Primeiro fim de semana sem a Mônica. A casa parecia maior, mais silenciosa. Por mais que eu soubesse que era temporário, ainda assim doía. Era estranho não ter aquela voz doce no telefone, ou uma mensagem com um emoji bobo de bom dia. Passei a manhã meio perdido, andando de um cômodo pra outro, tentando me distrair com qualquer coisa. Televisão, música, até tentei adiantar uns relatórios da consultoria, mas nada segurava minha atenção.
Foi quando peguei o telefone para mandar mensagem, saber como ela tava. Eu cheguei a mandar, mas ela não visualizou. Pensei, deve estar ocupada, eu falo com ela depois. Tava pensando então em sair, dar um rolê na rua.
Foi quando recebi a mensagem do Leandro:
“Fechamos a quadra da 404 pra jogar bola e depois tem churrasco. Vem, mermão!”
Pensei duas vezes. Eu podia muito bem ficar em casa, deixar o sábado passar em silêncio e dor, como uma penitência por estar longe dela. Mas aceitei. Talvez um pouco de suor, carne e conversa fiada me ajudassem.
A quadra era iluminada pelo sol do meio-dia, cheiro de grama sintética quente e fumaça de carvão. Encontrei os caras, cumprimentei uns rostos conhecidos e outros que só tinham o nome no grupo do WhatsApp. No meio disso tudo, conheci o Rafael.
Jogamos juntos no time do colete azul. O cara era bom. Corria bem, sabia tocar, dava risada até quando errava. A sintonia foi tão natural que parecia que a gente jogava junto há anos. No final do jogo, suados e famintos, fomos direto pro churrasco. Pegamos uma cerveja, carne no prato de plástico, e sentamos no canto da churrasqueira.
— Mandou bem hoje, hein? — ele falou, levantando a lata de cerveja.
— Você também. Salvou duas bolas que eram gol certo — respondi, rindo.
Brindamos.
— E aí, tu é daqui mesmo?
— Sou, moro ali á algumas quadras. Trabalho com consultoria ambiental. E você?
— Faço manutenção predial. Sabe aqueles prédios novos ali perto do shopping? Trabalho num deles. Serviço bom, tem ar-condicionado e umas paisagens interessantes nos corredores — disse, dando uma piscadinha e rindo sozinho.
— Paisagens?
— Ah, as moradoras, né. — Ele deu um gole longo. — Inclusive, tô saindo com uma delas. Casada, acredita?
Arregalei os olhos.
— Sério isso?
— Sério. Doideira, né? Mas, mano... é um negócio que vicia. Saber que é proibido, que não pode... dá um barato diferente. Ela vem toda recatada, mas quando fecha a porta... — Ele fez um gesto com a mão, como quem solta um rojão.
— Você não acha isso perigoso?
— É. Mas é mais forte que eu, velho. E além dela, tô ficando com uma outra também. Peguei no aniversário dela num barzinho. Ficou louca quando soube que eu tinha mulher. Disse que adorava homem comprometido.
Fiquei em silêncio por uns segundos, mexendo na carne com o garfo de plástico. Aquilo me incomodava, mas ele falava com tanta naturalidade, como se estivesse contando qual série tinha assistido na noite passada.
— E você, qual é a tua? Tá solteiro?
— Não... — falei, tentando esconder o incômodo. — Tenho namorada. A gente se conhece desde a infância. Estamos juntos há uns bons anos já. Logo vamos noivar, espero.
— Porra, ai sim hein menor. — Ele disse.
— Eu gosto do que vivemos, é bom.
— Ah é? E ela é fogosa ou mais de boas?
Suspirei.
— Mais tranquila. Ela... ainda é virgem.
Rafael quase engasgou na cerveja.
— Sério mesmo? — Ele riu com incredulidade. — Irmão, porra, você é um santo, então. Ou muito apaixonado.
— Um pouco dos dois, talvez — respondi, forçando um sorriso.
— Caraca, hein menor. E tu é virgem também? — Ele perguntou?
— Não, pô. Eu era da boemia, eu sai por causa dela. — Confessei.
— E como você segura a onda? Ta ai anos sem meter... é punk.
— A gente se ama. Mas a gente meio que da nosso jeito, né mano. Eu respeito o tempo dela. Ela quer esperar mais. Talvez até o casamento.
— Pô cara, bonito da parte dela, porque aqui no Rio tu ta ligado, né rapá? Ta cheio de cocotinha sentando no grosso. Tá foda.
— Eu sei, pô. Na faculdade eu pegava altas putas. Mas ela é diferente, ela tem o tempo dela. E de boa, ta tudo bem.
— Tá tudo bem... por enquanto, né malandro. Mas deixa eu te falar uma parada, de homem pra homem. Faculdade é um lugar perigoso pra manter virgenzinhas. Tu confia nela?
Engoli seco. — Confio.
