Segundas Intenções - 03

Um conto erótico de Del Rio
Categoria: Gay
Contém 5491 palavras
Data: 04/04/2021 09:20:54

Fala casa dos contos, espero que estejam bem. Hoje vim aqui continuar a história do Gabriel depois das fortes emoções que ele passou no capítulo passado. Torço pra que curtam e fiquem com a terceira parte.

°

Aquele foi o pior momento da minha vida. Nunca me vi tão desolado, eu tinha um buraco no meu peito e mesmo com todos da cidade me abraçando, me dando presentes, mostrando seus sentimentos eu só tinha vontade de sumir. Eu me culpei todas as noites quando ia dormir, eu pensava que poderia ter salvado a vida do meu pai se não tivesse saído aquela tarde. As pessoas tentavam me acalmar e dizer que foi um acontecido infeliz, mas algo no meu peito dizia que tinha algo errado. Eu sempre soube que tinha algo errado.

Depois do que aconteceu uma senhora da cidade que me conhecia desde criança me levou para ficar com ela, muitas das coisas que tinha viraram poeira no chão enquanto as únicas que consegui salvar podiam ser contadas a dedo. No local da casa agora só restava a construção queimada pelas chamas e algumas cinzas que se misturaram com a areia. Algumas pessoas diziam que tive sorte, por primeiro ter sobrevivido e depois conseguir um lugar para morar com tanta facilidade, eu não me sentia com sorte, me sentia sujo, péssimo, como se tudo pra mim tivesse sido devorado pelo fogo e agora nada mais fosse tão importante.

No enterro do meu pai todos se amontoaram no cemitério, foi bom saber que tanta gente se importava com meu ele, mas era difícil perceber que em vida ele não receberia nem metade daquela atenção. Tudo foi pago com o dinheiro do prefeito que fez questão de mostrar suas condolências a um eleitor fiel como meu pai, Henrique passou a cerimónia toda tentando se aproximar de mim criando os únicos momentos de paz que tive desde o incêndio. Era muito bom saber que tinha alguém comigo para o que der e vier, os outros garotos também tentavam conversar comigo mas não me levem a mal, eles não sabiam o que dizer e eu muito menos sobre como agir perto deles. Eu nem sequer tinha processado que a poucas horas antes daquilo eu estava tendo a minha primeira vez com um cara que eu amava e agora estava no enterro do meu pai. Era assustador saber que tudo tinha acontecido num único dia, que aquela ia ser a minha marca para o resto da vida. Não desejo isso para ninguém.

Os dias começaram a passar e lentamente eu aprendia a rotina na casa de dona Celeste. Era uma senhora adorável, sempre cuidando de mim e contando histórias da juventude. Ela era noviça quando veio pra cá e decidiu deixar o ofício por não confiar cem porcento no que era doutrinada. Ela sempre no início da tarde ia pra cozinha fazer um bolo e posteriormente acabei aprendendo a fazer também. Ela nunca me perguntou sobre nada daquele dia, acho que dentro de si a senhoria adorável sábia que isso ia ser forte demais para aguentar em tão pouco tempo do ocorrido.

Já fazia quase um mês desde a morte do meu pai, eu estava começando a me adaptar a vida nova. Acordei num dia de sol, fiz minha higiene e me sentei na varanda da casa de dona celeste para tomar um café e pensar em talvez ler um livro mais tarde. Foi nesse clima que a manhã transcorreu, eu estava perto de terminar meu café quando comecei a escutar barulhos de correria, abri o portão e tomei um susto quando vi Duca correndo com uma bola na mão seguido por Gui furioso e Bernado já ofegante que se apoiou no portão enquanto os outros desceram mais um pouco até pararem e voltarem para a porta da minha casa.

- Meu Deus! O que vocês tão fazendo ?

- Qual foi Biel! Chamei os dois aqui pra bater um baba, bora ?

- Ih, sei não viu, tenho que ajudar dona celeste na cozinha

Nesse momento dona Celeste aparece com um prato cheio de pedaços de bolo e oferece pra gente, eles devoram o prato como urubus na carniça me deixando com muita vergonha.

