Ilha, Sal e Desejo
Marlon era a própria Bahia encarnada num corpo de homem.
Não a Bahia dos cartões-postais polidos, mas a Bahia real, de sol que queima, suor que escorre e mar que lambe a areia com uma fome antiga. A pele dele tinha a cor do dendê aquecido, um dourado profundo que absorvia a luz e a devolvia como calor. O sorriso, largo e branco, era uma arma de sedução em massa, mas eram os olhos, escuros e líquidos como café forte, que faziam o verdadeiro estrago. Neles, havia uma promessa de caos, uma fagulha de conhecimento antigo sobre os desejos que os homens escondem até de si mesmos.
Ele se movia com a certeza de quem domina o próprio território. Como guia turístico, seu palco eram as praias e ilhas que circundam Salvador, mas seu ofício verdadeiro era outro. Ele guiava homens para além dos roteiros, para dentro de si mesmos, para o epicentro de uma vontade bruta que eles nem sabiam possuir. E seu uniforme de trabalho, uma sunga vermelha, mínima e arrogante, era o primeiro convite.
Ela não escondia nada; pelo contrário, emoldurava, destacava e prometia. O volume que se projetava ali, pesado e insolente, era uma declaração de guerra. Um monumento à sua própria virilidade, que ele carregava com a naturalidade de quem nasceu sabendo o poder que tinha entre as pernas.
Naquele dia, o alvo de seu instinto predador tinha nome e sobrenome, embora ele ainda não soubesse. Por enquanto, era apenas "o sulista". Vinicius.
Vinicius desembarcou na Marina com a postura de quem está entediado com a própria beleza. Viera do sul, e sua pele alva, quase translúcida sob o sol inclemente da Bahia, era um contraste violento com o ambiente. Os olhos, de um azul que parecia roubado de um iceberg, analisavam tudo com uma ponta de desdém. O corpo era uma obra de arte casual; ombros largos, cintura fina e uma bunda que era um desaforo. Grande, redonda, alta. Uma peça esculpida com uma perfeição que parecia deliberada, feita para atrair olhares, mãos, dentes. E atraía. Por onde andava, sentia o rastro de fome que deixava para trás.
Ele estava com amigos, um grupo barulhento e animado com a perspectiva de caipirinhas e clichês tropicais. Vinicius, no entanto, buscava o não dito, o subentendido. O risco. Ele se entediava com o fácil, e o tipo de atenção que sua bunda costumava atrair era quase sempre previsível. Eram homens que o queriam como um troféu exótico. Mas então, seus olhos cruzaram com os de Marlon.
Foi no cais, em meio ao cheiro denso de maresia, óleo diesel e protetor solar barato. Marlon estava encostado numa pilastra de madeira, organizando a saída do barco, a sunga vermelha um ponto de calor no meio da confusão de turistas.
O olhar dele não foi um simples relance. Foi uma avaliação.
Lento, predatório, descarado. Começou nos olhos azuis de Vinicius, desceu pelo peito, ignorou o rosto bonito e se demorou, com uma insolência deliciosa, na curva exata onde a bermuda de linho de Vinicius se esticava para conter a bunda farta. E então, o olhar subiu de volta, encontrou o de Vinicius de novo e veio acompanhado de um sorriso. Não o sorriso profissional de guia turístico. Era um sorriso de cúmplice. Um "eu sei o que você tem aí, e sei que você sabe o que eu tenho aqui".
O ar entre eles estalou. Vinicius sentiu um calor subir pela nuca, uma resposta primitiva que ele não controlava. Em vez de desviar o olhar, ele o sustentou. Deixou um fantasma de sorriso tocar seus próprios lábios, um desafio silencioso. O jogo havia sido proposto e aceito em menos de cinco segundos.
O passeio de barco foi uma tortura lenta e deliciosa. Marlon era o anfitrião perfeito, apontando a Igreja do Bonfim ao longe, contando histórias sobre Iemanjá, sua voz um barítono rouco que parecia vibrar diretamente no baixo ventre de Vinicius. Mas cada palavra, cada gesto, era para uma plateia de um só. Quando ele se esticava para amarrar uma corda, os músculos das costas se contraíam sob a pele dourada.