— Então fica esperto. A faculdade muda as pessoas. É festa, é bebida, é liberdade. Tem sempre um cara mais velho, mais malandro, pronto pra dar o bote. E você aqui, fazendo promessa de pureza.
Me calei. Não queria continuar aquela conversa, mas ele não parou.
— Eu já vi isso acontecer, mano. O cara achando que a mina tava lá, santa, quietinha... e do outro lado, tava virando assunto nos grupinhos. Faculdade é selva. Se tu bobear, outro caça.
— É cara, eu entendo.
— Olha mano, eu to mandando essa fita ai porque eu gosto de você. Por que assim, eu já fui apaixonadinho, tive namorada. Eu paguei faculdade pra ela, e enquanto eu tava ralando, correndo pra gente, ela tava era correndo pra cama de um maconheiro de história lá menor.
— Sério? — Perguntei.
— Sério mesmo, o cara era um filho da puta. Peguei no flagra meu parceiro, lá na UFF tem um cantinho que eles vão só pra meter. Peguei eles lá.
Tomei um gole da cerveja já morna. Olhei pro campo, onde alguns ainda brincavam de bater pênalti. Tentei mudar de assunto. Perguntei sobre o time que ele torcia, e ele se empolgou. Aos poucos, o assunto foi ficando mais leve de novo, mas aquela fala ficou martelando na minha cabeça.
Eu confiava na Mônica. Mas Rafael havia plantado uma semente de dúvida que eu não queria regar.
Ficamos conversando mais um pouco. Rafael, por fim, fez uma proposta de todos irem assistir o mengão amanhã na casa dele. Ele tinha uma tv de 70 polegadas na sala, e um sofá bem espaçoso, bom para assistir o mengão jogando. Aceitei, afinal, entre ficar sozinho em casa e ter a companhia de amigos, era melhor a segunda opção.
Voltei pra casa, e nada de mensagens dela. Olhei o relógio. Já passava das onze. Ela nunca foi de sumir assim, mesmo ocupada. Ainda mais em outro estado, sinceramente, estava achando isso estranho.
As palavras do Rafael, por mais bobas que fossem, começaram a ecoar na minha cabeça. “Você vai ficar aqui se remoendo…”. Reviravoltas imaginárias, cenários que eu odiava criar começaram a tomar forma. Mas sacudi a cabeça, tentando afastar.
"Ela tá curtindo a viagem. É a primeira vez dela sozinha assim. Com certeza deve estar com as meninas, ocupada... Não tem nada demais."
Mesmo assim, a inquietação ficou grudada em mim como um cheiro ruim.
No dia seguinte, acordei com uma notificação no celular. Era uma mensagem dela.
“Bom dia, amor! Me desculpa por não responder ontem. Foi uma correria, a gente passou a tarde toda arrumando o quarto aqui, depois saí com uma das meninas pra conhecer a cidade. Fiquei sem perceber a hora. Tá tudo bem por aí? ❤️”
Li a mensagem e encarei a tela por um tempo. Meu dedo pairou sobre o teclado, mas a resposta saiu mais seca do que o normal:
“Tudo certo sim. Que bom que deu pra aproveitar. Espero que se divirta bastante.”
Depois disso, fui tomar um banho e, como de costume, decidi correr um pouco. Aquele exercício sempre me ajudava a pensar — ou a não pensar em nada, o que era ainda melhor.
O sol já começava a castigar e o asfalto tremia sob os meus pés. O fone de ouvido pulsava uma playlist qualquer, mas nem conseguia prestar atenção. Corria meio no automático, os pensamentos dispersos. Quando percebi, já estava passando em frente ao prédio do Rafael. Estava prestes a continuar sem parar, quando algo me fez diminuir o ritmo.
Na entrada do edifício, do lado de fora, lá estava ele — Rafael — encostado num dos pilares, meio de canto, como quem se escondia do mundo. Mas não estava sozinho. Uma garota, loira, baixa, com um corpo de dar inveja, colada nele. Mais que colada: estavam aos beijos, apertos, podia ver a mão boba de rafael pegando na bunda dela.
Ela ali, empinando de própósito a bunda pra ele pegar. Ele colocando a mão dentro do shortinho dela por trás, sem pudor, ou com medo de alguém ver. Os dois estavam num transe total. O tipo de cena que faz você desviar o olhar... mas eu não consegui.
Meu coração apertou por um instante, e um pensamento nojento e súbito passou pela minha mente:
"Não… Não pode ser… Será que…?"
Ela tinha o mesmo porte, o cabelo claro preso num coque improvisado, aquele short colado realçando o quadril avantajado, que me lembrava — e muito — o corpo da Mônica. Minha respiração falhou por um segundo. Senti um calafrio na espinha.
Caralho, o que eu tô pensando? Não tem possibilidade nenhuma de ser Mônica ali, era impossível. Pensei — Ou não pensei.
Mas aí, como se o universo tivesse ouvido minha dúvida, a garota se virou de leve. Não era Mônica. Nem de perto. O rosto era completamente outro, com piercing no nariz e um batom vermelho gritante. Me senti idiota por cogitar aquilo por um segundo sequer. Mas ao mesmo tempo, curioso.