- Pode ir filho, eu hoje não vou fazer muita coisa, só falar com a vizinha e voltar pra ver se faço algo de tarde

- Obrigado dona Celeste - Abracei a senhorinha e fui para dentro da casa ne trocar.

Me despedi e fui com eles pelo caminho mais rápido pra praia. Enquanto eles riam um dos outros o percurso todo eu só prestava atenção nas pessoas pelo caminho me encarando e me dando uma certa atenção já que ficavam felizes por estar conseguindo superar o luto. Era bom para mim também, eu via os pescadores já se preparando para ir na maré com redes e balaios prontos. Eu me familiarizava com eles e fazia questão de comprimenta-los, os meninos não davam muita importancia, só desciam o caminho comigo se empurrando ou falando sobre besteiras. Eu admito que sentia falta daquela alegria, sentia falta de ver Duca arranjando motivos pra irritar Gui enquanto Bernado ficava calado torcendo pra Duca não achar algo para irrita-lo.

Chegamos na praia ainda no início da manhã, a maré ainda tava vazia e o sol não queimava, ele acenava e nós tratava com delicadeza. Os garotos já se alongavam e tiravam as peças de roupa para ficarem livres com a sunga. Até aquela vez com Henrique na praia eu não olhava nenhum deles com olhos mais "interessados" claro, eu gostava de algo aqui ou ali mas nunca vi algo que realmente me chamasse a atenção. Pelo menos nada aquele dia, os três tinham corpos bem diferentes, Bernado era o mais pálido entre eles, só tinha tirado a camisa e já revelava um peitoral liso e não tão cheio de músculos mas muito bonito. Ele era liso e parecia estar um pouco desconfortável com a situação mas focado em continuar conosco.

Gui era o mais parrudo entre nós, tinha ombros b largos e braços fortes e grossos. Ele tinha alguns músculos na barriga larga mas nada fosse exagerado, diferente dos outros ele tinha bastante pelos pelo corpo, muitos nos braços, vários nascendo no peitoral e coxas também peludas que davam a impressão dele ser mais velho que era na verdade.

Duca era talvez a prova de que o crime compensa. Tinha um tanquinho trincado pra idade e um peitoral definido, o mais magro entre nós mas o mais em forma. Seus braços exibiam músculos que nenhuma academia poderia fazer e os pelos no peito já ameaçavam aparecer.

Com exceção de Bernado estavamos todos de sunga, Duca já se preparava para jogar e os outros se juntavam a ele quando percebi que ainda não tinha passado o protetor. Me virei para eles e fiz sinal de tempo, Bernado e Duca ficaram parados lá enquanto Gui veio correndo saber se aconteceu alguma coisa.

- Não, nada de importante só esqueci o protetor e não sei se vocês trouxeram

- A gente tinha passado lá na venda, mas acho que o Bernado trouxe, quer ver ?

Eu afirmei com a cabeça e Gui pegou a sacola de Bernado, ele pegou a mãozana que tinha e vasculhou a bolsa até achar um tubo um pouco pequeno. Ele jogou a sacola no chão e levantou o tubo no ar pra Bernado ver, ele já um pouco afastado só fez sinal de beleza e Gui me entregou. Eu peguei o protetor e fui passando no rosto enquanto Gui olhava o mar, ele era bem imponente naquela posição e só esperei até puxasse papo.

- V-Você tá bem ?

- Levando.

- Eu achei que você não ia querer vir, sabe

- Eu não vinha na verdade, mas vocês são bons amigos e eu precisava pegar uma cor - Sorri pra ele entregando o Tubo e espalhando p protetor no rosto.

- Eu fiquei preocupado, você é legal não merecia passar por uma coisa daquele jeito

- Obrigado Gui, você é incrivel

Terminei de passar o protetor no rosto e me virei pra ele com uma cara um pouco constrangida - Você pode passar nas minhas costas ? Haha - Gui riu um pouco e ficou atrás de mim, eu levei as mãos pro topo da cabeça pra não a atrapalhar com o cabelo. Gui parecia ter ficado um pouco desajeitado, eu ri comigo mesmo e fui sentindo suas mãos grossas e um pouco ásperas passarem o creme nas minhas costas, ele tinha se aproximado de uma forma com que conseguia sentir sua respiração um tanto ofegante, eu quase diria que ele estava tentando roçar em mim, mas era surreal demais para isso. Assim que terminou ele colocou o tubo na sacola do Bernado e caminhamos para ficar junto com os outros.

