No tatame, sem regras.

Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 3498 palavras
Data: 30/06/2025 20:00:26
Última revisão: 30/06/2025 20:06:17
Assuntos: Gay, Homosexual, Macho, homem, Sexo.

No Tatame, Sem Regras.

O cheiro era a primeira coisa que o golpeava. Uma mistura densa, quase palpável, de suor, borracha do tatame e o produto de limpeza com cheiro de pinho que os funcionários usavam no fim do dia. Para Felipe, aquele aroma era a essência do inferno e do paraíso. Era o cheiro de Roberto.

Fazia exatamente um mês e seis dias desde o “incidente”.

Felipe contava. Um rola qualquer, um movimento de quadril para escapar de uma montada, e sua mão, escorregadia de suor, deslizou pelo peito de Roberto, desceu pelo abdômen duro como pedra e pousou, por um segundo que pareceu uma eternidade, sobre o volume pesado e semi-rígido dentro da bermuda de lycra. O contato foi elétrico, um choque que paralisou os dois. Roberto não se afastou. Pelo contrário, seu quadril deu uma leve, quase imperceptível, empurrada para cima, aprofundando o toque. Ele parou o movimento, o peso do seu corpo sobre o de Felipe, e um sorriso torto, sujo, brotou em seus lábios. Um sorriso que dizia: Eu sei. Eu senti. E eu gostei.

Desde aquele dia, o convite para treinar, antes uma brincadeira extrovertida de um colega de trabalho, tornou-se um chamado para o matadouro. E Felipe, como um cordeiro estúpido e excitado, continuava indo.

Hoje a academia estava mais vazia. Uma noite de terça-feira chuvosa. Apenas alguns graduados no canto, trocando posições em câmera lenta. E eles.

“Tá moscando, porra?”, a voz de Roberto, grave e rouca, cortou o ar. “Vamos aquecer.”

Felipe engoliu em seco, o coração já martelando contra as costelas. Ele estava de quatro no tatame, alongando os ombros, e Roberto se aproximou por trás. Não parou ao seu lado. Parou atrás, perto demais. Felipe sentiu o calor do corpo dele antes mesmo de qualquer toque. Um calor animal, irradiando testosterona.

“Deixa eu te ajudar com isso aí. Você tá todo travado”, disse Roberto. Sua voz era um sussurro perto do ouvido de Felipe, fazendo cada pelo da sua nuca se eriçar.

Sem esperar resposta, as mãos grandes e calosas de Roberto pousaram nas escápulas de Felipe. Os dedos pressionaram, encontrando nós de tensão que Felipe nem sabia que tinha.

Mas não era um toque de fisioterapeuta. Era um toque de posse. As mãos deslizaram lentamente para baixo, contornando a caixa torácica, os polegares roçando perigosamente perto das axilas. Felipe prendeu a respiração.

“Relaxa o corpo, Felipe. Solta. Se você ficar duro assim, vai se machucar.” A ironia na frase era tão espessa que podia ser cortada com uma faca. Roberto sabia exatamente o que estava fazendo. Seu corpo se aproximou mais, os joelhos se encaixando na parte de fora das coxas de Felipe, prendendo-o. E então, Felipe sentiu. A pressão inconfundível do pau de Roberto, já desperto, contra a base de sua coluna. Não era um toque acidental. Era uma declaração. O volume roçava para cima e para baixo a cada movimento que Roberto fazia para “alongar” as costas dele.

“Tá sentindo aí? Bem aqui”, Roberto murmurou, sua boca agora quase colada na orelha de Felipe, o hálito quente e com cheiro de café. “É onde a tensão acumula.”

Felipe só conseguiu assentir, a garganta fechada. Tensão era um eufemismo. O que ele sentia era um incêndio se alastrando pela sua virilha, seu próprio pau latejando dolorosamente dentro da sunga por baixo da bermuda. Ele estava completamente à mercê de Roberto, imobilizado sob o pretexto de um alongamento, sentindo a ereção do outro homem esfregando em si. Medo e tesão travavam uma guerra civil em seu sangue. O tesão estava vencendo por uma margem esmagadora.

Depois do que pareceu uma vida inteira, Roberto se afastou com uma palmada forte nas costas de Felipe. “Pronto. Tá novo. Vamos rolar.”

O “rola” começou como sempre. Cumprimento, mãos firmes no quimono, a dança de pegadas e tentativas de desequilíbrio. Mas a atmosfera estava envenenada de desejo.

Roberto não tentava finalizar Felipe com um estrangulamento ou uma chave de braço. Seu jogo era outro. Ele queria posições de controle. Posições de humilhação.

