ousado, começou a se soltar.

> Policial: Seu nome.

> Jeferson: Jeferson. E o seu?

> Policial: Cleber. Manda uma foto sua. Agora.

Não era um pedido. Era uma ordem. Jeferson hesitou por um segundo. Depois, obedeceu. Levantou-se, foi até o espelho trincado do banheiro e tirou uma foto do torso nu. O peito largo, o abdômen definido, a pele bronzeada sob a luz amarelada e fraca. A cicatriz no antebraço visível. Ele enviou.

A resposta de Cleber foi uma foto também. Não dele, mas de uma farda da Polícia Militar de São Paulo, perfeitamente dobrada sobre uma cadeira. A boina ao lado, o cinto com o coldre vazio. A imagem era limpa, organizada, mas gritava poder.

> Cleber: Gosta do que vê?

> Jeferson: Gosto.

> Cleber: Gosta de homem de farda?

> Jeferson: Não sei. Nunca pensei nisso.

> Cleber: Pense agora. Imagine essa farda em mim. Imagine eu chegando na sua porta. Batendo forte. Vc abre. Eu entro. Não peço licença. O que vc faz?

Jeferson lia e sentia o corpo queimar. Ele podia visualizar. Podia sentir o cheiro do tecido engomado, o brilho das botas.

> Jeferson: Eu obedeço.

> Cleber: Bom garoto. Gosto de obediência. Gosto de ver um corpo como o seu suando, tremendo, só de ouvir a palavra abordagem. Eu te encosto na parede. Mãos na cabeça. Abro suas pernas com o joelho. É isso que vc quer, Jeferson? Quer ser abordado?

A confissão do fetiche era explícita, brutal. E Jeferson, que passara a vida fugindo daquele tipo de autoridade, descobriu uma parte de si que ansiava por ela. Uma parte que queria se entregar, ser dominada, ser despida de toda a responsabilidade.

> Jeferson: Sim. Eu quero.

O celular vibrou. Outra foto. Desta vez, era de Cleber. Ou parte dele. A foto era tirada de cima. Ele estava sentado, vestindo apenas a calça da farda, aberta. O pênis, enorme, grosso e coberto de veias saltadas, repousava pesado sobre a coxa. Era uma arma, uma promessa de violência e prazer. A aliança de ouro em sua mão esquerda, visível no canto da foto, tornava tudo ainda mais proibido. Jeferson engoliu em seco, a boca seca. Ele respondeu com uma foto sua, a mão apertando o volume duro em seu moletom.

> Cleber: Gosto. Mas não é o suficiente.

Antes que Jeferson pudesse perguntar o que ele queria dizer, outra mensagem chegou.

> Cleber: Tem um amigo meu aqui. De confiança. Ele viu suas fotos. Gostou também. Posso colocar ele no papo?

Jeferson sentiu um nó no estômago. Medo e excitação. Dois? Era demais. Era perigoso. Era exatamente o que ele queria.

> Jeferson: Pode.

Igor foi adicionado ao grupo.

A foto de perfil de Igor era um capacete de bombeiro contra um fundo de chamas.

> Igor: E aí, Cinderela? Ouvi dizer que você gosta de um uniforme. Perdeu o sapatinho de cristal no baile?

O tom era completamente diferente. Debochado, provocador, cheio de uma energia caótica que contrastava com a autoridade fria de Cleber.

> Cleber: Igor. Comporte-se.

> Igor: Relaxa, chefe. Só estou aquecendo o novato. E aí, Jeferson? Soube que vc é do tipo selvagem. Gosto disso. Gosto de bicho bravo. Diz aí, qual farda te deixa mais duro? A minha que apaga o fogo ou a dele que te bota fogo?

> Jeferson: As duas.

A resposta saiu antes que ele pudesse pensar. Igor enviou uma foto. Era o mesmo ângulo da foto de Cleber. Ele sentado, vestindo a calça grossa de bombeiro, o zíper aberto. O pau era tão impressionante quanto o de Cleber, talvez um pouco mais comprido, igualmente grosso. E, claro, a aliança no dedo.

> Igor: Escolhe um, porra. Ou quer os dois? Quer ver a gente chegando junto pra atender sua "ocorrência"? Um pela porta da frente, outro pela dos fundos?

A conversa a três se tornou um incêndio. Era pesada, suja, explícita. Cleber era o comandante, ditando os cenários. Igor era o provocador, adicionando detalhes perversos, empurrando Jeferson para o limite.