Quando se agachava para pegar uma caixa térmica, a sunga vermelha se esticava ao limite, e o volume ali dentro parecia pulsar com vida própria. Vinicius, fingindo olhar a paisagem, não perdia um único detalhe. Ele sentia o pau latejar dentro da bermuda, uma pressão incômoda e excitante.
Os amigos de Vinicius, alheios a tudo, riam e bebiam, mergulhados na ilusão de um passeio inocente. Mal sabiam eles que, a poucos metros, uma caçada estava em pleno andamento.
A ilha era um clichê perfeito. Areia branca e fina, coqueiros se inclinando preguiçosamente e um mar de um azul-turquesa tão límpido que parecia irreal. E o mais importante: estava deserta. Era o palco perfeito. Assim que o barco ancorou, os amigos de Vinicius correram para a areia, celulares em punho, prontos para registrar o paraíso.
"A água tá uma delícia", anunciou Marlon para ninguém e para todos, mas seus olhos estavam fixos em Vinicius. Ele tirou a camisa regata, revelando um peitoral largo e definido, com um caminho de pelos finos e escuros que descia, como uma seta, para dentro da sunga. "Quem vem?"
Foi um convite direto. Vinicius sentiu o coração bater mais forte. "Eu vou", ele disse, a voz soando mais firme do que se sentia. Tirou a camisa e a bermuda, ficando apenas de sunga.
A dele era preta, discreta, mas o contraste com sua pele pálida a tornava igualmente provocante. Ele sabia, pela forma como os olhos de Marlon se demoraram em sua bunda agora exposta, que o efeito era o desejado.
Ele entrou na água, sentindo o choque térmico e o alívio imediato do calor. O mar abraçava seu corpo, a água salgada tornando a pele sensível. Marlon já estava lá, a água pela cintura, o sol transformando as gotas em seu ombro em pequenos diamantes. Ele observava Vinicius se aproximar com um sorriso que era pura malícia.
"Frio, sulista?", ele provocou, a voz baixa, quase um sussurro que o som das ondas ajudava a disfarçar.
"Estava precisando", Vinicius respondeu, parando a uma distância calculada. Perto o suficiente para a tensão, longe o suficiente para a negação plausível.
Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas o som do mar e a respiração um do outro. Os amigos estavam longe, na outra ponta da pequena praia, suas vozes uma colagem de sons distantes. Ali, naquele pedaço de paraíso, eles estavam sozinhos.
Foi então que Marlon se moveu. Ele deu um passo para o lado, como se fosse mergulhar. Nesse momento, uma onda um pouco mais forte que as outras veio da direita. Era real, mas Marlon a usou com a maestria de um diretor de cena. Ele se deixou levar por ela, o corpo se projetando para frente, diretamente contra as costas de Vinicius.
O impacto foi elétrico.
Não foi um esbarrão. Foi uma prensa. O corpo quente e duro de Marlon colado nas costas de Vinicius. E o ponto de contato principal, inconfundível, foi o pau de Marlon, já completamente duro, pressionando com uma força deliberada bem no meio da bunda de Vinicius. O volume que a sunga vermelha anunciava era real, e era ainda mais impressionante ao vivo. Era grosso, pesado, e Vinicius sentiu cada centímetro daquela carne dura se esfregando contra ele, o tecido molhado da sunga preta sendo uma barreira insignificante.
"Opa, foi mal. A onda...", a voz de Marlon soou rouca no ouvido de Vinicius, o hálito quente em sua nuca. A desculpa era tão falsa que chegava a ser um insulto, um insulto delicioso.
Vinicius não respondeu. Ele não conseguia. Uma corrente elétrica percorreu sua espinha, explodindo em seu baixo ventre. Seu próprio pau, que já estava semi-ereto, deu um pulo violento, agora uma pedra contra a sunga. Ele arfou, um som baixo, quase inaudível, mas Marlon, colado nele, sentiu a vibração.
