Ficar ou não ficar?... - Parte 10 e última

Um conto erótico de Paulinho (Por Mark da Nanda)
Categoria: Heterossexual
Contém 10878 palavras
Data: 30/07/2025 15:42:41
Última revisão: 30/07/2025 17:15:39

Amigos e amigas,

Segue o final, como prometido. Espero que curtam.

Forte abraço,

Mark

[...]

Meu pai saiu da casa e veio rasteiro até onde eu estava. Barnabé surgiu logo em seguida, brandindo como se fosse o dono de Passa-Vinte:

- O senhor sabe com quem o senhor está falando? – Disse Barnabé: - Sacudindo seu reluzente relógio e pulseiras de ouro quase que na cara do Sargento.

- Ói só seu moço... Se o senhor que é o senhor não sabe, imagina eu que nunca vi sua fuça antes! – Retrucou o Sargento Guerra.

Pronto! A viagem que estava acertada, desacertou de vez e agora eu, o Paulinho, o menino sonhador, vencido pelo Coronelzinho nervoso e rústico, estava prestes a ver o sol nascer quadrado. Ô sina...

[CONTINUANDO]

O sol, outrora tão pródigo em sua luz, agora se escondia sob um véu de nuvens cinzentas, como se o céu soubesse que o destino conspirava contra este que vos narra estas tão sofridas linhas. Eu, o menino que outrora corria pelas veredas de Passa-Vinte com Emilinha, rindo como se o mundo fosse nosso eterno parquinho, carregava agora um coração partido, dividido entre o amor que ainda pulsava, fraco mas teimoso, e a ira do Coronelzinho, forjado nas lições rústicas de Barnabé e no sol inclemente de Goiás. A sirene da guarnição da polícia, um fusca mais pra lá do que pra cá, seguia zunindo alto, chamando a atenção de todo o povo naquela manhã de sábado. O Sargento Guerra, com seu bigode estranhamente fino e olhos esbugalhados, mas que já vira muito da vida, fincava passo ao meu lado, ladeado por Paulo e Saulo, meus velhos amigos de peladas que ainda disfarçavam as risadas ao ouvir o apelido do primeiro. A acusação que recaía sobre o meu couro, porém, era grave: tentativa de assassinato. Eu, que apenas descarregara minha fúria sobre Leonardo com punhos e uma corda de linguiça, agora enfrentava a ameaça de ver o sol nascer quadrado, preso numa cela fria em Monte Verde de Cima:

- Paulinho, ocê se meteu numa encrenca braba. - Continuou o Sargento Guerra, a voz firme, mas com um quê de pesar, como se lamentasse ter que cumprir o dever: - Todo o povo viu! E, infelizmente, é a lei, rapaz. Vem comigo. Tenho que te apresentar pro doutor delegado lá das bandas de Monte Verde de Cima.

Meu pai, Ciro, acompanhava tudo com os olhos arregalados, inundados em lágrimas que se recusavam a cair, aproximava-se latente, o passo rápido, como se pudesse deter o destino com sua presença. Sua figura, curvada pelo peso das memórias, pela saudade da minha mãe, parecia ainda mais frágil naquela manhã, temeroso em agora também perder o filho. Barnabé, com suas pulseiras de ouro tilintando como sinos de arrogância, bradava como um leão, tentando impor sua autoridade sobre a autoridade investida pela lei.

O povo de Passa-Vinte, sempre ávido por um espetáculo, começou a se reunir, como formigas atraídas por açúcar. Rostos conhecidos, outros nem tanto, se aproximaram e começaram a bradar, todos a meu favor. Vi olhos faiscando de indignação, como se a injustiça contra mim fosse uma afronta pessoal:

- Solte o Paulinho! - Gritou um deles, a voz tremendo de emoção: - Esse menino é de ouro! Só defendeu a honra da Emilinha, coisa que ninguém foi homem de fazer aqui nessa vila!

Seu Zé Formoso, batendo o chapéu de palha na cintura como se fosse uma arma prestes a ser sacada, juntou-se ao clamor, sua voz rouca ecoando pela rua de terra:

- É isso! Esse Leonardo é um picareta! Paulinho fez o que qualquer homem de bem faria!

Padre Cláudio, segurando a batina quase na altura da cintura, exibia canelas finas e brancas, mas foi homem, macho, digno, ergueu a mão, pedindo silêncio, sua expressão um misto de piedade e autoridade celeste:

- Sargento, a justiça divina pesa mais que a dos homens. Paulinho agiu com o coração, não com maldade.

A multidão rugiu, um mar de vozes que ecoava pelas ruas tortuosas de Passa-Vinte, cada grito um testemunho da minha história com aquela vila. Meu peito apertava, dividido entre a gratidão por aqueles que me conheciam desde menino, que sabiam do Paulinho que oferecia maçãs roubadas, e o desespero de ver a liberdade escorrer por entre os dedos como areia. Mas Guerra, fiel ao dever, balançou a cabeça, o bigode tremendo de determinação:

- Sinto muito, gente, mas “dura lex, sed lex!”. A lei dura, mas é a lei! Ele vem comigo.

Paulo Pamonha e Saulo avançaram, os rostos apologeticamente baixos, prontos, mas ainda assim indignados em terem que me levar. Meu coração batia descompassadamente e eu já imaginava o frio da cela e o peso das grades, quando uma voz sofrida, mas falsa como mel xaropado, cortou o ar, silenciando o tumulto:

- Sargento, um momento, por favor! - Disse a voz dele, Leonardo, o falso pastor, o patife que desencaminhou a minha Emilinha, tudo com uma Bíblia em punho.

Ele vinha mancando, mais do que precisava, pois eu não me lembrava de ter lhe chutado, com o rosto ainda marcado pelos meus golpes, o olho roxo e o lábio inchado, mas com aquele sorriso torto, uma máscara de santidade que me dava náuseas. Seus cooperadores o seguiam, Bíblias apertadas ao peito, como sombras obedientes, os olhos subservientes, mas com um brilho que traía a devoção verdadeiramente divina.

A multidão se abriu, alguns com curiosidade, outros com desconfiança, como se soubessem que aquele homem era mais teatro que verdade. Leonardo ergueu as mãos, como se benzesse, num gesto de paz que parecia ensaiado de um ator antes de subir ao palco:

- Foi tudo um grande mal-entendido, seu guarda. - Disse ele, a voz carregada de uma humildade que soava ainda mais falsa aos meus ouvidos calejados: - Seu guarda, Paulinho não é vagabundo, não é delinquente, foi apenas inconsequente. Ele agiu por paixão, por amor à Emilinha. Não presto queixa. Solte-o, Sargento. Em nome do Senhor Jesus, eu o perdoo.

O Sargento Guerra, homem vivido, ladino, desconfiado até mesmo da própria sombra, estreitou os olhos, avaliando o homem à sua frente, como se tentasse enxergar além da máscara:

- Cê tá dizendo que não leva isso adiante, mesmo depois da surra que tomou?

Leonardo pigarreou ao ouvir a verdade e eu sorri, mesmo tenso, sorri. Ele então se recompôs novamente, o lábio inchado torcendo-se de forma grotesca, um mártir de barro esculpido para emocionar, mas oco por dentro e falou:

- O Senhor nos ensina a perdoar, Sargento. Eu perdoo Paulinho, como espero que ele me perdoe um dia. Inclusive, convido-o, humildemente, que venha à minha pregação hoje, no campinho, ao entardecer. Que veja que sou um novo homem, guiado pela luz divina.

- Aleluia! – Gritaram seus seguidores, mas apenas eles.

Não houve eco no povo de Passa-Vinte que acompanhava tudo com muita atenção. A multidão apenas murmurava, mas, aos poucos, alguns aplaudiram, seduzidos pela encenação, outros, como Dona Mariquinha, uma carola católica extremista, balançou a cabeça negativamente, com desdém, os lábios apertados em desconfiança. Eu sentia o sangue ferver, a raiva do Coronelzinho rugindo em mim, mas o olhar do Sargento Guerra parecia querer paz e se suavizou, como se o peso da lei, que ele era obrigado a cumprir, não por vontade própria, mas por imposição estatal, tivesse sido aliviado naquele momento:

- Que seja então, seu... Pastor... – Disse o Sargento avaliando Leonardo seguidamente: - Se não há queixa, não há crime e sem crime, não há prisão. A lei se cumpriu. Paulinho, ocê tá livre, mas se comporta, rapaz, que eu não quero voltar aqui.

Os milicos, meus amigos, recuaram, agora sorrindo, até me deram tapinhas nas costas, e o povo explodiu em vivas, um coro que ecoava como uma vitória poderosa, mas estranhamente efêmera. Meu pai me abraçou, os olhos úmidos, a voz embargada:

- Graças a Deus, meu filho! - Sussurrou enquanto me apertava em seu peito.

Barnabé, resmungando sobre alguma picaretagem, deu-me um violento e sonoro tapa nas costas, seu riso forçado tentando mascarar a preocupação:

- Sabia que não ia dar nada. Ninguém é louco de mexer com Barnabé Bustamante e sua gente. – E encarou Leonardo com sangue nos olhos que me fez ter orgulho daquele velho pecuarista: - Deixa esse tal de pastor pra lá, Coronelzinho, ele vai se enrolar sozinho. O povo de Passa-Vinte não é bobo não, homi. O que ocê tem que fazer é tocar a sua vida, lá em Goiás.

Eu ouvia, mas, de verdade, só via Leonardo, seu olhar brilhando com algo que me incomodava, talvez triunfo, mas sempre com uma pitada de malícia. Ele estendeu a mão, ignorei, meu punho ainda cerrado, a memória da surra que lhe dei, fresca como uma brisa de primavera. Ele a recolheu e segurou forte a Bíblia:

- Venha à minha pregação, Paulinho. - Disse ele, a voz suave, mas o tom... Ah, o tom, esse não me convencia: - Perdoar é libertar a alma. Dê-me a chance de provar que mudei.

A resposta para ele? Minhas costas. Virei-me, o coração em chamas, e caminhei para casa, cada passo um esforço para não voltar e terminar o que começara. Emilinha era uma dualidade maldita: uma confissão de amor a mim e uma fraqueza diante dele. Mas será que eu, com minha raiva, era o obstáculo à redenção da alma? Dela? Dele? Deles? Ou seria ele, com sua lábia de pastor de quinta, o lobo que eu sempre soube que era?

Naquela tarde, o campinho de Passa-Vinte se transformou num palco de fé e farsa. Uma tenda branca, como um navio à deriva num mar de pecados, erguia-se sob o céu crepuscular, suas lonas balançando ao vento como véus de uma noiva enganada. Não sei de onde surgiu, nem quem a montou, mas fato é que estava lá, imponente, assustadoramente cativante. Lamparinas douradas lançavam luzes dançantes sobre sombras, como se encenassem a eterna batalha entre o bem e o mal, e a multidão compunha um mosaico de rostos conhecidos e outros nem tanto, aglomerando-se numa mistura de fervor e ceticismo.

