POR ESSE AMOR - EP. 7: "FÉRIAS DESASTROSAS"

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2070 palavras
Data: 04/03/2021 03:01:21

Escrito por Kleber Viana:

Cara, que ressaca. Não conseguia lembrar de muita coisa da noite anterior. Não queria abrir os olhos. Estava com muito medo de descobrir tudo que aprontei. Uma coisa me assusta: estou pelado. Toquei no meu bumbum e não senti nenhuma dor, isso é um bom sinal. Abri os olhos aos poucos e percebi que uma moça loira dormia ao meu lado.

Ela não é o tipo de mulher que me atrai, na verdade, são poucas que chamam minha atenção. Seus cabelos são longos, um loiro princesa da Disney. Ela também está pelada, ou seja, fiz merda. Consegui ver uma tatuagem em seu pescoço, uma espécie de letra japonesa ou chinesa. Perdi boa parte do tempo pensando na melhor maneira de fugir sem fazer barulho.

— Puta merda, Kleber. — falei para mim mesmo.

Levantei, sorrateiramente, não fazia a mínima ideia de quem é aquela moça, logo, não deveria acorda-la. Peguei minhas roupas e vesti da maneira mais rápida que consigo, ou seja, ela ficou toda amarrotada. Além da ressaca, a cabeça mandava sinal de socorro, mas, apesar disso, ela tinha plena consciência que fizemos uma merda colossal.

Após vestir a camisa de abacaxi decidi alongar a coluna. Não lembrava de nada, nadica, como se a noite anterior não existisse, porém, ela me rendeu dores por todo o corpo. Pensei em chamar a moça que dormia na cama do resort, só que uma saída à la Missão Impossível parecia mais apropriado.

Cheguei na casa dos meus tios exausto. O resto do dia foi lento e difícil. Nem Thor conseguia tirar um sorriso de mim. Eu bebi horrores, entretanto, lembrei bem da minha briga com o Santino. Como ele teve coragem de ficar com aquele otário que sempre maltratou dele?

Para aproveitar o dia ensolarado, a minha família decidiu passear pela cidade. Aquilo significou um tempo para eu curtir minha fossa. Liguei o notebook e pesquisei exercícios para tonificar as pernas. Geralmente, gosto de assistir vídeos de tecnologia, porém, queria descontar o estresse da noite anterior.

Uma rapaz bombado começa a ensinar os exercícios, mas não consegui prestar atenção. Peguei o celular e abri o aplicativo de mensagem, a foto do Santino apareceu para mim, ou seja, ele não havia me excluído ainda. Será que mando uma mensagem? Ele fez toda aquela confusão. Criei um bloco de notas novo e escrevi: "Motivos para não gostar do Santino".

1 - Ele tem um sorriso encantador (não acredite em sorrisos encantadores)

2 - Não gosta de cebolas (esse tipo de gente não é confiável)

3 - Faz um barulho engraçado quando ri (isso não é fofo, isso não é fofo)

Não consegui ir além do item 3. Merda, Santino. O que você fez no meu coração? Eu prometi a mim mesmo que não me envolveria de novo. Pelas minhas experiências, o amor traz apenas confusão e dor. Dou um grito alto e levanto da cama.

O tempo passou tão rápido e eu nem percebi. O relógio marcava 17h30. Pela janela, percebi que algumas nuvens cobriam o sol. Decidi caminhar no calçadão, talvez o ar fresco fizesse bem para o meu coração partido (de novo).

Desde que assumi minha preferência por garotos, namorei duas vezes. O primeiro namoradinho que tive se chamava Wanderley. Um gordinho lindo e filho de um pastor, ninguém é perfeito, não é?

Na época, o desgraçado era tudo para mim. O carinha que sempre desejei. Peludinho, fofinho e uma voz grave. Infelizmente, quando fico apaixonado, esqueço de mim e foco apenas no meu parceiro. Sim, sou esse tipo de garoto.

A relação com ele durou alguns meses, mas o suficiente para me fazer sofrer bastante. O Wanderley tinha bastante defeitos, como por exemplo, o ciúme incontrolável e o fato de que comandava o culto de jovens de sua igreja.

Sério. Eu entrei para a igreja do Wanderley. Fui até mesmo para um retiro. A gente fez coisas ilegais no meio de um culto. Pensando agora, a melhor saída para a nossa relação era o termino.

Através das redes sociais, descobri que o Wanderley vai ser pai e está casado com uma moça chamada Maria. Ah, se ela soubesse que o marido dela me fez pecar dentro de uma rede durante um retiro espiritual.