Marlon não se afastou. Pelo contrário, usou a desculpa da instabilidade para apoiar as mãos nos quadris de Vinicius, os dedos se cravando na carne macia. A pressão do seu pau continuava ali, na fenda da bunda de Vinicius, um convite explícito e sujo.
Lentamente, como se estivesse testando os limites, Vinicius se inclinou um pouco para trás, aumentando o contato. Foi a sua resposta. Um "sim" silencioso e faminto.
Um sorriso de vitória se espalhou pelo rosto de Marlon. Ele entendera. Com a mão direita ainda no quadril de Vinicius, ele deixou a esquerda escorregar, casualmente, pela lateral do corpo dele, passando pela cintura, roçando a virilha. E então, sua mão parou. E agarrou.
A mão de Marlon envolveu o pau duro de Vinicius por cima da sunga preta. O aperto foi firme, possessivo. Seus dedos mapearam a forma, a espessura, a cabeça latejante. Vinicius gemeu, dessa vez um som audível, a cabeça tombando para trás e repousando no ombro de Marlon. Era demais. A sensação do aperto, o pau de Marlon ainda roçando em sua bunda, o sol, o mar... Era uma sobrecarga sensorial.
"Gostou da onda, sulista?", Marlon sussurrou, a provocação pingando de cada sílaba. Sua mão apertou mais forte, o polegar circulando a cabeça do pau de Vinicius por cima do tecido.
Com um esforço monumental, Vinicius se virou para encará-lo. Agora estavam frente a frente, a água na altura do peito, os corpos quase se tocando. Os olhos azuis de Vinicius estavam turvos de desejo, as pupilas dilatadas. Ele olhou para a boca de Marlon, depois para os olhos dele, e então sua própria mão desceu pela água.
Ele não foi sutil. Sua mão foi direto para a sunga vermelha, para o volume obsceno que o provocara desde o primeiro olhar. Ele agarrou o pau de Marlon com a mesma fome. E era ainda maior do que ele imaginava. Uma peça de carne grossa e pesada, que pulsava com uma força brutal em sua mão. Ele apertou, sentindo os músculos do braço de Marlon se retesarem.
Os olhos de Marlon se escureceram. O jogo havia escalado. Agora era real. As duas rolas duras, separadas apenas por finas camadas de Lycra molhada, sendo agarradas com desespero. Marlon se inclinou, e por um segundo Vinicius pensou que ele o beijaria ali mesmo, no meio do mar, à vista de todos.
Mas ele parou a centímetros de sua boca. "Aqui não", ele rosnou, a voz um trovão baixo. "Mas a gente vai terminar isso. Hoje."
A mão dele soltou o pau de Vinicius, mas não sem antes dar um último aperto, uma promessa. A mão de Vinicius, relutante, também soltou a de Marlon.
"Vinicius! Vem cá tirar uma foto!", a voz de um dos amigos soou da praia, quebrando o feitiço.
A realidade voltou como um tapa. Eles se afastaram, os peitos arfando, os olhos ainda presos um no outro. A tensão entre eles não havia diminuído; pelo contrário, agora era uma promessa sólida, pesada como as rolas que acabaram de apalpar.
Enquanto caminhava para fora da água, Vinicius sentia o olhar de Marlon queimando em suas costas, em sua bunda.
Ele sabia que cada passo seu estava sendo devorado. A noite na Bahia, ele percebeu com um arrepio que não era de frio, seria longa. E o guia turístico tinha acabado de lhe mostrar um roteiro que não estava em nenhum folheto.
