Onde o mar nos levou - Capítulo II

Um conto erótico de T. Lys. R
Categoria: Gay
Contém 3144 palavras
Data: 29/07/2025 13:42:44

Capítulo II – A febre do toque

O elevador mal se fechou, e os corpos deles já estavam colados outra vez.

As mãos de Rafael agarravam a cintura de Caio com força, puxando-o para si como se o mundo dependesse daquele encaixe. Caio ria entre um beijo e outro, com aquele jeito travesso e quente que deixava Rafael sem chão. Os dois se empurravam contra a parede metálica, respirando entre gemidos contidos, olhos brilhando de desejo e uma tensão que não dava mais pra segurar.

Assim que entraram no apartamento de Caio, a porta mal fechou atrás deles — foi como se tudo explodisse de vez.

— Fica à vontade... — Caio murmurou, mas foi puxado pela gola da camisa antes que completasse a frase.

— Não me provoca, moleque... — Rafael sussurrou rouco no ouvido dele, lambendo o lóbulo logo em seguida. — Você sabe que desde que me levou naquela praia eu só penso em te foder.

Caio estremeceu. O jeito como Rafael falava — firme, direto, sem rodeios — acendia nele um fogo incontrolável.

— Então fode... — Caio respondeu, a voz grave, maliciosa, encarando Rafael com um sorriso que era puro pecado. — Me faz teu, agora.

Mas Rafael segurou o impulso. Ainda. Ele colou a testa na dele e respondeu:

— Primeiro banho. Quero você limpo pra sujar depois.

Riram, cúmplices, cúmplices de uma febre que queimava os dois. Caio foi primeiro, tirando a camisa no meio do caminho e jogando-a no chão. Rafael sentou-se na beirada da cama, o peito arfando só de vê-lo se afastar. A luz do banheiro acesa formava um feixe tênue no corredor, iluminando o corpo nu de Caio de costas, com a água começando a correr lá dentro.

Mas a espera foi um tormento.

O som da água batendo no azulejo, os gemidos abafados de prazer ao sentir o calor do chuveiro, tudo era demais pra Rafael. Ele mordeu o lábio, olhou pro lado, depois pro banheiro, e então... Não deu.

Levantou-se, tirando a camisa, chutando os tênis e arrancando a calça num movimento só. Estava completamente nu quando abriu a porta do banheiro. O vapor quente o envolveu na hora. Lá dentro, Caio lavava os cabelos, de olhos fechados, completamente entregue.

Rafael entrou em silêncio, até que...

— Tá achando que ia tomar banho sozinho? — disse, encostando o corpo no dele.

Caio virou-se assustado e excitado ao mesmo tempo, sorrindo largo ao vê-lo ali, todo molhado, pingando desejo.

— Você é louco! — disse, rindo, enroscando os braços no pescoço de Rafael. — Mas é o tipo de loucura que me deixa duro.

Rafael o agarrou com força pela cintura, colando os corpos quentes sob o jato de água. — Fica duro pra mim então, porra... — sussurrou entre mordidas na orelha. — Quero sentir teu corpo reagindo ao meu.

As bocas se encontraram num beijo selvagem, molhado, urgente. Os corpos se encaixavam com naturalidade, com uma fome que vinha desde o primeiro olhar trocado naquela praia. Mãos se exploravam sem pudor — nádegas apertadas, costas arranhadas, coxas agarradas uma na outra.

— Vira — Rafael ordenou, a voz mais grave do que nunca.

Caio virou de costas, encostando as mãos na parede úmida do box. Olhou por cima do ombro, os olhos verdes acesos.

— Me mostra do que você é capaz, Rafael...

Rafael encostou seu corpo no dele, o membro rijo pressionando entre as nádegas de Caio, e começou a movimentar os quadris com lentidão, roçando, provocando, até que ambos arfavam e tremiam.

Com carinho bruto, Rafael o penetrou, envolvendo Caio pela cintura, colando os peitos às costas dele, gemendo contra sua nuca, beijando o ombro molhado enquanto o corpo de Caio recebia cada movimento com entrega e prazer.

— Você é meu — Rafael repetia entre os estalos ritmados, entre gemidos e sussurros de loucura. — Só meu...