O segundo relacionamento me trouxe grandes marcas emocionais e físicas. Conheci o Kiko em uma festa de ursos, flopada, mas uma festa de ursos. Eu com meus 17 anos, acabei ficando com um cara de 25. Na minha cabeça de minhoca, o Kiko seria o cara certo. Idiota.

Vamos falar do Kiko? Seu verdadeiro nome era Frederico, estudava design em uma faculdade conceituada e, claro, gordo. A gente transou na noite em que nos conhecemos, nem preciso dizer que fiquei apaixonado. Ele possuía uma bela pegada, algo raro de se encontrar hoje em dia.

Preciso confessar uma coisa, o que me chama mais atenção em outro homem são os pelos. Se tiver barba, então, fico maluquinho. O Kiko tinha o combo pelo no corpo e barba cheia. Quando a gente saia para passear, adorava passar a mão em seu braço peludo. Ai, ai.

Pena que a relação foi ficando cada vez mais esquisita. Tá, não vou mentir. Tenho uma parcela de culpa na forma como as coisas foram se desenrolando. Eu era um chaser (caçador) de 17 anos, queria experimentar coisas e conhecer novas pessoas.

O Kiko fazia todas minhas vontades. Diferente do Wanderley, ele adorava me ver com outros homens. Começamos, então, um jogo e criamos um perfil em um aplicativo de pegação voltado a cultura ursina, ficamos conhecido como "A 3".

Durante os primeiros encontros, o Kiko não participava, apenas observava e comandava toda ação. Aos poucos, ele foi se soltando e participando comigo. Eu adorava receber toda aquela atenção, principalmente, quando os ursos eram do jeito que eu curtia.

Em uma das nossas aventuras, um homem mais velho que a gente nos deu R$ 300. "É um agrado pela diversão", disse ele. Eu não conseguia acreditar, quase fiquei ofendido, mas para o Kiko, alguma coisa mudou. Eu percebi algo nos olhos dele e sabia que daria merda.

Uma semana se passou desde quando encontramos o cara que me ofendeu pagando pelo sexo que tivemos. Todo final de semana, ficava na casa do Kiko, naquela altura, a mamãe já o tinha conhecido, porém, evitava as vergonhas alheias dela.

Em uma noite, o Kiko abriu o notebook e mostrou uma página chamada "Garotos da Noite". Ele parecia inquieto, sua respiração estava ofegante. Não vi nenhum urso no site, apenas fotos de caras malhados e magros.

— Você está nesse site. — ele soltou me fazendo dar uma risada. — Não é brincadeira. — dessa vez, em um tom mais grave, clicando em um perfil e mostrando a foto.

Era uma imagem minha apenas de sunga. O Kiko criou um perfil para mim em um site de garotos de programa. Eu não conseguia acreditar. O que passou na cabeça dele? Continuei olhando o perfil incrédulo.

CAIO FERRAZ

idade: 18 anos

peso: 70 quilos

altura: 1,69 m

preferência: ativo

valores: R$ 100 (uma hora)

A minha cabeça não conseguiu acompanhar aquele tanto de informação, uma lágrima escorreu na minha bochecha, logo, eu limpei. Levantei e dei um tapa na cara do Kiko. Exigi que ele excluísse aquele perfil.

— Qual é, Kleber! — Kiko gritou, tentando se defender de mim.

— Isso não tem graça. Você não pode me expor dessa maneira. Apaga. — pedi chorando, temendo que alguém conhecido pudesse ver o site.

— Tarde demais. Você tem dois encontros marcados. — ela anunciou como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Queria gritar. Como o meu namorado podia ter feito algo assim? Da forma mais cínica possível, o Kleber começou a falar do emprego da minha mãe, das dificuldades que passávamos e das contas atrasadas. Ele me abraçou, estava tão desolado que permiti.

Aquelas palavras atravessaram o meu coração como uma faca afiada. O Kiko abriu a galeria de imagens do celular e deu a cartada final. Ele ameaçou jogar todos os vídeos nas redes sociais se eu não topasse a proposta dele.

Mais uma vez neguei. Então, o Kiko ficou violento e jogou o próprio celular contra a parede. Por que essa fixação em me vender como uma mercadoria? Ele segurou no meu pescoço e apertou com forma, não conseguia respirar.

— Você vai fazer o que estou mandando! — gritou o Kiko apertando meu pescoço, parecendo um psicopata.

— Me solta, por favor! - implorei quase chorando de raiva e desespero. — Eu não sou garoto de programa. Você não pode fazer isso comigo.