No caminho, vi Padre Cláudio tentando arrebanhar suas ovelhas para uma missa extemporânea. Pouco conseguiu. A curiosidade do povo era maior que a fé católica e não tardou muito ele desistiu, recolhendo-se à sacristia. Eu fui um dos que o ignorou, respeitosamente. Prostrei-me ao fundo, o chapéu baixo, deixando apenas um sutil olhar fitar o púlpito de madeira castanha. Me senti um estranho em minha própria terra, tentando decifrar como Leonardo conseguia ludibriar tanta gente e tão pouco tempo.

Emilinha também estava lá, no altar, vestindo uma camisola enorme, uma bata, branca, como se fosse um anjo de vitral com olhos de tormenta. Ela segurava uma vela, auxiliando os asseclas de Leonardo nos preparativos do grande momento. Grande... para quem? Para mim, é que não! Chegou o grande momento e Leonardo surgiu, vestindo terno e gravata, e uma espécie de capa, entoando bravatas e fazendo o chão tremer. Subiu ao púlpito e o teatro começou: abria os braços como um profeta divino, a gravata dançava, mesmo presa ao terno e o rosto, ainda marcado, pelos meus golpes, retorcia-se numa demonstração da mais pura canalhice. Mas, reconheço, o homem era liso e falava bem:

- Irmãos e irmãs de Passa-Vinte! - Bradou ele, a voz ecoando como trovão domado, enchendo a tenda com uma energia que era ao mesmo tempo hipnótica e suspeita: - Hoje falaremos do perdão, a chave que abre as portas do céu!

Emilinha agora se aproximou e lhe entregou uma Bíblia, o olhar clamante encontrou o dele, mas logo se baixou, submisso, após entregar os escritos divinos:

- ESTÁ ESCRITO! – Gritou Leonardo, levantando uma das mãos, enquanto a outra segurava a Bíblica, como se a inocente tentasse fugir daquele encenação: - Está escrito em Mateus 6:14, “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará!”

A multidão a tudo ouvia, a tudo assistia, mas só murmurava. Alguns, animados pelos asseclas de Leonardo, respondiam com “Améns”, mas não tão fervorosos, outros com olhares desconfiados, como Dona Mariquinha, nem a boca abria, preferindo apenas permanecer de braços cruzados na primeira fila, o rosto uma máscara de descrença.

Leonardo, com a gravata bailarina, ainda mais ousada e agora fora do terno, tentava cativar a todos. Ele caminhava pelo altar, a Bíblia erguida como uma prova de sua fé, seus gestos exagerados, feito os gestos de um ator de comédia pastelão, mas que sabe que, até o final da apresentação, o palco é seu:

- Eu era um pecador! - Exclamou, batendo a mão no peito com força, os olhos brilhando com lágrimas de crocodilo: - Mergulhado na vaidade, na luxúria, na escuridão da cidade grande! Mas o Senhor me encontrou, e me viu, e enxergou no fundo da minha alma, e lançou sobre mim o Seu chamado, e lavou a minha alma, enchendo-me de Sua graça! SARALALAMAMBAIA DERRUBIA! OHHHH, GLÓRIA... EU OUVI UM ALELUIA?

Seus cooperadores, aqueles dois rapazes de olhos subservientes, gritaram a plenos pulmões:

- ALELUIA!

Mas a plateia, ficou ainda mais em silêncio. Emilinha, que agora segurava novamente uma vela, as mãos tremendo, juntou-se ao coro de dois, a voz frágil mas fervorosa, como se quisesse acreditar nas palavras que ecoavam. Alguns a acompanharam, talvez mais por pena do que por fé. Leonardo revirava os olhos, os braços levantados, os punhos cerrados, tremendo todo, como se possuído por um espírito, começou a girar como um peão, dando uma perspectiva nova àquela encenação. Nesse momento, notei Padre Cláudio assistindo da entrada da tenda, um sorriso divertido na boca e um aceno negativo de cabeça. Saiu pouco depois, claramente aliviado.

Leonardo parou de rodas na quarta ou quinta volta, sendo ajudado por um dos seus cooperadores. Secou a testa numa toalha que jogou para a plateia, mas recebida apenas pelo chão frio de terra batida. Passou então a gritar e falar na tal “língua dos anjos”, um espetáculo que arrancava aplausos dos crédulos e risos abafados dos céticos:

- SHALABARABA! ZARACATUMBA! - Exclamou ele, apontando para o céu, o suor novamente escorrendo pela testa, o corpo sacudindo-se como se o corpo tivesse sido tomado por um espírito, e talvez tivesse, mas eu duvidava que fosse santo.

Ele voltou ao púlpito. Ficando em silêncio introspectivo por um instante. Tomou um pouco de água, retomou a Bíblia e agora, com um tom mais grave, citou Colossenses 3:13:

- “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se alguém tiver queixa contra outrem; assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.”

Sua voz agora era um sussurro calculado, quase íntimo, como se falasse diretamente a cada alma presente, um charme que seduzia os mais frágeis:

- Eu perdoei Paulinho, que hoje me feriu com a ira do inimigo, pois sei que sua raiva é amor! - Disse ele, os olhos encontrando os meus no fundo da tenda, um brilho de desafio disfarçado de piedade: - E peço a vós... a todos vós, perdoai! Emilinha, aqui ao meu lado, é um exemplo! Ela, levada por mim, foi ferida pelo pecado, mas hoje escolheu a graça, escolheu a renovação, escolheu o perdão! E tudo, EM NOME DO SENHOR! – Gritou novamente.

A maioria da multidão, antes cética, passou a oscilar entre tímidas “aleluias” e lágrimas, a desconfiança sendo vencida. Emilinha, com os olhos vidrados, parecia hipnotizada, a vela quase caindo de suas mãos. Leonardo prosseguiu, citando Lucas 6:37:

- “Não julgueis, e não sereis julgados; perdoai, e sereis perdoados!”

Sua voz subia e descia, um maestro regendo as emoções do povo, e a cada “SARALALAMAM... não sei o quê” a tenda passava a vibrar com “aleluias” e palmas. Ele podia estar enganando a eles, mas a mim não: eu via além da máscara. Cada palavra era um anzol, cada gesto uma isca, e Emilinha, minha Emilinha, era só um peixe que ele parecia estar fisgando:

- Irmãos, o perdão é a pooooonte para a SALVAÇÃÃÃÃÃO! - Gritou ele, caindo de joelhos, as mãos erguidas, como um mártir de novela: - Eu sou um pecador redimido, e peço a Emilinha, a Paulinho, a todos vós, que me perdoem e me deem a chance de consertar o mal que causei! SARALALAMAMBAIA!

A multidão explodiu em aplausos, alguns chorando, outros balançando a cabeça em aprovação. Emilinha, com um sorriso estranho, ajoelhou-se ao seu lado e o abraçou, ferindo a mim de morte. Foi baixo, mas eu, lá do fundo, a ouvi dizer:

- Eu perdoo, Leonardo. O que passou não importa mais.

Depois, ela e ele se levantaram, um ajudando ao outro, e seus olhos encontraram os meus por um instante, uma súplica silenciosa que empurrou a faca um pouco mais fundo no coração. Olhos curiosos de alguns na plateia me notaram e ficaram esperando um perdão que eu não queria dar. E não dei mesmo! Saí da tenda, a mente um turbilhão de dúvidas. Seria ele um redimido ou só o charlatão? E Emilinha, minha Emilinha, estava ela buscando paz ou caindo novamente na armadilha dele? O Coronelzinho em mim gritava para lutar, mas o Paulinho, o menino de coração mole, temia perder o que restava dela.

No dia seguinte, o almoço na casa de meu pai foi um ritual silencioso, quebrado apenas pelo tilintar dos talheres contra os pratos de louça rachada. Ciro comia devagar, os olhos perdidos na saudade da minha mãe, cujo túmulo no cemitério local ele visitava quase diariamente. Barnabé, com sua jovialidade forçada, mastigava um naco de carne, tentando animar o ambiente com histórias exageradas de Goiás. Mas eu não aguentava mais o peso no peito, a confusão que me consumia:

- Pai, Barnabé, tô perdido... - Desabafei, a voz rouca, o garfo parando sobre um ovo frito: - A Emilinha disse que perdoou o Leonardo, mas eu não confio nele. Ele é um picareta, eu sei, eu sinto, mas... e se ela tá caindo na lábia de novo? E se ela precisar disso pra seguir em frente? Eu... O que faço? Perdoo? Esqueço? Luto por ela?

Ciro suspirou, o olhar carregado de melancolia, como se visse em mim o reflexo de suas próprias dores:

- Paulinho, o perdão é um peso que a gente elimina pra gente, não pro outro. A Emilinha tá buscando paz e se isso a pacifica, que seja. Mas esse Leonardo... ele não me cheira bem não. Agora, cê é que tem que decidir se quer lutar por ela ou deixar ela seguir o caminho dela. Só toma cuidado, fio, o coração se engana fácil, ocê sabe bem disso...

Barnabé, limpando a boca com o dorso da mão, riu, o som grave ecoando na sala pequena:

- Coronelzinho, esse tal de pastor é um farsante! Tô dizendo, ele é picareta de má qualidade e vai se quebrar sozinho. Essa tal Emilinha é coração mole, sempre foi. Sinceramente? Não é mulher pra tu! Agora, se tu ama tanto ela, fica mais um tempo, vê o que esse safado tá tramando. A gente pode esperar mais uma semana antes de voltar pro Goiás.

Concordei. Mesmo sem resposta alguma, relutantemente, concordei. A viagem foi adiada. Passa-Vinte, com suas tramas e segredos, agora parecia me segurar em suas tramas como a uma mosca numa rede de intrigas. Eu só esperava não ser engolido nesse processo. Não de novo...

Na terça-feira, notei o menino Juca rondando a casa de meu pai. Ele já não era mais aquele garoto magrelo, mas os olhos continuavam os mesmos, espertos, vorazes... Ele aparecia em cada esquina, como um cão farejando perigo, sempre com um olhar nervoso, sempre me olhando, como se quisesse falar algo, mas tivesse medo.

Na quarta-feira à noite, cansei-me de seus rodeios e o encurralei perto da venda do Seu Zé, onde a luz fraca do poste criava uma sombra que veio bem a calhar na minha emboscada:

- Fala, Juca, por que cê tá me seguindo? Fala logo, moleque... – Perguntei enquanto o segurava pelo ombro, minha voz mais dura que o pretendido.

