Inimigo intimo - A ruina

Da série Inimigo Íntimo
Um conto erótico de Regard
Categoria: Gay
Contém 852 palavras
Data: 23/06/2025 07:16:46
Última revisão: 23/06/2025 07:29:02
Assuntos: Gay, Homosexual, homem.

Capítulo 5 — A Ruína

Rafael voltou ao seu andar com as pernas pesadas, cada passo um esforço consciente para não vacilar. O corpo, sob o terno de grife, ainda guardava o calor febril da sala de servidor. A camisa de algodão egípcio, antes impecável, estava agora úmida e colada às suas costas. O nó da gravata, frouxo. E o cheiro.

Maldito cheiro.

Era uma fragrância profana, uma antítese de seu perfume discreto e caro. Era o odor metálico de esperma secando, o almíscar de suor masculino, o aroma de poeira de máquina e plástico aquecido. Uma combinação suja que ele sentia ter impregnado não só o tecido de sua boxer, mas seus poros, sua pele, o fundo de sua garganta. Era a marca de Bruno. O selo de sua própria capitulação.

"Preciso de um banho. Um banho de horas. Preciso me livrar desta merda, arrancar isso de mim."

Mas a ideia de lavar o cheiro era, por si só, uma traição a uma parte dele que se recusava a nomear.

No corredor, o carpete cinza abafando seus passos, ele cruzou com Juliana. Sua assistente executiva, sempre impecável, sempre perspicaz. Ela parou, um tablet na mão, pronta para uma pergunta sobre a pauta da tarde. Mas a pergunta morreu em seus lábios.

O olhar dela, afiado como um estilete, demorou um segundo a mais que o aceitável no rosto de Rafael. Ele viu o scanner mental em ação: a expressão dele, ligeiramente corada e exausta; a descida do olhar para a gravata torta; a mancha de suor na camisa; e então, uma sutil, quase imperceptível, dilatação de suas narinas.

Ela sabia.

Não pelo que via, que poderia ser atribuído ao estresse. Mas pelo que não podia ser escondido. Aquele odor abafado e azedo de sexo recente, mal disfarçado sob uma camada de perfume. O cheiro da transgressão.

Um sorriso minúsculo, quase um espasmo de compreensão, curvou o canto de sua boca. Ela não disse nada. Apenas assentiu, como se a pergunta tivesse sido respondida, e passou por ele, o som de seus saltos no carpete um eco de julgamento.

Rafael sentiu a garganta secar, o ar do escritório de repente rarefeito.

"Se ela sabe... quem mais vai perceber? Quem mais já sabe?"

Na sala de reuniões, a paranoia o seguiu. O ambiente era frio, estéril. Bruno já estava lá. Não esperando, mas reinando.

Sentado na ponta da mesa, o braço forte pendurado no encosto da cadeira, a expressão de quem possuía todo o tempo do mundo. O terno azul-marinho, impecável. A camisa de algodão, no entanto, trazia uma leve umidade no peito, revelando os contornos do tórax. E o cheiro.

De novo, o cheiro.

O mesmo perfume amadeirado dele, agora misturado ao suor seco e a algo mais. O odor do seu próprio esperma na pele de Bruno. Porque Rafael sabia — sentia no fundo de sua alma — que ele sequer tinha se limpado. Aquele desgraçado estava sentado ali, presidindo uma reunião de milhões, com a prova do crime de Rafael em seu corpo.

E a constatação daquele ato de pura dominância o deixou duro de novo, uma onda de calor vergonhosa e incontrolável.

"Ele faz isso de propósito. O filho da puta está me fodendo de novo, bem aqui, na frente de todos."

Durante a reunião, as provocações continuaram, uma tortura verbal disfarçada de jargão corporativo.

"Precisamos de uma abordagem mais invasiva no mercado asiático", disse Bruno, o olhar fixo em Rafael.

"A análise sugere que a estratégia seja inserida de forma mais robusta no próximo trimestre."

"Temos que garantir que estamos operando com a capacidade máxima, explorando cada ativo."

Cada termo era um eco da cena na sala de servidor. Rafael sentia o pau latejar, prensado contra a cueca suja e úmida, o cheiro de sua própria excitação subindo pelo corpo, misturando-se ao ar-condicionado. O sabor em sua boca era amargo, metálico, o gosto do desejo contido. Ele agarrou a caneta com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

"Não vou aguentar. Não aqui."

No intervalo, o corredor estreito se tornou outra armadilha. Bruno passou por ele, o corpo roçando o seu. A mão grande pousou por uma fração de segundo na base de suas costas, um toque disfarçado, possessivo. Aquele leve toque, como se nada fosse. Mas era tudo.

O cheiro o invadiu de novo. Quente, masculino, inconfundível. Bruno se inclinou, como se fosse compartilhar um segredo de negócios, a boca perto de sua orelha, o hálito quente uma carícia.

— Amanhã. Cobertura do Aurora. Sete da noite. Eu vou te foder de pé contra o vidro, pra cidade inteira ver.

E foi embora, deixando Rafael para trás, a promessa suspensa no ar como uma sentença.

Rafael encostou-se na parede fria, a respiração pesada, ofegante, o pau uma dor latejante debaixo da calça. A cueca úmida, o cheiro impregnado, a promessa de Bruno ecoando em sua mente. Ele fechou os olhos. A ruína não era mais uma possibilidade. Era um fato.

Ele já estava perdido.

O cheiro dele não ia sair de sua pele.

E a verdade aterrorizante, a ruína final, era que ele não queria mais que saísse.

Continua…

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