Meu em sigilo

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 3720 palavras
Data: 04/07/2025 22:43:02

A vida de Lucas cheirava a graxa e a metal polido. Aos 26 anos, seus dias eram uma rotina oleosa e previsível, um ciclo de abrir a porta de aço da "Moto Peças Irmãos Silva" às oito da manhã e fechá-la às seis da tarde, de segunda a sábado.

As mãos, antes macias, agora carregavam calos permanentes e uma sujeira escura que nunca saía por completo debaixo das unhas, não importava o quanto ele esfregasse com sabão de mecânico.

Ele gostava dessa simplicidade. Havia uma honestidade no seu cansaço ao fim do dia, um peso real nos músculos das costas depois de descarregar caixas de escapamentos ou organizar prateleiras de pistões e bielas. Lucas era um fantasma em sua própria quebrada. Morava ali desde que nascera, e conhecia o mapa do perigo de cor. Sabia qual esquina era ponto de olheiro, qual viela servia de rota de fuga para os vapores, e o som exato de uma moto que não trazia entrega de pizza, mas a chegada de mercadoria.

Ele via tudo, ouvia tudo, e não se envolvia com nada. Era o "branquinho da loja de peça", um rosto neutro no meio do caos. Um cara tranquilo. Era o que diziam dele, e era o que ele se esforçava para ser. Sua existência era uma ilha de normalidade cercada por um mar de testosterona, pólvora e dinheiro sujo. Ele se mantinha na sua margem, seguro, alheio.

Até o dia em que o mar decidiu invadir a praia.

Aconteceu numa sexta-feira. O ar de julho era seco e frio, cortando a pele assim que o sol se punha. O expediente tinha sido um inferno — um cliente idiota que jurava que a peça vendida estava errada, o patrão de mau humor, um corte fundo no dedo indicador. Lucas só queria uma cerveja. Uma não, duas. O suficiente para anestesiar a mente e relaxar os ombros tensos antes de encarar o jantar requentado e a solidão silenciosa de sua casa.

O Bar do Zé era sua descompressão. Um boteco pé-sujo, com chão de cimento queimado manchado e um balcão de inox que já vira dias melhores. Ele sentou-se no seu lugar de sempre: o último banco, no canto mais escuro, de frente para a porta, mas de costas para o movimento. Um hábito de quem não quer ser notado.

"Duas Skol, Zé. Bem gelada", pediu, a voz um pouco rouca pelo desuso.

A primeira garrafa desceu rasgando, gelada e amarga, limpando a poeira do dia. Lucas sentia os nós de suas costas começarem a se soltar. O bar estava no seu ritmo habitual: a TV ligada num jogo de futebol qualquer, um grupo de pedreiros rindo alto numa mesa, o tilintar de copos. Era um ruído branco que o acalmava. Ele estava no meio da segunda garrafa quando a atmosfera mudou.

Não foi um barulho. Foi o contrário. Uma súbita contenção no ar, um micro ajuste na postura de todos os presentes. As risadas dos pedreiros baixaram de volume. O próprio Zé, atrás do balcão, pareceu ficar mais reto. Lucas, por instinto, ergueu os olhos para o espelho sujo que corria a parede atrás das prateleiras de bebida.

Foi quando o viu.

Tiago.

Na quebrada, ninguém dizia o sobrenome dele. Era só Tiago. Ou, para os mais próximos e para os que tremiam, "Bala". Tiago Bala. O nome era uma sentença. Ele entrou no bar não como um cliente, mas como um inspetor de suas próprias terras. Não estava acompanhado de sua tropa de soldados do tráfico, estava sozinho, o que era ainda mais intimidador.

Sozinho, ele era o perigo concentrado.

Tinha 1,87m de músculos densos e definidos, esculpidos não em academia, mas na brutalidade da rua. A pele morena, queimada de sol, contrastava com a regata preta e justa que exibia os braços grossos, fechados de tatuagens que subiam pelo pescoço e se perdiam na nuca. O rosto era uma escultura de ângulos duros, mandíbula travada, mas o que prendia a atenção era a boca. Um sorriso mínimo, quase um deboche permanente, estava plantado ali. E os olhos. Olhos de predador. Escuros, alertas, que não apenas viam, mas avaliavam, mediam, possuíam.

Lucas sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Não era medo. Era algo diferente, mais primitivo. Ele baixou os olhos para sua garrafa de cerveja imediatamente, o coração martelando contra as costelas como um pistão desregulado.

Tarde demais. Pelo reflexo do espelho, ele viu. Os olhos de Tiago pararam de varrer o ambiente e cravaram nele.