Ele engoliu em seco, os olhos nervosos, como se temesse o peso das palavras que carregava:

- Paulinho, cê sabe que eu sou teu amigo, né? Também não fui com a lata daquele tal Leonardo... Tô de olho nele desde que chegou e... Poxa! Ele... Ele tá dormindo lá na Emilinha.

Revirei os olhos, nada surpreso com aquela revelação. A decepção já parecia ser uma constante em minha história com ela:

- Isso não é novidade, Juca. Ela tá caindo na lábia dele de novo...

Juca baixou o rosto, vermelho igual um tomate maduro, os olhos fugindo dos meus:

- Não, Paulinho. Ele tá dormindo com a Emilinha. Ele com ela, igual marido e mulher. Eu vi... – Ele suspirou e balançou os ombros: - Aliás, igual marido e mulher nada! Ela parecia uma puta. Eu vi ela com ele, com os outros dois, com os três de uma vez. Nu! Nem sabia que mulher dava para fazer aquilo daquele jeito.

Eu sabia... Bem! Eu não sabia, mas já imaginava o que ele queria dizer. Só não entendi porque a língua me atropelou a honradez nesse momento:

- Como assim!? Do que cê tá falando, Juca?

Ele me olhou, mas novamente deu de ombros:

- Paulinho... Eu vi ela chupar todo mundo, antes, durante e depois. Parecia uma bezerra, aquela safada... Vi ela dar para um para dois de uma vez, um embaixo e outro em cima, e isso quando outro não vinha lhe dar de mamar de novo. Homem, eu vi coisa que nunca vou esquecer na minha vida.

Eu suava frio enquanto as revelações cruas eram externadas. No final, constrangido, ele finalizou aquele relato vivo do catecismo de Sodoma e Gomorra:

- Eu... Eu vi tudo, Paulinho. E, Deus me perdoe, bati duas punhetas vendo eles treparem. Me desculpa, mas a Emilinha é uma puta num corpo de santa.

Minha visão escureceu, o sangue ebulindo ao ponto de eu ouvir o assobiado nos meus ouvidos como uma chaleira prestes a explodir. As palavras de Juca eram facas, cada uma cravando-se mais fundo no meu peito, mas a maldade não estava nele, e sim naqueles lá, nos quatro, incluindo Emilinha. Ainda assim, embora eu acreditasse, meu coração, esse eterno traidor, não se deu por convencido:

- CÊ TÁ MENTINDO, JUCA! - Gritei, apertando seu colarinho e o esfregando no muro rústico com força, mas seus olhos, cheios de culpa, transbordavam verdade, e me calaram.

Emilinha, a minha Emilinha, ou a que nunca se tornara minha de verdade, novamente nas mãos daquele monstro, entregue a prazeres que eu não podia compreender, e que me rasgavam a alma. Saí cambaleando, a noite de Passa-Vinte engolindo-me, o coração em frangalhos, restando só a imagem dela, nua e submissa aqueles três, queimando em minha mente como brasa.

Não dormi, claro. Na manhã seguinte, logo cedo, guiei a Bandeirante até a casa de Emilinha, o motor rugindo alto como representação da fera que habitava o meu peito, prestes a estraçalhar quem se colocasse a minha frente. Ela estava na varanda, num vestido branco de alças que acomodava suas curvas como poesia, o tecido leve dançando ao vento, o rosto sem maquiagem, um anjo perdido na terra, perdido em desejos, em pecados... Mas os olhos, aqueles mesmos olhos, seguiam escondendo segredos, sombras que traíam a santidade de sua aparência. Desci do carro e bati a porta anunciando minha chegada a Deus e ao Diabo, o coração disparado, os punhos cerrados, e a enfrentei, o Coronelzinho em mim tomando as rédeas, enquanto o menino Paulinho, que ainda a amava, lutava para segurá-lo:

- É verdade? – Perguntei, já no primeiro degrau da escada da varanda, a voz tremendo: - Cê tá se deitando com o Leonardo de novo? E... E com aqueles capangas dele tamém?

Ela arregalou os olhos e o rosto empalideceu de imediato, mas estranhamente enrubesceram mais rápido ainda. As mãos, trêmulas, se ergueram como se pudesse deter a verdade:

- Paulinho, quem te disse isso!? É mentira! - Exclamou ela, a voz aguda, quase histérica, mas seus olhos não me enganavam mais e buscaram a fuga, o chão, a parede, qualquer coisa que não fosse o meu olhar.

O Coronelzinho, endurecido pelo sol de Goiás, não se deixava mais enganar. Avancei um passo, quase me colando a ela, a voz endurecendo, cortante como faca e só não gritei, porque senti seu hálito, uma brisa suave para acalmar a brasa que ardia em mim. Ainda assim segui meu interrogatório:

- Fala a verdade, Emilinha! Não minta pra mim, não agora! Eu tenho testemunha. Viram você com ele, com eles, numa orgia profana.

Ela desabou, as mãos cobrindo o rosto, as lágrimas escorrendo entre os dedos como uma cachoeira de dores vividas, o corpo tremendo como uma folha ao vento:

- Eu... Eu não sei o que se sucede, Paulinho. – Disse, entre soluços, a voz quebrada, cada palavra carregada de vergonha: - Quando o Leonardo surge, eu me perco. Ele pede, eu fraquejo. Ele manda, eu me entrego. É... É verdade! Tô deitando com ele e os outros dois desde que chegaram. Me perdoa, mas é verdade. Me perdoa, por favor!

As palavras me atingiram com o peso da pedra que derrubou Golias e só não caí, porque o Davi da história ali era eu. Mesmo assim, machucaram, cortaram na carne, cravaram no meu peito, rasgando o que restava do menino Paulinho, que ainda sonhava com ela nas veredas de Passa-Vinte ou em Goiás. O Coronelzinho, frio e decidido, apenas afagou a cabeça do menino Paulinho, e falou por mim, a voz grave, inabalável:

- É o fim, Emilinha. Dessa vez, acabou de vez. Tô indo pro Goiás. Lá, pelo menos, o trabalho não me trai.

Ela caiu de joelhos, as mãos esticadas, tentando alcançar-me, o rosto lavado em lágrimas, a voz um lamento que ecoava como um sino rachado:

- Paulinho, por favor! Eu não sei o que faço, eu não controlo! Me ajuda, me salva disso! - Implorou ela, o vestido perdendo a candura na poeira da varanda, como se sua pureza fosse uma mentira que o próprio chão de Passa-Vinte passava a rejeitar.

Minha decisão era pedra, inquebrantável, mas cada súplica dela era um golpe de marreta. Foi então que a porta da sua casa rangeu e Leonardo apareceu, ladeado por seus cooperadores, aqueles dois rapazes de olhos subservientes que agora pareciam mais capangas que fiéis. Ele trazia aquele sorriso torto, uma máscara de piedade que escondia algo cruel, algo que eu sempre soubera estar lá, mas que agora se revelava em sua plenitude. Seus olhos brilhavam, não com remorso, mas com um prazer sádico, como se o palco que ele montara estivesse prestes a alcançar seu clímax:

- Irmão Paulinho, mas... que confusão é essa? – Perguntou com aquela voz melíflua, carregada de uma falsa compaixão: - O que ocorre?

- Já sabe de nós, Leonardo, e não é sem tempo! – Brandiu Emilinha, entre lágrimas.

- Mas sabe como? Sabe o quê? – Ele insistiu, a falsidade ganhando ares de ardil.

- Sabe de nós. Que a gente... a gente...

- A gente? – Ele insistiu uma vez mais, fazendo o Coronelzinho quase querer parti-lo ao meio.

- Que a gente se entrega e se toma, oras. – Respondeu, ela depois: - E te testemunha. Passa-Vinte já deve saber tudo a estas horas...

- Mas... Mas... Isso é uma farsa do inimigo, uma mentira para nos dividir!

O Coronelzinho em mim rugiu, os punhos cerrados, o sangue fervendo nas veias. Avancei um passo, apontando o dedo em sua direção, a voz um trovão irrompendo no espaço:

- CALA A BOCA, LEONARDO! Cê destruiu ela, seu maldito, e agora voltou para que? Terminar com ela de vez!? Pastor uma ova... Emilinha confessou tudo! Cê tá usando ela de novo, seu canalha!

Ele não recuou. Ao invés, surgiu um sorriso que se alargou no rosto, os olhos estreitando-se como os de uma serpente prestes a dar o bote. Seus cooperadores, tensos, trocaram olhares, as mãos na cintura, como se soubessem o que estava por vir:

- Paulinho, Paulinho... - Disse ele, a voz agora mais grave, quase um sussurro, cada palavra pingando veneno: - Você tá cego pela raiva. O Senhor me transformou, mas você não quer ver. Isso é obra do inimigo que eu não tardo derrotar. Espera só um instante, tenho um presente para nos proteger dessas maledicências...

Ele se virou lentamente e fez um sinal para um dos asseclas que entrou rapidamente, retornando ainda mais rápido com uma sacola de lona, os gestos deliberados, como um ator que sabe que todos os olhos estão sobre ele. Emilinha, ainda de joelhos, olhava-o com uma mistura de fascínio e pela primeira vez, medo. Eu, com o coração disparado, senti o ar ficar mais pesado, o pressentimento de algo terrível crescendo como uma tempestade que se avizinha. Leonardo abriu a sacola e, com um movimento rápido, sacou uma arma, um revólver, apontando-o diretamente para meu peito. Seus cooperadores, como se aguardassem o sinal, puxaram armas de trás de si, apontando-as também para mim, os rostos agora desprovidos de qualquer santidade, revelando a verdade crua de sua lealdade vil:

- Era tudo um plano, Paulinho... - Disse Leonardo, o sorriso agora escancarado, os dentes brilhando como os de um predador: - Não era para ser assim, não agora, mas já que chegamos a esse ponto, que seja.

Entramos todos na casa de Emilinha, a porta sendo fechada rápido como o meu destino:

- Quando soubemos pelos pais da Emilinha que você tinha ido embora, para ser criado por um fazendeiro lá de Goiás, vi uma luz se acender. Era a minha chance de ficar rico rápido. Sim! Procurei saber e descobri que o velho Barnabé, com aquelas pulseiras de ouro e aquela arrogância de latifundiário, é o alvo perfeito, se acha esperto, mas é um trouxa, igualzinho a você. Então, eu armei um plano e Emilinha, a minha Emilinha, me ajudou em tudo. Você, com a sua raiva cega, caiu como um passarinho na armadilha.

Minha visão escureceu, o sangue rugindo nos ouvidos, mas o choque me paralisava. Emilinha, calada ao meu lado, soltou um gemido, as mãos cobrindo a boca, os olhos arregalados de horror:

- Leonardo, cê prometeu que não ia machucar ele! – Falou ela, a voz tremendo, as lágrimas escorrendo novamente: - Cê disse que era só pelo dinheiro!

