Inimigo intimo - Dois Leões, Uma Jaula (Pt 9)

Da série Inimigo Íntimo
Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 1115 palavras
Data: 25/06/2025 19:12:52

Capítulo 9 – Dois Leões, Uma Jaula

A noite mal dormida pesava sobre os ombros de Rafael como uma manta de chumbo. O silêncio em seu apartamento após a saída de Bruno não fora de paz, mas de uma vigília ansiosa.

Cada hora que passava era uma contagem regressiva para as oito da manhã. A intimidade crua, a confissão de seus corpos no chão de sua sala, já parecia uma lembrança de outra vida, ofuscada pela luz fria e ameaçadora da reunião que se aproximava. A guerra, que eles haviam tentado pausar por algumas horas, estava prestes a ter seu xeque-mate.

Às 7h45, ele estava na antessala da presidência, um espaço opulento e intimidador no último andar da torre. As paredes eram revestidas de madeira escura, o ar tinha o cheiro de couro velho, poder e charutos cubanos de décadas passadas.

Não era um escritório; era a toca do leão.

Às 7h48, Bruno chegou. Ele também usava a armadura completa: um terno escuro que parecia ter sido costurado em seu corpo, a gravata com um nó perfeito, o rosto uma máscara de controle impassível. Se não fosse pela memória recente de seus gemidos e do cheiro de sua pele, Rafael poderia acreditar que eram apenas dois executivos rivais aguardando uma reunião.

Eles não se olharam diretamente, mas a consciência mútua era uma corrente elétrica no ar. Sentaram-se em poltronas opostas, a distância entre eles um campo de batalha silencioso. Rafael folheava um relatório sem ler as palavras, enquanto Bruno encarava a cidade pela janela, a mandíbula tensa. O silêncio era preenchido pela memória do toque, do gosto, do calor, e pela tensão aniquiladora do que estava por vir. Quem sairia daquela sala como vencedor? E o que aconteceria com o perdedor? O que aconteceria com eles?

Pontualmente às oito, a secretária de Alencar, uma mulher de cabelos grisalhos e olhar que já vira de tudo, abriu a porta. "O Sr. Alencar está esperando por vocês."

A sala do presidente do conselho, Antônio Alencar, era ainda mais imponente. Uma mesa de mogno maciço do tamanho de um carro, uma parede de vidro com uma vista soberana de São Paulo, e o próprio Alencar, um homem na casa dos setenta anos, com olhos pequenos e afiados que pareciam penetrar diretamente na alma. Ele não se levantou. Apenas gesticulou para as duas cadeiras à sua frente.

Rafael e Bruno se sentaram. Dois leões entrando na jaula, sabendo que apenas um sairia coroado.

Alencar ficou em silêncio por um longo minuto, observando-os, um sorriso quase imperceptível em seus lábios finos. Ele gostava do jogo. Ele era o mestre do jogo.

— Eu acompanhei o trabalho de vocês de perto nos últimos meses — começou ele, a voz grave e polida. — A fusão foi um sucesso, em grande parte, graças à combinação única de suas habilidades. Você, Rafael, é o estrategista mais brilhante que já vi. Frio, preciso, um mestre enxadrista. E você, Bruno, é uma força da natureza. Um conquistador nato, com uma coragem e um instinto para o negócio que não se ensina em nenhuma faculdade.

Ele fez uma pausa, pegando um charuto apagado e girando-o entre os dedos. A tensão na sala era sufocante.

— O conselho está dividido. Metade acredita que sua visão estratégica, Rafael, é a chave para a sustentabilidade a longo prazo. A outra metade acredita que sua audácia, Bruno, é o que precisamos para dominar o mercado agora. Uma escolha difícil. Qualquer um dos dois, sozinho, deixaria uma lacuna perigosa na liderança.

Rafael sentiu uma gota de suor escorrer por suas costas.

Bruno permanecia imóvel, uma estátua de contenção.

— Portanto — continuou Alencar, inclinando-se para frente e pousando o charuto na mesa —, eu não vou escolher.

Os dois homens piscaram, a confusão quebrando suas fachadas por um instante.

— A Omnia Corp não precisa de um rei. Precisa de uma dinastia. Ela não precisa de uma única arma, mas de um arsenal completo. A nova estrutura de liderança, aprovada por unanimidade pelo conselho esta manhã, não será de um único CEO. — Ele os encarou, os olhos brilhando com a genialidade de sua própria solução sádica. — A partir de hoje, vocês dois atuarão como Co-CEOs. Com poderes e responsabilidades iguais. Vocês serão sócios. Parceiros. O cérebro e a força, acorrentados um ao outro pelo bem desta empresa. Parabéns, senhores.

A bomba explodiu no silêncio da sala.

Co-CEOs. Acorrentados.

Era uma sentença de morte e uma coroação, tudo ao mesmo tempo. Uma piada cósmica. A guerra não havia terminado com um vencedor, mas com uma fusão forçada, uma união indissolúvel. O segredo sujo e íntimo deles agora teria que conviver diariamente sob os holofotes da mais alta posição da empresa.

Rafael não conseguia respirar. Olhou para Bruno e viu o mesmo choque paralisado em seu rosto. Estavam presos. Juntos.

Eles saíram da sala como autômatos, apertaram a mão de Alencar, murmuraram agradecimentos que soaram como cinzas na boca. O caminho até o elevador foi percorrido em um silêncio atordoado. Dentro da caixa de metal, eles finalmente se olharam. Não havia triunfo, não havia derrota.

Havia apenas o peso esmagador daquela nova realidade.

Sem dizer uma palavra, por um acordo mudo, ambos sabiam para onde ir.

De volta à cobertura do Aurora, o cenário de tantas batalhas, agora o quartel-general de uma aliança impossível. Bruno serviu dois uísques, as mãos se movendo com uma rigidez que Rafael nunca vira antes. Ele entregou um copo a Rafael.

— Co-CEOs — disse Bruno, a palavra soando como um palavrão.

— Ele nos prendeu na mesma jaula — completou Rafael, a voz vazia. Ele olhou para Bruno, para o homem que era seu rival, seu amante, seu vício, e agora, seu parceiro. O homem com quem ele teria que construir um império durante o dia, enquanto se destruíam à noite.

Aquele era o verdadeiro preço. Não era a perda. Era a vitória conjunta, que era uma forma muito mais requintada de derrota.

Bruno deu um passo à frente, parando diante dele. Não havia desejo em seu olhar, apenas uma exaustão profunda e uma pergunta. Como eles fariam aquilo funcionar? Como poderiam ser parceiros e inimigos ao mesmo tempo?

E ali, sob o céu cinzento de São Paulo, o verdadeiro acerto tácito foi feito. Não sobre terças-feiras ou encontros secretos.

Mas um acordo silencioso de sobrevivência. Um pacto para manter a guerra profissional fora do quarto, e a intimidade doentia fora da sala de reuniões. Um equilíbrio impossível.

— Um dia de cada vez, Rafael — disse Bruno, como se lesse seus pensamentos.

Rafael assentiu, erguendo o copo. — Um dia de cada vez, Bruno.

O brinde selou o pacto. Não era mais uma guerra. Era uma coexistência armada.

Continua...

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