A água caía sobre os dois como uma bênção profana. Eles se moviam como um só corpo, intensos, cravando-se em carne, em desejo, em promessas mudas.

E Caio se entregava, entre gemidos abafados, entre sorrisos e olhos revirando de prazer.

Depois do clímax, ficaram ali abraçados, respirando pesadamente, ainda dentro do chuveiro, onde o calor da água era menos quente do que o calor entre eles.

— Que porra foi isso... — Caio murmurou, rindo, exausto.

— Isso foi só o começo — respondeu Rafael, mordendo o ombro dele com carinho antes de desligar o chuveiro.

Na cama, os dois se deitaram lado a lado, nus, sob os lençóis desarrumados. A luz baixa do abajur criava sombras suaves nos rostos ainda molhados, os cabelos bagunçados, os corpos cansados mas ainda desejosos.

— Nunca pensei que hoje fosse terminar assim — Caio confessou, deitado de lado, o rosto perto do de Rafael.

— Eu... eu que só queria esquecer as turbulências dos últimos dias. E agora tô aqui, completamente entregue.

Rafael sorriu de canto, passando a mão pelos cabelos de Caio.

— Eu também não esperava. Mas desde fomos à praia e ao mirante isso me acendeu— disse, apontando o peito. — Feito tatuagem.

Ficaram em silêncio por um tempo, olhando-se. Até que Caio, com um olhar brincalhão, provocou:

— Agora que me possuiu... vai dormir?

Rafael deu uma risada baixa, sensual, e rolou por cima dele, ficando entre suas pernas.

— Dormir? Agora é minha vez... — sussurrou. — Quero que você saiba o que é ser completamente meu.

Caio mordeu o lábio inferior, puxando Rafael pela nuca.

— Então me mostra...

E Rafael mostrou.

Na penumbra do quarto, os corpos se encontraram de novo, dessa vez com mais lentidão, mas com a mesma intensidade. Rafael beijava cada pedaço da pele de Caio como se marcasse território. Ele entrou nele com firmeza, mas com carinho — os olhos nos olhos, as mãos dadas entre os lençóis.

Caio gemia baixo, o corpo arrepiado, dizendo palavras desconexas, entregando-se de novo.

— Você é tudo que eu não sabia que queria... — ele sussurrou, no auge do prazer.

E Rafael, com a testa colada à dele, respondeu:

— E você é tudo que eu nunca mais vou deixar ir.

Ficaram juntos, entre gemidos, sussurros, promessas sem nome. Até que, exaustos, adormeceram entrelaçados. E naquela noite, entre suor, água e amor cru, começou algo que nenhum dos dois conseguiria mais conter.

No dia seguinte...

O sol ainda mal havia rompido pelas frestas da cortina, mas a luz dourada já começava a acariciar os lençóis amassados e os corpos entrelaçados sobre a cama. O apartamento cheirava a mar, suor e desejo guardado. O vapor do chuveiro já havia se dissipado, mas o calor entre os dois continuava aceso, mesmo no silêncio daquela manhã.

Rafael foi o primeiro a abrir os olhos. Ele estava deitado de lado, observando Caio dormir, o rosto sereno, a pele morena levemente dourada pela luz que entrava. O peito subia e descia devagar. Rafael não sabia dizer ao certo em que momento se deixou levar daquele jeito, mas a sensação que tinha agora era de... pertencimento. Como se ali fosse seu lugar.

Caio, ainda de olhos fechados, sorriu ao sentir a ponta dos dedos de Rafael passeando pela sua clavícula.

— Bom dia... — murmurou, com a voz ainda rouca, preguiçosa.

— Bom dia, dorminhoco... — Rafael respondeu, curvando-se para beijar a testa dele. — Dormiu bem?

— Se é que dormi, né? — Caio abriu um olho, malicioso.— Você me esgotou ontem...

— Eu? Você quem começou... — Rafael riu, mordendo de leve o ombro dele. — Ainda tem forças pra mais?

— Se você me alimentar, talvez... — Caio piscou, e ambos riram juntos.

Ficaram ali mais um pouco, nus sob os lençóis, até que Caio quebrou o silêncio:

— Ei... o que você faz da vida? Digo... além de me deixar sem ar?

Rafael sorriu e se esticou na cama, deitando-se de barriga pra cima, encarando o teto.