- "Ta" que pariu viu! Demorou pra porra - Duca pegou a bola no chão

- Larga disso Duca! Tá enrolando pra disfarçar que tu é mo perna de pau

- Aqui pra você - Duca apertou o saco na frente de todo mundo - Vou bota você de quatro assim ô

Duca pulou em Gui e começou a gemer chamando ele de cavalona, Gui nem fez muito esforço, só deu um tapa no canto da orelha de Duca o jogando no chão. Eu ri muito olhando a cena, as preocupações começavam a sair da minha cabeça e logo tudo voltará a um ótimo clima.

Eles pararam de brigar e todos se colocaram na posição. A partida não era tão competitiva, Duca e Gui ganhavam sem problemas enquanto Bernado ainda meio duro se soltava aos poucos. Eu nunca foi o melhor jogando mas naquele momento ser o melhor não era importante, todo mundo só queria rir um pouco e aproveitar o dia de sol. Tudo parecia ótimo até o vento mudar de direção transformando um erro bobo de Bernado no motivo pra uma briga sem tamanho. Aconteceu basicamente assim, Bernado que sempre foi meio desajeitado viu a oportunidade de fazer gol e na hora acionou o instinto competitivo. Ele correu pela areia até acabar tropeçando em Duca e se jogando junto com ele no chão, na hora corremos pra ajudar mas o estrago já tava feito.

- PORRA VIADINHO! TÁ MALUCO PORRA ? TÁ VIAJANDO É ?

- Desculpa Duca! E-Eu não vi

- DESCULPA NADA SEU VIADO! - Duca avançou em Bernado e na hora disparou um soco no rosto dele

Bernado sempre foi a pessoa mais equilibrada que conhecia até aquele momento, ele avançou em Duca e os dois começaram a brigar por um acidente, Gui e Eu fomos em direção dos dois e apartamos a briga colocando um de cada lado. Gui pegou uma garrafa com água e foi Duca pra um lado enquanto eu e gui andamos para o outro lado da areia. Peguei um pano na sacola e passei no rosto delicado de Bernado enquanto ele mantinha o resto fechado, eu não disse nada só passei o pano sobre um ou outro machucado e tentei acalmar ele.

- Por que eu aceito isso ?

- Como assim ? - Rebati

- Por que eu fico tranquilo com aquele babaca me xingando o tempo todo ? Eu sou melhor que ele! Eu sou mais inteligente, mais esforçado, tenho dinheiro e mais um monte de coisa. Por que eu não faço nada ?

- Talvez por que você seja bom, só bom, não um valentão ou um justiceiro, só uma boa pessoa

- Se eu sou uma boa pessoa eu não devia me acovardar

- É, não deveria, mas não vai ser na pancadaria que vai fazer ele tê respeitar.

- Então como ? Por que eu não consigo ser como você, eu não sou forte

- É sim, muito! Mais do que imagina, na verdade você é muito mais do que imagina.

Ficamos em silêncio por um tempo, Bernado não me respondeu, só ficou calado. Olhou para o horizonte e depois voltou a me olhar, ele foi lentamente segurando minha mão o que me fez encara-lo.

- Gabriel...eu tenho uma coisa pra dizer

- O que ?

- E-Eu...

No meio da conversa Duca e Gui chegam, Duca estava molhado provavelmente Gui deu um banho de água gelada nele pra acalma-lo. Duca com a bola embaixo do braço esquerdo estendeu a outra mão para Bernado que apenas estendeu a sua também em um acordo de paz silencioso. Eles não cruzaram o olhar, só ficaram calados e deixaram que voltemos para o jogo. Após aquilo tudo transcorreu normalmente, Duca e Gui ganharam sem muitos problemas, eu e Bernado levamos numa boa e enquanto os garotos relaxavam nós corremos até uma das barracas abertas e compramos algumas coisas pra comer.

