NOTA: Este é um capítulo de transição. Então, a cena de sexo deste capítulo acontece logo no começo do capítulo.
Olá a todos. Eu me chamo Rogério. Atualmente estou com 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas (e os nossos melhores amigos) parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar pela série.
A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.
Esta é a última semana em que eu e a Jéssica estamos hospedando a minha melhor amiga, Lorena, enquanto a reforma do novo apartamento dela não termina. A Lorena tinha 27 anos e era minha amiga desde o primeiro período da faculdade. Éramos tão próximos que ela havia sido madrinha do meu casamento com a Jéssica. Ela tinha se tornado sócia da empresa da minha família depois de formada e, com isso, trabalhávamos juntos no mesmo ambiente. Ela era morena de praia, magra, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Estava solteira e, segundo ela, muito bem assim.
Este capítulo começa na manhã seguinte à transa que apelidamos de “noite do pseudo-harém”, em que eu e a Jéssica trepamos na frente da Lisandra e Lorena, que se masturbaram assistindo tudo.
Depois da conversa com a Lorena, entrei no banheiro, lembrando a madrugada insana com a Jéssica e da ousadia absurda de termos trepado na frente da Lisandra e da Lorena. O espelho estava embaçado pelo vapor, e o som da água caindo no boxe preenchia o ambiente. Ao me aproximar, a imagem que surgiu diante dos meus olhos me tirou o fôlego por um instante.
A Jéssica estava tomando banho. Nem hesitei em entrar no boxe.
Ela estava de costas, debaixo do chuveiro, a água escorrendo pelas curvas do seu corpo. Os ombros estreitos, as costas lisas e alongadas, e mais abaixo, a bundinha empinada e perfeita — não grande, mas harmoniosa, como todo o resto nela. A luz suave do banheiro ressaltava sua pele amendoada e os contornos delicados das coxas firmes. Não era só desejo. Era um tipo de admiração que me atravessava o peito.
Ao me ouvir entrar, ela não se assustou. Apenas virou um pouco o rosto, esboçando um sorriso. Envolvi seus ombros com meus braços e beijei seu pescoço com carinho, sentindo o calor do seu corpo contra o meu. O vapor, o cheiro de sabonete, a sensação da pele dela... tudo me fazia querer congelar o tempo ali mesmo.
— Bom dia, amor — murmurei, com os lábios ainda perto da nuca dela.
— Bom dia, meu lindo — respondeu, virando levemente o rosto para mim, olhos fechados, sorriso nos lábios. — Ainda bem que você veio. Eu tava aqui lembrando de ontem à noite.
— Eu também — disse, rindo baixo.
Ela riu, aquele riso leve que sempre me desmontava. Virou-se de frente e apoiou as mãos no meu peito. Beijei sua testa e falei com cuidado:
— Amor... Você não acha que eu passei um pouco dos limites ontem? Aquele papo de “vocês são minhas e vão me obedecer”. Acho que exagerei na sua confiança e no prêmio que você queria me dar.
Ela franziu as sobrancelhas, mas sem parecer ofendida.
— Rogério... Você não encostou um dedo na Lisandra. E, o mais importante, em nenhum momento tentou.
Suspirei, tentando organizar o que eu queria dizer.
— É que... eu fico pensando, sabe? Uma noite dessas, uma vez ou outra, tudo bem. É excitante. Mas... não sei. Uma hora, a Lisandra não vai se contentar só em ver. Quanto mais repetirmos, maior o risco disso evoluir. E aí?
Jéssica ficou pensativa por um instante. A água continuava caindo entre nós, morna.
— O que você quer dizer com isso? — ela perguntou, agora me olhando nos olhos.
— Eu tô dizendo que talvez a gente pudesse... sei lá... ajudar a Lisandra a encontrar um namorado legal. Alguém que goste dela, que trate ela bem. Caso ela queira, claro.
Jéssica riu de novo, apertando levemente meu peito com as mãos.
— Eu com medo de você estar vindo querer me convencer a rolar um ménage e você quer virar cupido?
— Acho que a gente deve conhecer alguém legal e a Lisandra é encantadora — respondi, sorrindo. — Sei lá... Se tudo der errado, a gente tenta junto ela com a Lorena. Aí tudo continuaria em família.
Ela gargalhou.
— Ai, meu Deus. Você é terrível. Mas vou te dizer: não sei se a Lorena faz o tipo da Lisandra.
— E eu tenho quase certeza de que uma não faz o tipo da outra — provoquei, com um sorriso.
Ela fez um beicinho de brincadeira e passou os braços ao redor do meu pescoço.
— Eu topo ajudar a Lisandra a achar um par. Mas com uma condição.
— Qual? — perguntei, já conhecendo aquele olhar.
— Que você faça amor gostoso comigo. Agora mesmo.
— A seu dispor, senhora minha esposa — murmurei, antes de puxá-la para um beijo longo.
Depois, peguei o sabonete e passei a ensaboá-la aos poucos, tocando todo o seu corpo, sentindo sua pele macia. Quando minhas mãos chegaram em sua bucetinha, ela olhou para mim sorrindo e passou a ensaboar o meu cacete ao mesmo tempo. Após essa rápida masturbação mútua, ficamos apenas coladinhos debaixo do chuveiro.