— E aí, Pedro! — gritou Rafael ao me notar. Ele soltou a loira com um sorriso sem vergonha no rosto, ainda com a mão na cintura dela. — Tá no pique cedo hoje, hein? Vai colar mais tarde ou vai amarelar?
Dei uma risada forçada, tentando disfarçar o desconforto.
— Tô dentro. Mais tarde eu passo lá.
— Beleza! — respondeu ele, e deu um tapinha na bunda da moça, que sorriu maliciosa.
— Rafa, eu vou entrar. — Disse a mulher ali, que entrou no prédio.
— Gatinha gostosa ela, né? — Comentou rafael.
— Não sei de nada, viu? — Respondi, desconversando, enquanto ele da um tapinha no meu ombro.
— Qual é, mano. — Disse. — Não precisa ficar acanhado. To ligado que tu ficou de olho, mas ela é a casada que eu falei. Cuidado pra não olhar muito, o marido dela ta na área.
— Porra mano, e você pegando ela aqui, assim.
— Pô, ai é que é gostoso. Rapaz, e eu vou te falar, quando a sua mina voltar, arregaça ela, parceiro, não marca não.
— Vou indo ai, amigo, Falou.
Segui correndo, mas a cena ficou gravada na minha mente por um tempo. Não por ciúmes da loira, nem por achar que Rafael tava errado em curtir a vida — ele era solteiro, afinal. Apesar que ela era casada. Mas porque eu… cheguei a cogitar que fosse a Mônica ali.
Por que eu pensei isso? Não conseguia pensar num motivo, mas, tentei não pensar muito nisso.
Acelerei o passo, tentando deixar essa sensação pra trás. O fôlego apertava, mas não tanto quanto a minha cabeça.
Cheguei no prédio do Rafael por volta das cinco da tarde. O sol começava a se esconder atrás dos prédios, mas o calor ainda grudava na pele. O hall de entrada tinha aquele cheiro de desinfetante forte misturado com cigarro que alguém devia ter fumado escondido em algum canto. Apertei o botão do interfone.
— Fala, meu parceiro! Sobe aí, tá tudo aberto! — disse a voz animada do Rafael pelo interfone.
Subi e a porta já estava mesmo escancarada. O som da televisão estava alto, passando os comentaristas do pré-jogo. Entrei e fui direto para a sala. Tinham umas cinco ou seis pessoas espalhadas: dois caras que eu já tinha visto antes em outras festas, uma moça morena de cabelos trançados que mexia no celular sentada no sofá, e um casal mais jovem na varanda com copos na mão.
Rafael veio da cozinha com uma bandeja de cervejas, usando uma camisa retrô do Flamengo, e com aquele sorriso dele que parecia sempre esconder alguma malícia.
— Chegou o reforço! — ele disse, entregando uma cerveja na minha mão. — Pega aí, fica à vontade. Tu viu que o Arrasca vai jogar, né? Hoje vai ser show!
— Valeu, cara. Tava mesmo precisando distrair, além do mais... É FLAMENGO, NÉ PORRA!
— AI SIM, CARALHO! É MENGÃO, PORRA! Pô, tu ia ficar em casa sozinho? Para com isso. Aqui é dia de jogo, dia de juntar a galera, zoar, esquecer os problemas.
Me acomodei no sofá, tentando entrar no clima. Aos poucos a sala foi enchendo de vozes, risadas, cheiro de petisco frito vindo da cozinha. O Rafael era o tipo de anfitrião que sabia conduzir o ambiente: piadas no ponto, cerveja sempre gelada, música no volume certo antes do jogo começar.
Mas ainda assim, por mais que o clima fosse bom, minha mente insistia em vagar. Peguei o celular algumas vezes. Nenhuma nova mensagem da Mônica. Só aquela de mais cedo, pedindo desculpas pela demora e explicando que tinha passado o dia anterior arrumando o quarto e saindo com uma amiga para conhecer a cidade.
Tentei convencer a mim mesmo que estava tudo certo. Era a primeira viagem dela, ela estava empolgada, tentando aproveitar. Mas uma parte de mim não se calava. Tinha algo estranho. E talvez nem fosse ela o problema. Talvez fosse eu.
— Aí, Pedro, tô num esquema ai mano mais tarde, vai ter uma gostosa aqui, e ela quer outra pica além da minha. Tá afim?
— Cara, que loucura! Não posso irmão, sou comprometido.
— Demorou! — Ele soltou, rindo. — Tu é comprometido, e ela também! Hahaha, olha que par.
— Hahaha! — Dei uma risada, bem sem graça.
— Cara, eu só te falo uma coisa, se você um dia tiver uma chance como essa, e não precisar dispensar, só vai, porque é muito bom cair na putaria. Mulherada gosta.