Não foi um olhar casual. Durou um, dois, três segundos. Uma eternidade. Tiago inclinou levemente a cabeça, como um lobo que encontra uma presa inesperada em seu caminho. O sorriso debochado se acentuou minimamente nos cantos da boca. Lucas não precisava ver o rosto dele para saber. Ele sentia. Sentia-se dissecado, avaliado. O "branquinho da loja de peça". O cara invisível. De repente, ele era a única coisa visível no bar inteiro.

O ar ficou rarefeito em seus pulmões. Ele pegou a garrafa, as mãos um pouco trêmulas, e bebeu o resto da cerveja num gole só, o líquido quente e sem gosto. Deixou o dinheiro no balcão, um pouco a mais do que a conta, e levantou-se sem olhar para trás, sentindo o peso daquele olhar queimando sua nuca a cada passo até a porta.

Nos dias que se seguiram, Lucas tentou apagar a cena da memória. Foi só um olhar. Um cara como Tiago Bala não perderia tempo com ele. Era paranoia de sua cabeça, o cansaço falando mais alto. Ele mergulhou de volta na sua rotina, na graxa, nos parafusos, na sua ilha de segurança. Mas a ilha agora tinha uma fissura.

No sábado seguinte, seus amigos o arrastaram para um baile funk na quadra da escola abandonada. Lucas odiava bailes. A música alta que vibrava no peito, o cheiro de suor e maconha, a multidão se esfregando. Ele foi pela insistência, prometendo a si mesmo que ficaria só por uma hora.

Encostado numa parede, longe do epicentro da dança, ele observava o movimento, um copo de plástico com bebida barata na mão. Sentiu de novo. A mesma sensação daquela noite no bar. Uma pressão no ar, a certeza de estar sendo vigiado. Seu corpo inteiro se arrepiou antes mesmo que seus olhos confirmassem.

Ele varreu a multidão, o coração já acelerado. E o encontrou.

Do outro lado da quadra, perto dos caixotes que serviam de mesa para os organizadores, estava Tiago. Rodeado por uns três ou quatro de seus "meninos", mas ele não parecia parte da conversa. Estava encostado na parede, braços cruzados sobre o peito poderoso, uma garrafa de uísque na mão. E olhava diretamente para Lucas.

Sem disfarce. Sem hesitação. Era uma observação fria, calculada, quase proprietária. O barulho do funk, as luzes estroboscópicas, as pessoas dançando... tudo pareceu desaparecer. Só existia aquele corredor invisível entre eles, uma linha de tensão pura que vibrava no ar pesado do baile.

Lucas sentiu o rosto esquentar. Sentiu-se exposto, nu no meio da multidão. Queria se esconder, sair correndo, mas seus pés pareciam pregados no chão. Ele desviou o olhar, tentando se concentrar no seu copo, no amigo que falava algo ao seu lado, mas era inútil. Ele sentia a queimadura daquele olhar na sua pele.

Aquele foi o começo do jogo. Um jogo que Lucas não pediu para jogar.

Na semana seguinte, ele estava fechando a loja, o céu já escuro, quando uma XRE 300 preta, sem placa, parou do outro lado da rua. O piloto não tirou o capacete, mas Lucas não precisava ver o rosto. Ele reconheceu a postura, o jeito como os ombros largos preenchiam a jaqueta. O piloto ficou ali, motor ligado, por uns dois minutos, enquanto Lucas, de mãos trêmulas, passava o cadeado na porta de aço. Depois, a moto acelerou e sumiu na escuridão, deixando para trás apenas o cheiro de fumaça e o coração descompassado de Lucas.

Ele começou a ver Tiago em todo lugar. Ou a sentir sua presença. Numa tarde, passando pela praça, viu o grupo dele reunido. Tiago estava de costas, mas no exato momento em que Lucas passou, ele se virou, como se um alarme interno tivesse soado. Seus olhos se encontraram por cima dos ombros de um de seus soldados. O mesmo olhar. Intenso. Predatório.

Lucas começou a sentir um misto doentio de pavor e... expectativa. Uma parte dele, a parte sã, gritava para que ele mudasse de rota, evitasse o bar, recusasse os convites para sair. Mas outra parte, uma parte sombria e recém-descoberta, sentia um zumbido elétrico a cada quase-encontro. Ele se pegava pensando no formato daquela boca debochada, no peso dos braços tatuados, na intensidade que emanava daquele homem.

Aquele olhar não era só uma ameaça. Era uma promessa suja. E Lucas, o cara tranquilo, o fantasma da quebrada, pela primeira vez na vida, sentia um desejo aterrorizante de descobrir qual era. Ele estava sendo caçado. E a parte mais assustadora era que, em algum lugar fundo de sua alma, ele estava começando a gostar da perseguição.