O caminho de volta da água para a areia foi a caminhada mais longa da vida de Vinicius. Cada passo era uma performance. Ele sentia o olhar de Marlon como um Midas do avesso, transformando sua pele não em ouro, mas em pura terminação nervosa. A sunga preta, molhada e fria, era uma segunda pele que guardava o calor de seu pau ainda semi-duro e a memória da mão de Marlon o apertando. Ele sabia, com uma certeza visceral, que o guia estava devorando com os olhos a forma como os músculos de sua bunda se moviam a cada passo. Era uma sensação vulnerável e, ao mesmo tempo, incrivelmente poderosa.
Ele se jogou na canga ao lado de sua amiga, Laura, tentando regular a respiração. Laura era observadora, sua inteligência afiada como uma navalha. Ela ergueu os óculos de sol, revelando olhos castanhos que não perdiam nada.
"Você quase se afogou ali ou foi impressão minha?", ela perguntou, a voz neutra, mas o sorriso mínimo em seus lábios a entregava.
Vinicius riu, um som forçado. "A onda me pegou de mal jeito."
"A 'onda' ou o deus grego de sunga vermelha que convenientemente foi arremessado contra você?", ela rebateu, baixando o tom para uma confidência.
Vinicius virou o rosto para ela, o disfarce desmoronando. "Tão óbvio assim?"
"Querido, a tensão entre vocês dois poderia gerar energia para um trio elétrico por uma semana", ela disse, ajeitando os óculos. "O cara não tira os olhos de você. E, pelo jeito que você voltou da água, parecendo que viu um fantasma e gostou, a coisa é mútua."
O alívio inundou Vinicius. Ele precisava de uma cúmplice.
"Laura, eu preciso de um favor." Ele se inclinou, a voz um sussurro urgente. "Eu... preciso de mais tempo. Sozinho com ele. Ouvi Marlon comentando mais cedo sobre uma trilha que leva a um mirante. Se eu o chamar pra me mostrar o caminho... você consegue segurar o resto do pessoal aqui por uns vinte minutos? Inventa qualquer coisa. Diz que perdeu um brinco, que quer meditar, sei lá."
Laura o encarou por um segundo, e então um sorriso largo e malicioso se espalhou por seu rosto. "Pode ir, caçador. Deixa comigo. Vou organizar uma competição de castelos de areia tão entediante que eles não vão nem perceber que o tempo passou. Mas você me deve os detalhes. Todos eles. Quero um relatório sórdido e completo."
Com o aval de sua aliada, Vinicius se levantou, o coração martelando contra as costelas. Ele agora era um agente ativo no jogo, não mais apenas o provocado. Caminhou até Marlon, que estava perto do barco, bebendo uma garrafa d'água, o líquido escorrendo pelo queixo e descendo pelo peitoral suado. A cena era tão clichê e tão absurdamente quente que Vinicius quase hesitou.
"Marlon", ele chamou.
O guia se virou lentamente. O sorriso em seus lábios dizia que ele estava esperando por aquilo. "Sim, sulista?"
"Ouvi você falar de uma trilha", disse Vinicius, a voz firme.
"Que leva a uma vista panorâmica. Acho que seria um desperdício vir até aqui e não ver."
Os olhos de Marlon brilharam. Era o convite que ele queria.
Ele jogou a garrafa de água vazia em um saco de lixo. "É um pouco íngreme. Acha que aguenta?" A pergunta era um duplo sentido descarado.
"Eu te surpreenderia", Vinicius respondeu no mesmo tom, um desafio claro.
"É o que eu espero." Marlon fez um gesto com a cabeça. "Vamos. É por aqui."
A entrada da trilha era uma boca escura na vegetação densa que cobria o interior da ilha. Assim que entraram, o som do mar foi abafado, substituído pelo zumbido de insetos e pelo farfalhar das folhas. O ar ficou mais pesado, úmido, carregado com o cheiro de terra molhada e flores apodrecendo. O sol mal penetrava, criando um ambiente íntimo e opressivo.
Marlon ia na frente, e o espetáculo era hipnótico. A sunga vermelha era um ponto vibrante de cor contra o verde profundo da mata. Vinicius focou nas costas largas, no suor que desenhava caminhos pela pele dourada, e na maneira como cada passo fazia os músculos de suas coxas e sua bunda firme se contraírem. A trilha era estreita, e por várias vezes o corpo de Vinicius roçava no de Marlon. Cada toque, por mais breve, era uma pequena combustão.