Ri sem graça. Era o jeito dele, sempre rindo, sempre falando meio sem filtro. Mas algo naquilo ainda cutucava minha mente. Aquela loira, por um instante, tinha me feito sentir um desconforto absurdo. Porque ela me lembrou a Mônica.
A transmissão do jogo começou e o ambiente ganhou vida. Gritos, palmas, xingamentos. Era impossível não se contagiar, pelo menos um pouco. Tomei mais algumas cervejas, peguei um pedaço de frango da bandeja que passava, e me joguei mais fundo no sofá.
Rafael sentou do meu lado e me deu um tapa nas costas.
— Rapaz, esse filho da puta do Pedro ta errando gol na cara, puta que pariu!
— Mano, pode crer. Ta dando raiva assistir esse jogo.
No mesmo instante, peguei meu celular, para ver se tinha uma mensagem dela. Nada ainda. Não sabia por que estava assim. Saudade, talvez? Ou desconfiança? Porra, eu nunca desconfiei de nada.
— Irmão, na moral, deixa esse celular largado ai e cola ver o jogo. Se você ficar ai emputecido com a mina vai ser pior, tu não confia nela, parceiro? Então esquece essa parada ai.
— É... valeu, cara. Vou pensar nisso.
Mas a verdade é que, naquele momento, eu não sabia nem onde a Mônica estava exatamente. E talvez o pior... era que eu não tinha certeza se ela também estava pensando em mim.
O segundo tempo já rolava e o clima estava pegando fogo. A sala do Rafael parecia mais um boteco improvisado: gente gritando, cerveja pra todo lado e aquele cheiro misturado de churrasco e desodorante vencido. Eu tava meio deslocado no começo, confesso… mas aos poucos fui entrando no ritmo.
O Flamengo pressionava, e cada toque na bola do Arrascaeta arrancava algum comentário exagerado da galera.
— Esse cara tem que ter estátua no Maracanã!, gritou um dos caras no sofá, já no quarto copo.
Rafael ria alto. Ele tava empolgado, torcendo como se a vida dele dependesse daquele jogo.
— Tu viu esse toque de letra, Pedro? Meu irmão... isso aí é poesia, pô! — ele me cutucou, quase derrubando a cerveja.
O Flamengo fez um gol. A sala explodiu. Teve cara pulando, derrubando copo, outros se abraçando como se o título tivesse sido garantido. Rafael me abraçou também, com um sorriso sincero. Nessa hora, deixei as paranoias de lado. Me senti de novo parte de algo. Me senti leve.
Mas quando o juiz apitou o fim do jogo — vitória suada por 2x1 —, senti que era hora de ir.
— E aí, vai ficar mais um pouco? Vamos pedir pizza. — Rafael perguntou, empolgado.
Balancei a cabeça, levantando devagar do sofá.
— Valeu, irmão. Foi massa, de verdade. Mas amanhã eu acordo cedo, tenho uns relatórios pra revisar. — Eu nem sabia se tinha mesmo, mas precisava daquele silêncio, de estar comigo mesmo um pouco.
— Demorou, mané. Mas vem mais vezes, pô. Tu fica aí naquela casa solo, sozinho demais, cê vai virar monge logo logo — ele riu, me dando aquele tapinha de despedida nas costas.
— Monge é paz, pô. Vai ver eu tô precisando mesmo — sorri, já pegando minha chave no bolso.
— Vai nessa, Pedro. Se cuida. Qualquer coisa, só chamar.
Saí dali com o som das vozes ainda ecoando atrás de mim. O ar da noite bateu no rosto, e o silêncio da rua pareceu me engolir inteiro depois de tanto barulho. Enquanto caminhava, não resisti e peguei o celular.
Nenhuma nova mensagem da Mônica.
Quer saber? Não vou ficar esperando mais mensagem não. Vou ficar é de boa em casa. E foi o que eu fiz, aproveitei para fazer o restante de minhas coisas, e curtir o restante do domingo.
Era segunda-feira. A manhã tinha começado arrastada, e a saudade da Mônica batia mais forte do que no fim de semana — talvez porque agora tudo estava silencioso de novo. Pelo menos o trabalho me ajudava a manter a mente ocupada. Até que, no meio da correria, vibrou uma notificação no celular. Era do Rafael:
“Mano, me liga quando puder, urgente.”
Aquilo me deu um leve desconforto no peito. Urgente? O que será que tinha acontecido? Tive que esperar o intervalo pra sair e ligar. Assim que atendeu, a voz dele veio um pouco esbaforida.
— Fala, Pedro. Cara, preciso de um favorzão teu.
— Manda aí. Tá tudo bem?
— Mais ou menos. O apartamento aqui foi interditado. A mulher do andar de baixo teve um vazamento monstro e acabou fodendo meu apê e o de mais três. A construtora tá enrolando e até a prefeitura entrou no rolo. Eu só vou ter grana pra arrumar um lugar decente daqui uma semana mano, e sei lá quando vou poder voltar. Tu acha que rola de eu ficar aí na tua por uns dias?