Naquela manhã tudo foi perfeito, rimos muito e todos pareciam ter esquecido a briga de mais cedo. Duca e Bernado até trocaram algumas piadas diretas um para o outro e parecia que uma amizade estava nascendo, Gui estava bem mais solto do que no início da manhã e sempre me tratava com a maior educação possível. Eu tinha esquecido por algumas horas tudo que tinha acontecido naqueles últimos dias, estar com eles era bom, não tinha uma maldade verdadeira, era puro e tudo tinha uma energia tão boa e confortável que qualquer coisa poderia ser superada se soubesse que no final do dia ainda ia ter aqueles amigos comigo.

Antes do almoço nós pegamos tudo que era nosso e tinha ficado espalhado na areia e subimos nos despedindo do mar. Voltamos rindo e pulando num clima maravilhoso, Gui e Bernado subiram correndo já que logo teriam que ir para casa deixando Duca sozinho comigo. Ele não falou nada de muito importante o caminho todo, só contou algo sobre sua mãe e por algum motivo não parava de tirar o rabo do olho de mim. Nos chegamos na minha casa e eu entrei primeiro deixando ele plantado no portão. Eu estava prestes a me despedir quando ele indagou.

- Biel, tu curtiu hoje ?

- Bastante, faz um tempo que não me divertia assim, você gostou ?

- Claro "man", é legal tirar um dia pra pensar e curtir

- Foi muito bom você desculpar o Bernado, ele não teve culpa

- Até pode ser, ele é muito mané pra eu ficar tirando com ele

- Para, eu gosto dele kkkk

- Gosta é ? - Ele se aproximou - Tu gosta de mané é ?

- Gosto de gente que faz o bem - Sorri.

- Se eu tê contar que eu vou tentar o exército, ai tu vai gostar de mim ?

- Talvez, isso depender se você ainda vai ser o cara mau

- Deixa eu tê mostrar pra tu o que um cara mau

Duca passou do portão da casa me empurrando pra um cando da varanda o mais rápido possível, eu não tive nem tempo para raciocinar quando vi sua língua invadindo a minha boca. Ele me apertou contra a parede, me segurando com muita força e brutalidade, colocando suas mãos na minha bunda e apertando sem cerimónia nenhum, minha única reação foi empurra-lo, Duca riu e veio pra cima de mim novamente dessa vez chupando meu pescoço sem se importar com pudor nenhum, eu novamente o empurrei e olhei pra ele extremamente assustado.

- Eduardo! O que você tá fazendo ? Ficou maluco ?

- Qual é Biel! Eu sei que tu e viadinho, fica tranquilo eu não conto pra ninguém

- Sai daqui!

- Mas eu...

- Duca sai daqui agora eu tô pedindo - Nesse momento peguei um vaso de planta ao meu lado na grade e levantei

Duca abaixou a cabeça, ele não falou nada, só se virou e olhou para trás por alguns instantes e correu pra fora da casa. Eu fiquei chocado no canto da varanda, eu não esperava por aquilo, eu queria dizer que gostava de outra pessoa, queria não ter sido grosso com ele, mas nada que tinha pensado caberia para aquele momento. Eu nunca me imaginei passando por algo do tipo, eu fiquei muito triste por ele, muito mesmo, mas sábia que fiz o correto. Só limpei as lágrimas do olho e entrei na casa, por sorte dona Celestina ainda não tinha chegado da casa da vizinha o que me deu tempo de tomar um banho e pensar bastante em tudo. Após o meio-dia horário que dona Celestina chegou eu encontrei um conforto naquela senhorinha adorável vendo juntos as crianças que estudavam no turno da tarde irem para a escola.

Já no início do noite enquanto assistíamos novelas na televisão e nos preparavamos para fechar a casa eu ainda não conseguia esquecer o que tinha acontecido com Duca. Eu não parava de pensar na meu agora não tão amigo devia estar passando, eu imagino sua confusão, eu sempre soube que era diferente e nunca liguei realmente pra isso. Agora pensava nele, em como deveria ter sido horrível guardar tudo isso para soltar com uma pessoa que não ia aceita-lo como eu fiz. Talvez eu devesse conversar com ele, então foi isso que fiz, fui até meu quarto e me arrumei com as roupas mais +/- que tinha. Corri para o lado de fora avisando para dona Celestina que ia falar com uma pessoa importante. Porém tive uma surpresa assim que bati o cadeado no portão. Henrique me esperava em pé na frente de uma porta de um carro.