Leonardo riu, um riso baixo, cruel, sádico, que ecoou na sala como o latido de Cérbero, o cão que guarda os portões do submundo:

- Cala a boca, Emilinha! Eu até não ia mesmo, machucar ele pra quê? Só que aquela surra na praça mudou tudo. Melhor você continuar fazendo a sua parte, porque senão sobra para você também. Agora deixa os homens resolverem.

O Coronelzinho rugia dentro de mim, mas a arma apontada para a minha cabeça era uma corrente com a qual eu não contava. Minha voz saiu rouca, carregada de ódio:

- Cê é um monstro, Leonardo! Sempre foi... E ocê, Emilinha, como pôde? Depois de tudo, cê se juntou a esse canalha?

Emilinha soluçou, o corpo tremendo, as mãos espalmadas em minha direção, como se pudesse apagar sua segunda traição, ou terceira, ou... já não importava mais:

- Paulinho, eu não queria! Ele me obrigou, me manipulou! Eu não sei como entrei nessa... - Falou, a voz um lamento que cortava o ar.

Leonardo riu novamente, o som cortando frio, o fio como uma navalha na alma, e avançou um passo, a arma agora a poucos centímetros do meu peito:

- Ela é assim, Paulinho, fraca. Sempre foi... Bastou eu falar umas palavras bonitas, um gracejos, fazer umas promessas que, “voilá”, ela se entregou de corpo e alma. Mas se você não sabe, vou te dizer, foi rápido, mais até do que eu pensava e aqui mesmo em Passa-Vinte, na casa da tia Clara. A nossa primeira vez foi deliciosa! Tirar aquele cabacinho enquanto ela tentava escapar de meus braços, é uma lembrança que vou carregar sempre comigo...

- SEU MALDI... – Gritei e avancei, sendo contido por uma forte pancada na nuca.

Os capangas de Leonardo avançaram e amarraram minhas mãos. Emilinha gritou, tentando me defender, mas Leonardo a empurrou com a mão, fazendo com que caísse a seus pés:

- Fica quieta, prima! - Disse ele, a voz fria: - Ou cê vai junto pro buraco.

Fui arrastado para a Bandeirante e jogado na traseira. No peito, o coração disparado. Na cabeça, a mente em um turbilhão de raiva. Emilinha, ainda na varanda, gritava meu nome, mas sua voz foi abafada pelo ronco do motor enquanto me levavam para um destino incerto, um cativeiro que cheirava a mofo e desespero.

O cativeiro era uma choupana esquecida nos confins de Passa-Vinte, um túmulo de taipa engolido pelo mato alto, onde as raízes retorcidas das árvores pareciam garras cravadas na terra, como se a própria natureza conspirasse para esconder aquele antro de horrores. O ar, denso e úmido, carregava o cheiro da morte que se grudava na pele a escritura de uma lápide. Fui jogado num canto, as mãos re-amarradas com corda grossa que mordia a carne, cada movimento rasgando a pele até o sangue pingar, quente e viscoso, formando pequenas poças no chão de terra batida. Minha nuca latejava, uma dor surda onde a coronha de uma arma me acertara, mas era o coração, esse traidor incansável, que doía mais, batendo descompassado, dividido entre a raiva que sentia do Leonardo e da Emilinha, aquela falsa a quem um dia jurei amor eterno. Leonardo, agora desprovido da máscara de pastor, caminhava de um lado para o outro, a arma na mão, o cano enferrujado refletindo a luz trêmula de uma lamparina que pendia do teto, oscilando como um pêndulo de desespero. Seus comparsas, outrora fiéis com Bíblias em punho, agora simplesmente vigiavam a porta com olhos de predadores, as armas prontas, os rostos endurecidos pela lealdade cega a um monstro que usava a palavra divina como véu para sua crueldade:

- E agora, chefe? – Perguntou um deles.

- Vamos seguir o plano. – Respondeu, Leonardo, frio, impassível: - Zeca, você vai ligar para o capiau. Anuncia o sequestro e diz que queremos dinheiro, muito dinheiro, senão daremos cabo do Coronelzinho.

- Certo, chefe. Vou lá.

O comparsa sumiu com o Bandeirante. Leonardo e o outro, pouco falaram comigo. Leonardo ainda vinha se gabar vez ou outra, ou contar vantagem das vezes em que possuiu Emilinha, narrando seus feitos como se fosse uma epopeia a sua honra. Que honra? Quem honra tem um homem que desonra uma mulher, e da própria família!? Eu ouvia em silêncio, nada me cabia fazer, preso como estava. Foram horas de terror até o outro comparsa retornar, então tudo piorou.

Emilinha foi arrastada para dentro do cativeiro, os braços finos e trêmulos presos pelas mãos grosseiras do comparsa, que a jogou numa cadeira tosca, o estalo da madeira ecoando como um presságio fúnebre. Seu vestido branco de alças, outrora símbolo de uma pureza que eu acreditava eterna, estava rasgado na bainha, manchado de terra, como se o próprio chão de Passa-Vinte reconhecesse apenas a puta e não mais a santa de outrora:

- Tive que trazê-la, chefe. Ela me ameaçou de revelar o plano e o cativeiro.

Leonardo a encarou com sangue nos olhos, mas nada disse, apenas trancando a nós dois naquele pequeno espaço. Ela encolheu-se, o rosto pálido, os olhos vidrados de medo, as lágrimas escorrendo silenciosas, traçando sulcos na poeira que grudava em sua pele. Seus cabelos, que na infância dançavam ao vento como uma promessa de liberdade, agora caíam desgrenhados, emaranhados. Eu a olhava e cada traço seu, cada curva que outrora me fazia sonhar, agora era uma ferida aberta, um lembrete do quanto o amor pode ser frágil diante da traição:

- Paulinho, me perdoa. - Sussurrou ela, a voz frágil, quase engolida pelo silêncio opressivo da choupana, um fio de esperança que se desfazia no ar fétido, como uma vela apagada pelo vento.

Nada respondi, tomado por uma dor que me bloqueava os sentidos e, agora, os sentimentos. Nem ela insistiu, pois logo Leonardo retornou, e riu, um som baixo e cruel, que reverberava nas paredes de taipa como o xingamento sujo que parecia profaná-las ainda mais. Ele se aproximou dela, lento, deliberado, o dedo traçando o contorno de seu rosto com uma intimidade profana, como se estivesse vendo sua presa antes do abate. Seus olhos brilhavam com um prazer sádico, um deleite que não era humano, como se cada lágrima de Emilinha, cada tremor de seu corpo, fosse um troféu a ser colecionado:

- Perdoar, é? - Zombou ele, a voz um fel de escárnio, enquanto se inclinava sobre ela, o hálito quente roçando seu pescoço, um gesto que era ao mesmo tempo uma carícia e uma ameaça: - Eu ouvi. Você quer perdão? Tive uma ideia, prima, você vai pedir mais que perdão, mas não pro Paulinho, sim pra mim, que sou seu verdadeiro dono. Você vai mostrar como é obediente, como sempre foi minha e como sempre será.

Ela baixou a cabeça, desviando o olhar dele, de mim, do mundo. Então um de seus comparsas chegou com uma jarra de suco, servindo alguns copos com um líquido turvo, de um amarelo doentio, refletindo a luz da lamparina como um veneno, uma poção que prometia mais que aplacar a sede:

- Não sou tão ruim assim, prima. Você parece não me conhecer. – Disse Leonardo, pegando um dos copos e bebendo: - E antes que diga, não é veneno. Trouxe para acalentar um pouco vocês.

Ele entregou um para ela e orientou que me servisse. Ela veio na minha direção e me encarou. Virei o rosto, recusando aquele líquido, mas ela me acariciou o rosto, uma súplica em seu olhar e cedi, bebendo o líquido, doce, mas falso como tudo que vinha de Leonardo. Ela retornou até ele que lhe deu um copo, uma promessa de carinho, os olhos fixos nos dela, como um predador que saboreia o medo de sua vítima:

- Bebe, Emilinha, vai te acalmar. - Disse ele, a voz suave, mas carregada de uma ameaça que fazia o ar gelar, cada palavra um fio de arame farpado.

Ela hesitou por um instante, os olhos buscando os meus, uma súplica silenciosa que cortava meu coração como uma lâmina. As cordas em meus pulsos pareciam apertar mais, o sangue escorrendo em fios quentes enquanto eu me debatia, o desespero tomando conta como uma febre. Leonardo olhou para mim, o sorriso alargando-se, os dentes brilhando na penumbra como os de um lobo faminto, a arma descansada na cintura, um lembrete frio da minha impotência. E ela bebeu, entristecida, mas obediente, e foi o seu erro.

Foram segundos, minutos, uma eternidade sem medida e ouvi Emilinha engasgar, tossir, como se entendesse ali os erros de uma vida. Seus olhos se arregalaram de pavor, o corpo tremendo, como se soubesse que o destino estivesse prestes a lhe pregar a maior das peças. Leonardo riu, um som que era ao mesmo tempo triunfo e crueldade, e guardou o copo, enquanto ela piscava sem parar, tentando ver o mundo que lhe fugia em rápida fuga. Caiu sentada na cadeira, o ranger um lembrete de que confiar cegamente era um erro. Leonardo tirou um pacotinho de pó do bolso e abriu sobre a palma da própria mão:

- Agora, prima, vamos te deixar mais à vontade. - Murmurou ele, enquanto segurava a cabeça dela contra o peito e a mão, obrigando-a a aspirar aquele pó.

- PARA, MALDITO! DEIXA ELA EM PAZ! - Gritei, as cordas cortando mais fundo, o sangue pingando, cada gota um testemunho da minha impotência, da minha falha em protegê-la.

Leonardo apenas riu e zombou, o som ecoando na choupana como um trova do falastrão, e fez um sinal para os comparsas, que se aproximaram, os rostos agora desprovidos de qualquer traço de humanidade, os olhos faiscando com uma luxúria vulgar, quase animalesca, como hienas atraídas pelo cheiro de sangue. O que se seguiu então foi uma visão que não apenas machucou a minha alma, mas a incinerou de vez, deixando apenas cinzas onde outrora havia amor, esperança, sonhos. Leonardo, com uma crueldade calculada, arrancou o vestido de Emilinha, o tecido branco tingindo-se de marrom, profanando a pureza pressuposta, rasgando-se ao som das risadas dos atores daquele triste espetáculo, expondo sua pele, pálida e marcada por arranhões, à luz cruel da lamparina.