Fiquei em silêncio por uns dois segundos. Não era como se eu tivesse problema com o Rafael — pelo contrário, ele sempre foi gente boa comigo — mas dividir meu espaço, ainda mais com Mônica longe, era uma mudança repentina. Mesmo assim, não hesitei.
— Claro, velho. Pode vir sim. Só me avisa o horário direitinho pra eu me organizar aqui com as paradas.
— Valeu, irmão! Tu me salvou. Te pago uma breja, uma pizza, sei lá… Hoje mesmo já posso ir?
— Pode, tranquilo. Já deixo tudo certo aqui.
— Pode ficar susse mano. Eu fico até o fim de semana. Depois arrumo outro lugar pra ir. Não quero te empatar, até porque, jaja a patroa ta ai e eu sei que tu vai aproveitar!
— Haha, vou mesmo. Falou ai, parceiro.
Desliguei. Dei um suspiro. Lá se ia minha semana silenciosa. Mas talvez fosse até bom ter alguém por perto. A casa andava quieta demais, e confesso que seria legal ter alguém ali, pra conversar e não ficar somente pensando na minha namorada. Eu estava irritantemente com saudades demais, não era normal.
No fim da tarde, ele chegou com umas três malas grandes, uma mochila e um monitor nas mãos.
— Cara… tu trouxe a casa inteira? — brinquei, enquanto segurava a porta aberta.
— Não brinca, eu quase morri descendo as escadas lá. O elevador do prédio tá quebrado também. É a cereja do bolo.
Ele entrou, já tirando os tênis, e deixou tudo encostado no canto da sala. A gente trocou aquele abraço de quem se vê quase todo dia, mas ainda assim sente que o clima mudou. Acho que ele percebeu meu olhar meio pensativo.
— Mano, se tiver te atrapalhando, de verdade… eu arrumo um Airbnb de última hora.
— Para com isso. Tu vai ficar aqui, tá tranquilo. A casa é grande, e tu já sabe como funciona tudo.
— Então deixa eu te recompensar fazendo um café, beleza?
— Não, mano. Hoje ao menos não, deixa que eu passo um café ai pra gente.
Fui então até a cozinha, e fiz um café pra nós, e aproveitamos e sentados no sofá, enquanto ele me contava mais detalhes da treta do prédio. Pelo jeito, foi um verdadeiro caos, com a mulher da cobertura enchendo o síndico de processos e os bombeiros interditando o bloco todo por risco de curto.
— Mas ó, enquanto eu estiver aqui, juro que não te dou trabalho. Só preciso de um canto pra dormir e uma tomada pro computador — ele disse, rindo.
— Tá liberado. Só não vale botar funk alto duas da manhã. Ou trazer loira misteriosa sem avisar — brinquei, cutucando ele com o cotovelo.
— Relaxa, o plano é sobreviver à semana e tomar umas contigo. E, se rolar, assistir mais um jogo do Mengão contigo, já que deu sorte da outra vez.
— Pô mano, jogasso hein!
— Rapaz, muito bom. — Ele disse.
A noite passou tranquila. Fiz um macarrão rápido, dividimos a janta, e ele se ajeitou no sofá-cama da sala. Engraçado como, em pouco tempo, a casa que estava calada e cheia de saudade, agora tinha cheiro de café e som de risadas de novo. Não era a Mônica, claro… mas era bom ter alguém ali. Nem que fosse por uns dias.
Mal sabia eu que aquela semana ainda ia render mais do que só partidas de FIFA e cerveja gelada.
Acordei com o barulho de alguma coisa caindo no chão. Ainda sonolento, me levantei e fui até a cozinha. Rafael estava lá, sem camisa, com o cabelo todo bagunçado e uma expressão de quem claramente não nasceu pra cozinhar.
— Que isso, tá assaltando a cozinha? — brinquei, coçando a cabeça.
— Cara... como é que tu vive assim? Cadê o café solúvel? Eu jurava que tinha achado, mas era açúcar mascavo! — disse ele, com um pote na mão e uma colher pingando mel.
Soltei uma risada baixa. — O café tá no armário de cima, segunda porta. Mas cê quer que eu faça isso aí? Tá parecendo que a cozinha te mordeu.
— Não, não, eu tô tentando ser útil. Tu me deu abrigo, o mínimo é te dar um café decente.
— Isso que você chama de "decente"? — olhei em volta, tinha farelo de pão, um copo quebrado no chão e um cheiro esquisito que eu não sabia identificar. — Tem certeza que não quer que eu faça?
— Já tô aqui mesmo. Relaxa, parceiro. Vai se arrumar, eu cuido do desjejum!
Me rendi e fui tomar banho. No fundo, era bom ter alguém por perto, mesmo que fosse o Rafael doido, largado e totalmente fora do padrão de rotina que eu tinha. Quando voltei pra cozinha, ele tinha conseguido montar um sanduíche com queijo e tomate. O café estava forte demais, mas era café.