> Cleber: Eu te algemo na cama. De bruços. Igor entra depois. Ele te chupa enquanto eu como essa sua bunda. Você vai gritar meu nome. Vai implorar.

> Igor: E eu vou filmar sua cara enquanto ele te arromba. Vou lamber seu suor, sentir seu cheiro. Depois a gente troca. Quero sentir esse seu pau grosso na minha garganta enquanto o Cleber te segura pelos braços.

Jeferson já não estava mais em seu quarto. Estava no meio da fantasia deles, o corpo em chamas, o pau latejando dolorosamente em sua mão. Ele enviava fotos explícitas agora, o pau duro e vermelho, o corpo suado, a bunda empinada na cama. Cada foto era recebida com mais ordens, mais provocações.

Depois de quase uma hora de um bombardeio de pornografia textual e visual, a proposta inevitável surgiu.

> Cleber: Chega de papo. Quero isso de verdade.

> Igor: Já tava na hora. Tô com o pau doendo aqui. Quando e onde, Jeferson? Diz que sim e a gente faz essa sua pensão imunda parecer o paraíso. Ou o inferno. Depende do seu ponto de vista.

O mundo real voltou a existir. O medo retornou. Encontrá-los. De verdade.

> Jeferson: Eu topo.

> Cleber: Ótimo. Mas vai ser do nosso jeito. No nosso lugar. E com as nossas regras. Se você quebrar uma regra sequer, a brincadeira acaba. E não vai acabar bem pra você. Entendido?

A ameaça velada era a cereja do bolo. O selo final no contrato de submissão que ele estava assinando.

> Jeferson: Entendido.

> Cleber: Perfeito. Sábado. 22h. Vou te mandar o endereço de um apartamento. Esteja lá. Sozinho. Porta destrancada. E esteja pronto para obedecer.

A mensagem final foi um endereço na Vila Mariana, um bairro que Jeferson só conhecia de nome. O gancho estava lançado. A isca, engolida. Ele tinha dois dias para se preparar para o encontro que definiria sua nova vida em São Paulo. Dois dias para conviver com o terror e a excitação de saber que, no sábado à noite, ele pertenceria a dois homens fardados, casados e insaciáveis.

Sábado, 21h58. O ar de São Paulo estava pesado e úmido, prometendo uma chuva que nunca chegava. Jeferson sentia cada gota de suor se formando em sua nuca, escorrendo por suas costas enquanto ele encarava o prédio. Vila Mariana. As ruas eram mais limpas aqui, as árvores mais verdes, os prédios mais imponentes. Era outro mundo, a anos-luz de distância da sua pensão na Luz. Ele se sentia um impostor, um pedaço de carne contrabandeado para um banquete de luxo.

O endereço o levou a um edifício moderno, com uma fachada de vidro e seguranças na entrada. A ordem de Cleber tinha sido clara: "Diga na portaria que vai ao apartamento 142, para uma reunião com o Sr. Souza". Sr. Souza. A formalidade era parte do jogo, uma máscara de respeitabilidade para o que estava prestes a acontecer. Jeferson obedeceu, a voz saindo mais trêmula do que gostaria. O porteiro mal o olhou, liberando a catraca com um clique indiferente.

O elevador era silencioso, um caixote de aço escovado que subia rápido demais. A cada andar, a pressão em seu peito aumentava. Medo. Excitação. Vergonha. Desejo. Era um coquetel tóxico e viciante. Ele parou em frente à porta 142. Madeira escura, maçaneta de prata. Simples, elegante. E, como ordenado, destrancada. Ele respirou fundo, o cheiro de seus pulmões misturado ao cheiro de cera de carnaúba do corredor polido, e girou a maçaneta.

O apartamento era exatamente como ele não imaginava. Não era um ninho de devassidão, mas um espaço frio, quase clínico. Minimalista. Um enorme sofá de couro preto dominava a sala, de frente para uma parede de vidro que oferecia uma vista deslumbrante das luzes da cidade. Chão de cimento queimado. Nenhuma foto de família, nenhum bibelô, nenhum sinal de que alguém realmente vivia ali. Era um palco. E os atores já estavam em seus postos.