A invisibilidade era um luxo que Lucas não possuía mais. Nas semanas que se seguiram ao baile, sua vida se transformou num campo minado de possibilidades. Cada esquina dobrada, cada farol de moto que se aproximava, cada grupo de homens rindo alto na rua enviava uma corrente de eletricidade por seu corpo. Ele se tornara hiperconsciente, um animal que sabe que está sendo observado pela selva. A rotina de graxa e metal, antes um refúgio, agora era apenas o intervalo entre os momentos de tensão.

O medo era uma constante, um zumbido baixo e permanente em seus ouvidos. Mas, para seu horror, havia algo mais se misturando a ele. Uma excitação doentia, uma antecipação que o deixava de estômago revirado. Ele se odiava por isso.

Odiava a forma como seu pulso acelerava não apenas de pavor, mas de uma expectativa sombria. O jogo de olhares de Tiago Bala o havia reconfigurado, despertando um instinto de presa que ele jamais soube que tinha. Uma presa que, em algum nível perverso, ansiava pelo toque do predador.

O primeiro toque não foi um toque, foi uma vibração no ar. Aconteceu numa terça-feira de manhã, na padaria. O lugar estava quase vazio, cheirando a pão fresco e café. Lucas, sonolento, esperava seu pão na chapa. A sineta da porta soou, e o cheiro familiar de café foi cortado por outra fragrância. Uma colônia fresca, masculina, com uma nota de fundo de tabaco. Lucas não precisou se virar. Seu corpo inteiro se enrijeceu.

Tiago parou ao seu lado no balcão, perto demais. Lucas podia sentir o calor que irradiava de seu corpo. Ele pedia um maço de cigarros, a voz um rosnado baixo e controlado que parecia fazer o vidro do balcão vibrar. Lucas manteve os olhos fixos na chapa, rezando para que seu pão ficasse pronto, para que pudesse fugir.

Quando finalmente pegou o saquinho de papel quente, ele se virou, apressado, e quase deu de cara com o peito de Tiago. Ele havia se posicionado deliberadamente para bloquear sua saída. Lucas congelou, os olhos fixos na costura da regata preta de Tiago.

"E aí, branquinho."

Não foi uma pergunta. Foi uma declaração. A voz, ouvida de tão perto, era mais grave, mais íntima. Lucas ergueu o olhar e encontrou aqueles olhos de predador, agora divertidos, o sorriso debochado brincando em seus lábios. O coração de Lucas deu um salto tão violento que ele temeu que Tiago pudesse ouvi-lo. Ele conseguiu apenas acenar com a cabeça, um movimento curto e espasmódico, antes de desviar e praticamente correr para fora da padaria, deixando para trás o cheiro de Tiago e a dignidade.

O segundo contato foi físico. Uma semana depois, no sábado, a rua principal da quebrada fervilhava de gente. Lucas voltava da loja, abrindo caminho pela multidão. De repente, um impacto em seu ombro o jogou para o lado. Um corpo duro, sólido como uma parede de tijolos.

Ele se virou, já sabendo. Tiago passou por ele, seguido por dois de seus vapores. Ele nem diminuiu o passo. Apenas virou o rosto por cima do ombro, o mesmo sorriso cínico no rosto.

"Foi mal, aí", ele disse, mas o tom não tinha nada de desculpa.

Tinha posse. Tinha a satisfação de quem marca seu território.

Lucas ficou parado no meio da calçada, a mão no ombro atingido. A pele formigava. O toque, embora breve e "acidental", foi um carimbo, uma afirmação de poder. Eu posso te tocar quando eu quiser. Eu posso te mover para onde eu quiser. Por todo o caminho de casa, Lucas sentiu o calor fantasma daquele ombro no seu, uma marca que queimava através da camisa.

A caçada estava escalando, e Lucas se sentia cada vez mais encurralado. E a parte mais aterrorizante era que o caçador parecia saber exatamente o que estava fazendo, dosando o veneno em gotas, condicionando sua presa, tornando o inevitável não apenas esperado, mas desejado.

A noite em que tudo mudou começou como tantas outras.

Sexta-feira, fim de expediente, o corpo moído. A rua de sempre estava um caos, uma multidão saída de um bar bloqueava a passagem, o som de pagode estourando das caixas de som de um carro. Lucas parou na esquina. Havia dois caminhos: dar a volta no quarteirão, um desvio de quinze minutos, ou cortar pela Viela da Sombra.