Comemos trocando piadas sobre o talento culinário dele, e depois me despedi. Ele ficou de bermuda no sofá, com o notebook no colo e um controle remoto na outra mão.
— Valeu, irmão. E qualquer coisa, me chama. Tem comida na geladeira e senha do wi-fi tá no papel grudado na geladeira.
— Pedro, perai mano. — Ele então se levantou e veio até mim.
— Toma aqui, parceiro. — Ele então pegou a sua carteira, e tirou ali mais ou menos três mil reais e me entregou — E claro, recusei.
— Cara, guarda seu dinheiro, eu to te hospedando aqui é pela amizade, mesmo que seja recente.
— Mano, eu vou me sentir mal se tu não aceitar, eu não quero causar problemas.
— Não precisa, sério. Depois você me recompensa com outra coisa.
— Demorou. Vai lá ganhar o pão, que eu vou ver se assisto uma série ou se fico deitado refletindo sobre a minha trágica existência de desabrigado.
Dei risada e fechei a porta.
No trabalho, a manhã passou devagar. Respondi e-mails, revisei um relatório ambiental e conferi um parecer técnico. Tudo dentro do normal. Na hora do intervalo, comi uma marmita no refeitório enquanto via notícias no celular.
Foi aí que o celular vibrou. Uma chamada de vídeo. O nome dela apareceu ali na tela: Mônica.
Meu coração disparou. Quase derrubei o garfo no chão. Atendi na hora.
A imagem dela surgiu: estava num lugar bem movimentado, cheio de luzes, música alta ao fundo, e muita gente passando atrás. Parecia algum tipo de feira, evento ou festival.
— Oi, amor! — disse ela com aquele sorriso que sempre me desmontava. — Desculpa não ter ligado antes, aqui tem sido uma loucura. Muita coisa pra fazer.
Tentei esconder meu alívio. — Tá tudo bem... Eu tava preocupado, mas imagino como deve estar corrido aí.
— Nossa, nem te conto! As meninas aqui são tudo loucas meu.
— Para, Mô. Já vai me queimar com seu namorado.
— Olha amor, ta tudo muito maneiro aqui, tenho novidades. Depois te mando umas fotos. Tava arrumando o quarto com as meninas, e ontem a gente foi num festival aqui... muita coisa pra contar.
— Eu estou com saudades, Mônica. Eu nunca pensei que ficaria com tanta saudade.
— Eu também tô, amor. E sabe... Eu acho que você não vai se arrepender quando eu voltar.
De repente, ela deu um gritinho. — Ai!
— Que foi? — perguntei, já tenso.
Ao fundo, eu vi algo ficar ali do lado dela. Um alguém. Que estava perto demais, mas não conseguia entender ou saber quem era.
Ouço uma voz masculina, era da pessoa ali perto dela. Ele dizia.
— E ai, vamos?
Ela virou o rosto rápido, como se estivesse dividida.
— Preciso ir, tá bom? Depois te ligo com calma, juro! Tô com saudade. Beijo!
E a chamada caiu.
Fiquei ali, com o celular na mão, olhando pra tela preta. Não sabia exatamente o que sentir. Parte de mim estava aliviada por vê-la feliz e cheia de energia. Outra parte... não conseguia ignorar aquele aperto no peito. Tinha algo naqueles sons, na maneira como desligou, nas vozes de fundo... não sei. Só senti.
Voltei pro trabalho com a cabeça distante. Quando saí, o céu já estava escurecendo. Fui diretamente para casa, com o coração pesado, com a mente em transe.
Quando entrei em casa, acabei ouvindo sons que não conseguia identificar o que seria. A única coisa que sabia é que Rafael não estava sozinho em casa.
— Ah, que delícia...
— Ah, ah... — Seguiam-se os sons, e eu já estava quase tendo certeza do que era.
Fechei a porta, e assim caminhei pela sala e os sons começaram a ficar um pouco mais fortes vindos do quarto de hóspedes. Foi então que acabei vendo na fresta da porta que estava entreaberta e assim eu vi a cena: lá estava Rafael deitado na cama de hóspedes e a mesma loira de anteontem, ali sentando gostoso em cima do pau dele. Os dois estavam literalmente fodendo dentro da minha casa.
A bunda dela estava bem encaixada na rola dele, enquanto ela subia e descia, engoliu completamente o pau dele e deixava as bolas soltas, enquanto tomou um tapa na bunda. No meio dos movimentos, ela foi fazendo a rola aparecer, para logo em seguida se esconder dentro da bucetinha dela.
— Que vagabunda boa essa. — Dizia ele.
Rafael deslizava as mãos pela cintura dela e da um belo tapa no meio da bunda, e a vadia empinou aquele rabo assim que recebeu o belo tapa, enquanto ela estava ali gemendo forte.
— Cachorro maldito. — era o que ela dizia para ele, enquanto ele simplesmente respondia com:
— Você não passa de uma cadelinha safada, chifrando o maridinho. Você gosta não é puta?