Cleber estava sentado no centro do sofá, como um rei em seu trono. Ele vestia a farda completa da Polícia Militar. A calça de um azul profundo, vincada com perfeição. A gandola de mangas compridas, os botões polidos brilhando sob a luz indireta que vinha do teto. As botas pretas, reluzentes. Ele não sorriu. Apenas observou Jeferson entrar, o olhar pesado, avaliador.

Igor estava em pé, perto de um pequeno bar no canto. Ele usava a calça grossa e escura do uniforme do Corpo de Bombeiros e uma camiseta azul-marinho justa, com o emblema da corporação estampado no peito, que mal continha a massa de seus ombros e bíceps. Ele segurava um copo de uísque e tinha um sorriso debochado nos lábios.

"Pontual", a voz de Igor cortou o silêncio. "Gosto disso. A ovelhinha chegou na hora certa para o abate."

Cleber ergueu uma mão, um gesto sutil que calou Igor imediatamente. Sua atenção estava toda em Jeferson, que permanecia paralisado perto da porta.

"Feche a porta", ordenou Cleber. A voz era baixa, mas carregada de uma autoridade inquestionável. Jeferson obedeceu, o clique da fechadura soando como a porta de uma cela se fechando. "Aproxime-se."

Jeferson caminhou lentamente, sentindo-se desajeitado, exposto. O ar condicionado estava ligado, mas ele sentia calor. Uma música eletrônica, ambiente e com uma batida grave e lenta, pulsava baixo nos alto-falantes embutidos.

"Sente-se", Cleber indicou o espaço no sofá ao seu lado. Não era um convite, era uma convocação.

Jeferson sentou-se na beirada do couro frio, mantendo uma distância que foi instantaneamente ignorada por Cleber, que se moveu um pouco, seu joelho coberto pelo tecido grosso da farda roçando a coxa de Jeferson. O toque foi elétrico.

Igor se aproximou, entregando a Jeferson um copo com dois dedos de um líquido âmbar. "Beba. Pra relaxar os músculos. Vamos precisar deles bem... maleáveis." Ele piscou, o deboche pingando de cada palavra.

Jeferson tomou um gole. O uísque desceu queimando, mas ajudou a firmar seus nervos. O silêncio voltou a se instalar, preenchido apenas pela música e pela tensão. Era um silêncio de caça.

"Então...", começou Igor, circulando o sofá como um tubarão. "O garotão do interior. Forte. Bonito. Cheio de raiva guardada. Você acha que a gente não vê, não é?" Ele parou atrás de Jeferson. "A gente vê tudo. Vê o jeito que você olhou pro chão quando entrou. A vergonha. Vê o jeito que sua respiração ficou mais rápida quando o joelho do Cleber tocou sua perna. O desejo."

Jeferson ficou tenso, sem saber para onde olhar. Cleber permanecia imóvel, um predador paciente.

"Você não está aqui porque é um coitadinho que precisa de dinheiro, Jeferson", continuou Igor, a voz agora um sussurro perto de sua orelha. "Você está aqui porque gosta disso. Gosta do perigo. Gosta da ideia de ser usado por homens que podem te quebrar. Você passou a vida inteira sendo o forte, o macho alfa da sua cidadezinha. Mas no fundo, tudo o que você queria era que alguém mais forte chegasse e te colocasse no seu devido lugar. De quatro."

O rosto de Jeferson queimou. As palavras eram cruas, humilhantes. E terrivelmente verdadeiras.

"Ele está te assustando?", perguntou Cleber, a voz calma, quase paternal, o que era ainda mais perturbador. Sua mão pousou no ombro de Jeferson, os dedos apertando com uma força controlada.

"Não", Jeferson conseguiu dizer.

"Não minta pra mim", disse Cleber, a voz endurecendo. "Eu odeio mentiras. Responda de novo."

"Estou... um pouco", admitiu Jeferson.

Igor riu, um som baixo e gutural. "Ele está excitado, isso sim. Olha o volume na calça dele."

A mão de Cleber desceu do ombro de Jeferson, os dedos roçando seu peito, seu abdômen, parando perigosamente perto da virilha. "Ele está. Mas a questão não é essa. A questão é se ele entende o que vai acontecer aqui. Você entende, Jeferson?"

"Acho que sim", sussurrou.

"Acha?", Igor zombou. "Deixa eu desenhar pra você, seu caipira gostoso. Hoje, amanhã, quando a gente decidir, nós vamos te foder. Simples assim. Nós vamos te chupar e te comer em todos os buracos e de todos os jeitos que a gente imaginar. Nesse sofá, no chão, naquela janela com a cidade inteira olhando. Você vai ser a nossa puta particular. E você vai gemer e implorar por mais. Entendeu agora ou preciso ser mais explícito?"