A viela era um atalho notório e perigoso. Estreita, mal iluminada, com um cheiro permanente de mofo e urina, era o tipo de lugar que sua avó sempre o avisou para evitar. Era território deles. Mas hoje... hoje o cansaço e, talvez, uma imprudência nascida daquela tensão constante, tomaram a decisão por ele. Cinco minutos e estou em casa. A desculpa era fraca, e ele sabia disso. Ele estava entrando na jaula do leão por vontade própria.

Seus passos ecoavam no corredor estreito de concreto. A única luz vinha de uma lâmpada fraca no final da viela, que mais criava sombras do que iluminava. Ele estava na metade do caminho quando uma silhueta se materializou da escuridão à sua frente, bloqueando a saída.

O coração de Lucas parou. E depois disparou numa corrida louca.

Era Tiago.

Ele estava encostado na parede de tijolos, braços cruzados, como se estivesse simplesmente esperando por ele. Como se soubesse que, mais cedo ou mais tarde, Lucas escolheria aquele caminho.

"Tá com pressa, branquinho?", a voz de Tiago cortou o silêncio, um veludo áspero.

Lucas parou a uns três metros dele, o corpo petrificado. As palavras não saíam. Ele apenas olhava para a figura imponente que era a dona daquela escuridão.

Tiago desencostou da parede e deu dois passos lentos, fechando a distância entre eles. Ele parou tão perto que Lucas podia ver as veias saltadas em seus antebraços tatuados, podia sentir o cheiro dele — a mesma colônia fresca da padaria, mas agora misturada com o almíscar de sua própria pele.

A mão de Tiago subiu e pousou no ombro de Lucas. O peso era tremendo. Os dedos eram grossos, fortes, e o apertaram com uma firmeza que beirava a dor. O toque enviou uma onda de choque pelo corpo de Lucas, um curto-circuito de medo e eletricidade.

"Você tá todo duro", Tiago constatou, a voz baixa, quase um segredo entre eles. Seus dedos apertaram um pouco mais, testando a tensão nos músculos de Lucas. "Você tem medo de mim?"

A pergunta pairou no ar denso da viela. Era o ultimato. A verdade que precisava ser dita. Lucas não conseguia falar. Ele apenas engoliu em seco, os olhos presos nos de Tiago. O silêncio era sua resposta. Sim. E não. E eu odeio isso.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Tiago. Ele entendeu. A mão em seu ombro relaxou a pressão, mas não o soltou. Em vez disso, os dedos começaram a se mover, uma massagem lenta e deliberada no músculo tenso do trapézio de Lucas. O gesto era perversamente reconfortante, uma carícia de domador.

"Relaxa...", sussurrou Tiago. Sua outra mão subiu e pousou suavemente na nuca de Lucas, os dedos se embrenhando nos cabelos curtos da base de seu pescoço. O contraste entre a mão que massageava com força e a que acariciava com gentileza estava desfazendo Lucas por dentro.

Então, Tiago se inclinou. O mundo de Lucas encolheu para o calor do hálito dele em sua pele, o roçar do nariz contra a lateral de seu pescoço. E o som. O som de Tiago inalando, longo e profundo, como se estivesse provando seu cheiro.

Lucas estremeceu violentamente, um arrepio percorrendo todo o seu corpo. Era o ato mais íntimo, mais possessivo que ele já experimentara. Tiago estava o cheirando como um animal marca sua propriedade.

"Cheiro de gente limpa", Tiago murmurou contra sua pele, a voz um ronronar satisfeito. "De gente que trabalha."

Ele se afastou minimamente, mas suas mãos permaneceram, prendendo Lucas no lugar. Seus olhos escuros eram duas brasas na penumbra.

"Essa rua não é pra você, branquinho. Tem muita gente ruim por aqui." A ironia era tão espessa que podia ser mastigada. O pior deles estava ali, segurando-o como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.

Tiago soltou seu pescoço, mas a mão em seu ombro permaneceu, guiando-o, virando-o na direção da saída da viela.

"Vamos. Aqui não é rua que você deva passar." Ele começou a andar, forçando Lucas a acompanhá-lo, o corpo colado ao seu lado. "Vou te levar pra sua casa."

Não era um pedido. Era uma ordem. E enquanto caminhavam para fora da escuridão, Lucas sabia que não estava sendo salvo. Estava sendo levado. A caçada havia terminado. E algo muito mais perigoso estava prestes a começar.

Os dias que se seguiram à noite da viela foram um purgatório de silêncio. A caminhada até a porta de sua casa fora uma tortura silenciosa, com o peso da mão de Tiago em seu ombro como uma âncora, prendendo-o à nova realidade.