"Cuidado aqui", disse Marlon, segurando um galho para Vinicius passar. Quando ele soltou, o galho balançou de volta e roçou de leve o peito de Vinicius. Os olhos deles se encontraram. Nada foi dito, mas tudo foi compreendido.
Eles chegaram ao mirante. Era uma clareira no topo de uma pequena falésia, com uma vista espetacular do oceano infinito. O azul se estendia até onde a vista alcançava, e a brisa ali era forte, salgada. Estavam completamente sozinhos, o mundo aos seus pés.
Por um momento, ficaram em silêncio, lado a lado, apreciando a vista. Mas a paisagem ao redor não era nada comparada à paisagem que ambos queriam explorar.
Foi Vinicius quem quebrou o silêncio e o pacto de distância. Ele se virou de costas para Marlon, de frente para o mar.
"Acho que queimei os ombros", ele disse, a voz soando falsamente casual. "Será que peguei alguma cor?"
Antes que Marlon pudesse responder, Vinicius enganchou os polegares na borda de sua sunga preta. Lentamente, ele a abaixou. Não muito. Apenas alguns centímetros. O suficiente para revelar a linha nítida e violenta onde sua pele se recusava a mudar de cor. Uma faixa de um branco quase ofensivo, intocado pelo sol, logo acima da curva superior de sua bunda, que estava corada pelo calor.
O ar ficou parado. Marlon deu um passo, colando seu corpo ao de Vinicius por trás. O calor que emanava dele era como um forno. Vinicius sentiu o pau duro de Marlon pressionar a base de suas costas.
A voz do guia era um rosnado baixo, direto em seu ouvido. "Você não pegou cor." Sua mão desceu e um dedo traçou a linha da marca, da pele rosada para a pele branca. O toque era leve, mas Vinicius se arrepiou da cabeça aos pés. "Você pegou um convite. E eu vou aceitar."
O dedo de Marlon deslizou para baixo, afundando na fenda de sua bunda por cima do tecido. Vinicius arfou, o corpo se curvando instintivamente para a frente, oferecendo mais.
"Gostoso", Marlon sussurrou. "Do caralho de gostoso."
Encorajado, embriagado pela própria audácia, Vinicius se endireitou e se virou de uma vez. Agora estavam cara a cara, a intensidade nos olhos de Marlon era quase assustadora. O volume na sunga vermelha estava tenso, latejante, uma arma apontada para ele. O predador estava ali, a um passo de atacar.
Mas Vinicius não era mais uma presa.
Seu olhar desceu, fixando-se no relevo obsceno entre as pernas de Marlon. E sem pensar, movido por um impulso primitivo, ele se ajoelhou. Não de forma submissa, mas como um predador que se abaixa para o bote. Ele agarrou as coxas firmes de Marlon para se equilibrar, olhou para cima uma última vez, vendo o choque e o desejo puro no rosto do guia, e então atacou.
Ele abocanhou o volume por cima da Lycra.
Sua boca cobriu o máximo que pôde daquele pau duro. O tecido molhado e salgado tinha um gosto sintético, mas por baixo dele, a realidade era avassaladora. A carne era grossa, rígida como pedra, pulsando contra sua língua. Ele mordeu.
Não para machucar, mas para marcar. Uma mordida firme, possessiva, os dentes cravando de leve no tecido, pressionando a cabeça do pau por baixo.
Marlon soltou um som gutural, um chiado de ar escapando por entre os dentes. Suas mãos, que estavam paradas ao lado do corpo, voaram para a cabeça de Vinicius, os dedos se enroscando em seu cabelo, mas não para afastá-lo. Ele o segurou ali, a cabeça pressionada contra sua virilha, forçando o contato.
"Filho da puta...", ele sibilou, a voz quebrada de prazer e surpresa.