Subi uma mão, alisando sua barriguinha e seus seios, até chegar ao pescoço, puxei seu rosto para mim e a olhei nos olhos antes de mais um beijo ardente. Juntamos nossos corpos em um novo abraço e coloquei minhas duas mãos em sua bundinha, fazendo a bucetinha encostar no meu pau.
Me ajoelhei na sua frente e comecei a lamber sua barriga, descendo pelo umbigo, virilha até a bucetinha. Ela se colocou contra a parede e abriu suas pernas, me permitindo a visão de sua buceta. Segurando sua bunda, enfiei minha língua naquela grutinha quente, enquanto a Jéssica apertava minha cabeça, esfregando sua buceta no meu rosto.
Desci minha língua até o cuzinho e lambi gostoso. Ela rebolava, gemia e pedia para eu continuar. Pedi para ela se virar. A Jéssica se apoiou na parede, empinando a bunda no meu rosto. E eu aproveitei tudo com dedos e língua. Enfiei dois dedos na buceta dela. A Jéssica passou a rebolar forte e falou que estava perto de gozar. Lambi sua buceta, sentindo seu gozo gostoso, enquanto ela ofegava.
Então, quando ela se recuperou, a encostei contra a parede e coloquei meu pau entre as pernas dela e encaixei na entradinha da buceta.
Fomos metendo ali mesmo, em pé. Não era a primeira vez sequer no mês que fazíamos isso. A Jéssica adorava transar no banheiro. Gemia, gritava, cravava as unhas nas minhas costas.
Mas eu não ia aguentar muito tempo, sabia. Estava cansado de ontem ainda. Então não foi surpreendente para mim ou para ela quando anunciei o gozo.
Como estava sem camisinha e combinamos de evitar ao máximo engravidar por enquanto, tirei o cacete de dentro dela. A Jéssica se ajoelhou e começou a me mamar um boquete fenomenal. Foi quando eu esporrei tudo dentro da boquinha dela. Diferente da maioria das vezes, ela decidiu engolir desta vez. Olhando para mim com uma expressão safada que quase resultou em um segundo round.
Voltei pra cozinha ainda com a toalha pendurada no ombro e a mesma roupa de antes do banho — bermuda de moletom e camiseta branca. O cabelo ainda meio molhado, corpo relaxado e com aquele peso gostoso no peito que vem depois de fazer amor com a mulher que a gente ama. Me sentia leve. Pleno.
Logo que pisei na cozinha, vi as duas sentadas à mesa, cada uma com uma caneca na mão e pratos com torradas, frutas e ovos mexidos à frente. Lisandra estava sentada na bancada, de shortinho jeans curto e uma camiseta branca que claramente era velha — talvez da própria Jéssica, ou minha — e deixava os bicos dos seios quase visíveis por causa da luz da janela. Tava sem maquiagem nenhuma, mas linda como sempre. Pés descalços, as pernas cruzadas, e rindo de alguma coisa.
Lorena estava de baby doll de alcinha, justo no peito e larguinho na barriga, com uma estampa de bichinho. Tava descalça também, o cabelo solto, despenteado. Quando me viu, abriu um sorriso provocativo.
— Olha ele aí — disse Lisandra, apontando com o queixo.
— Eu falei, não falei? — disse Lorena, rindo. — Falei que eles eram dois coelhos! Não tem canto deste apartamento em que não tenham trepado. Você achou que era exagero...
As duas gargalharam.
Parei encostado na porta, braço cruzado, sorrindo.
— Vocês ouviram? — perguntei, rindo meio sem graça.
— Sim — disse Lorena, sem cerimônia. — A gente ouviu. Tudo.
— Não que estivéssemos espiando, claro — completou Lisandra. — Mas é impossível não ouvir. Aquela porta do banheiro não barra som nenhum.
— Na verdade, a acústica deste apartamento não é das melhores — emendou Lorena, pegando uma xícara e bebendo um gole. — Eu escutei todas as transas de vocês durante as últimas semanas. Todas. TODAS!
Resolvi brincar de volta.
— Mas agora, uma pergunta séria, Lisandra: você tá mesmo comendo esse café da manhã que a Lorena fez?
— Ué... tô. Tá gostoso — ela respondeu, com a boca cheia de pão e olhos arregalados, como se eu tivesse falado em outro idioma.
— Então tá explicado. — Suspirei teatralmente. — Vocês duas são almas gêmeas.
— Qual o seu problema? — retrucou Lorena, rindo, já sabendo onde eu ia chegar.
— Você cozinha mal demais, mulher. Ninguém nunca gostou sequer de um misto quente que você tenha feito. Se a Lisandra gostou da sua comida, é porque vocês feitas uma para outra. Amor verdadeiro. De alma. De reencarnação.
— Vai tomar no meio do seu cu, Rogério! — disse Lorena, entre risos, jogando uma colher na minha direção. Pegou de raspão no meu braço.
— Só falo verdades — ri também.
— O nosso sheik tá se achando — retrucou Lorena. — Só porque tem um harém agora.
— Hein?
— Não foi ele que disse ontem que nós três pertencíamos a ele? Hein, Lisandra? Todo empolgado vendo a gente pelada... “Vocês são minhas”, “meu harém”...