Tiago não disse mais nada. Apenas o deixou na porta, deu um último olhar que prometia continuação, e se dissolveu na noite.

Lucas agora vivia em estado de alerta máximo. Cada mensagem que chegava em seu celular fazia seu coração dar um salto. Ele se sentia marcado, como um animal que foi capturado, etiquetado e solto de volta na natureza, apenas para que o caçador pudesse encontrá-lo novamente quando quisesse. A rotina na loja de peças era um borrão de graxa e ansiedade. Ele não era mais invisível. Ele era propriedade de alguém, aguardando ser reclamado.

A reclamação veio numa quinta-feira à noite. Lucas estava jogado no sofá, assistindo a qualquer coisa na TV, quando o celular vibrou na mesinha de centro. Um número desconhecido. A mensagem era curta, direta, um comando disfarçado de convite.

branquinho, se prepara. 20 min to chegando ai. quero bater um papo no sigilo.

O ar fugiu dos pulmões de Lucas. O celular pareceu pesar cem quilos em sua mão trêmula. Vinte minutos. Não era tempo suficiente para pensar, para fugir, para fazer nada além de obedecer. E a verdade brutal, a verdade que o envergonhava e o excitava, era que ele não queria fugir. A guerra em sua mente, que durava semanas, terminou ali, com uma rendição incondicional. O medo ainda estava lá, um nó gelado em seu estômago, mas o desejo era uma febre que o consumia.

Ele se levantou, mecânico, e foi para o banheiro. Ligou o chuveiro na água mais quente que podia suportar, como se o vapor pudesse limpar não só sua pele, mas sua hesitação. Ele se ensaboou com um esmero quase febril, usando o sabonete mais cheiroso que tinha, um de lavanda que sua avó lhe dera. Ele lavou o cabelo, esfregou a pele até ficar vermelha, preparando-se não para uma conversa, mas para um sacrifício. Quando saiu do banho, envolto em vapor e no cheiro limpo de lavanda, ele era um homem que havia aceitado seu destino.

Vestiu apenas uma bermuda de moletom cinza e uma camiseta branca simples. Esperou no sofá, o coração martelando um ritmo selvagem contra suas costelas. Exatos vinte minutos depois, o celular vibrou novamente.

Tô na porta.

Lucas respirou fundo e foi abrir. Tiago estava lá, uma figura escura contra a luz fraca do corredor do quintal. Usava uma calça jeans preta e uma jaqueta de couro, e seu rosto estava sério, o sorriso debochado ausente. Ele entrou sem ser convidado, o olhar varrendo o pequeno espaço da casa de Lucas, avaliando, tomando posse. O cheiro dele — colônia fresca, couro e o almíscar de sua própria pele — encheu o ambiente.

"Tranca a porta, branquinho." A voz era baixa, um comando.

Lucas obedeceu, o clique da fechadura soando como o selo final de seu confinamento. Ele se virou e encontrou Tiago parado no meio da sala, observando-o.

"Tava te esperando", disse Lucas, a voz um fio.

"Eu sei", respondeu Tiago. "Eu também tava esperando. Pra caralho."

O silêncio que se seguiu foi denso. Tiago deu um passo à frente, e enquanto falava, começou a se despir. Devagar. Com intenção.

"Desde a primeira vez que te vi naquele bar... quietinho no seu canto... fingindo que não era de ninguém." Ele tirou a jaqueta de couro, revelando uma camiseta preta justa que se esticava sobre seu peito e ombros largos. "Mas eu vi. Vi na hora."

A camiseta foi a próxima, puxada pela cabeça num movimento fluido. O torso de Tiago foi revelado. Um mapa de músculos duros e definidos, a pele morena coberta por tatuagens que se enrolavam em seus braços, subiam pelo peito e se conectavam no pescoço. Eram desenhos tribais, bestas mitológicas e frases que Lucas não conseguia ler, uma armadura de tinta sobre uma armadura de músculos.

"Você tem cheiro de coisa limpa, Lucas." Era a primeira vez que ele usava seu nome. Soava estranho, íntimo demais. "Gosto disso."

Ele se sentou na beirada do sofá e começou a desamarrar os coturnos pesados. Cada movimento era deliberado, sensual. Um strip-tease de poder. Depois dos sapatos, as meias. Então ele se levantou, abriu o zíper da calça jeans e a empurrou para baixo, junto com a cueca boxer preta. E ficou nu.

Lucas prendeu a respiração. Tiago nu era uma força da natureza. As pernas grossas e musculosas, os quadris estreitos, o abdômen esculpido que descia para um emaranhado de pêlos pretos e...

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