Cleber não repreendeu Igor. Ele apenas observava o rosto de Jeferson, estudando cada reação, cada contração muscular. A mão dele subiu para o pescoço de Jeferson, o polegar acariciando sua jugular, sentindo a pulsação frenética.

"Ele entendeu", decretou Cleber.

O que se seguiu foi uma tortura lenta e deliberada. Eles não o agarraram, não o beijaram, não tiraram suas roupas. Eles o cercaram. Testaram seus limites. Igor sentou-se do outro lado, prensando-o contra Cleber. O calor de dois corpos grandes e musculosos o envolveu. A mão de Igor pousou em sua coxa, apertando, subindo lentamente. Os dedos de Cleber brincavam com seu cabelo, puxando de leve, forçando-o a expor o pescoço.

Eles falavam sobre ele como se não estivesse ali.

"Olha o tamanho desses braços. Imagino eles presos acima da cabeça", disse Cleber.

"E essa boca... deve fazer um estrago. Quero ela cheia, engasgando", respondeu Igor, seus dedos roçando o joelho de Jeferson.

Eles o fizeram beber mais uísque. Fizeram perguntas íntimas, sobre suas primeiras experiências, sobre suas fantasias mais secretas, forçando-o a confessar desejos que ele mal admitia para si mesmo. Cada confissão parecia deixá-los mais duros, mais famintos. Jeferson podia sentir a ereção de Cleber pressionando sua anca através do tecido grosso da farda.

A tensão no apartamento era uma coisa física, densa e sufocante. O pau de Jeferson doía dentro da calça, implorando por um alívio que não vinha. Ele era um instrumento sendo afinado, as cordas esticadas ao ponto de ruptura. Quando ele pensou que não aguentaria mais, que iria explodir ou implorar para que eles o tomassem ali mesmo, Cleber se levantou.

O movimento foi tão abrupto que Jeferson se assustou. O feitiço foi quebrado.

Cleber o olhou de cima, o rosto uma máscara de controle impassível, mas os olhos queimando com uma luxúria fria.

"Chega por hoje."

A frase caiu como uma pedra no silêncio. Jeferson olhou para ele, confuso. Igor sorriu, um sorriso cruel e satisfeito.

"O quê?", gaguejou Jeferson.

"Eu disse que chega. Por hoje", repetiu Cleber. "Levante-se. Vá embora."

Era o golpe mais cruel de todos. Trazê-lo ao ápice da excitação e do medo, apenas para mandá-lo de volta para o frio. Era a demonstração de poder definitiva.

Jeferson se levantou, as pernas trêmulas. Sentia-se humilhado, frustrado e, de alguma forma, mais submisso do que nunca.

"Volte aqui amanhã. Mesma hora", ordenou Cleber, ajeitando a farda que nem sequer havia sido desarrumada. "E venha disposto a obedecer a tudo. Sem hesitação. Sem perguntas. Se você não aparecer, ou se eu sentir qualquer dúvida em você, esqueça meu número. E reze para não cruzar meu caminho na rua. Fui claro?"

"Sim", respondeu Jeferson, a voz um fio.

"Sim, o quê?", Cleber insistiu.

Jeferson engoliu o orgulho que ainda lhe restava. "Sim, senhor."

O canto dos lábios de Cleber se curvou minimamente, uma vitória quase imperceptível. "Agora saia."

Jeferson caminhou até a porta, sentindo os olhos dos dois homens queimando em suas costas. Ele saiu para o corredor silencioso e fechou a porta, deixando para trás a música pulsante, o cheiro de uísque e a promessa de uma devassidão que fora cruelmente adiada. Ele voltaria. Não havia mais nenhuma dúvida sobre isso.

No domingo, o ar de São Paulo parecia diferente. Ou talvez fosse Jeferson quem estava diferente. O caminho até o apartamento na Vila Mariana não foi marcado pelo medo, mas por uma ansiedade febril, uma antecipação que fazia seu sangue correr mais rápido e seu pau pulsar lentamente dentro da calça jeans. Ele não estava indo para um teste; estava indo para uma sentença. E ele a desejava com cada fibra de seu ser.