Vinicius soltou a boca, deixando uma marca de dentes e um círculo de umidade escura na sunga vermelha. Ele se levantou lentamente, lambendo os lábios, o gosto de sal e da promessa de Marlon neles.
Os olhos de Marlon queimavam. Ele o agarrou pelos ombros, empurrando-o com força contra uma grande rocha lisa na borda do mirante. O impacto foi surdo, mas Vinicius não sentiu dor, apenas a adrenalina. O corpo de Marlon se prensou contra o seu, e agora ele podia sentir cada detalhe do pau duro contra sua barriga.
"Você gosta de jogos, não é, sulista?", Marlon rosnou, o rosto a centímetros do seu. "Você não faz ideia do que começou.
Quando eu te pegar de noite, essa sua boca vai ter coisa muito melhor pra fazer do que morder pano."
"É uma promessa?", Vinicius ofegou, o pau latejando dolorosamente.
"É um aviso", Marlon corrigiu. Ele se inclinou e mordeu o lóbulo da orelha de Vinicius, com força suficiente para deixar uma marca. "Agora vamos voltar, antes que seus amigos mandem uma equipe de resgate."
A caminhada de volta foi em um silêncio carregado. A tensão era quase palpável, uma névoa espessa ao redor deles. Ao saírem da trilha, a luz do sol e as vozes do grupo soaram como uma intromissão violenta em seu mundo particular.
Laura lançou um olhar para Vinicius. Um olhar que perguntava tudo. Vinicius apenas deu um sorriso mínimo e tocou discretamente o lóbulo da orelha, que ainda ardia. Os olhos dela se arregalaram.
O retorno para Salvador no barco foi uma tortura silenciosa. O sol se punha no horizonte, pintando o céu de laranja e roxo.
Marlon estava no leme, concentrado na navegação, mas Vinicius sentia seu olhar nele de vez em quando. Um olhar que prometia o inferno e o paraíso.
Quando o barco finalmente atracou na marina, a noite já havia caído sobre a cidade. As luzes de Salvador piscavam, convidativas. O grupo desceu, barulhento e cansado. Vinicius ficou por último, fingindo pegar sua mochila. Marlon passou por ele.
Ele não parou, mas sua voz baixa e rouca chegou clara aos ouvidos de Vinicius, por cima do ruído do cais.
"Rua Direita de Santo Antônio. Número 43. Casa amarela. Às dez. Não se atrase, sulista. Eu não gosto de esperar pelo que é meu."
E com isso, ele se foi, desaparecendo na noite, deixando Vinicius no cais, com o corpo em chamas e uma certeza absoluta: aquela noite não terminaria com sono.
O pacto estava selado. O endereço, uma promessa queimando no bolso e na mente. O tempo, até as dez da noite, era uma ampulheta de areia quente, cada grão uma tortura de antecipação.
Vinicius se moveu pelo banho do hotel em um transe de desejo. A água quente batia em sua pele, mas não conseguia apagar o fogo que Marlon acendera. Ele ainda sentia a pressão fantasma do pau do guia em sua bunda, o aperto de sua mão em sua rola, a mordida em sua orelha. Cada memória era um novo pulo em sua virilha.
Ele se secou, o corpo inteiro um mapa de sensibilidade.
Diante do espelho, encarou o próprio reflexo. A pele pálida, os olhos azuis febris. Ele era o contraste, o exótico, a peça que não pertencia. E era exatamente isso que o tornava tão desejável para Marlon, e o que tornava Marlon tão perigoso para ele.
Para aquela noite, ele escolheu sua melhor arma. Uma cueca boxer preta, de uma marca cara, de algodão macio com o cós de elástico prateado. Era uma peça que gritava luxo e discrição, mas que, no corpo certo, era um convite à devassidão. Ela abraçava sua bunda, realçando a redondeza, e continha seu pau já semi-duro com uma promessa de conforto que logo seria violada.