— Eu sou formado em Administração. Trabalho com finanças, com a parte administrativa de uma empresa.

— Ah é? De qual empresa?

Houve um breve silêncio. Rafael virou o rosto e olhou para Caio com uma expressão meio hesitante, mas serena.

— Eu sou herdeiro da Santos Montenegro.

Caio arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso.

— Sério? Aquelas empresas enormes? Já ouvi falar. Elas são bem conhecidas aqui no estado. Caramba...

— É. Mas eu não trabalho diretamente com meus pais. Fiz questão de seguir meu próprio caminho. A grana tá ali, claro, mas meu trampo é meu.

Caio assentiu, admirando a postura dele.

— Respeito isso. Bastante.

— E você? — Rafael virou-se de lado, apoiando a cabeça na mão. — Além de me ensinar a respirar de novo... o que você faz?

Caio riu, aquele riso leve que parecia vir da alma.

— Dou aulas de surf. Mas também sou formado em Fotografia e Paisagismo.

— Sério? Três paixões bem diferentes.

— Nem tanto. Todas têm a ver com beleza, movimento, luz. E liberdade. — Ele sorriu de canto. — No momento tô focado nas aulas de surf. É mais rentável por aqui, na temporada. Por isso você me encontrou perto da praia.

Rafael assentiu, admirado.

— Isso explica o corpo sarado e o equilíbrio... — brincou.

— E o seu gosto por futebol explica esse corpão de atacante gostoso? — Caio devolveu com um sorrisinho.

— Ah, você nem viu meu chute ainda — Rafael disse, puxando Caio para um beijo rápido. — Bora sair mais tarde? Bater uma bolinha?

— Futebol? Aff... — Caio fez careta. — Odeio. Mas posso assistir... só pelo prazer de ver você suado.

Riram juntos mais uma vez. A cumplicidade nascia ali, entre provocações e sorrisos. E assim decidiram: iriam até a praia.

No fim da manhã, os dois estavam novamente perto do mar, o vento leve batendo nos cabelos úmidos, e o barulho das ondas servindo de trilha sonora. Rafael vestia uma camiseta branca justa, que destacava ainda mais o corpo firme, e um short esportivo. Levava uma bola debaixo do braço, cumprimentava uns caras na areia e logo se juntava a eles pra bater uma partida improvisada.

Caio ficou sentado em uma canga mais afastada, sob o guarda-sol. Óculos escuros, pernas cruzadas, e a câmera repousando ao lado. Mas o que mais capturava a atenção dele naquele momento não era a paisagem... era Rafael.

Narrativa de Caio...

Não tem como explicar. Ontem à noite foi como mergulhar num mar que eu não conhecia — mas que, de alguma forma, sempre me pertenceu.

O toque dele me queimava. Cada beijo, cada investida no meu corpo... parecia que ele me lia com as mãos, com os olhos. E o mais louco é que, mesmo quando ele era bruto, tinha carinho. Um carinho que me desmontava.

No chuveiro, ele me tomou como se fosse a última coisa que ele faria no mundo. Eu gemia e me entregava, sem medo. Nunca me senti tão possuído, tão... desejado. A cama depois foi um capítulo à parte. Ele era doce, mas firme. Me amou com a calma de quem sabe o que está fazendo. E fez. Com maestria.

Agora, vendo ele ali, correndo na areia, suado, sorrindo com aquela bola... eu penso: como pode?

Como pode alguém me causar tanto em tão pouco tempo?

É como se a presença dele tivesse revirado algo aqui dentro. Algo que estava adormecido.

Algo que grita que eu não vou conseguir ficar longe por muito tempo.

E talvez... nem queira.

Ele corria pela areia como se o mundo lá fora não existisse.

O cabelo bagunçado pelo vento, os músculos se contraindo a cada movimento, o riso solto — esse riso dele que parece que limpa o ar ao redor — e aquele jeito de olhar pra tudo como se pertencesse, como se sempre tivesse estado ali.

Era impossível desviar os olhos.

Eu tava sentado mais afastado, com os pés enterrados na areia quente, a câmera ao lado, fingindo que observava o mar... mas, na verdade, era ele. Só ele. Cada passo, cada vez que gritava pro time improvisado, cada gota de suor escorrendo pelas têmporas, o jeito como mordia o lábio quando errava um passe. Como se o corpo dele fosse feito pro movimento. E o movimento, pra me deixar tonto.