Ela, semiconsciente, o corpo tomado pelo torpor químico das drogas, murmurava protestos inconsistentes, as palavras perdendo-se ao léu, enquanto seus olhos, ainda que ofuscados, buscavam os meus, como se implorassem por um milagre que eu não podia oferecer, clamando por um perdão antecipado do que estava por vir:

- Olha, Paulinho. Veja só como essa safada acostumou-se a gostar. - Zombou Leonardo, enquanto já a posicionava igual cadela no chão frio e úmido, e a penetrava num tranco violento, como se quisesse puni-la, seguindo a estoca-la sem a menor paixão ou respeito, um odioso ato de dominação, um ritual sádico encenado para me destruir: - Logro achar que você nunca imaginou a puta que se tornou a sua namoradinha de infância, estou certo? Mas, deixa estar, se você continuar colaborando, quem sabe não deixou você brincar um pouco com ela. Aposto que você gostaria, não?

Os comparsas, como predadores famintos, juntaram-se ao ato, suas mãos grosseiras explorando cada centímetro do corpo de Emilinha, sem respeito, sem pudor, como se ela fosse um objeto, uma oferenda ao seu prazer doentio. O mais jovem, com o rosto ainda marcado pela subserviência de um falso fiel, segurou-a pelos cabelos, puxando-os com força, forçando seu pau boca adentro de Emilinha, os movimentos brutais, enquanto o outro seguia acariciando seu corpo, desferindo tapas, beliscões, sempre com zombaria verbal de sua situação, tudo orquestrado para humilhá-la e a mim. Emilinha, perdida num nevoeiro químico, gemia, mas seus gemidos não pareciam de prazer, não um consciente, mas sim de dor, uma que atingia sua alma, despedaçando-a. Cada grito ecoando na noite, o som se grudando em minha mente como um lamento que me fazia desejar a morte.

Logo, Leonardo saiu de trás dela e ordenou que eles a fodessem. O maldito ordenou que o beliscador e estapeador iria por trás, o que seria terrível, pois, apesar de magro, seu dote se destacava entre os três, grosso e comprido, um totem ao desespero. Não que o inverso fosse melhor, mas talvez fosse menos mau. Aquele que violava sua boca se deitou no chão de terra batida e eles a posicionaram por cima, fazendo com que ela se deixasse penetrar. Consciente ou não, ela se deixou, e se ajeitou, e subiu e desceu algumas vezes, até que o sádico se aproximou por trás e pediu ao primeiro que a segurasse. Sem o menor preparo, compaixão ou respeito, ele a penetrou por trás e o grito que dela surgiu me arrepia a alma até os dias de hoje, simplesmente grotesco, aterrorizante. Eles a tomaram violentamente por um tempo que, para mim, durou uma eternidade. Leonardo assistia a tudo como um maestro, ordenando, instigando, praticamente obrigando que eles se desdobrassem para melhor feri-la, os corpos se movendo com uma violência e precisão sádicas, dilacerando o corpo e a alma no percurso, cada ato uma profanação, uma tentativa de apagar mais sua personalidade, de reduzi-la a nada:

- Vê, Paulo? Vê a safada da sua namoradinha? - Disse ele, a voz escarrando escárnio, enquanto se inclinava na minha direção, o cano da arma roçando minha testa, o metal frio contra a pele quente: - Ela é minha, mas se você quiser, eu deixou você ficar com ela. Talvez ainda dê para colar os cacos. Basta você permitir que o primão aqui, quando vier visitar o casal, deixe ter a sua vez também. O que me diz?

- PARA! VAI MACHUCÁ-LA! – Gritei novamente, a voz já falhando, rouca, gutural, as cordas lembrando que pele eu já não tinha: - Cê tá matando ela, seu monstro! Por que fazer isso?

Leonardo riu, enquanto voltava a olhar para Emilinha, que agora jazia sobre o peito do primeiro bandido, os olhos semicerrados, o corpo entregue à violência, sendo golpeado seguidamente, uma boneca quebrada nas mãos daqueles dois:

- Matar!? Nunca, Paulinho. Estou dando a ela o que ela sempre quis. - Disse ele, a voz carregada de uma crueldade que era quase palpável, o hálito um veneno que impregnava na pele: - E você também quer, aposto? Mas, de qualquer forma, irá lembrar disso pro resto da vida, enquanto chora por ela nas suas noites sem fim.

Ele então se ajoelhou à frente de Emilinha e levantou seu rosto em sua direção:

- Querida, hora de tomar o seu leitinho. Está pronta?

Ela então, com a voz entrecortada e quase inaudível, me surpreendeu de vez com um pedido sem cabimento, mas totalmente compreensível:

- Si-Sim! Só não ma-ma-machuca o Pau-Paulinho.

Leonardo riu do pedido e acelerou uma maneta. Foram breves segundos até jatos acertarem o rosto imaculado de Emilinha, mas ele logo enfiou aquele trem na boca dela e ali dentro terminou o que fazia, gemendo, estrebuchando como um porco na hora da morte.

Eu, amarrado, voltei a gritar até o ar dos meus pulmões se tornar escasso, a voz um eco rouco. Meu coração, se é que ainda existente, estava despedaçado, pois cada violência deles sobre ela, cada gemido dela, era uma lembrança da minha impotência, algo que me machucava mais do que os meus pulsos. O Coronelzinho, que outrora prometia vingança, agora era apenas um homem quebrado, impotente diante da traição, da violência, da perda de tudo o que um dia amei. Emilinha, minha Emilinha, estava ali, mas não era mais ela, apenas um corpo manipulado, uma alma profanada por um monstro que usava a Bíblia como máscara e a crueldade como cetro. Tive a impressão dela me olhar nos olhos, com um sorriso nos lábios, uma memória de um tempo no passado. Estaria consciente? Estaria tentando me acalmar, dizer que logo tudo acabaria? Não sei, mas ali, eu, preso às cordas, preso à minha própria alma, perguntava-me, com uma ironia amarga que talvez somente Machado de Assis entendesse, se o amor não seria, afinal, apenas uma armadilha que o destino arma para os destroçar os tolos.

O inferno da choupana foi interrompido por um milagre improvável, um raio de esperança que cortou a escuridão como uma lâmina de luz. Por certo Barnabé, com sua determinação de latifundiário, ao notar o meu desaparecimento e do jipe, correra até o Sargento Guerra, sua voz trovejante enchendo a delegacia com relatos do sumiço, suas pulseiras de ouro tilintando como sinos de guerra, cada palavra um apelo por justiça. Guerra, que nunca confiara plenamente no estrangeiro da Brasília amarela, rapidamente assuntou na praça e os relatos confirmaram a hipótese. Então, com a eficiência de um homem que conhecia as artimanhas do crime, acionou a polícia de toda a região, e um cerco se fechou em toda a região, culminando no entroncamento onde a Bandeirante foi encontrada, como uma rede de ferro se fechando sobre um peixe arisco. Montou campana então em torno da choupana.

A noite não tardaria cair, pois o céu de Passa-Vinte já se tingia de um roxo profundo, nuvens ocultavam as estrelas daqueles triste espetáculo, parecendo antecipar o peso do meu desespero. O som de pneus esmagando a terra não seria ouvido, mas o do motor do fusca, brasílias e camburões de longe se ouviu. Logo, ordens grifadas cortavam o silêncio e a choupana, outrora um túmulo de horrores, agora seria um palco de guerra, iluminado pelas lanternas dos policiais que se moviam como sombras na escuridão:

- Pelotão um, pela frente! Pelotão dois, flanqueia pela esquerda! - Gritou o Sargento Guerra, a voz firme, o bigode tremendo de tensão com os rabos de uma andorinha ao vento, enquanto se posicionava atrás de uma árvore retorcida, a arma em punho, os olhos varrendo o entorno como os de um falcão prestes a atacar: - Cuidado com as vítimas. O resto, não deixa ninguém escapar!

Barnabé, com sua ousadia característica, certamente se ofereceu para negociar o resgate, pois sempre levava consigo para onde ia algumas boas resmas de dinheiro, “precaução”, dizia ele. E acertou, o danado! Ele então, com a voz esganiçada, com um aparato tecnológico que mais parecia um funil, gritou a plenos pulmões:

- LEONARDO! SEI QUE TU TÁ AÍ. EU VIM PARA NEGOCIAR. SAI AGORA.

O som chegou confuso para dentro daquele antro, mas foi o suficiente para fazer com que a tortura sobre Emilinha parasse. Eles apagaram as luzes e se vestiram rapidamente, colocando-se de prontidão. Novamente Barnabé insistiu:

- Leonardo, arreda! Eu tenho dinheiro. Só a segurança dos meninos me importa.

Eles se posicionaram em pontos da choupana, olhando ao redor, mas pareceram só identificar o Barnabé. Leonardo então gritou:

- Tem quanto aí, velho?

- O suficiente para você viver boa vida por muito tempo.

- PASSA PRA CÁ! – Gritou Leonardo, com um sorriso venenoso no rosto.

- Quero saber dos meninos primeiro. Eles me comprovam como estão bem e eu faço o acerto.

Leonardo olhou para mim e para Emilinha, mandou que a vestissem com os trapos do seu vestido e ordenou que ela falasse. Naturalmente, no estado em que se encontrava, ela nada disse. Então, com a arma apontada para a cabeça dela, me deu a mesma ordem:

- Estou aqui... Estamos aqui, padinho. Estamos bem, na medida do possível.

- Estão feridos?

- Nada que o corpo não supere... – Insisti.

Após um breve silêncio, Barnabé falou novamente:

- Certo! Solta um deles e eu faço o pagamento.

- Negativo! Paga, vai embora e eu os liberto. Tem a minha palavra.

- E palavra de bandido vale alguma coisa?

- Quem tem o queijo e a faca na mão sou eu, velho. Obedece ou vou te entregar o afilhadinho em pedaços. Mando uma orelha agora, a título de entrada, se quiser...

- NÃO! – Gritou Barnabé.

Um novo silêncio e outra vez Barnabé falou:

- Tá bom! Vou colocar o dinheiro numa sacola e vou deixar próximo à porta.

A noite já avançava e a luz era escassa. Um dos comparsas de Leonardo, o mais jovem, abriu a porta e correu para pegá-la, os olhos brilhando de ganância. Novato no crime, a sacola foi aberta ali mesmo, ao invés de recolhê-la ao antro. Ele não viu que o vigiavam, os policiais movendo-se como sombras, suas botas pisando leve na terra úmida, as armas erguidas, prontas para o ataque. Um graveto denunciou:

- É UMA CILADA! – Gritou o meliante.

- ELE TÁ COM A SACOLA! - Gritou um policial, a voz ecoando na mata: - Pega! Pega!