A parte do “falso” e “de mentirinha”, claro que elas iam omitir.
— É mesmo — confirmou Lisandra, ainda com um sorriso largo. — Mandou a gente se beijar e tudo.
— Primeiro, manda a gente se beijar. Agora, fala em amor verdadeiro... — disse Lorena, olhando pra mim com um olhar cheio de zoeira.
— Será que ele tem uma tara escondida? — emendou Lisandra, rindo. — Vai ver o fetiche secreto do Rogério é ver duas mulheres se pegando na frente dele.
— Ui, será que nosso sheik gosta de assistir o harém brincando entre si? — disse Lorena, fazendo voz maliciosa e me encarando.
— Não, peraí... — comecei a falar, mas elas já tinham começado o ataque.
— Ele ficou tão quietinho agora — disse Lisandra, inclinando-se em minha direção com os olhos semicerrados. — Tá vermelho, Lorena. Certeza de que a gente descobriu o ponto fraco dele.
— Vocês são impossíveis — falei, rindo nervoso. — Não é nada disso...
— Ahhh, então ele nega! — gritou Lisandra, teatral. — Culpado! Todo culpado!
— Ele vai acabar pedindo câmera lenta da próxima vez — disse Lorena, piscando pra Lisandra.
— Nada. Esse safado vai mandar que uma masturbe a outra.
— “Minhas queridas odaliscas, colem velcro para mim enquanto minha amada Jéssica cavalga meu arranha-céu que chamo de pau.”
As duas riram alto de novo, me deixando ali, sem ter onde enfiar a cara.
— É — repeti, passando a mão na nuca, já sentindo o rosto esquentar. — Ontem eu me empolguei demais.
— Ah não, Rogério! Tu falou que só podia usar uma, mas que todas obedeceriam! — disse Lisandra, gargalhando. — Olha esse safado.
— É, o nosso sheik moderno — completou Lorena. — Só falta agora andar com turbante.
— Eu mereço — falei, rindo, mas já vermelho.
Antes que eu pudesse responder, ouvi passos no corredor. Jéssica apareceu com aquele ar de quem já tava mentalmente no plantão. A roupa dizia tudo: calça jeans escura, justa, que marcava bem as curvas; blusa azul-marinho de gola V, bem ajustada ao tronco. Cabelos presos num rabo de cavalo alto, rosto limpo, um pouco de batom leve só pra disfarçar o cansaço e os olhos atentos, como se tivesse mil tarefas penduradas no pensamento. Mesmo assim, sorria quando olhava pra gente.
— Tô quase atrasada — disse ela, pegando a bolsa em cima da cadeira. — Hoje são só seis horas, mas não quero dar motivo pra falarem nada. Depois, passo no café pra encontrar o Carlos, então devo demorar.
Lorena e Lisandra se entreolharam com um sorriso maroto. Lorena foi a primeira a falar:
— Mas vem cá... a gente ainda é as odaliscas do harém do Rogério?
— Boa pergunta — completou Lisandra, rindo. — Ainda somos?
Jéssica deu uma risada gostosa e, vendo a minha cara vermelha, entrou na brincadeira.
— Mas é claro que são! — disse ela, com a voz mais irônica do mundo. Aí imitou minha voz da noite anterior, engrossando e com cara de besta: — “As três são minhas esta noite. Mesmo que eu só coma a Jéssica, as três vão me obedecer!”
As duas se acabaram de rir. Eu afundei na cadeira.
— Só que se ele encostar em uma de vocês, eu capo ele — completou Jéssica, estendendo a mão como se segurasse uma tesoura imaginária e fazendo um movimento preciso no ar.
— Acho justo e digno! — Lorena ria alto.
— Eu posso vir trabalhar fantasiada de odalisca — perguntou Lisandra.
— Só se isso deixar o Rogério tão constrangido que nunca mais tente pagar de comedor que nem ontem — concluiu Jéssica, pegando uma torrada. — Enquanto esse pau for só meu, você pode ser do harém imaginário que só existe nos sonhos dele.
Elas riram de novo. Eu já tava enterrando a cara na mesa, vermelho até a alma. Jéssica veio até mim, me deu um beijo demorado e saiu andando, já puxando o celular pra chamar o Uber.
— Tchau, amor.
— Tchau, Jéssica — respondi, ainda meio grogue do massacre.
Ela passou por Lisandra e deu um beijo na bochecha dela.
— Se comporta, minha odalisca.
— Sim, doutora! — respondeu Lisandra, erguendo a mão em continência.
Depois foi até Lorena e deu um abraço.
— Obrigada pelo café.
— Tchau! — disse Lorena, sorrindo.
A porta se fechou atrás dela. Ficamos em silêncio por uns dois segundos. Eu olhei pras duas. Ambas me olhavam com um sorrisinho sacana.
— Vocês vão me zoar pra sempre por causa de ontem, né?
— Óbvio — respondeu Lisandra, sem hesitar. — Sempre que for engraçado deixar você sem saber onde enfiar a cara.
— O cara mais certinho do mundo teve uma noite de tarado comedor. Vou te lembrar disso para sempre — disse Lorena, encostando na bancada com os braços cruzados.