Enquanto isso, na casa amarela da Rua Direita de Santo Antônio, Marlon também se preparava. O banho dele foi rápido, funcional. Ele não precisava de artifícios. Seu corpo era a arma, a isca e a armadilha. Ele vestiu apenas uma bermuda de moletom cinza, sem nada por baixo a princípio.
Mas então, pensando no sulista, na sua pele de porcelana e seu gosto por coisas finas, ele sorriu. Abriu uma gaveta e pegou uma cueca slip branca, de algodão simples. O branco contra sua pele de dendê seria um alvo. Um ponto de rendição.
Às nove e cinquenta, Vinicius subia a ladeira de paralelepípedos. O Pelourinho à noite era outro mundo, cheio de sombras, sons de atabaques distantes e o cheiro de acarajé misturado ao incenso. Ele encontrou a casa amarela, de duas janelas e uma porta de madeira escura. Seu coração batia na garganta. Ele respirou fundo e bateu.
A porta se abriu quase instantaneamente. Marlon estava lá, parado sob a luz amarelada do interior. Estava descalço, vestindo apenas a bermuda cinza, o elástico da cueca branca aparecendo na cintura. Os olhos dele eram brasas vivas. Ele não disse uma palavra. Apenas se afastou, dando espaço para Vinicius entrar.
Assim que Vinicius cruzou o umbral e a porta se fechou atrás dele, o mundo exterior deixou de existir. O som da rua morreu, abafado pelas paredes grossas. O ar ali dentro era quente, cheirava a madeira antiga, café e a almíscar masculino, o cheiro de Marlon.
Eles se encararam no meio da sala simples, decorada com arte local e memórias de viagens. A tensão que os acompanhara o dia todo agora estava concentrada naquele espaço, insuportável, prestes a explodir.
Marlon deu um passo à frente. Vinicius fez o mesmo. E então eles se chocaram.
O beijo não foi um começo, foi a continuação. A continuação da provocação na água, da mordida na trilha. Era um beijo de posse, de fome acumulada. A boca de Marlon esmagou a de Vinicius, a língua invadindo com a força de quem sabe o que quer. Vinicius respondeu com a mesma ferocidade, suas mãos subindo pelo peitoral duro de Marlon, os dedos se cravando nos ombros. Era um pacto sendo selado a ferro e fogo, um acordo de que não haveria mais jogos, nem desculpas, nem barreiras. Apenas a verdade crua de seus corpos.
Quando finalmente se separaram para respirar, as testas estavam coladas, os peitos arfando.
"Você é ainda mais bonito de perto, sulista", Marlon rosnou, a voz rouca. Sua mão desceu pelo rosto de Vinicius, o polegar traçando o contorno de seus lábios inchados.
"E você...", Vinicius ofegou, "é um problema. Um problema do caralho."
Marlon riu, um som baixo e gutural. Ele começou a despir Vinicius lentamente, como se desembrulhasse um presente precioso. A camisa foi jogada de lado, depois a bermuda.
Vinicius ficou parado, apenas na sua cueca preta de grife, exposto sob o olhar devorador de Marlon.
"Puta que pariu", Marlon sussurrou, seus olhos percorrendo cada centímetro da pele alva, do peitoral desenhado, do abdômen que se contraía. "Um anjo. Um anjo sujo."
Vinicius, sentindo-se ao mesmo tempo vulnerável e poderoso, levou as mãos à bermuda de Marlon e a puxou para baixo, revelando o guia em toda a sua glória bárbara. As pernas grossas e musculosas, a pele dourada, e a cueca branca, simples, que mal continha o volume furioso que pulsava por baixo.
Foi a vez de Vinicius elogiar. "Isso sim é um deus", ele disse, a voz cheia de uma reverência profana.
Ele não esperou por mais nada. Empurrou Marlon gentilmente para trás, até que ele se sentasse na beira de uma cama baixa que dominava o quarto contíguo. E então ...
Apoie um autor independente e veja mais em: https://privacy.com.br/@Inimigointimo