Em menos de um minuto, ele passou a guarda de Felipe e montou. O peso dele era esmagador. Cento e dez quilos de músculo puro e intenção. Roberto se ajeitou, o suor pingando de seu rosto no de Felipe, e sorriu aquele sorriso imundo.

Seus quadris estavam perfeitamente alinhados com o rosto de Felipe, o volume na bermuda a centímetros da boca dele.

“Que foi? Perdeu o fôlego?”, provocou.

Em vez de atacar o pescoço, Roberto usou as mãos para segurar os pulsos de Felipe, prendendo-os no tatame acima da cabeça. Ele estava completamente exposto, imobilizado, com o pau de Roberto balançando na sua cara. A cada leve ajuste de quadril que Roberto fazia, a mala pesada roçava na bochecha, no queixo, perto dos lábios de Felipe. O cheiro era avassalador. Um odor masculino, azedo e almiscarado de suor acumulado no tecido sintético. O cheiro que assombrava as fantasias de Felipe.

“Você precisa aprender a usar o quadril, Felipe. É a parte mais importante do corpo no jiu-jitsu”, Roberto disse, sua voz baixa, quase didática, mas seus olhos contavam outra história. Eles queimavam. “Olha o meu, por exemplo.”

E ele moveu o quadril. Lentamente. Uma pequena ponte, para frente e para trás. A cada movimento, seu pau, envolto na lycra úmida, esfregava deliberadamente no rosto de Felipe.

Era a provocação mais descarada, mais humilhante que Felipe já experimentara. Ele fechou os olhos, uma mistura de vergonha e excitação pura o inundando. Ele podia sentir a textura do tecido, o calor da carne por baixo, a forma exata da cabeça do pau pressionando contra sua bochecha. Um gemido baixo escapou de sua garganta, um som patético de rendição.

O som pareceu alimentar Roberto. Ele baixou o corpo, o peito suado colado no de Felipe, e sussurrou, a voz um rosnado satisfeito. “Isso. Bom garoto. Tá aprendendo.”

Ele manteve a posição por mais um tempo, apenas movendo o quadril, torturando Felipe com a promessa de sua verga, até que o cronômetro do round apitou. Com um último sorriso, ele se levantou, deixando Felipe no tatame, trêmulo, ofegante e com uma ereção tão dura que doía.

O treino terminou, mas a tortura não.

O vestiário era pequeno, abafado pelo vapor que escapava dos chuveiros. Felipe tentou ser rápido, arrancando o quimono suado e entrando debaixo da água quente, esperando que Roberto fosse embora. Ilusão.

Quando Felipe saiu do box, enrolado na toalha, Roberto estava lá, encostado nos armários, completamente nu.

O ar sumiu dos pulmões de Felipe. Ele já tinha visto Roberto nu antes, vislumbres rápidos, mas nunca assim. Nunca parado, se exibindo. O corpo era uma obra de arte brutal.

Peitorais largos cobertos por uma tatuagem tribal que descia por um braço, um abdômen de tanquinho que mergulhava num emaranhado de pelos escuros e, pendendo entre as pernas musculosas, a causa de toda a sua agonia. Era grosso, pesado, incircunciso, em um estado de semi-ereção que parecia permanente, desafiador.

Roberto não disse nada. Apenas o observou com aqueles olhos predatórios enquanto Felipe, desajeitado e hiperconsciente de sua própria nudez, tentava pegar suas roupas no armário ao lado.

“Deixou cair”, a voz de Roberto soou perto demais.

Felipe olhou para baixo. Seu sabonete tinha caído no chão, bem ao lado dos pés de Roberto. Uma cena clichê, quase ridícula, mas naquele contexto, era a coisa mais carregada de tensão do mundo. Felipe ficou paralisado. Abaixar-se ali, com Roberto nu o observando, era um convite. Era submissão.

Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Roberto. Ele não se moveu. Apenas esperou.

Felipe sentiu o sangue subir ao rosto. Foda-se. O jogo era esse, não era? Ele se abaixou lentamente, mantendo os joelhos flexionados, mas a posição ainda o deixava vulnerável, a bunda apontada na direção de Roberto. Sua mão tremeu ao pegar o sabonete úmido. Quando se levantou, seus olhos encontraram os de Roberto.

O pau de Roberto agora estava quase totalmente duro, pulsando levemente. Ele não fez menção de esconder. Ele queria que Felipe visse. Queria que Felipe soubesse o efeito que tinha sobre ele.