Ele, percebendo o movimento das sombras em sua direção, correu, os pés tropeçando em si, o rosto tomado de pavor, a sacola caindo e levantando poeira. Um tiro preciso, disparado sabe-se lá de onde, atravessou seu peito. O som seco do impacto seguido por um grito curto, abafado, que morreu em sua garganta. Ele caiu, o sangue jorrando como uma fonte escura, manchando a terra úmida, a sacola ao lado, algumas notas esvoaçando ao vento como folhas mortas. O disparo foi o sinal para o caos. Emilinha acordou de seu torpor e passou a gritar desesperada. A choupana explodiu em movimento, os policiais avançando, as armas erguidas, as lanternas cortando a escuridão como lâminas de luz, o ar cheio de fumaça e gritos.

Logo, Leonardo e o comparsa restante começaram a atirar a esmo. Nada viam nas sombras, mas torciam terem sorte em seu intento maléfico. Do lado de fora, se ouviu a voz do Sargento Guerra:

- Fogo na porta! – Ordenou e uma saraivada de tiros iluminou a noite, o som ensurdecedor, a fumaça acre enchendo o ar, misturando-se ao cheiro de terra e sangue.

Leonardo, com a agilidade de um lobo acuado, agarrou Emilinha, ainda atordoada pelas drogas, o vestido rasgado pendendo de seu corpo como um sudário, os olhos já arregalados, o rosto pálido como uma vela. Ele a arrastou pela porta dos fundos, seus passos ecoando no chão úmido, enquanto um policial, jovem, com o rosto suado e os olhos arregalados, tentou interceptá-lo. Leonardo disparou, o tiro acertando a cabeça do homem em cheio, que caiu com um grito, o sangue jorrando, enquanto seus companheiros gritavam ordens de vingança. Não haveria mais justiça para Leonardo, apenas o julgamento e a execução:

- Ele tá escapando! - Gritou Guerra, correndo para os fundos, a arma apontada: - Pelotão três, corta pela direita! Não deixa ele chegar na estrada!

Na muvuca, nem vi quando o comparsa foi baleado, mas três tiros foram o suficiente para fazer o valentão chorar igual menininha. Policiais arrebentaram a porta no peito e entraram dando voz de prisão a ele, se sobrevivesse. Eu, libertado das cordas por um policial na confusão, o rosto coberto de suor e poeira, corri atrás de Leonardo e Emilinha, a nuca latejando, o sangue escorrendo pelo pulso, o coração movido por puro ódio e desespero. A mata era um labirinto de sombras, os galhos chicoteando meu rosto, arrancando gotas de sangue que se misturavam ao suor, mas eu conhecia aquelas paragens como ninguém, além de ser guiado pelo som dos passos de Leonardo e dos gemidos de Emilinha.

Policiais viram que eu sabia o que fazia e me acompanhavam de perto, lado a lado, intencionado em resolver o problema Leonardo de vez. Cada passo era uma batalha contra a dor, contra o peso da minha própria alma, que carregava a imagem dela sendo manipulada, profanada, um eco da menina que eu amava agora reduzida a uma vítima nas mãos de um monstro. Se Curupira tivesse rosto, seria o meu, pois a mata parecia o meu lar. Eu não andava, corria, mas já não sabia mais para quê? Salvá-la ou me vingar? Isso não mais importava, apenas salvar Emilinha era preciso.

Os policiais seguiam ao meu lado, suas vozes ecoando ordens, as lanternas varrendo o escuro, gritos e mais gritos, cada palavra um fio de esperança e desespero:

- Suspeito avistado indo em direção à ponte! - Gritou um policial, o feixe de luz capturando a silhueta de Leonardo na saída da mata, arrastando Emilinha pela ponte que cortava Passa-Vinte.

Leonardo em ambos os lados, encurralado, encostou-se na mureta da ponte, segurando Emilinha pela cintura a sua frente, gritando que ele iria, mas a levaria junto, a arma apontada para a cabeça dela, o metal brilhando sob a luz das lanternas policiais. A ponte, velha, tremia e rangia sob o peso do destino. A polícia, de um lado, formava um semicírculo, as armas erguidas, os rostos tensos, enquanto eu e meu pai e Barnabé, que surgiram como mágica, ficamos do outro com uma pequena guarnição. O cerco estava fechado, o vento soprando frio, carregando o cheiro do medo e da ira, do sangue de inocentes e de histórias que não deveriam ter sido vividas:

- SOLTA ELA, LEONARDO! - gritei, a voz rouca, cada palavra um esforço contra a dor que consumia mais a minha alma que meu corpo, o sangue escorrendo pelo braço, pingando na ponte e da ponte para o rio: - Acabou! Não tem mais pra onde fugir!

Ele riu o som dos desesperados, os olhos brilhando com a loucura de quem sabe que perdeu, mas não se rende até o último suspiro, a arma tremendo em sua mão, o dedo no gatilho, pronto para fazer injustiça:

- O DINHEIRO, PAULINHO! QUERO UM DINHEIRO E UM CARRO! - Gritou ele, apertando Emilinha contra si, o vestido rasgado, o corpo marcado pela violência, um espectro da menina que sonhara lindos sonhos comigo.

Barnabé, ao meu lado, segurava a sacola, os olhos faiscando de ódio, o rosto endurecido como o de um homem que pensou já ter visto o pior da humanidade e se enganado até aquele momento:

- O dinheiro, tenho, mas carro ficou para trás. - Disse ele, a voz grave, quase um rosnado, enquanto me entregava a sacola.

- Tenho uma Brasília. Vou entrega-la. – Disse meu amigo Paulo Pamonha, passos atrás de mim.

Avisamos a Leonardo e mantivemos posição até a Brasília chegar. Coloquei a sacola dentro, tudo sob as vistas de Leonardo, e os policiais abriram passagem para sua fuga. Ele caminhou pé ante pé até a porta do veículo, abrindo-a e se certificando do cumprimento do combinado. Emilinha se soltou de um golpe de suas mãos e correu em minha direção com a outra, num gesto brusco que assustou a todos. Ela cambaleou, e correu, e tropeçou nas tábuas velhas. Corri para ela, querendo segurá-la, abraça-la, talvez salvá-la de si mesma, seus olhos procurando os meus com um pedido silencioso de perdão:

- Paulinho... – Falou como se me chamasse a toma-la de vez.

Mas um barulho súbito, talvez um animal noturno, talvez o estalar de uma tábua da ponte sob o peso da tensão, assustou Leonardo, e ele disparou, os sons dos tiros ecoando como trovões na noite, a fumaça da pólvora subindo como o véu dos condenados. Fui atingido no ombro por uma, a dor explodindo como fogo, o osso parecendo estilhaçar. Emilinha, num gesto impensado ou incompreendido para mim, jogou-se na minha frente, o corpo absorvendo as outras a mim destinadas, o sangue jorrando, manchando o vestido branco, espalhando-se como uma flor vermelha que florescia em sua carne, uma flor trágica:

- NÃÃÃO! - Gritei, caindo de joelhos, segurando em sua mão enquanto uma tábua tentava agora traga-la para dentro do rio.

A polícia abriu fogo, uma saraivada de disparos que iluminou a noite, uma sinfonia ensurdecedora, a fumaça acre misturando-se ao cheiro do desespero. Leonardo caiu, o corpo crivado de balas, as pernas chutando o ar em espasmos, o rosto contorcido numa máscara de surpresa e dor.

Emilinha, embora pequena, graciosa e leve, pesava na minha mão que, embora acostumada a lida diária, nunca a fizera com uma bala antes. Enquanto, eu tentava mantê-la, gritando por ajuda, vi Emilinha sangrando e ela olhou para mim, os olhos gratos por eu ainda estar ali, lutando por ela, por nós. Seu sangue pingando no rio, cada gota um eco da sua vida se esvaindo, um lamento silencioso que ecoava no coração de Passa-Vinte:

- Paulinho... - Sussurrou ela, a voz fraca, um quase adeus, os olhos fixos nos meus, como se quisesse gravar minha imagem em sua alma, um último ato de amor em meio ao caos: - Sempre te amei, sempre... Desculpa se eu não soube fazer direito.

Minha força falhou, o ombro gritando de dor, o sangue escorrendo pelo braço, misturando-se ao dela, e ela escorregou da minha mão bem quando Saulo se jogava para me auxiliar. Seu corpo caiu nas águas escuras do rio, engolido pela correnteza com um som característico, quase um suspiro, como se o rio a acolhesse em seu leito para o descanso eterno. Gritei, o som perdendo no rugido do rio, um lamento que era ao mesmo tempo raiva, desespero e amor, um grito que ecoava a dor de uma vida inteira. Moradores logo se lançaram com barcos, outros a nado, toda a cidade percorria as margens, na esperança de encontrá-la viva, mas nada.

Alertado pelo Sargento Guerra, bombeiros e mergulhadores da região vieram em ajuda. Os mergulhadores, com seus uniformes pretos brilhando sob a luz das lanternas, lançavam-se no rio, as águas agitadas engolindo suas silhuetas como se fossem oferendas ao destino. Os bombeiros, com cordas e boias, corriam pela margem, as vozes sobrepondo-se em um coro de urgência e desespero, cada segundo era vital e eles se esvaiam rapidamente, muito mais rápido que eu desejava.

- Nada na margem leste! - Gritou um bombeiro, a voz abafada pelo rugido do rio, os olhos arregalados de frustração.

- Tenta mais abaixo! - Respondeu outro, enquanto um bote inflável era arrastado para a água, o motor rugindo contra a correnteza.

- O que é aquilo? – Gritou um, trazendo esperança renovada ao meu coração.

Mas era nada, apenas um saco de estopa enroscado à margem. Eu, de joelhos na margem do rio e mãos na cabeça, seguia todo o trabalho. No ombro um curativo que não estancava o sangue; no coração, apenas um resquício de esperança. Mergulhei a mão na água, como se pudesse puxá-la de volta, como se o toque frio do rio pudesse devolver-me a Emilinha que corria comigo nas veredas, a menina de olhos brilhantes e riso livre. Fiz então uma promessa silenciosa de que, se Deus a salvasse, eu a salvaria do mundo, dela mesma se necessário, custasse o que me custasse.

Mas as águas, traiçoeiras, guardavam suas próprias intenções, e minhas mãos, trêmulas, encontraram enterrada na areia apenas a caixinha com as alianças que um dia sonhei trocar com Emilinha, intacta, elas brilhando sob a luz fraca da lanterna de um bombeiro, o metal frio contra a pele quente, um cruel lembrete do que poderia ter sido, um símbolo do amor que o destino, em sua ironia cruel, transformara em tragédia. Segurei-as contra o peito, o sangue manchando o metal, e chorei, um choro silencioso, sem lágrimas, porque o menino Paulinho já não mais existia e o Coronelzinho aprendera que sofrer era uma sina que lhe parecia reservada.