Suspirei e levantei da cadeira. Cocei a cabeça, ainda sentindo um restinho da vergonha latejando ali no fundo da nuca, e olhei pro relógio da parede. O ponteiro mal tinha passado das oito. Era domingo e eu tinha o domingo livre. Nenhum compromisso e, ao mesmo tempo, nenhuma razão pra não aproveitar o tempo com aquelas duas figuras.
— Bora jogar alguma coisa no PS5?
— Claro, Rogério! — respondeu Lisandra. — Você é quem manda, somos tuas três odaliscas safadas e você é o Sheik deste harém. Nós estamos aqui para te servir e obedecer.
— Você deveria mesmo aproveitar enquanto o MEU PS5 está aqui, já que você é pão-duro demais para comprar um — retrucou Lorena, deitando o corpo pra trás na cadeira como quem se estica no próprio trono.
— Magnânima. Te venero — brinquei, já indo em direção à sala. — Mas vou ganhar de novo.
— Rogério, você não vence nem se eu deixar... — respondeu Lorena.
E assim seguimos pra sala, onde a Lorena provou que estava correta e a Lisandra venceu os dois nos jogos de luta na base do soco fraco, carrinho e voadora, sem saber lançar um especial.
As horas passaram e, já era de noite, quando a Jéssica voltou. Eu estava sentado no sofá da sala, ainda com o notebook no colo e a xícara de café pela metade na mesinha ao lado, quando ouvi a porta se abrir com certa pressa. Bastou um olhar para perceber que a Jéssica vinha com algo atravessado.
— Rogério, a gente precisa conversar — disse, largando a bolsa no sofá e vindo direto na minha direção.
A maneira como ela falou, com o rosto levemente aflito e o olhar intenso, me fez endireitar a postura.
— Aconteceu alguma coisa no hospital? — tentei adivinhar o tom de urgência.
— Não. É o Carlos. Ele quer se separar da Odete.
Ela disse como quem entrega uma bomba, esperando que eu me levantasse, jogasse os braços pro alto ou gritasse um "não é possível". Mas eu apenas a encarei, um pouco surpreso, é verdade, mas mais curioso do que desesperado.
— Ele te contou isso hoje?
— Contou no café. Ele... ele desabafou. Disse que tá decidido. Que ama a Odete como amiga, mas que não consegue mais viver esse casamento. Que quer seguir a vida.
— Entendi. Mas por que você tá me contando isso?
Afinal, se ele contou para ela e não para mim, isso ainda era uma confidência que não deveria ser espalhada.
— Porque a gente tem que impedir ele, Rogério! A gente conhece os dois! Eles se amam. Só estão perdidos. Mas isso é fase. A gente não pode deixar o Carlos tomar essa decisão sem lutar por eles.
Ela estava com o corpo inclinado pra frente, como se, com aquela urgência, pudesse me arrastar junto na causa. Suspirei fundo.
— Jéssica... isso foi uma confidência. Ele te contou algo que nem a Odete sabe ainda. Você devia respeitar isso.
Ela ergueu as mãos, como quem segura o argumento que já vinha pronto:
— É justamente por isso que eu te contei! Porque ainda dá tempo. A Odete nem sabe. A gente pode agir antes que isso vire um ponto sem volta.
Antes que eu respondesse, a campainha tocou. A Jéssica foi até a porta. Abriu-a e, do batente, ouvi a voz arrastada e confiante do Enéias:
— Ora, ora... Resolvi te visitar e você já está arrumada para um en-
— Agora não, Enéias — respondeu Jéssica com firmeza, e antes que ele pudesse retrucar, já tinha fechado a porta na cara dele.
Voltou para o sofá e se sentou ao meu lado, os olhos ainda acesos pela urgência da missão que criara pra si.
— Amor, eu entendo que você se preocupe com eles. Mas você não acha que tá se metendo demais? — falei, com calma. — Eles são adultos. Precisam resolver as coisas entre eles. A gente pode apoiar, claro. Mas não decidir por eles.
— Mas e se essa decisão do Carlos for precipitada? E se for só uma crise? Ele e a Odete se conhecem há décadas. E eu conheço os dois. Sei que ainda tem amor aí.
— Pode ser que tenha — admiti. — Mas também pode ser que tenha acabado. Às vezes, o amor muda. Vira carinho, amizade... e tudo bem também. Eles têm que descobrir isso sozinhos.
— Mas você não vê que ele pode estar se sabotando? Você mesmo disse que ele tá na crise da meia-idade.
— Pode ser. Mas a gente não pode tomar as dores e agir como se soubéssemos melhor.
— E se for alguém que ele conheceu na academia? — perguntou Jéssica. — Talvez tenha se envolvido com alguma mulher de lá. Alguém que faz ele se sentir jovem de novo. E agora acha que isso é amor.
— Jéssica, você sabe que isso não começou agora. O Carlos estava mal há mais de um ano. A gente falava sobre isso direto. Ele tava apático, triste, quase depressivo. Essa mudança dele não é súbita. Na verdade, é um sinal de que ele tá tentando viver de novo. E olha, você sabe que sempre houve outras pessoas envolvidas. A Odete tem uma verdadeira coleção de amantes, e o Carlos já teve até um pequeno harém no WhatsApp. Lembra? Eles nunca esconderam isso da gente.