“Você é todo atrapalhado, hein, Felipe?”, Roberto disse, a voz cheia de uma diversão cruel. Ele deu um passo à frente, fechando o pouco espaço que restava entre eles. O cheiro de seu corpo limpo, misturado ao calor remanescente do treino, era intoxicante. Roberto estendeu a mão e, em vez de pegar algo no armário, tocou o ombro de Felipe. Um toque leve.

“Esse treino de hoje... foi bom. Você tá evoluindo.”

Seus dedos deslizaram do ombro para o pescoço de Felipe, o polegar acariciando a veia que pulsava ali. Felipe sentia o calor do corpo nu de Roberto contra o seu, a ponta do pau dele roçando sua coxa. Era o fim. Iria acontecer ali, contra os armários frios do vestiário.

Mas Roberto apenas se inclinou, o hálito quente em sua orelha novamente.

“Mas você ainda tá muito tenso”, sussurrou. “Precisa se soltar mais. Deixar rolar.”

Ele apertou o pescoço de Felipe com um pouco mais de força, um gesto de domínio claro, e então o soltou. Deu um passo para trás, pegou sua toalha e piscou.

“A gente se acerta na próxima.”

Roberto se virou e caminhou para os chuveiros, deixando Felipe sozinho no meio do vestiário, o corpo em chamas, a mente em frangalhos e o pau doendo de uma frustração que era, ao mesmo tempo, a mais pura e deliciosa tortura. A próxima vez. Não era uma pergunta. Era uma promessa. E Felipe, pela primeira vez sem medo, sabia que não via a hora de cumpri-la.O sono não veio. Ou talvez tenha vindo em espasmos febris, povoados por cheiro de suor, o peso de um corpo sobre o seu e o fantasma de um pau roçando em seu rosto. Felipe acordou com o despertador soando como uma sirene de ataque aéreo, o corpo dolorido de uma tensão que não era muscular, e uma ereção latejante que era quase um insulto. Era o legado de Roberto. A promessa. A gente se acerta na próxima.

O ambiente de trabalho nunca pareceu tão estéril, tão falso. As paredes brancas, o carpete cinza, o zumbido monótono do ar-condicionado. Era um teatro, e todos ali eram atores fingindo normalidade. Especialmente ele. Felipe sentou-se em sua baia, ligou o computador e tentou focar nos números de uma planilha que pareciam dançar na tela. Cada clique do mouse, cada telefonema ao longe, era um ruído que só aumentava o silêncio ensurdecedor de sua expectativa. Onde ele estava?

Ele o sentiu antes de vê-lo. Era como um radar animal. Uma mudança sutil na atmosfera do escritório, uma vibração que só Felipe parecia captar. Ele ergueu os olhos por cima do monitor. E lá estava Roberto, parado perto da máquina de café, rindo de alguma piada com Sandra, do financeiro.

Vê-lo de calça social e camisa de botão era uma dissonância cognitiva que fodidamente o excitava. A camisa, de um azul claro, estava esticada sobre o peitoral e os ombros largos, os músculos contidos, mas não escondidos. A calça, de um tecido escuro e bem cortado, não conseguia disfarçar o volume das coxas e o contorno pesado entre elas. Era o mesmo predador do tatame, apenas com outra pele. Uma pele que o deixava ainda mais perigoso, porque ninguém mais via a fera por baixo.

Seus olhares se cruzaram por cima da divisória. O sorriso de Roberto não vacilou, mas seus olhos mudaram. O brilho brincalhão morreu por um segundo, substituído por aquela mesma intensidade escura e possessiva do vestiário. Foi um reconhecimento. Uma confirmação. Ele curvou os lábios num cumprimento mudo, um gesto que Sandra, de costas para Felipe, não viu. Era um segredo compartilhado em plena luz do dia, no meio de trinta colegas de trabalho. O coração de Felipe deu um salto, um baque surdo contra as costelas. O jogo tinha recomeçado.

A manhã se arrastou como um animal ferido. Felipe sentia o olhar de Roberto sobre si de tempos em tempos. Não era constante, mas era estratégico. Um peso em sua nuca que o fazia errar a digitação, que o fazia reler o mesmo e-mail três vezes. Ele era a porra de um rato num labirinto, e Roberto estava se divertindo, observando-o de cima.

A hora do almoço foi uma trégua bem-vinda. Felipe comeu sozinho na copa, rápido, apenas para evitar a possibilidade de um encontro no refeitório. Ele precisava de espaço para respirar, para tentar colocar a mente no lugar. Mas não havia escapatória. A tensão o seguia como uma sombra.