Por três dias, a busca foi incessante e seguiram o curso do rio, se não a achassem com vida, ao menos um enterro digno. Os mergulhadores, com seus rostos cansados, mergulhavam incansavelmente, de dia e de noite, as lanternas cortando as águas escuras, os botes ziguezagueando na correnteza, mas os relatórios eram sempre os mesmos: “Nada encontrado.” Os bombeiros, com suas cordas e redes, varriam as margens, o mato alto cortado por facões, as vozes roucas de tanto gritar, os olhos baixos, como se doesse encontrar meu olhar. No terceiro dia, a sentença: desaparecida, dada como morta.

Já eu, continuei... Por uma semana inteira, voltei à ponte e as suas margens, o ombro enfaixado, a dor física um sussurro comparada à do coração, que se tornara seco como o árido sertão nordestino. Cada dia era uma peregrinação, um ritual de desespero, como se minha presença pudesse convencer o rio a devolver o que me roubara. O povo de Passa-Vinte, com sua curiosidade mórbida, juntava-se, primeiro aos montes, depois rareando, murmurando preces, enquanto Dona Mariquinha, com seu xale esvoaçante, liderava um rosário, sua voz tremendo, as lágrimas caindo como pérolas. No quinto dia de minha peregrinação, ela sentenciou:

- Ela tá com Deus, Paulinho. - Disse ela, numa manhã fria, segurando minha mão, os olhos marejados, o xale tremendo ao vento: - O rio levou o corpo, mas a alma dela está com Ele. Eu sei disso, tenho fé.

Eu não respondi, incapaz de acreditar em Deus, mas no Diabo... Esse existia, eu o vi, nos olhos do maldito Leonardo. Minhas noites passaram em branco, meu coração preso à imagem dela se declarando, e depois caindo. A única coisa que me animava era a caixinha de alianças que agora eu trazia comigo, carregava no bolso, um fardo que era ao mesmo tempo consolo e tormento.

No penúltimo dia, enquanto o sol se punha, tingindo o rio de vermelho, vi uma flor diferente na margem, vermelha como os lábios de Emilinha, com o centro negro como seus olhos, cheirosa como a promessa que trocamos na infância, altiva como a mulher que ela sempre foi, mas com as folhas tristes, baixas, como o arrependimento de uma alma que errou, apesar de tudo. Toquei-a, os dedos trêmulos, e senti um preenchimento que era ao mesmo tempo dor e poesia, como se a própria natureza chorasse por ela, mas me desse uma redenção. Sentei-me ali, o ombro latejando, a caixinha de alianças apertada contra o peito, e pela primeira vez em dias, deixei-me pensar nela, não na Emilinha profanada ou na traidora, mas na menina que corria comigo de mãos dadas, que ria sob o sol de Passa-Vinte, que sonhou comigo um futuro que infelizmente nunca veio.

No dia da partida, quando o Bandeirante já passava pela ponte que corta Passa-Vinte, vimos um tumulto numa das margens. Paramos o jipe e descemos. Vimos então da ponte que ambas as margens estavam agora tomadas por aquela mesma flor, um verdadeiro tapete vivo que brilhava sob o sol tímido, como se o próprio céu de Passa-Vinte prestasse sua homenagem àquela que dera sua vida pela minha. Desci às margens e Dona Mariquinha, com olhos marejados, segurou meu braço, a voz embargada, o xale tremendo como se carregasse o peso de todas as dores da vila:

- É a flor dela, Paulinho. - Disse, as lágrimas escorrendo pelo rosto enrugado: - Nasceu do amor e da dor. Gostaríamos de chama-la de Emília, em homenagem àquela que, por certo, nunca mereceu tanto sofrimento.

Meu pai, ao meu lado, pousou a mão em meu ombro, os olhos fixos no rio, como se buscasse a sombra da minha mãe entre as águas, uma saudade antiga misturando-se à nova:

- Vamos, meu filho - disse ele, a voz suave, mas carregada de uma tristeza que agora sabia que era minha também: - Passa-Vinte é passado. Já levou tudo o que podia de nós.

Barnabé, com as pulseiras de ouro silenciadas, apenas assentiu, o rosto sério, pela primeira vez sem sua jovialidade forçada, os olhos fixos na ponte, como se visse ali o eco de suas próprias batalhas:

- É isso, Paulo. – Disse ele, baixo, a voz rouca, quase um sussurro: - A vida segue, e a dor, por mais forte, logo cede. Leva uma flor. Traz contigo uma memória dela.

Parti com eles, a Bandeirante rugindo na estrada de terra, o motor um lamento mecânico que ecoava ao longe. Não derramei uma lágrima, porque o menino Paulinho já não mais existia e o Coronelzinho que sonhara grande ao amar, e pequeno ao querer se vingar, agora carregava apenas a caixinha de alianças e o peso de um amor perdido. Deixei Passa-Vinte para trás com mais um causo para ser contada na venda do Seu Zé Formoso: a da flor Emília, nascida de um amor às margens do Rio das Lágrimas e matado sobre a Ponte dos Corações Partidos, uma lenda que os moradores contariam por gerações, o eco de um romance que um dia sonhei, mas que o destino, em sua cruel ironia, ousou transformar em tragédia.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, E OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL SÃO MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DOS AUTORES, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 300Seguidores: 681Seguindo: 27Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Com essa belíssima novidade, talvez seja revelado o que o pacote que o Leonardo entregou a Emilinha continha, talvez tenha feito a Emilinha lembrar o motivo de se deixar dominar, às vezes nos detalhes é onde estão as maiores revelações.

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Eu não ia contar, mas eu preciso ou vou ter uma síncope.

Não é um spoiler, é só uma novidade e tanto.

Ontem, na cama, briguei com o Mark, não uma briga de verdade é claro. Mas eu estava inconformada por ele ter matado a Emilinha. Até chorei de tão chateada que estava...

Daí, ele me acarinhou, beijou, lambeu, chupou, e contou que está escrevendo uma segunda temporada, mas não uma que conte a vida do Paulinho depois da tragédia, mas um "durante", uma temporada inteira na visão da Emilinha.

😀😲🤗🙃🤪

Da Emilinha!

Até li o primeiro capítulo e o projeto dele todo, inclusive do final e vou dizer uma coisa: PQP!

PQP! PQP! PQP!

Muitas das dúvidas que você apresentaram nos comentários serão respondidos e o final do conto... meus amigos... NU! PQP DE NOVO!

Não está pronto, mas vai ficar "demais da conta"!

Sei nem mais o que dizer.

Já estou me coçando inteira...

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Excelente, uma personagem tão ambígua e paradoxalmente apaixonante igual a Emilinha, realmente precisa de um mergulho mais profundo em suas ansiedades, expectativas, desejos, ponderações, indagações, etc... Só assim poderia se descobrir o motivo dela não somente se encantar pelo Leonardo, mas sim, entregar a ele a vontade ,o corpo e a alma de forma tão irracional, uma devoção destrutiva inexplicável, só resta aguardar com ansiedade.

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Nanda uma pergunta quando vc vai ter o seu lá na sua conta estamos curiosos pra saber oq vai rola com nosso amigo

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Que excelente notícia Nanda, 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

EMILINHA MORREU MESMO?🤔🤔

Nanda, vc é PHÓDA! 👏🏼👏🏼👏🏼

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Será que ainda cabe um final feliz, com arrependimento, redenção, muito amor e sexo saudável, torcer não custa.

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Amém, obrigado por compartilhar essa excelente notícia, Nanda. Queria muito mesmo ficar em Passa Vinte um pouquinho mais, nem que seja pra sofrer de novo kkkk

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Putaquepariu! Bocaberta do caralho...

Não era pra falar.

Nem bem comecei a escrever, caramba!

O que foi que conversamos há dias atrás? Ah, é... Temos uma boca e duas orelhas para ouvirmos mais e falarmos menos, né? Pelo jeito, já esqueceu...

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Poh! Ela só fez o pré lançamento, praticamente sem spoiler, briga não!!!!

Kkkkkkkkk

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Kkkkkkkkkkk

A Nanda é a maior divulgadora, Fã, e entusiasta do seu trabalho meu irmão!

Não brigue com ela, meu amigo, entendo a felicidade que ela ficou, inclusive nós, com está bombástica notícia!

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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Amorzin, digo, meu Mozão... 🤣

Briga comigo não, não posso ficar batendo papo: tô trabalhando!

Mas, só pra constar, não fiz nada de errado: eu tenho 1 boca, 2 orelhas, MAS 10 DEDOS, e como não falei com ninguém, apenas digitei, continuo cumprindo fielmente sua honorável lição, meu digníssimo Guru do Sexo.

Ah! E tô tão feliz com o novo conto que hoje vou fazer um chá todo especial para você, chá e rosquinha, de noite, se me entende? 😈

Melhor ainda! Hoje e amanhã! Vou te deixar tão feliz, mas tão feliz, que você vai querer passar o final de semana inteirinho escrevendo esse conto novo, só para repetirmos a dose na próxima semana.

🤣🤣🤣

Beijão procê, meu ogro gostoso, autor estrelado, meu guru do sexo (gostei desse!)

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Caraca Mark da Nanda, vc é PHODDA! Excelente história, excelente texto!

Quase 11k palavras, que a gente lê com uma facilidade surpreendente. Parabéns também pelos 300 contos.

Já comentei aqui como gostei dessa história, do mineirês da roça, do resgate a um tipo de texto praticamente esquecido pela nossa literatura. Gostoso de ler. Pena que acabou! Torcia pelo final feliz, mas entendo que nem sempre a vida traz finais felizes...

É uma história sobre o amor verdadeiro e puro, mas também sobre a maldade do ser humano, sobre sedução e perdão, sobre inocência e a perda dela. Uma história sobre as virtudes e as maldades das pessoas. O Paulinho, mesmo amarrado e sofrendo, com sua vida ameaçada, só se preocupava com o bem estar da Emilinha. E no final, ela por amor e arrependimento, se joga na frente da bala destinada a matar o homem que amava, atirada pelo homem que a desgraçou...

No meio de tantos péssimos escritores da CDC, de tantos textos horrorosos, de tantas histórias repetidas, de tantos textos mal traduzidos, inclusive vários com jeito de IA, vc faz uma história tão bela e envolvente, com um texto tão leve e denso ao mesmo tempo. Parabéns! Vc e a Nanda estão entre os autores que leio aqui. Talvez caibam nos dedos das mãos.

Pra finalizar Mark, já imaginou se por acaso, a Emilinha fosse encontrada viva nas margens do rio, quilômetros à frente? hahahahahahahaha

Forte abraço e parabéns mais uma vez!