- Henrique! Eu tava com tantas saudades, preciso muito falar com-

- Gabriel. Pode vir comigo ? Eu, você e uma pessoa importante precisamos ter uma conversa

- O que aconteceu ? Algum problema ?

- Só entra no carro, por favor.

Eu caminhei desconfiado até o carro e entrei me sentando num banco no fundo enquanto Henrique se sentou no banco do passageiro e o motorista foi nos levando noite a dentro. Eu tentei falar algo mas não tive resposta, Henrique se mantinha frio o caminho todo e seus olhos estavam focados no caminho. A noite insistia em ficar cada vez mais escura e o trajeto se tornava algo mais e mais profundo e vazio. As casas deram lugar ao mato seco da área litorânea onde Santalina se localizava, as pessoas e os postes que iluminavam a cidade se transformaram em cercado e gado no meio de sítios improvisados, por fim o sentimento de curiosidade e confiança que tinha no início da noite deu lugar para o medo, o simples e mais puro medo.

O carro estacionou numa casa grande numa área de sítios afastados. Tinha alguns seguranças ao redor do local e Henrique ficou comigo o tempo todo enquanto descíamos do carro e caminhavamos num caminho de terra até o casarão principal. Não era um lugar super extravagante e nem muito conservado, as paredes soltavam pedaços de tinta branca e a iluminação parecia ser propositalmente escura para deixar tudo com um tom mais sombrio. Algumas partes ao redor da casa e até alguns cómodos dentro dela estavam visivelmente em reforma. Eu já tremendo bastante tive a única reação de seguir o caminho ao lado de Henrique sem contestar nada. No final do trajeto chegamos a uma sala, Henrique olhou para mim de um jeito estranho e girou a maçaneta. Eu encarei o local e entrei tentando não transparecer meu medo.

A sala era a melhor da casa de longe, muito bem conservada, com vários livros e quadros. Tinha uma taça de vinho na mesa e uma pasta com papéis. No centro dela sentado com um olhar misterioso para mim ninguém mais que o prefeito da cidade me encarava. Ele sorriu de um jeito malicioso e me mandou com o dedo sentar em uma cadeira na outra ponta da mesa. Henrique não se sentou, ele caminhou pela sala e ficou em pé ao lado do prefeito como uma estátua.

- Olá Gabriel. Como você está ? Desde já dou meus pêsames pela morte do seu pai.

- Obrigado prefeito, se não for muito rude eu gostaria de saber o por que de estar aqui.

- Claro, sem problemas, toma vinho ? - Ele apontou para uma mesa e Henrique foi até lá para pegar a taça

- Não, na verdade eu não bebo

- Ah, claro que não bebe haha.

O prefeito se levantou, foi até um cavalete na mesa e tirou um pano escondendo uma planta de algum prédio. Eu imaginei ser o prédio da prefeitura ou algo do tipo só tentando adivinhar o motivo para estar aqui. O prefeito sorriu e iniciou uma espécie de apresentação.

- Como você sabe Gabriel, nossa cidade é bem pequena e sem muitas condições de crescimento. Não temos boas escolas e muito menos bons hospitais, o dinheiro que o governo manda e algo bem pequeno e já estamos pensando em talvez um cenário de crise, mas a um certo tempo tivemos uma luz no fim do túnel - Ele deu tapa no quadro - Apresento o hotel e resort Caminhos do paraíso! Um local para famílias do país todo chegarem e se acomodarem tendo uma experiencia única unindo o luxo e o estilo praiano que só Santalina oferece!

- Isso é ótimo mas onde eu entro ?

- Acontece que...nós não temos um lugar apropriado para isso, podemos demolir uma escola mas como dormiriamos a noite com isso, porém existe um terreno ideal para a construção

- E onde séria ?

- Bom, caso você não saiba, a sua família vem uma longa linha de mercadores portugueses como está nos registros da cidade. Então com o tempo o terreno onde você morava foi passando de geração pra geração pela sua família. Por algum motivo seu pai nunca contou nada sobre isso para ninguém mas nós medimos o espaço que você nem imagina que o terreno tem e chegamos a uma conclusão. Queremos esse terreno para construir o resort!