No caminho de volta para sua mesa, ele precisou passar por um corredor estreito que levava aos banheiros. Roberto saiu de lá no exato momento em que Felipe passava. O timing era perfeito demais para ser coincidência. O corredor era apertado. Seus corpos se roçaram.

A mão de Roberto pousou nas costas de Felipe, um toque firme, supostamente para dar passagem. Mas a mão não se moveu. Ela ficou ali, o calor atravessando o tecido fino da camisa de Felipe.

“Opa, desculpa aí”, disse Roberto, a voz baixa, íntima, um contraste absurdo com o ambiente. Seu rosto estava perto.

Felipe podia sentir o cheiro dele. Não o cheiro de suor e academia, mas um perfume amadeirado, limpo, que de alguma forma conseguia ser ainda mais masculino e devastador.

“Tudo bem”, Felipe conseguiu dizer, a voz um fiapo.

“Dormiu bem essa noite?”, Roberto perguntou. A pergunta era inocente. O sorriso que a acompanhava, não. Era o mesmo sorriso sujo da noite anterior. “Parece cansado. O treino ontem foi pesado pra você?”

Cada palavra era uma carícia e uma bofetada. Ele estava esfregando na cara de Felipe, ali, a dois metros da mesa de seu chefe. Felipe sentiu o sangue esquentar, subindo pelo pescoço.

“Foi... intenso”, respondeu, escolhendo a palavra com cuidado.

Os olhos de Roberto brilharam. “Intenso é bom. É como tem que ser. Mas você precisa aprender a relaxar mais, lembra?

Soltar o corpo.” A mão em suas costas deslizou para baixo, uma fração de centímetro, pousando perigosamente acima da curva de sua bunda. Um toque que durou apenas um segundo antes que ele a retirasse. “A gente precisa trabalhar nisso.”

Ele deu uma piscadela e continuou seu caminho, deixando Felipe paralisado no corredor, o corpo inteiro formigando, a respiração presa na garganta.

A verdadeira tortura veio uma hora depois.

Felipe estava mergulhado em sua planilha, finalmente conseguindo algum foco, quando seu celular pessoal, deixado ao lado do teclado, vibrou. Ele olhou de relance.

Mensagem de um número desconhecido. Franziu a testa e desbloqueou o aparelho.

O texto tinha apenas cinco palavras.

“Sua nuca fica linda daqui.”

Felipe congelou. O ar pareceu ser sugado de seus pulmões.

Lentamente, como se temesse que um movimento brusco pudesse quebrar o feitiço, ele virou a cabeça. Do outro lado do escritório, Roberto estava ao telefone, encostado em um pilar, falando sobre cotações e prazos. Mas ele não estava olhando para o telefone ou para a janela. Ele estava olhando diretamente para Felipe. Quando seus olhos se encontraram, Roberto ergueu levemente o celular que segurava, um gesto mínimo, e um sorriso quase invisível tocou seus lábios.

Puta que pariu.

Felipe se virou para frente abruptamente, o coração disparado como um trem desgovernado. Como ele conseguiu seu número? A pergunta era irrelevante. O que importava era a invasão. Aquele filho da puta tinha invadido seu espaço pessoal, seu último refúgio. A tensão não estava mais contida na academia ou em encontros “casuais”. Estava ali, em seu bolso. Vibrando.

A tela acendeu de novo. Mesma pessoa.

“Tô pensando em como te deixar de quatro de novo. Mas sem o quimono pra atrapalhar.”

Um calor violento explodiu em seu baixo ventre, tão intenso que ele quase gemeu. Seu pau, que esteve em um estado de alerta o dia todo, agora estava duro como ferro contra a costura da calça. Ele se ajeitou na cadeira, desesperado, tentando disfarçar. Olhou ao redor. Ninguém parecia notar seu tormento. Era um inferno particular, administrado por controle remoto.

Ele queria bloquear o número. Queria se levantar, ir até a mesa de Roberto e quebrar a cara dele. Mas ele não fez nada disso. Em vez disso, seus dedos tremeram ao digitar uma resposta. Ele não sabia por quê. Foi um impulso, uma necessidade de responder ao desafio.

“Quem te deu meu número?”

A resposta foi instantânea.

“Eu sempre consigo o que eu quero. Você devia saber disso a essa altura. Agora para de se mexer tanto na cadeira. Tá chamando atenção.”

O texto final foi como um soco no estômago. Ele sabia. Ele estava observando cada movimento, cada reação. Felipe sentiu uma onda de vergonha e, por baixo dela, uma corrente de excitação tão suja e poderosa que o deixou tonto. Ele estava sendo caçado, observado, provocado, e uma parte doentia dele estava amando cada segundo.