— Mas dessa vez não é assim — ela rebateu de imediato. — Dessa vez é diferente. Não é só um caso, uma distração. É uma mulher por quem ele quer trocar a Odete em definitivo. Alguém que ele quer colocar no lugar dela. Isso muda tudo.
— Pode até ser. Mas mesmo que tenha, e mesmo que ele tenha se apaixonado, isso não invalida a dor que ele vinha sentindo. Às vezes, conhecer outra pessoa só acelera um processo que já tava em curso. E sejamos honestos: o casamento deles era amizade há muito tempo.
— Transformado, sim. Mas acabado? Não. Eles ainda são parceiros. Ainda dormem juntos, dividem a rotina, têm intimidade... não é um casamento comum, mas é deles.
— Pensa assim: Vamos supor que você esteja certa. Se o Carlos tiver encontrado alguém com quem pode ser feliz de verdade, por que a gente seria contra isso? — falei, mantendo a voz baixa, mas firme. — Você prefere ele infeliz com a Odete do que feliz com outra?
— Porque essa felicidade seria construída em cima da destruição da Odete. — A voz dela estremeceu. — E eu não consigo apoiar isso. Não consigo achar justo. Nem certo.
— Você acha mesmo que o Carlos seria feliz vendo a Odete destruída? Ele não é cruel, Jéssica. Ele é sensível, até demais. Se está fazendo isso, é porque acredita que também é melhor pra ela. Pra que os dois possam seguir em paz.
— Ele pode estar se iludindo. Se enganando. Como tantos fazem quando encontram uma paixão nova.
Ela passou a mão pelos cabelos, inquieta.
— Eu não quero ver a Odete se desmontar. Ela não merece isso. E se esse amor novo dele não durar? Se for fogo de palha? Quem vai reconstruir a vida da Odete depois?
— Ela mesma. Como qualquer um de nós. E a gente vai estar lá, se ela precisar.
Ela encostou a cabeça no meu ombro.
— Se eu descobrir quem é essa mulher, Rogério...
Ficamos em silêncio por longos segundos.
— Você é sempre tão racional... — ela disse, num misto de admiração e impaciência.
— E você, tão movida pelo coração — respondi, com um leve sorriso. — É por isso que a gente funciona, não é?
Ela me olhou, meio contrariada, mas com aquele brilho nos olhos que aparecia quando se sentia desafiada. Ainda assim, estava longe de ceder.
— Não vou forçar nada, mas também não vou ficar parada. Vou conversar com a Odete. Sentir o que ela sente. E talvez, só talvez, fazer ela lembrar do que tem com o Carlos. Só isso.
— E se ela disser que quer o divórcio também?
— Então eu aceito. Mas eu vou tentar antes. Por eles.
Suspirei. Eu já sabia que, no fundo, ela não mudaria de ideia tão facilmente. E, apesar de discordar, também sabia que aquilo era a essência dela: cuidar dos outros, lutar pelos amigos, nunca desistir de ninguém.
— Só promete que vai deixar o Carlos e a Odete conversarem antes de tomar qualquer ação. Nada de armar encontros acidentais ou intervenções de novela.
Ela sorriu, um pouco sem jeito.
— Prometo tentar.
Revirei os olhos e me encostei no sofá, resignado.
Depois disso, a semana andou mais calma. Até que a notícia que a Jéssica mais queria se concretizou: a reforma no apartamento da Lorena tinha acabado. O síndico seu Alberto, que nem sabia disfarçar ser completamente apaixonado pela minha esposa, fez questão de nos visitar para avisar isso pessoalmente... mesmo que nós tivéssemos contato com o pessoal da construtora e já soubéssemos.
Eu deveria sentir mais ciúmes, mas também tinha um pouco de pena. Ele não a cercava como o Enéias ou o Lucério. Na verdade, era quase como se ver a Jéssica e ouvir a voz fosse o suficiente para ficar realizado pelo resto do dia. Sei lá. Era meio patético demais para causar ciúmes.
O grande dia da mudança da Lorena para um domingo e ela mal havia dormido de ansiedade e preparação. Eu estava de bermuda, camiseta e com uma caneca de café pela metade na mão. O sábado tinha sido gasto empacotando tudo e não podíamos começar porque a Jéssica estava de plantão.
— Rogério — disse Lorena, sentada no chão da sala rodeada de caixas abertas. — Achei que fosse pouca coisa, mas tem mais no depósito. Tipo, bem mais.
— Isso aqui vai ser puxado. E só nós três...
A Jéssica apareceu da cozinha com um copo d’água e olhou a quantidade de coisa que tava na portaria, porque o depósito tinha deixado lá no sábado de tarde.
— Vamos precisar de ajuda. Só nós três não vamos dar conta.
— Sim — concordou Lorena. — De preferência, um homem que ajude o Rogério com o peso.
— Sim, tem que ser alguém forte. Forte de verdade. O Rogério não vai aguentar subir essas coisas todas sozinho.
Antes que eu pudesse pensar em algum nome, a campainha tocou.
A Jéssica foi abrir a porta. Ouvi só o som da fechadura, depois a voz do Enéias, em seu melhor tom de conquistador:
— Bom dia, minha querida. Tava passando por aqui e pensei...
— Tô muito ocupada agora — disse Jéssica, sem hesitar. E fechou a porta na cara dele.