A porta, como antes, estava destrancada. Ao entrar, o silêncio era o mesmo, mas a energia havia mudado. A tensão nervosa do dia anterior fora substituída por uma eletricidade crua, uma promessa de violência contida. A música ambiente ainda tocava, uma batida eletrônica grave e hipnótica, mas soava como a trilha sonora de uma caçada prestes a terminar.

Eles o esperavam. Cleber e Igor. Desta vez, estavam mais despidos, mais prontos. Ambos usavam apenas as calças de suas respectivas fardas e botas, os torsos largos e musculosos expostos sob a luz suave. O peito de Cleber era denso, coberto por uma camada de pelos escuros que afunilavam em direção ao cós da calça. Igor era mais definido, os músculos do abdômen e os peitorais pareciam esculpidos em granito, a pele lisa e bronzeada. Eram a personificação do poder bruto.

Ninguém disse olá. Os olhos de Cleber o prenderam no lugar.

“Ajoelhe-se”, a voz de Cleber não foi alta, mas ecoou no silêncio do apartamento como um trovão.

Jeferson não hesitou. Seus joelhos bateram no cimento queimado frio com um baque surdo. Ele manteve a cabeça erguida, os olhos fixos em Cleber, uma centelha de desafio misturada à sua submissão. Ele não era uma vítima; era um participante. E ele queria que eles soubessem disso.

Igor sorriu, um sorriso de predador. “Olha só. O cachorrinho aprendeu a obedecer.” Ele se aproximou, circulando Jeferson lentamente. “Mas será que ele sabe ficar quieto durante a revista?”

Cleber se levantou do sofá e parou na frente de Jeferson. Ele tirou um par de algemas de metal do bolso de trás da calça. O som das catracas girando no silêncio foi obscenamente alto.

“Mãos para trás”, ordenou Cleber.

Jeferson obedeceu, sentindo o metal frio e pesado fechar-se em torno de seus pulsos. O clique final foi o som de sua rendição. Estava feito. Ele pertencia a eles.

“Revista ele, Igor”, disse Cleber, assumindo o papel de comandante. “Quero uma revista completa. Não deixe passar nada.”

Igor se agachou atrás de Jeferson. Suas mãos, grandes e ásperas, começaram a apalpar suas pernas, subindo lentamente pelas coxas, apertando a bunda com força. “Hmm, material suspeito aqui”, ele rosnou, a voz um sussurro rouco. Os dedos de Igor deslizaram pela fenda de suas nádegas, pressionando contra o tecido do jeans.

Na frente, Cleber se agachou também, o rosto a centímetros do de Jeferson. O cheiro dele era uma mistura de sabonete caro, suor e pura masculinidade. “Você está gostando disso, não está, seu puto? Sentindo o perigo, a humilhação.” Seus dedos agarraram o queixo de Jeferson. “Abra a boca.”

Jeferson obedeceu, e a língua de Cleber invadiu sua boca. Não foi um beijo, foi uma invasão. Dominante, profunda, com gosto de uísque e poder. Enquanto Cleber o beijava, as mãos de Igor continuavam a revista, desabotoando seu jeans, enfiando os dedos por dentro, roçando a pele quente de sua virilha, encontrando seu pau já duro e latejante.

Eles o levantaram e o empurraram contra a parede de vidro, o rosto pressionado contra a vista noturna de São Paulo. A cidade se tornou uma testemunha silenciosa. Suas roupas foram arrancadas, peça por peça, até ele ficar completamente nu, algemado, exposto.

“Bom garoto”, disse Cleber, a voz um rosnado de aprovação em seu ouvido. “Agora começa a sua verdadeira abordagem.” ...

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Comentários

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Regard, concordo com Tito quando diz que teu texto é espetacular. Eu ainda diria que, apesar do enredo já nos ser conhecido, há algo na tua narrativa que não encontramos muito nos textos por cá: um borogodó, um não sei quê que nos invade pelos olhos e vão direto para a virilha de cada leitor. Conte-nos mais dessa história estonteante.

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Introdução espetacular! Texto maravilhosamente bem escrito. Sou da Bela Vista, o ambiente me é muito familiar. Por um tempo escrevi sobre a noite paulistana e conheci alguns Jeferson da noite. Esse em particular me lembrou uma figura que eu conheci recém chegado do interior e hoje é um ator pornô bem conhecido. Muito Bom! Parabéns pela escrita!⭐⭐⭐⭐⭐⭐⭐⭐

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