O resto da tarde foi um borrão. No final do expediente, enquanto as pessoas começavam a arrumar suas coisas, Roberto se aproximou. Ele não parou ao lado da mesa de Felipe. Ele se encostou na divisória da baia, bloqueando a saída, as mãos nos bolsos da calça, o corpo relaxado, mas exalando poder.

“E aí”, disse ele, baixo o suficiente para que apenas Felipe ouvisse. “Vamos treinar hoje?”

Felipe não conseguiu responder. Apenas o encarou, a mente em branco.

Roberto sorriu. “Não na academia. Chega de treino leve.” Ele se inclinou um pouco, a voz caindo para um sussurro conspiratório. “Estacionamento. Subsolo 2. Em quinze minutos. Perto daquela pilastra vermelha no fundo. Não se atrase.”

Não era um convite. Era uma ordem.

Ele se endireitou e deu uma batidinha na divisória. “Até já, Felipe.” E se foi.

Felipe ficou sentado, olhando para a tela escura do computador. O zumbido do ar-condicionado parecia mais alto agora que o escritório estava quase vazio. Quinze minutos.

Estacionamento. Subsolo 2. O lugar era uma caverna de concreto, mal iluminada e quase sempre deserta àquela hora.

Não havia regras ali. Não havia testemunhas.

O medo deveria estar gritando. A razão deveria estar o mandando correr para casa e nunca mais olhar para trás. Mas tudo o que Felipe sentia era uma corrente elétrica de antecipação. A promessa de Roberto ecoava em sua mente.

A gente se acerta na próxima.

A próxima vez era agora.

Lentamente, ele desligou o computador, pegou sua mochila e se levantou. Cada passo em direção ao elevador era pesado, deliberado. Ele não estava sendo arrastado. Ele estava indo ao encontro de seu destino, de seu desejo, de sua humilhação. E pela primeira vez, ele admitiu para si mesmo, com uma clareza aterrorizante: era exatamente isso que ele queria.

O ar no subsolo 2 era frio e parado. Cheirava a concreto úmido, poeira e um leve rastro de monóxido de carbono. Cada passo de Felipe ecoava no silêncio, um som solitário e condenado. As luzes fluorescentes zumbiam, lançando uma luz doentia e pálida que criava sombras longas e disformes.

Ele se sentia como um animal entrando numa armadilha, mas suas pernas não paravam. A excitação era uma febre em seu sangue, queimando mais forte que o medo.

E então ele o viu.

Roberto estava encostado na lateral de uma picape preta e monstruosa, estacionada exatamente ao lado da pilastra vermelha. Estava de braços cruzados, a camisa de trabalho com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços grossos e tatuados. Ele não sorria. Apenas observava Felipe se aproximar com uma calma predatória que fez o estômago de Felipe revirar. A caça tinha chegado ao caçador.

Felipe parou a alguns metros de distância, a mochila pesando em seu ombro, a respiração curta. O silêncio se esticou, carregado com tudo o que não fora dito, com cada toque disfarçado, cada provocação velada.

“Demorou”, Roberto disse, a voz grave e sem nenhum traço da brincadeira habitual. Ele se desencostou do carro, dando um passo à frente. “Estava pensando em desistir, Felipe?”

“Não”, a palavra saiu mais firme do que Felipe esperava.

Um fantasma de sorriso tocou os lábios de Roberto. “Bom.

Odeio quando a presa desiste fácil.” Ele fez um gesto com a cabeça em direção à porta do passageiro. “Entra no carro.”

Não era um pedido. Felipe obedeceu sem pensar, o corpo se movendo por puro instinto. Ele abriu a porta e entrou, o cheiro de couro novo e do perfume de Roberto o envolvendo imediatamente. Roberto entrou pelo lado do motorista, e o som das portas se fechando foi como o de uma cela de prisão batendo. O mundo exterior desapareceu. Só existiam os dois, mergulhados na penumbra daquele casulo de metal e vidro.

Roberto não ligou o carro. Ele se virou no banco, o corpo maciço ocupando todo o espaço, e encarou Felipe. Seus olhos eram poços de escuridão.

“Você sabe o que vai acontecer agora, não sabe?”, ele perguntou, a voz um rosnado baixo.

Felipe só conseguiu assentir, a garganta seca.

“Eu quero ouvir você dizer.”

A humilhação já estava começando. Felipe engoliu em seco. “Você...

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