- Você tá me dizendo que eu tenho um terreno gigantesco e nunca soube ? E agora vocês querem toma-lo de mim ?

- Não é tomar, seu pai passou tudo pra você nós últimos meses como um presente de aniversário e nós queriamos saber se com a sua bênção claro, nós não poderiamos usar aquele espaço

- Não. Se por algum motivo meus país não contaram sobre o terreno e muito menos sobre o que tivemos então eu não acho certo vender

- Acho que você não entendeu! Pode gerar grandes frutos a Santalina, tantas coisas boas e até uma reeleição pra mim!

- Você não quer fazer a coisa certa, quer se reeleger! Isso que quer fazer

- Henrique! Fala com esse garoto

Henrique mudou sua atuação como mera estátua para aquele rapaz que tinha me apaixonado a meses atrás. Ele se aproximou de mim e segurou minha mão como um toque amigo, um toque de bondade naquela confusão. Mas eu sentia que tinha algo errado, eu sempre senti que tinha algo errado, eu tinha medo do que iria acontecer mas estava disposto a ir até o final.

- Meu amor me escuta! O que meu pai quer fazer pode mudar muita coisa, aquele terreno é o motivo do nosso amor e pode ser que seja de outras pessoas também

- Por que ele é o motivo do nosso amor ? Você sábia disso também ?

- Eu-E-Eu não quis dizer isso haha - Ele apertou minha mão - Você vai ganhar muita coisa, muita coisa!

- Henrique por que o motivo do nosso amor é o terreno da minha casa ? Diz que não é o que eu tô pensando!

- O que você tá pensando ? - O tom de Henrique se tornou algo frio e sem emoção, suas mãos se prenderam as minhas de uma forma que começava a me machucar

- Henrique tá me machucando!

- O que você tá pensando Gabriel ?

- Henrique! Minha mão!

- FALA O QUE VOCÊ TÁ PENSANDO!

Eu puxei minha mão o máximo que consegui de uma vez só me soltando e levantando bem assustado com tudo. O prefeito tomava uma taça de vinho enquanto Henrique me encarava passando as mãos uma na outra para aliviar qualquer irritação que causei. Eu andei de costas tentando me aproximar da porta mas não tive sucesso. Meu coração estava a mil, eu não tinha ideia do que iria acontecer comigo, um sentimento desespero tomou conta de mim e apenas conseguia pedir para mim mesmo ficar calmo. Henrique se juntou ao prefeito com os dois me olhando e abrindo um sorriso que só tinha visto em filmes de terror.

- Acho que ele entendeu pai!

- Eu sempre disse que ele era inteligente filho!

- Não tão inteligente assim, pelo menos foi uma boa trepada - Ele bebeu uma taça de vinho - É isso que você tá pensando garoto!

- Eu pedi pro neu filho se aproximar de você

- Você caiu como um pato! Até abriu as pernas pra mim hahahaha e ainda falou que me amava

- Eu ri tanto quando ele me contou!

Os dois começaram a rir de mim enquanto as lágrimas caiam do meu rosto. Eu não conseguia respirar, meu peito doía e minha voz não conseguia sequer sair da minha garganta e o meu corpo parecia ter caído num buraco profundo sem chance de escapatória. Henrique tinha me usado esse tempo todo, eu tinha dado meu coração, ele tinha sido a primeira pessoa que eu me apaixonei e agora ele tinha me jogado no lixo, eu não era nada mais que um objeto, como eu pude me deixar levar por ele, por que eu não desconfiei quando nos conhecemos. Eu sempre me achei inteligente, esperto demais pra isso, mas eu não passava de mais um trouxa.

- Como você pode ?

- Foi fácil na verdade, primeiro uma tocaia pra saber o melhor lugar pra tê abordar e depois eu só um beijo, aliás você beija muito bem e tem um cuzinho que - Ele fez um sinal de ok com os dedos rindo

- VOCÊ É UM MONSTRO!