— Gosto. Me come, vai.
E os dois ficaram ali provocando enquanto continuaram metendo. Sem que eu percebesse, comecei a bisbilhotar a foda, talvez pela carência, mas foda-se. E então, notei que naquele momento meu pau ficou duro para caralho dentro da calça, estava com muito tesão.
— Preciso sair daqui... — pensei, mas não saí.
Bisbilhotando mais, eu acabei por não conseguir resistir e fiquei assistindo aquela cena. Talvez fosse a falta de sexo, de meter gostoso. Eu já estava a alguns anos sem transar apenas fazendo preliminares.
Fiquei assistindo aquilo escondido enquanto coloquei meu pau para fora e assim comecei a punhetar. Fiquei ali me ajeitando, e assim eu comecei a descascar a pica, enquanto estava ouvindo os gemidos dos dois.
Comecei a me punhetar bem gostoso, batendo uma nervosa enquanto Rafael descia o pau nela. Ele acabou colocando ela de quatro, e começou a meter. Fiquei olhando escondido, enquanto ele foi socando o caralho nela e algo começou a vir na minha mente naquele momento.
Eu estava tão depravado que comecei a imaginar a minha Mônica ali, tomando uma surra de pica na cama, gemendo igual uma putinha. No lugar do Rafael estava eu, enchendo ela de pau. Porra, mulher, porque você não volta logo? Ela jogava sua bunda contra meu pau enquanto eu socava a pica forte, puxando o seu cabelo e deixando aquele cuzinho bem arrombado.
Passei então a bater uma gostosa, tava ali com o pau na mão. Me afastei da porta, e me encosto ali na parede. Fiquei descascando uma gostosa, batendo uma, enquanto estava delirando de tesão.
Os gemidos haviam parado, mas eu não conseguia parar de bater uma. Foi quando eu fui surpreendido por uma coisa.
Minhas mãos se afastam do meu pau e logo alguém começou a me chupar. De olhos fechados eu comecei a imaginar sendo a Mônica, mas depois eu olhei ali mas abaixo e era a mulher que o Rafael tava metendo.
— Olha só o que temos aqui...
— Chupa ele, vadia. É meu amigo, não queria outro pau?
— Pera, vocês... n — Era tarde demais. Ela estava ali chupando meu pau, enquanto Rafael estava descendo a pica no cuzinho dela. Ele olhou para mim.
— Fode a boca dela, mano. Desce a pica.
— Ra-rafael, eu n — não posso. Sou comprometido, porra.
— O que os olhos não veem, o coração não sente. — Comentou Rafael, enquanto seguiu comendo ela.
— Mano, eu vi que você ficou empolgado me ver fodendo, eu não podia deixar você sem um trato meu parceiro. Chupa ele gostoso, vai vadia.
E ela chupava ali, mamando a minha pica enquanto eu tentei me afastar. Mas ela abraçou o meu quadril com os braços e ficou ali lambendo o meu pau e abocanhando a cabecinha.
— Só curte Pedro. Uma boquete só não faz mal cara.
Mas fazia. Muito mal. Não podia fazer isso com a Mônica.
Acabei não pensando muito e fui sendo levado pelo momento. Fiquei ali sendo mamado por ela, enquanto Rafael descia a pica naquele cuzinho.
Confesso que não durei muito, depois de mais ou menos 3 minutos daquela boquete gostosa, eu já estava enchendo a boca dela de leitinho. Rafael então puxou ela, e fez ela lamber o pau dele também. Ele acabou gozando na boquinha, e os dois ficaram ali no pega.
Fui para o banheiro, pra me afastar daquilo, e assim tomei uma ducha. Depois de ficar mais frio, sai do banho e ela já tinha ido embora, ficando apenas Rafael ali. Ele estava com um bermudão, sem camisa enquanto estava assistindo alguma coisa na TV. Ele me olhou enquanto dizia:
— Brother, fica de boa.
— Cara, o que eu fiz?
— A culpa é minha, parça. A mina veio aqui do nada, falei que ela devia vir só amanhã. Eu ia te avisar. Mas ela veio e rolou. A carne é fraca, não segurei. — Ele disse.
— Eu sei. Bem fraca.
— Cara, eu tô ligado que você tá incomodado com o que aconteceu mais cedo. Mas fica de boa cara, foi só um boquete no fim das contas.
— Rafael, só esquece mano.. Não vamos falar sobre isso cara! Se a Mônica sabe, me mata.
—Mano relaxa, da minha boca não sai nada.
— Cara, não sei o que deu em mim. — Confessei.
— Pô Pedrão, nem parece que tu já foi das putaria, é normal ficar de pau duro vendo o casal ali no bem bom quando tu ta na seca. Na moral, até eu já fui voyeur. É gostoso. Mas da próxima eu não vou vacilar não, na verdade eu nem vou trazer mais mulher para cá cara. Foi mal
— Eu acho bom.