O Kiko era mais alto e tinha uma força fora do comum, entretanto, os anos que passei treinando não foram à toa. Segurei nos braços dele e dei uma rasteira. Caímos no chão, de forma rápida, consegui imobiliza-lo aplicando um golpe clássico, o mata leão.

Estava irado, chocado e decepcionado com ele. Foram cinco meses jogados no lixo. Quase ultrapassei o limite, o Kiko não conseguia respirar. Comecei a chorar e soltei ele. Levantei e peguei minhas coisas, enquanto, o Kiko continuava deitado no chão.

Lasque-se! Eu queria ver aquele verme morto. Estava decidido à prestar queixa na delegacia mesmo que minhas imagens vazassem nas redes sociais. Fui coagido a fazer algo hediondo, a lei estaria ao meu lado. Os sentimentos lutavam dentro do meu coração, na real, não tinha ideia do que fazer.

— Kleber, por favor. - pediu Kiko levantando do chão e chorando. — Esquece isso. Ok. Eu não quis...

— Cala boca! Você morreu para mim! — gritei me afastando dele.

— Desculpa. Isso foi uma maluquice. Uma viagem da minha cabeça. Uma brincadeira. Isso, uma brincadeira. — ele falou se aproximando e ficando de joelhos no chão. - Estou te implorando. Quero mais uma oportunidade.

— Fica longe de mim. Se me procurar de novo, juro que vou à polícia. — ameacei saindo do apartamento dele o mais rápido possível, nem tive tempo que colocar minhas roupas na mochila.

Corri o máximo que pude, o coração acelerou de uma maneira que nunca senti. Esbarrei em algumas pessoas que faziam compras na rua e deixei cair todos os meus pertences. Não aguentei e comecei a chorar. Os transeuntes passavam e seguiam suas vidas, enquanto, naquele momento, o mundo desmoronava sob minha cabeça.

Era jovem, ingênuo, um verdadeiro bobão. Prometi que a partir daquele dia nunca mais me apaixonaria. E lá estava eu, depois de dois anos, olhando o sol se pôr e meu coração partido. Voltei para casa e todos já haviam retornado. Tentei não demonstrar minha tristeza, mas a mamãe percebeu que algo não estava bem.

— Ei, filhote. Tudo certo? — questionou mamãe, enquanto secava os cabelos com a toalha.

— Sim. Só fui dar uma volta. — soltei, tentando disfarçar ao máximo a tristeza.

— E o garoto que você ia encontrar? O ursão. — ela perguntou sentando ao meu lado.

— Ele foi embora. A viagem era curta. Amanhã a gente podia ir para Fortaleza. — tentei desconversar, mas a dona Bruna sempre saca o problema.

— Onde ele mora?

— Não sei, mãe. A gente nunca conversou sobre isso. Foram só três dias. — pareci um pouco mais dramático que o normal.

— Credo. Cê gostou de alguém e não sabe nem onde ele mora? Esses relacionamentos de hoje, olha.

Nunca conversei com um parente sobre relacionamento. De repente, me vi envolvido em várias histórias românticas onde a mamãe era protagonista. Mas, nesses momentos, eu tinha uma cartada infalível: como ela e o meu pai se conheceram.

Cara, você precisa ver a feição no rosto dela mudando. Sei que pode ser um pouco maldoso da minha parte, porém, não vejo outra saída.

— Mãe, o papai era muito parecido comigo? — perguntei me arrastando na cama para ficar perto dela.

— Ah. Estou indo, Luciana. A sua tia está chamando. Com licença. — saindo do quarto como um furacão, mesmo ninguém a chamando.

As férias seguiram sem novidades. Consegui um estágio em uma empresa que concerta computadores, afinal, não ia mais precisar de tempo livre. Arrumei o computador antigo do tio Cláudio. Fiz uma tatuagem, quase apanhei, mas era algo que eu queria fazer há muito tempo. Por sinal, a tatoo ficou perfeita. Um símbolo do infinito com as iniciais K, B e T.

E essas foram minhas tristes férias. Se estivesse no ensino médio, algum professor ia fazer a famosa pergunta: E como foram as férias de vocês? O que eu respondia? Bem, começou promissora, depois só ladeira a baixo. Espero que o resto do ano seja melhor. Só me resta torcer. Vai lá, hein, destino, por favor, não me decepciona.

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Comentários

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Uma história que começou promissora neste contou deixou de fazer sentido.

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Como um mau entendido pode afetar um relacionamento bom,a verdade vem a tona logo,mesmo que o tempo passa, tudo pode ser resolvido com diálogo e respeito.

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