Eu, do meu canto, soltei um risinho abafado.
— Nós podemos chamar o seu Geraldo. A gente pode pagar um bom extra para ele.
Ao ouvir isso, a Jéssica já foi interfonando pra portaria. Eu fiquei ouvindo o bip da chamada até o porteiro atender.
— Seu João, bom dia. O seu Geraldo está de plantão hoje?
— Não, dona Jéssica. Hoje é o dia de folga dele. Só volta amanhã.
— Certo, obrigada. — Ela desligou e, num suspiro curto e até um pouco constrangida consigo mesma, comentou: — Às vezes, esqueço que ele tem vida fora do prédio. Deveria mandar um bolo para ele e a esposa no aniversário dela.
A Lorena tirou o celular do bolso e colocou no viva-voz:
— Vou chamar a Lisandra.
Chamou duas vezes e ela atendeu com a voz tão congestionada que podíamos ver o catarro na garganta.
— Alô... Lorena?
— Lisandra, amiga, você consegue dar uma força hoje na mudança? Tá pesado o negócio aqui.
A Lisandra tossiu forte antes de responder:
— Ai, claro... tô meio gripada, mas amiga é pra isso...
A Jéssica se aproximou do celular, firme:
— Você não vai sair da cama, Lisandra. Tá com voz de virose viral feia. É repouso, água, antitérmico e zero esforço físico.
— Mas... — começou Lisandra.
— Nada de “mas”. De médica pra paciente: cama. E se você piorar, eu dou meus pulos pra passar aí pra ver como você tá — Jéssica desligou o telefone antes que a loirinha pudesse teimar.
— Podemos tentar o Carlos — sugeri. — Eu sei que ele se excedeu esta semana na academia, mas faço ele pegar leve.
Peguei meu celular, disquei e coloquei no viva-voz. Ele atendeu animado:
— Fala, Rogério!
— E aí. Seguinte: mudança da Lorena hoje. Tô precisando de reforço físico. Tá livre?
— Claro. Deixa só eu tomar um banho e já passo aí.
— Valeu demais.
Enquanto eu ainda estava colocando o celular no bolso, a campainha tocou de novo.
A Jéssica foi atender de novo. Dessa vez, era o seu Alberto, o síndico, com uma expressão que misturava timidez e um ar abobalhado. E, claro, o olhar fixo nela, como sempre.
— Bom dia, Jéssica. Eu... tava na portaria com o João, ouvi a conversa... e pensei em ajudar. Síndico que é síndico tem que meter a mão na massa, né?
A Jéssica hesitou um segundo antes de abrir espaço pra ele entrar.
— A gente agradece, Alberto. Vai ser útil sim.
A Lorena e eu trocamos um olhar, quase cômico. A Jéssica ia usar o síndico de 48 anos como força física para evitar que o Carlos quisesse se exceder e carregar as coisas mais pesadas só para passar uma semana com a costas doídas.
— Acho que já temos um time — disse Lorena, se levantando e batendo a palma das mãos para tirar a poeira. — Vamos começar com quem tá aqui. Cinco pessoas são melhores do que esperar mais.
Levantei também, respirei fundo, tomei o último gole do meu café e fomos pôr a mão na massa.
Algumas horas se passaram. O relógio já marcava quase três da tarde quando eu parei por um segundo na varanda do novo apê da Lorena, suando, com as mãos sujas de poeira e o ombro levemente dolorido. Tinha que admitir que tivemos um bom fluxo de ajudantes. Em três semanas, a Lorena já tinha uma boa rede de amizades.
O zelador Zé Maria apareceu logo depois do meio-dia, com aquele jeito dele meio risonho, meio cansado. Ficou umas duas horas ajudando a subir caixas da portaria e transportar as prateleiras maiores. Depois disse:
— Seu Rogério, eu dava até pra mais, mas minha coluna já tá chiando. Boa sorte aí!
A Eliana e o Leandro chegaram juntos. A Eliana estava vestida com uma calça legging preta e uma camiseta larga.
— Trouxe mão-de-obra, tá? — ela disse, apontando pro Leandro, que pareceu desconfortável o tempo inteiro, como se não quisesse estar ali.
— Valeu demais, Eliana — respondeu Lorena. — Mesmo.
— É só por você — disse Eliana, com um sorriso para Lorena, mas olhando pro Carlos.
Eles ajudaram por uma hora e depois disseram que tinham outro compromisso já marcado.
A Carolina passou no meio da confusão, suando, dizendo que só podia ficar até a hora do sarau de literatura que iria de tarde. Ainda assim, carregou três caixas sozinha e organizou parte da cozinha da Lorena como se fosse arquiteta de interiores.
— Isso aqui assim, ó, vai otimizar teu espaço — disse ela e foi embora pouco depois.
O Érico e a Sarah vieram juntos, no que a Sarah disse que não podiam deixar os amigos na mão. Os dois ajudaram muito bem por uma hora e pouco. A Sarah estava calada, mas eficiente. O Érico parecia meio avoado, mas me ajudou a desmontar o sofá.
— Amigo é pra essas coisas, né? — ele disse, sorrindo enquanto tirava os parafusos com minha chave allen.
— Ainda bem que vocês vieram — respondi.