Peguei a câmera quase sem pensar. Meus dedos tocaram o metal como quem reencontra um velho amigo. Ajustei o foco. Esperei um instante em que ele parou, curvado, ofegante, olhando pro mar ao fundo. O corpo tensionado, as mãos nos joelhos.

Click.

Depois outro. Um sorriso de canto. A silhueta contra a luz. Os olhos apertados pelo sol.

Click. Click.

Não era só uma foto. Eu sabia. Era uma tentativa de guardar — não o momento, mas o que ele tava causando em mim. Um incêndio lento. Silencioso. Um susto bom. Uma inquietação que me pegava no estômago e se espalhava. E doía. Um pouco. Porque eu sabia que isso era mais do que atração. Mais do que tesão.

Era medo.

De sentir demais. De perder.

De não ser suficiente.

Ele olhou na minha direção e sorriu. Um sorriso simples, espontâneo. Mas foi como uma pancada. Baixei a câmera, e o coração apertou sem que eu pudesse conter.

A noite anterior ainda tava viva no meu corpo.

O toque dele, firme.

A forma como me tomou no chuveiro, com sede.

Como me envolveu na cama com um carinho que eu não tava preparado.

Como me olhou depois, como se me visse inteiro — e gostasse do que via.

Me senti... pertencendo.

E isso me apavorava mais do que qualquer coisa.

Quando ele terminou o jogo, veio correndo até mim, todo suado, sorriso largo, ofegante. Sentou ao meu lado na canga e jogou o corpo pra trás, como se o mundo fosse leve.

— Perdeu um golaço meu! — ele disse, rindo. — Deu tempo de tirar alguma foto minha, ou ficou só babando?

— Um pouco dos dois — respondi, tirando os óculos. Tentei parecer casual, mas por dentro... tudo vibrava. — Você não tem ideia de como é fotogênico, Rafael.

— Fotogênico? — Ele arqueou a sobrancelha daquele jeito que me desmontava. — Acha mesmo isso ou tá só querendo me conquistar de novo?

Dei de ombros.

— Se eu te disser que tem umas fotos tuas que parecem de campanha de revista... você acredita?

— Mostra aí.

— Ainda não. Quero editar primeiro. Depois te mostro.

Ele assentiu, mas ficou me encarando por alguns segundos, mais sério. Como se estivesse me decifrando.

— Tá tudo bem? — perguntou, com aquela voz baixa que parecia lamber os meus ouvidos.

Demorei a responder. Porque não sabia como dizer sem parecer carente. Mas disse, mesmo assim.

— Tá... É só que... — respirei fundo. — Você é diferente, Rafael.

— Diferente como?

— Ainda não sei. Mas tô tentando entender por que alguém que eu acabei de conhecer já mexe tanto aqui dentro.

Ele não disse nada por um tempo. Só me olhou. E, em silêncio, estendeu a mão e tocou meu rosto com o polegar. Um toque leve, íntimo, cheio de coisa não dita.

— Você não tá sozinho nisso.

Sorri. Mas foi aquele sorriso que vem com um nó na garganta. Um aviso.

De que, se eu deixar, ele vai bagunçar tudo.

E talvez... seja exatamente isso que eu queira.

Voltamos pra casa em silêncio.

Não um silêncio estranho ou desconfortável, mas aquele tipo de silêncio bom, cúmplice. O tipo que só existe entre pessoas que, mesmo se conhecendo há pouco tempo, já dividem algo que não sabem explicar. O sol ia baixando devagar, pintando os prédios de tons dourados enquanto a brisa do mar ainda grudava na pele da gente.

Rafael dirigia com a mão esquerda no volante e a outra entrelaçada na minha, descansando sobre minha coxa. Ele fazia carinho com o polegar, distraído, e eu observava o movimento como se fosse arte.

Chegando ao apartamento, fomos direto pro banho. Um banho sem pressa, sem pressões. Só a água caindo e os corpos se tocando em silêncio, agora de outro jeito — mais calmo, mais terno. A noite ainda não tinha caído por completo quando nos sentamos na varanda. Ele de short, sem camisa. Eu, só com uma bermuda leve. As pernas apoiadas na grade, uma cerveja gelada na mão dele, um copo de suco de abacaxi na minha.

