Inimigo intimo - A Fusão (Final)

Da série Inimigo Íntimo
Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 1073 palavras
Data: 30/06/2025 19:34:26
Assuntos: Gay, Homosexual, Macho, homem, Sexo.

Capítulo Final — A Fusão

Os meses que se seguiram à nomeação dos Co-CEOs não foram de paz, mas de um armistício tenso que, lentamente, se transformou em uma nova e letal forma de existência. A Omnia Corp, sob o comando duplo, prosperava. No mercado, a dupla Salles & Vianna se tornara uma lenda: a precisão cirúrgica de Rafael aliada à força bruta de Bruno criava uma ofensiva corporativa contra a qual não havia defesa. Eles eram temidos, respeitados e perfeitamente sincronizados.

O apartamento de Rafael, deixara de ser território de um só homem para se tornar, silenciosamente, o lar deles. Uma escova de dentes de Bruno apareceu no banheiro ao lado da de Rafael. Uma camisa social preta dele ficou permanentemente pendurada entre os ternos cinza. As terças-feiras se dissolveram em quintas, domingos, em manhãs de quarta-feira onde um saía mais cedo para uma reunião e o outro encontrava um bilhete ao lado da cafeteira. As máscaras, antes armaduras essenciais, foram guardadas. Não eram mais necessárias naquele reino de dois habitantes.

Numa noite de sábado, após fecharem o acordo "Nexus" que quase os destruiu meses antes, eles estavam deitados no sofá, uma perna de Rafael sobre as de Bruno, uma garrafa de vinho pela metade na mesinha de centro. A cidade de São Paulo brilhava fria e indiferente lá fora. O silêncio entre eles era confortável, preenchido apenas pela respiração um do outro e pelo eco da vitória compartilhada.

— Lembra da primeira noite? — A voz de Rafael era baixa, um murmúrio contra o peito de Bruno. — Aqui, neste mesmo lugar. Eu te odiava tanto que a sensação era física. Eu queria te apagar, te humilhar, te vencer de uma forma que o conselho nunca entenderia.

Bruno acariciou os cabelos de Rafael, os dedos se demorando na nuca dele. — Eu lembro. Eu senti o seu ódio. Era a coisa mais pura e honesta que eu já tinha visto em alguém. Era... excitante. Era real.

— E agora? — Rafael ergueu o rosto, os olhos buscando os de Bruno na penumbra. — A ideia de não te ter aqui, neste silêncio... dói muito mais do que aquele ódio jamais doeu.

Bruno o encarou, e pela primeira vez, Rafael viu além do predador, além do parceiro. Viu o homem que, como ele, passou a vida inteira em guerra.

— O ódio era a única linguagem que a gente conhecia pra falar sobre desejo — confessou Bruno, a voz grave e despida de qualquer artifício. — Eu não queria só o seu corpo, Rafa. Eu nunca quis. Eu queria sua mente. Sua alma. Eu queria quebrar essa sua compostura perfeita porque eu sabia que, por baixo, você queimava com a mesma intensidade que eu. Eu só não sabia... — ele hesitou, a admissão lhe custando. — Eu só não sabia que o seu fogo acabaria me aquecendo também.

A revelação pairou no ar, delicada e poderosa.

— O que é isso, então? — perguntou Rafael, a pergunta que continha todas as outras. — O que nós somos, Bruno?

Bruno se ajeitou, virando-se para ficar de frente para ele. Ele segurou o rosto de Rafael entre as mãos, os polegares traçando suas bochechas. O olhar dele era de uma seriedade absoluta.

— Eu passei a vida inteira construindo um império, caçando, dominando. Sempre em movimento, sempre buscando a próxima vitória. E então eu te encontrei. E a guerra contigo se tornou mais viciante que qualquer vitória. Agora... — ele respirou fundo, organizando os pensamentos. — Agora, a guerra é lá fora. Contra todos eles. E você é o meu ponto de equilíbrio. O único lugar no mundo onde eu não preciso mais lutar. Onde eu posso... parar. Isso não é posse, Rafael. É abrigo.

Abrigo. A palavra ressoou em Rafael, preenchendo todos os espaços vazios que ele carregava. Era a rendição final. Não a dele, nem a de Bruno. A rendição de ambos a algo maior que eles mesmos.

Ele se inclinou e o beijou. Um beijo que não tinha nada de batalha. Era lento, profundo, uma troca de calor e aceitação. As mãos que antes se agarravam com raiva, agora acariciavam com uma ternura reverente.

A noite se desdobrou a partir dali. Eles se amaram na cama deles, sob os lençóis que agora carregavam o cheiro de ambos. Foi um ato de uma intimidade tão profunda que beirava o sagrado. Foi a fusão em sua forma mais pura. Havia a precisão de Rafael nos toques, a forma como ele encontrava cada ponto sensível com uma inteligência quase cruel. E havia a força de Bruno, não mais para dominar, mas para sustentar, para envolver. Era um sexo generoso, onde se perdiam um no outro para se reencontrarem mais inteiros. Corpos nus, almas despidas, o som de suas respirações e dos corações batendo em uníssono se misturando à chuva fina que começava a cair lá fora.

Adormeceram assim, entrelaçados. O peso reconfortante do corpo de um sobre o outro, a certeza de que não estavam mais sozinhos em suas próprias peles.

Rafael acordou com o sol da manhã pintando o quarto em tons de dourado. Bruno ainda dormia, o rosto virado para ele, a expressão serena. Uma de suas pernas estava jogada sobre a de Rafael, o braço pesado em sua cintura. Rafael sentiu o peso, o calor, a realidade daquele corpo junto ao seu, e uma onda de felicidade tão pura e avassaladora o atingiu que ele teve que fechar os olhos.

Ele pensou em tudo. Na rivalidade, no ódio, na luxúria, na dor, no ciúme. Pensou nas coroas que usavam todos os dias no escritório e no colar invisível que haviam colocado um no outro. Eram apenas peças de um jogo que havia terminado, para dar lugar a um muito maior.

Ele olhou para o homem adormecido em seus braços, para a cidade que um dia fora o campo de batalha, e sorriu. A guerra não tinha terminado com um vencedor e um perdedor. Tinha terminado com a criação de um novo reino, um território de apenas dois habitantes, construído sobre os alicerces de uma fusão total de mente, corpo e poder.

E ali, sentindo o peso do corpo de Bruno contra o seu, no silêncio acolhedor da manhã, Rafael Salles, o Co-CEO, o rival, o amante, o parceiro, finalmente entendeu.

Ele não havia tomado o reino de Bruno, nem perdido o seu. Eles haviam unido seus territórios para construir um império.

E, finalmente, ele estava em casa.

FIM

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