Capítulo 5 — A Ruína
Rafael voltou ao seu andar com as pernas pesadas, cada passo um esforço consciente para não vacilar. O corpo, sob o terno de grife, ainda guardava o calor febril da sala de servidor. A camisa de algodão egípcio, antes impecável, estava agora úmida e colada às suas costas. O nó da gravata, frouxo. E o cheiro.
Maldito cheiro.
Era uma fragrância profana, uma antítese de seu perfume discreto e caro. Era o odor metálico de esperma secando, o almíscar de suor masculino, o aroma de poeira de máquina e plástico aquecido. Uma combinação suja que ele sentia ter impregnado não só o tecido de sua boxer, mas seus poros, sua pele, o fundo de sua garganta. Era a marca de Bruno. O selo de sua própria capitulação.
"Preciso de um banho. Um banho de horas. Preciso me livrar desta merda, arrancar isso de mim."
Mas a ideia de lavar o cheiro era, por si só, uma traição a uma parte dele que se recusava a nomear.
No corredor, o carpete cinza abafando seus passos, ele cruzou com Juliana. Sua assistente executiva, sempre impecável, sempre perspicaz. Ela parou, um tablet na mão, pronta para uma pergunta sobre a pauta da tarde. Mas a pergunta morreu em seus lábios.
O olhar dela, afiado como um estilete, demorou um segundo a mais que o aceitável no rosto de Rafael. Ele viu o scanner mental em ação: a expressão dele, ligeiramente corada e exausta; a descida do olhar para a gravata torta; a mancha de suor na camisa; e então, uma sutil, quase imperceptível, dilatação de suas narinas.
Ela sabia.
Não pelo que via, que poderia ser atribuído ao estresse. Mas pelo que não podia ser escondido. Aquele odor abafado e azedo de sexo recente, mal disfarçado sob uma camada de perfume. O cheiro da transgressão.
Um sorriso minúsculo, quase um espasmo de compreensão, curvou o canto de sua boca. Ela não disse nada. Apenas assentiu, como se a pergunta tivesse sido respondida, e passou por ele, o som de seus saltos no carpete um eco de julgamento.
Rafael sentiu a garganta secar, o ar do escritório de repente rarefeito.
"Se ela sabe... quem mais vai perceber? Quem mais já sabe?"
Na sala de reuniões, a paranoia o seguiu. O ambiente era frio, estéril. Bruno já estava lá. Não esperando, mas reinando.
Sentado na ponta da mesa, o braço forte pendurado no encosto da cadeira, a expressão de quem possuía todo o tempo do mundo. O terno azul-marinho, impecável. A camisa de algodão, no entanto, trazia uma leve umidade no peito, revelando os contornos do tórax. E o cheiro.
De novo, o cheiro.
O mesmo perfume amadeirado dele, agora misturado ao suor seco e a algo mais. O odor do seu próprio esperma na pele de Bruno. Porque Rafael sabia — sentia no fundo de sua alma — que ele sequer tinha se limpado. Aquele desgraçado estava sentado ali, presidindo uma reunião de milhões, com a prova do crime de Rafael em seu corpo.
E a constatação daquele ato de pura dominância o deixou duro de novo, uma onda de calor vergonhosa e incontrolável.
"Ele faz isso de propósito. O filho da puta está me fodendo de novo, bem aqui, na frente de todos."
Durante a reunião, as provocações continuaram, uma tortura verbal disfarçada de jargão corporativo.
"Precisamos de uma abordagem mais invasiva no mercado asiático", disse Bruno, o olhar fixo em Rafael.
"A análise sugere que a estratégia seja inserida de forma mais robusta no próximo trimestre."
"Temos que garantir que estamos operando com a capacidade máxima, explorando cada ativo."
Cada termo era um eco da cena na sala de servidor. Rafael sentia o pau latejar, prensado contra a cueca suja e úmida, o cheiro de sua própria excitação subindo pelo corpo, misturando-se ao ar-condicionado. O sabor em sua boca era amargo, metálico, o gosto do desejo contido. Ele agarrou a caneta com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
"Não vou aguentar. Não aqui."
No intervalo, o corredor estreito se tornou outra armadilha. Bruno passou por ele, o corpo roçando o seu. A mão grande pousou por uma fração de segundo na base de suas costas, um toque disfarçado, possessivo. Aquele leve toque, como se nada fosse. Mas era tudo.
O cheiro o invadiu de novo. Quente, masculino, inconfundível. Bruno se inclinou, como se fosse compartilhar um segredo de negócios, a boca perto de sua orelha, o hálito quente uma carícia.
— Amanhã. Cobertura do Aurora. Sete da noite. Eu vou te foder de pé contra o vidro, pra cidade inteira ver.
E foi embora, deixando Rafael para trás, a promessa suspensa no ar como uma sentença.
Rafael encostou-se na parede fria, a respiração pesada, ofegante, o pau uma dor latejante debaixo da calça. A cueca úmida, o cheiro impregnado, a promessa de Bruno ecoando em sua mente. Ele fechou os olhos. A ruína não era mais uma possibilidade. Era um fato.
Ele já estava perdido.
O cheiro dele não ia sair de sua pele.
E a verdade aterrorizante, a ruína final, era que ele não queria mais que saísse.
Continua…