Depois disso acabamos jogando conversa fora e pedimos pizza. Ficamos comendo enquanto assistimos TV e logo cada um foi para o seu canto. Praticamente desmaiei na cama, e tudo que eu comecei a pensar foi na boquete que eu levei, que de forma estranha eu estava me sentindo culpado mas ao mesmo tempo com muito tesão.
Ainda faltava um dia para rever minha Mônica. E confesso que já estava ansioso mas ao mesmo tempo preocupado. Sinto que deveria contar pra ela o ocorrido. Mas me pergunto, será que ela não teve suas tentações ali? Será que ela resistiu?
Não pensei em muita coisa, acabei indo dormir. O dia amanhã seria mais leve. Ou não.
Acordei com aquele silêncio estranho de quem está acostumado a ouvir uma voz doce logo cedo. Mônica sempre me mandava uma mensagem de “bom dia” — às vezes com emojis, às vezes só um áudio sonolento, mas era sempre ela. E hoje… nada.
Peguei o celular e tentei ligar, mesmo sabendo que ela não tinha respondido nada desde ontem. Chamou direto na caixa postal. Suspirei, tentando ignorar a sensação incômoda que vinha crescendo no meu peito. Talvez só estivesse ocupada, talvez com sinal ruim. Talvez...
Fiquei ali me lembrando da ultima ligação, e o "vamos". E seu imediatismo ao desligar, sem sequer me falar muita coisa.
Rafael ainda dormia jogado no sofá. A televisão ligada em algum programa de culinária que ele provavelmente nem estava assistindo. Não tive coragem de acordá-lo. Peguei minha mochila, as chaves, e saí.
Decidi parar numa padaria antes de ir trabalhar. Sentei no balcão e pedi um pingado com pão na chapa, bem amanteigado, como eu gostava. A gordura quente grudando no céu da boca me trouxe uma memória qualquer de quando eu era criança. Por alguns minutos, consegui esquecer.
No trabalho, a manhã passou devagar. Tudo rotineiro: relatórios, e-mails, algumas risadas com os colegas, um café ruim na copa. Mas no início da tarde, meu celular vibrou com uma notificação. Dei uma olhada rápida.
Pedido de amizade: Elisa.
O nome soou distante no começo, até que fez sentido. Elisa... a aniversariante da festa meses atrás. A tal amiga da Mônica, aquela da noite confusa e cheia de bebida. Franzi a testa, curioso, mas deixei pra aceitar depois. Nem sabia o que ela queria comigo. Talvez nada.
Mais tarde, o Rafael me ligou. Atendi enquanto observava a chuva começar a bater contra a janela do escritório.
— Fala, irmão — ele disse do outro lado, com aquele tom leve de quem sempre tenta deixar tudo bem. — Só pra avisar... consegui um lugar. Me mudo depois de amanhã. Queria te avisar.
— Pô... sério mesmo? — falei, tentando esconder minha surpresa. — Tu sabe que é parceiro, se precisar de mais tempo...
Ele riu.
— É, eu sei maninho, mas já tô me sentindo folgado demais aqui. E, bem... melhor cada um no seu canto, né?
Assenti, mesmo ele não podendo me ver. Talvez fosse o melhor mesmo. Depois de tudo que rolou... deixar quieto, como ele sugeriu.
No fim do expediente, fui pra casa. No meio do caminho, senti o telefone vibrar. Era Mônica.
— Oi amor. — Ela disse, do outro lado da linha.
— Oi, meu amor. — Respondi, tentando conter o sorriso bobo que brotou no meu rosto. Era bom ouvir a voz dela.
— Eu... só liguei pra avisar que estou bem. E ansiosa pra gente se ver. — Ela falou devagar, como se medisse cada palavra. Ela falava pausadamente, com a voz abafada, como se estivesse em um local fechado. Ela parecia tentar conter algo.
— Amor, você está bem? Quer falar alguma coisa? — perguntei.
Houve um breve silêncio, aquele tipo que não é confortável. Meu peito apertou, mas eu ignorei. De repente, um som voltou, quase como um ar sendo expulso do pulmão. Ela respondeu.
— Não. Era só i —isso.
— Eu te amo, Mônica. Estou com saudades.
— Eu também.
Ela desligou logo depois. Sem se despedir como de costume, sem o "beijo" soprado no final, sem o "te amo" em voz baixa. Só silêncio. E algo mais… um som abafado, como se alguém estivesse próximo demais do telefone no instante antes da linha cair. Um ruído breve, irreconhecível, mas estranho.
Fiquei alguns segundos com o celular na mão, olhando a tela escurecer. Aquela ligação deixou um gosto esquisito na boca.
Talvez fosse só coisa da minha cabeça. Ela devia estar cansada, ou com sinal ruim. Talvez estivesse no quarto com as outras meninas e não queria falar muito. Mas… não sei. A voz dela... não era a mesma.
Guardei o celular no bolso e liguei o rádio pra distrair. Mas a sensação não me abandonou. Algo ali não encaixava.