- Não meu amor! Eu sou inteligente, talvez em uma outra vida nos tivessemos dado certo - Seu rosto vitorioso se transformou num olhar animal - Agora eu só quero que você assine esse papel e suma haha

- Esse é meu filhão! Quando começamos com isso eu até achei que por você ser assim "sensível" não ia conseguir, mas parabéns você me fez morder a língua

Eu olhava incrédulo para eles conversando sobre como me usaram na maior calma e tranquilidade, como se eu não tivesse ali - Eu não vou assinar nada!

- A Bielzinho, vai sim! Eu faço algo muito pior do que isso tudo - O prefeito disse andando pela sala

- Eu não vou assinar nada! Eu sou menor, não é válido

- Você vai passar todos os direitos do terreno para nós e não vai dar um piu! Antes que acabe nos forçando a fazer algo que não queremos

- E se eu não quiser ?!

- Se você não quiser... - Henrique se sentou na mesa me olhando aquele sorriso perverso

- Deixa eu adivinhar, vocês vão me matar ?! - Cuspo nele

- Não, vamos matar a velha que tê abrigou...depois os três patetas que sobem e descem com você, na sua f-r-e-n-t-e! - Ele deu um tapa no meu rosto pelo cuspe

- NÃO! NÃO! HENRIQUE PELO AMOR DE DEUS PARA COM ISSO, VOCÊ NÃO É UM MONSTRO

- Ficamos juntos por quanto tempo ? Dois meses ? Você não sabe nada sobre mim

Nos olhamos por alguns instantes, Henrique não era mais que parecia ser, agora seus olhos que antes eram cheios de amor e paz se tornaram algo digno de filmes de terror. Ele estava alucinado, eu não conhecia mais ele e nem até onde estaria disposto a chegar. Me via ajoelhado no chão, sem ter para onde correr, o prefeito parecia gostar daquela situação, ele esperou terminarmos o diálogo e sem mais nem menos sacou uma pistola. Ele veio andando com ela até mim com um sorriso de vitória, o pai ficou lado a lado com seu filho e aproximou a arma a minha cabeça.

- Assina. Se você assinar, o resort ainda vai estar no seu nome mas você vai passar todo o controle para nós, podemos até deixar você viver nessa cidade de merda com essa gentinha de merda sem problemas. Agora, se não assinar, eu amarro você naquela cadeira e trago todos que você ama pra essa sala, eu mato eles na sua frente e depois acabo com você, pode escolher muleke

Eu respirei fundo e tentei segurar o choro ao máximo, como poderia estar passando por algo assim ?! Como tinha chegado nesse ponto ?! Eu não fazia ideia, eu não fazia ideia do que estava acontecendo, do por que de tudo aquilo mas tinha em minha mente que não deixaria nada de ruim acontecer com eles. Seus rostos flutuavam na minha cabeça, eu não ia aguentar ver eles chorando e sofrendo na minha frente, eu não tive escolha, na verdade nunca tive escolha desde o começo disso tudo, porém agora faria a mais importante.

- Eu assino.

- Isso ai viadinho! - Henrique riu olhando pro pai

Me levantei, fui até a mesa e abri a pasta com documentos, meus dedos tremiam mas não ter outra escolha. Peguei uma caneta e fui escrevendo nas várias linhas e nos vários termos, cada vez que a caneta deslizava sobre o papel eu sentia meu coração levar uma facada, outra e outra até o final da pasta. O tempo todo o prefeito manteve a arma apontada para mim. Após assinar ele pegou a pasta e guardou enquanto Henrique olhava para mim e sorria com seu novo olhar perverso.

- Eu vou contar pra todos! Eu vou contar pra todos o que fizeram comigo! VOCÊS VÃO PAGAR

- Não, não vamos! - Henrique ficou atrás de mim e silenciosamente segou minha cabeça com as duas mãos - Você vai sumir!

- O que ?!

- Você não achou mesmo que iamos deixar vocês viver aqui com o risco de contar o que fizemos né ? Você têm demência ?!

- Você falaram que não iam me matar!

- E não vamos - O prefeito disse

- Você vai sumir! Vai sair de Santalina e nunca mais voltar, entendeu ?

- E pra onde eu vou ?

- Não sei, se vira! Só não aparece mais na cidade, nem agora nem nunca!