O calor do fim da tarde grudava na pele, mas a brisa amenizava tudo.

Ficamos olhando a rua lá embaixo por um tempo. Gente voltando do mar, o barulho distante das ondas, e um saxofonista solitário tocando em alguma sacada próxima. Rafael parecia pensativo, o olhar perdido no céu que ia mudando de cor. Eu sentia que ele carregava mais do que mostrava.

Foi aí que eu perguntei. Simples. Sem me preparar.

— Como que pode... você ter grana, ser herdeiro, e ser tão diferente do que eu imaginei que uma pessoa rica seria?

Ele virou o rosto pra mim, devagar. Me encarou por alguns segundos antes de responder.

— Diferente como?

Dei um gole no suco, respirei fundo.

— Não sei... é que você não tem aquela arrogância, sabe? Aquele ar de superioridade. Você não ostenta nada. Parece que o dinheiro não muda nada em você. E, sinceramente, isso me intriga.

Ele baixou os olhos por um segundo e deu um sorriso pequeno, quase triste.

— Esse dinheiro nunca fez minha cabeça, Caio. Pra ser bem honesto, sempre me incomodou.

Silêncio.

— Eu sou herdeiro da Santos Montenegro, sim. Meu nome tá vinculado àquilo desde que nasci. Mas eu nunca concordei com o que meu pai planejou pra minha vida. Nunca quis ser cópia de ninguém. Meu pai é... difícil. Autoritário. Controlador. Nunca me aceitou do jeito que eu sou. Sempre quis que eu seguisse o caminho dele, que herdasse a empresa, o nome, os valores. Mas eu... — ele fez uma pausa, olhando pro horizonte. — Eu não queria viver à sombra do que ele construiu. Eu queria construir o que é meu. Com meus erros, minhas escolhas, minhas verdades.

Eu senti meu peito apertar ao ouvir aquilo. De algum jeito, parecia que ele falava com um peso que só quem carrega sabe. Um peso silencioso.

— E sua mãe? — perguntei, tentando suavizar a conversa. — Vocês têm uma boa relação?

Rafael respirou fundo.

— Minha mãe... minha mãe é diferente. Mas... ela se omitiu por muitos anos. É uma mulher forte, mas presa ao mundo do meu pai. Ela me ama, eu sei que ama. Mas sempre teve medo de confrontá-lo. Quando eu resolvi me afastar, seguir meu próprio caminho, ela não impediu. Também não apoiou. Só... se calou.

Eu não sabia exatamente o que dizer. Só estendi minha mão e encostei na perna dele. Ele colocou a dele por cima da minha, apertando com firmeza.

— Eu não sei como é ter esse tipo de conflito com pai e mãe... — falei, olhando pra frente. — Eu e a minha mãe, a dona Lúcia, a gente é muito ligado. Sempre foi só nós dois. Meu pai foi embora quando eu era pequeno. Nunca mais deu notícia. E ela segurou tudo sozinha. Ela me ama, me entende, me respeita. É minha base.

Rafael sorriu, e eu vi um brilho diferente no olhar dele.

— Você tem sorte. De verdade.

— Eu sei.

Ficamos ali por mais um tempo, sem pressa. A noite chegou devagar, como quem respeita o tempo da gente. E, nesse silêncio que se seguiu, eu percebi: ele também tinha os próprios abismos. E, mesmo sem entender muito bem, eu queria me jogar junto com ele. Não pra salvar. Mas pra estar.

Só pra estar.

Continua...

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Foto de perfil de T. Lys. RT. Lys. RContos: 3Seguidores: 2Seguindo: 0Mensagem "Escrevo com o coração em carne viva, transformando dor, amor e redenção em capítulos que sangram poesia — onde cada palavra carrega o peso da verdade e o alívio da esperança."

Comentários

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Cativante e sensual na dose certa, uma narrativa atraente. Parabéns pela história.

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Uma das melhores postagens que leio aqui, nesse gênero.

Expõe com profundidade, sentimentos, viveres e . . . sexo intenso sem vulgaridade.

Desde que li o primeiro relato, estava ansioso pelo que viria.

Deixo meu melhor dez e três merecidas estrelas.

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