A Letícia apareceu sozinha. Embora a Jéssica e a Lorena fossem amigas dela na academia, a maioria não conhecia ou tinha contato com o namorado dela mesmo. Passou pouco mais de uma hora ajudando e separando os livros por categoria.
— Eu sou péssima com peso — disse, rindo. — Mas pelo menos deixo tudo bonito.
A única pessoa que se justificou por não vir foi a Rebecca. Mandou mensagem por WhatsApp dizendo:
REBECCA: "Desculpa mesmo, Rogério. Não tô bem hoje. Espero que dê tudo certo aí. Fico devendo."
Acreditei. Rebecca não era do tipo que inventava desculpa.
Já o Astolfo, o outro zelador, estava de folga. Eu nem cogitei chamar. Achei maldade fazer um senhor daquela idade subir escada com caixa.
E, claro que também tivemos a ajuda do seu Raimundo... O velho apareceu com aquele passo calmo dele, carregando um sorriso discreto e uma sacola dobrada de pano. Sem fazer alarde, pegou logo umas almofadas, depois um conjunto de faqueiros bem embrulhado, e mais tarde uma pilha de pratos cuidadosamente empilhados em jornal. Ele ia e vinha em silêncio, com passos lentos, mas firmes, ajudando em tudo que podia mas sempre evitando qualquer coisa que exigisse força física demais.
Apesar da boa vontade, ele não chegou a ficar uma hora. Bastou a Jéssica cruzar com ele no corredor umas três e encarar com aquela raiva contida — deixando claro que sabia que ele e a Lorena transaram na nossa cama — que ele congelou. O sorriso sumiu, os olhos baixaram.
— Eh... eh... acabei de lembrar que tenho que... que visitar um amigo. Boa sorte aí, minha gente!
E sumiu pela porta, quase tropeçando no próprio chinelo.
Agora, com o calor apertando e o cansaço chegando nas juntas, só tinham sobrado os cinco originais: eu, Jéssica, Lorena, Carlos e o seu Alberto. O Carlos já estava de regata e suado. O seu Alberto, mais tímido, fazia questão de carregar o que podia para não parecer inútil.
Agora que todos que poderiam ajudar tinha ido e saído, a Jéssica mantinha o tom prático.
— Falta só um terço. Se a gente focar agora, termina antes do pôr do sol.
— Vocês ainda vão me amar depois disso tudo? — perguntou Lorena, com os braços marcados de carregar caixa.
— Só se tiver pizza no fim — disse o Carlos, rindo.
Mais algumas horas passaram. Eu já estava encharcado de suor. Já tinha subido e descido com uma porção de caixas da portaria. Mas eu olhava para a Jéssica e a Lorena e, apesar do cansaço, suor, catinga e exaustão, elas pareciam ainda mais sexy.
A pele amendoada da Jéssica brilhava com o suor, o short jeans curto marcava as coxas torneadas e a regata branca grudava nos seios pequenos e firmes. Ela nem percebia o quanto era irresistível. E, por mais que eu fosse completamente apaixonado por ela, tinha que manter a cabeça no lugar ali em público. As duas. Já a Lorena. usava um vestidinho amarelo leve, que já estava grudando por causa do calor e do suor. Os seios livres por baixo do tecido.
— Jéssica, você quer que eu leve essa caixa? — perguntou o síndico Alberto, todo solícito, querendo parecer prestativo.
— Pode ser, seu Alberto. Mas cuidado, tem vidro aí.
Enquanto isso, a Lorena passou por Carlos com uma caixa, roçando o quadril nele por acidente. Ela tinha esse jeito leve, provocador e, ao mesmo tempo, doce.
Depois de mais umas viagens de elevador e escada, a Jéssica estava terminando a cozinha da Lorena e, como sempre, Alberto grudado nela. Eu fui buscar os vasos que estavam na sacada e deixei o Carlos e a Lorena sozinhos por alguns minutos. Ainda faltavam caixas, o espelho, o rack da TV.
Fui buscar mais uma caixa. Do outro lado do apartamento, Alberto conversava com a Jéssica. Vi quando ele ofereceu um lenço para o suar no rosto dela. Fui até a cozinha sem fazer alarde. Cheguei por trás dela e a puxei pela cintura. Beijei. Um beijo firme. Nada de selinho de casal cansado. Beijei como quem marca território. Ela correspondeu com um sorriso e um suspiro. Vi o jeito que o seu Alberto desviou os olhos, sem saber onde enfiar a cara.
A Lorena apareceu atrás da gente com uma garrafa de água e uma expressão entre o cansaço e a vitória.
— Foi o último móvel! Eu juro! Só faltam as caixas e umas coisas miúdas! — Ela parecia feliz, mas era aquele tipo de felicidade de quem sabia que ainda ia gastar uns bons dias encontrando coisas como controle remoto dentro de caixa de sapatos.
Depois que ela saiu, o Carlos seguiu ela. Enquanto Carlos e Lorena iam pro corredor, eu e Jéssica começamos outra parte. Mas minha atenção estava toda nela.
Cada vez que ela se inclinava para pegar uma peça, minha vontade crescia. O cheiro do suor dela, o jeito como a regata colava no corpo, a pele das costas à mostra... tudo parecia um convite. Me aproximei por trás e passei a mão com calma, tirando a poeira do ombro dela com um pano qualquer, mas deixando os dedos.