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Torço pra isso acontecer. E quem sabe, talvez, por misericórdia, uma terceira temporada? hahaha

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Puta conto... VTNC, prendeu a atenção em todos os 10 capítulos, um final hollywoodiano, trágico, sem palavras pra expressar...

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Conto muito bom, final muito triste, é uma pena pois sempre torcemos pelo herói e pela heroína, Parabéns.

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Final trágico e cruel com a personagem emilinha. Nada erótico e bem misógino. É um estilo? Que saudade das aventuras de Nanda!

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Esse foi o melhor conto que li aqui nesse site, meus mais sinceros parabéns. Esse conto teve tudo, personagens complexos e realistas (apesar de o Paulinho ser muito bonzinho e trouxa em muitos aspectos, principalmente envolvendo a Emilinha, eu conheço vários caras assim), teve um bom desenvolvimento dos personagens, várias reviravoltas, e um final com tragédia poética de certa forma. Só senti falta do Leonardo ter sofrido mais, podia ter sobrevivido e feito uns jumentos violenta tem ele kkkkk. Mas é isso, cada um colheu o que plantou. Parabéns.

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Parabéns Mark, desconfiei que a Emilinha ia ser promovida de telhado, um preço muito caro foi pago pelos seus erros.

Parabéns pela marca de 300 contos, vc é PHÓDA, como desejou sua eterna namorada e cúmplice, que venham mais 300, 600, 900...!

Espetacular como sempre!

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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Depois da Lucinha, agora veio a Emilinha, concordo com a Nanda, ela merecia sua redenção, mas aprouve o autor dar-lhe o seu trágico destino.

Mas qual seria o tipo de amor que Emilinha sentia por Paulinho? Paulinho sofreu D+ por este amor, por parte dele, a mulher de sua vida, mas da Emilinha, acredito eu, seria um amor perfeito, que foi sucumbido pelos desejos de sua carne, e interesses próprios, posso estar errado.

Mas é triste ver um final trágico deste para a amada de Paulinho, onde, mesmo com tudo que sofreu, ainda fez de tudo para salva-la.

Acredito que este eu te amo no final de sua vida, teve um significado mais fraternal.

Bom, enfim..., mais um conto do Mark que fica marcado na memória, por sua intensidade e drama!

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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Primeiramente, parabéns pelo seu cinto de número trezentos. Não é para qualquer um. Que venham outros trezentos, e depois mais trezentos, porque capacidade você tem de sobra.

Segundamente, seu FDP, pensei que fosse pensar melhor e não matar a Emilinha. Ela pode ter feito cagada atrás de cagada, mas podia ter sobrevivido. Correr risco de morte não foi suficiente para redimi-la?

Não gostei! Sofá hoje para você. 😡

Brincadeira. Foi lindo, intenso, chorei igual menininha com a cena deles se despedindo.

Parabéns pelo conto!

Amo você.

Beijão.

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Sua opinião é suspeita, mas super bem vinda. Estamos com saudades dos seus contos.

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Nem sei o que dizer, nunca estive tão contrariado e triste em estar certo sobre as atitudes de um personagem, quando o Paulinho jurou que iria perdoa-la caso o rio a devolvesse viva, eu torci para que fosse um momento inexplicável, quase milagroso, de fé na vida. Trágico, triste, melancólico, mas retratando quando uma pessoa faz péssimas escolhas de vida. ✴️✴️✴️✴️✴️

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Muito bom conto sem apelo sexual só um história de crianças q se acabou por ganância e mau cadê humana

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Maravilhoso um conto já mais visto obrigado por essa obra literária

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A morte é saída mais conveniente para o fraco e o covarde. Simplesmente a vida acaba e eles passam dessa sem pagar o preço, sem sentir o peso da culpa. Foi o que aconteceu com Leonardo e Emilinha, a saída mais facil para uma vida de erros seria a morte deles.

Quem vive, aí sim sofre, no caso Paulo vai carregar a dor, a culpa, o trauma e o pior de tudo, a incerteza ,pois nunca vai saber a verdade sobre a Emilinha.

Pra quem morre o problema acaba, quem morre não tem conta, não tem culpa, não tem punição. Quem vive paga caro.

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Disse tudo, ficou barato de mais pro casal Leonardo e Emilinha, carregar as dores e os traumas ficará a cargo do Paulinho, o único q amou de verdade, o único q se feriu e vai ter q viver com as feridas e amarguras de um amor não correspondido, teve seu coração estilhaçado, seus sonhos destruídos por alguém q nunca o amou de verdade, por alguém q mentiu, manipulou e o traiu até o último momento

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Para aplaudir de pé, maravilhoso meu amigo.

3 estrelas é pouco.

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Já disse e repito, se tudo isso q Emilinha fez ao Paulinho for amor, eu não quero ser amado nunca, ela o traiu até o último momento, Emilinha se jogou na frente das balas destinadas a ele, não por amor(realmente não acredito q ela o amou), mas sim por culpa,.culpa por ele a ter amado tanto e ela nunca deu valor, culpa por tudo q causou a ele, culpa por ter se tornado uma vadia, um final muito bom e coerente com toda a trama, como diz o ditado (quem planta vento, colhe tempestade) e Emilinha não só plantou como também regou

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Salve Velhaco .

Cara , quando eu vi a notificação no e-mail do conto , corri pra ler e quando fui ver os comentários e não vi seu comentário em primeiro eu até estranhei , sabia que Você iria falar que a Emilinha era uma valia e que oque fazemos aqui pagamos aqui.

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Mas essa é a realidade da vida amigo, muito se engana quem diz q faremos o mau nesse mundo e não pagaremos por ele, muito se engana q pensa q pessoas mau caráter de dão bem nada, pois de uma forma ou de outra a conta chega, ninguém sai desse mundo sem acertar suas contas

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Carai Mark , na hora que o leonardo começou a falar em línguas não aguentei de tanto rir , até música filhos perguntaram oque eu estava vendo rs , Vc é foda .

Voltando ao conto , simplesmente excelente, narrativa esplêndida, confesso que gostaria que o casal ficasse junto , em outros contos eu até defendi a Emilinha , pessoal , esse conto na minha opinião não mostra que uma atitude acaba com a vida da pessoa , ninguém faz nada para se prejudicar, naquele momento a Emilinha achou que estaria fazendo algo para mudar sua vida para o bem , muitos vão dizer que " faz aqui , paga aqui " , isso não é verdade porque a maioria que faz mau eu vejo só se dando bem .

Nem todos os destinos são iguais, veja nossa Emilinha , ela pode ter dado para um milhão, mas sempre amou o Paulinho , e Paulinho sempre acreditou no amor que sentia pela Emilinha .

Parabéns pelo conto Dr , emocionalmente eu fiquei triste pelo final , racionalmente entendi a mensagem .

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DODA.

A Emilinha nunca amou Paulo, não como uma mulher ama um homem. Ela voltou para passo vinte e não foi embora com seus pais, pois já estava envolvida no crime. O telefonema, a reaproximação com Paulo, as atitudes, as dúvidas e as incertezas que ela implantava, tudo isso já estava ajustado entre ela e o Leonardo. O fato dela trabalhar ajudando as pessoas inclusive pode ser interpretado como uma forma de já implantar o Leonardo como Pastor na cidade na intenção de fazer o bem.

Amor por parte de Emilinha,não existiu.

Talvez ela o amasse como a um amigo querido, como aquele que lhe trazia a lembrança da vida mais colorida, dos momentos da infância, do companheiro fiel para todas as horas. Mas amor de mulher para com um homem ela só teve com Leonardo.

Paulo amava ela, mas ele sabia que no seu íntimo esse amor não lhe serviria, o Coronel como ele as vezes se chamava era o Paulo maduro, o homem adulto e esse sabia que não teria chance com Emilinha, que seu futuro estava em outro lugar, quem amava Emilinha era o Paulinho, criança apaixonada pelo amor de infância.

Acho que independente da morte, os dois não dariam certo.

Sobre as últimas atitudes de Emilinha,.não dá nem.pra saber se o seu sacrifício se quer foi legítimo, ela estava sobre efeito de drogas, não tem como se quer considerar esse ato final como algo verdadeiro.

Se o.plano tivesse dado certo, provavelmente Emilinha sumiria no mundo com Leonardo e viveria uma vida de sexo, drogas e rock roll.

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Rock roll não sertanejo universitário kkkkk

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Hosorio Horse

Boa meu Amigo , Primeiramente quero dizer que sempre leio seus comentários que são sempre sensatos .

Desde o primeiro conto eu torci pelo casal igual torço pro Corinthians rs .

Tenho ascendência libanesa e vejo vários parentes querendo casar para sair do Líbano, muitos acreditam que é um casamento forçado, mas a situação força as pessoas casarem para ter uma vida melhor , onde podem fugir da fome e da guerra .

Muitas das coisas que Você escreveu acima eu concordo , seu comentário foi muito bom e consciente .

Cá entre nós ? Eu sei oque Você quer dizer mas Eu vou acreditar que a Emilinha amava o Paulinho , mesmo sendo esse jeito dela

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Juro que eu queria ter essa visão tão auspiciosa da vida, a ponto de afirmar que ninguém faz algo para se prejudicar, agora, quanto ao suposto amor da Emilinha, cara tá no texto, o maior mistério foi revelado, o porquê de a Emilinha ter voltado, foi exatamente para colocar a vida do Paulinho em risco, participando ativamente de um plano sórdido, mas mortalmente mambembe de sequestro, diante disso, pode-se se afirmar que amor não são palavras, são atitudes que mostram o querer e o fazer o bem a pessoa amada, então me cite somente um bem, somente um, que não seja dizer "me perdoa eu te amo", que Emilinha tenha feito ao Paulinho, a não ser quando se jogou na frente dele, motivada por uma culpa vergonhosa, pois ela não imaginava ser desmascarada, digo que o destino foi realmente muito cruel com a Emilinha, ela mais que ninguém merecia a oportunidade de redenção, mas com certeza, ela nunca se importou e nunca fez por merecer o amor do Paulinho, ela ter transado com vários e gostado, não é o verdadeiro problema, a cerne da questão é ela ter menosprezado um amor raro, talvez único, que foi o amor que o Paulinho ofereceu a ela irracionalmente e incondicionalmente.

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Caraca, to destruído e só posso parabenizar o autor por isso. Foi um conto não imersivo que não tinha como não sofrer com um final desses. Espero ler mais obras assim no site, caraca, vou lembrar desse conto por muito tempo com certeza.

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Caralho, eu tava torcendo pra que eles nao acabassem juntos, mas esse final foi triste demais, pqp

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Faz um último conto, cm a versão da Emilinha pfvr, um único conto contando toda a história dela desde o início de tudo.

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