Eu tentei dialogar, tentei resistir e impedir que me tirassem do único lugar que me trazia conforto, mas não ouve meio-termo, eles nem sequer me deram um lugar pra ir, só disseram para ser o mais longe possível. Eu então aceitei, já tinha assinado então qual resistência poderia fazer ter ?! Eu levantei e escoltado por Henrique me dirigi ao carro que me trouxe, assim como na ida não ouve nem uma palavra solta no ar. Eu observei a mata voltar a virar cidade com o tempo da estrada e a noite agora não parecia mais assustadora, só solitária. As ruas estavam vazias, poucas pessoas andavam por lá, eu voltei para casa e subi em desespero sob o olhar cruel de Henrique.

Meu coração só se acalmou quando ouvi o carro indo embora. Minha primeira reação foi fazer minhas malas o mais rápido que consegui para despistar caso voltassem. Coloquei tudo que me restava de rouba e/ou pertences, me certifiquei que tudo estava na mala, documentos que não foram queimados, as poucas roupas que tinha e uma foto de meu pai que não pereceu nas chamas. Fiz minha mala e desci as escadas sem nem ter ideia do que faria para pegar o transporte.

Assim que cheguei na cozinha para usar a porta dos fundos, essa que não fazia barulho eu me deparei com Dona Celestina em seu melhor jeito amável, com sorriso no rosto e ainda com sua roupa de cama e sem entender muita coiss. Eu comecei a chorar com medo de contar algo e ela veio correndo me dar um abraço singelo, minhas lagrimas caiam e ela não ousava me perguntar, só dizia que sentia muito as coisas acabarem daquele jeito. Ela me deu um beijo na testa dando uma certa confiança a mim. Caminhou até uma mesinha e de lá pegou uma quantia de dinheiro e um número de telefone.

- Mas eu nem sei pra onde vou...

- Vai pra capital! Eu tenho uma amiga de convento lá e você pode ficar com ela

- Muito obrigado! A senhora é um anjo.

Nós nos abraçamos por um tempo e ela até cortou um pedaço de bolo para mim no caminho. Eu sorri agradecido e com muita dor no coração parti noite a dentro sem coragem de olhar para trás, meus passos foram marcando as ruas por onde passava até chegar no centro da cidadezinha. As pessoas me encaravam como se soubessem o que estava fazendo mas não ousando me impedir, de longe dava pra ver a igreja, a delegacia e até a lojinha do pai de Gui. Eu procurei alguma forma dr sair da cidadezinha por algumas horas até a noite começar a esvaziar o centro. As horas passaram e a cada minuto meu medo sr tornava em desalento. Perto da meia-noite eu tive uma luz no final do túnel, um caminhão de verduras que passava o tempo todo na cidade se preparava para ir fazer entregas na capital. Eu esperei para que os trabalhadores se afastassem e corri até o caminhão, me escondi atrás de alguns caixotes e respirei fundo sentindo o cheiro doce das frutas se empreguinar em mim.

Assim que verdureiro entrou no caminhão eu só me despedi silenciosamente de Santalina e me deixei partir. As coisas voavam pela minha cabeça mas nada me fazia ficar desatento, eu sabia que aquilo era um fim, mas talvez um início melhor se iniciasse.

°

É galera, agora o bicho pegou! Se vocês curtiram pode comentar o que acharam do capítulo e só peço que aguardem a parte 04 vai vir com tudo! Flw

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Comentários

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MORTE AO HENRIQUE E AO PREFEITO. NÃO É DE SE SURPREENDER QUE O DINHEIRO FAZ AS PESSOAS SE TORNAREM OS PIORES ASSASSINOS DA FACE DA TERRA. MAS DEIXE O PREFEITO CONSTRUIR O QUE ELE QUER E DEPOIS VC RETORNA E TOMA TUDO O QUE É SEU. AFINAL COMO VC DISSE VC É MENOR E FOI INDUZIDO A ASSINAR ALGO QUE NEM SABIA O TEOR. TORÇO POR VC. QUEM SABE DUCA E BERNARDO TE AJUDEM QUANDO TU RETORNAR. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

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Querp viganca ,fria,calculada,prefeito e Henri humilhados,mortos e esquartejado .

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