— Quando a gente chegar em casa, vou te devorar — sussurrei, sem conseguir mais segurar.
Ela mordeu o lábio, tentando disfarçar o sorriso, e respondeu com aquele olhar que prometia mais do que qualquer palavra.
No corredor, Carlos e Lorena riam de alguma coisa no corredor. Ele com essas piadinhas de duplo sentido que só ele acha inocente. Ela rindo, sem perceber. Ou fingindo não perceber.
Minutos depois, o seu Alberto chegou com a pizza que ele encomendou. Sentamos todos no chão da sala, em volta das caixas ainda fechadas. Jéssica riu alto de alguma piada do Carlos, quase engasgando com a borda da pizza.
Mais algumas horas e tudo estava finalmente pronto. O último móvel encaixado, a última caixa empilhada, a última gota de suor enxugada com a barra da camiseta. O Carlos já tinha se despedido, ainda elogiando a disposição do grupo e talvez um pouco demais a Lorena. O seu Alberto também já tinha ido embora, após insistir em passar uma vassoura pela varanda e limpar os rastros de terra deixados pelas plantas.
Agora, o apartamento estava quieto. Tão quieto que o som do meu tênis tocando o piso soava alto. Caminhei até o quarto da Lorena e encontrei Jéssica parada à beira da cama, imóvel e os olhos fixos na cama.
— Tá tudo bem? — perguntei, me encostando no batente da porta.
Ela não respondeu de imediato. Só respirou fundo, com uma expressão maquiavélica no olhar.
— Só pensando — disse ela, sem tirar os olhos da cama.
Antes que eu pudesse perguntar mais, a Lorena surgiu com um molho de chaves na mão. Ela se aproximou da Jéssica com um sorriso caloroso.
— Aqui — disse, entregando a cópia da chave. — Como combinamos, né? Você rega as plantas quando puder durante o dia. Tá tudo ali no cantinho da varanda.
— Claro. Fica tranquila. Eu cuido como se fossem minhas — respondeu Jéssica, sorrindo de volta, agora com uma leveza na voz que me surpreendeu.
— Obrigada mesmo. E obrigada por tudo hoje, viu? Você foi essencial. Mesmo. — Lorena tocou brevemente o braço da Jéssica. — Sorte a minha ter você como vizinha e amiga.
— Vizinha, amiga e praticamente cunhada — disse Jéssica, com um tom sincero.
Lorena sorriu de novo e foi em direção à cozinha. Quando ela desapareceu pelo corredor, virei para a Jéssica.
— Você se ofereceu pra regar as plantas? Sério? Com a sua rotina?
Jéssica olhou discretamente na direção da cozinha, como se quisesse garantir que Lorena não estava por perto. Então se virou pra mim e sussurrou:
— O nome disso é vingança.
— O quê? — franzi a testa, ainda meio perdido.
— Ela se mudou pro nosso apartamento sem minha permissão. Tudo bem, superei. Mas...— Jéssica virou o rosto lentamente em minha direção, com aquele olhar que eu só via quando ela estava tramando algo. — Ela transou com um velho na nossa cama! No nosso quarto! Transformou o nosso ninho do amor em um motel geriátrico!
— Olha, considerando tudo que a gente fez naquele apartamento... Lembra que a gente prometeu nunca mais olhar as paredes com luz negra depois do trauma do ano passado e...
— Não bastasse isso, ela se masturbou escorada no nosso guarda-roupa. Olhando direto pro seu pau. No nosso quarto.
— Ei, pera — tentei intervir — Isso aí foi ideia sua. E não tinha sido a primeira vez que tu chamava ela para assistir.
— Não muda o fato que ela esfregou as costas nuas no nosso guarda-roupa.
— Não interessa — disse ela, séria — Eu quero revide.
Ela se aproximou, colou a boca no meu ouvido e sussurrou, quase roçando os lábios na minha pele:
— Uma vez por semana. Dia do seu home-office. Eu mudo meus plantões. A gente vem pra cá e transa em todos os cantos desse apartamento. Na cama, no banheiro, na cozinha. A gente vai batizar esse apartamento inteirinho.
Eu engoli seco. A imagem mental se formou tão vívida que tive que desviar os olhos da cama pra disfarçar o volume que já se anunciava na bermuda.
— Você tá falando sério? — sussurrei de volta.
Ela deslizou os dedos pelo meu braço e respondeu:
— Se você aceitar... Eu topo anal.
Meu cacete endurecendo respondeu antes da minha boca.
— Quando a gente começa?
Nossos olhos se encontraram e um pacto silencioso foi firmado. Me desculpe, Lorena. Quando terminarmos, você nunca mais vai poder usar em seu apartamento...
PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 3 meses.
Pois bem, leitor. Nos próximos capítulos, vamos ter começar nossa vingança no apartamento da Lorena e começar a missão de arrumar um namorado legal para a Lisandra. Além do plano maluco da Jéssica para salvar o casamento do Carlos e da Odete, uma “viagem double date” e um maluco querendo comer tanto a Jéssica quanto eu(!).
E, claro, o Lucério continua rondando a Jéssica. Mas está cumprindo a trégua.
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a duas semanas, teremos a continuação.