Solar - 29

Um conto erótico de Thonny Norões
Categoria: Homossexual
Contém 1769 palavras
Data: 26/10/2017 02:59:13

[Álvaro narrando]

Saí do quarto do Otávio e fui para o meu. Encontrei o Bruno deitado, mexendo no celular.

- Que cara é essa? – perguntei.

- Liguei para o Tiago e tentei ver se descobria alguma coisa sobre o Lucas.

- Você é muito vacilão, mano. Para de manter contato com eles. Todos lá nos odeiam. Age com cautela.

- Só quis ajudar, mas eu que te pergunto: como foi lá com o velho? E o porquê dessa cara?

- Ele me pediu para fazer as malas. Nós vamos para São Paulo.

- E isso não é bom? E o que eu vou fazer? – colocou o celular de lado e sentou-se na cama.

- É bom, mas penso ser muito cedo ainda. Mas o Otávio é meio kamikaze mesmo. Não direi que não gosto da adrenalina, mas é muita tensão. – Sentei na cama. – Você vai ficar aqui até amanhã. Vou deixar o endereço do meu apê e uma cópia da chave com você. Ligarei para o porteiro do prédio avisando da sua chegada. Não garanto aparecer lá com frequência, mas farei o possível. O Otávio não pode sonhar que você vai estar lá. Foi uma barra convencê-lo esses dias. O velho tem que estar em minhas mãos. Tô com nojo dele. Já deu o que tinha que dar. Nossa relação se saturou.

- Álvaro, se eu fosse você pulava fora dessa. Você não precisa dele para mais nada. Já tem a confiança do avô do Lucas. Agora é só se aproximar dele e deixar que ele faça a ponte entre você e o Lucas. Acho muito arriscado matar o Otávio. Não existe crime perfeito. Você viu o quanto o delegado novo é competente. O sogro do Lucas foi descoberto rapidinho.

- Ele não soube fazer direito, Bruno. Deixa o plano comigo, mas preciso que você me ajude a executar. Posso contar com você, não é? Não dê para trás agora. Estamos juntos nessa.

- Fica tranquilo, vou te ajudar.

- Posso deitar no seu colo? Tô precisando de um cafuné.

- Deita.

Deitei no colo do Bruno e ele começou a fazer carinho na minha cabeça. Será que ficarei inerte ao ver o Lucas no hospital?

[Clara narrando]

- Nossa tarde foi maravilhosa, doutor.

- Eu que o diga, Clarinha.

- Felipe, você não fala muito sobre sua família, sobre seus relacionamentos passados.

- Quando optei vir para Solar, eu estava procurando um lugar tranquilo, onde pudesse descansar, fugir das lembranças más. Meu irmão era homossexual e foi assassinado pelo cunhado do namorado dele. O idiota era comprometido com uma mulher, mas namorava o meu irmão em sigilo. Foi um crime muito brutal, horrendo. Quando abriu a oportunidade de trabalhar aqui em Solar, eu não pensei duas vezes. Muita gente falava o quanto aqui era tranquilo para uma cidade praiana, bem parecida com uma cidade do interior mesmo. Solar é pequena, mas quem olha de fora pode achar que é pouco movimentada na linguagem policial. Poucos homicídios, poucos assaltos, um índice bem abaixo de cidades pequenas e sem praias ou turismo. É um lugar perfeito. Além, claro, de ser uma cidade acolhedora e encantadora. Me doía ver meus pais sofrerem com as lembranças dele. Eu procurei ser delegado por causa disso. Tenho tentado minimizar os casos de violência contra homossexuais. O pai do ítalo poderia ser processado por homofobia também, já que atropelou o Lucas por ele ser gay. Infelizmente as Leis do Brasil são arcaicas e segregacionistas. Os LGBTs não são abrangidos e protegidos de maneira eficaz.

- Nossa, como é triste saber que alguém é morto só por amar alguém do mesmo sexo. É difícil acreditar e aceitar que isso é comum no Brasil. Como seu irmão se chamava?

- Túlio. Ele era tão bom. Mas não gosto muito de lembrar disso. Depois te conto essa história com mais calma.

- Solar é a primeira cidade em que você trabalha?

- Não, já passei por duas DPs em São Paulo.

- Seus pais moram lá?

- Eles se mudaram para o Sul. Estão em Gramado atualmente. Eles nasceram lá. Vieram tentar uma vida melhor aqui. Meus pais tem uma rede de cafeterias. Deixaram minha irmã no comando de tudo.

- Eles pretendem voltar?

- Sim, mas nós nos comprometemos a não forçar a barra, deixá-los à vontade, respeitar o tempo deles. Esse tempo no Sul tem sido bem produtivo. Eles abriram três novas cafeterias. Estão expandindo a rede. O negocio tem prosperado cada dia mais. Vivemos confortavelmente.

- Bom, agora que já vimos o sol se pôr, eu queria te mostrar um outro lugar.

- Isso é um rapto?

- Sim, vou te torturar bastante com beijos e mordidas.

- Nesse caso eu terei que te prender.

- Que tal prisão perpétua?

- Eu vou ficar para sempre mantendo você comigo.

Nós nos beijamos e arrumamos tudo. Felipe pegou a cesta e fomos caminhando pela orla para o lugar aonde eu o levaria.

[Ítalo narrando]

Estava saindo da cantina quando vi o seu Alexandre conversando com uma mulher de jaleco, provavelmente uma médica. Parei para falar com ele.

- Com licença, seu Alexandre, mas estou voltando para o quarto, o senhor quer que eu diga alguma coisa ao doutor César?

- Diga que daqui a pouco eu passarei lá para irmos embora, meu querido. Mas antes deixa eu te apresentar a doutora Angélica, uma amiga de muito tempo.

- Muito prazer, doutora. – estendi a mão para ela.

- Me chame de Angélica, meu bem. Você é amigo do Lucas?

- Namorado, Angélica. – seu Alexandre respondeu antes de mim.

- Seu filho tão jovem e tão bem resolvido, Xande. Que vocês sejam muito felizes!

- Muito obrigado. Preciso ir. Foi um prazer conhecê-la, Angélica.

Angélica levantou-se e me deu um abraço. Me despedi do seu Alexandre e fui embora.

[Alexandre narrando]

- Achei que você pudesse ter alguma resistência quanto a isso, por isso respondi pelo Ítalo.

- Imagina, Xande. I’m peace and love. Não sou preconceituosa.

- Gostaria que você me falasse mais um pouco sobre o tratamento do meu pai.

- Claro, veja bem...

[Ítalo narrando]

Quando estava indo para o quarto do Lucas, resolvi dar mais uma olhada no meu pai. Aparentemente nada havia mudado.

Cheguei ao quarto do Lucas e vi que o doutor César estava em uma vídeo conferencia. A me ver chegar, ele logo desligou e fechou o notebook.

- Não queria atrapalhar doutor César,mas vim ficar com o Lucas e dizer que o seu Alexandre está vindo encontrá-lo.

- Já estava encerrando mesmo, meu filho, não me atrapalhou. Estava passando algumas instruções para um dos diretores da empresa durante minha ausência. Onde está meu filho?

- Ele esta na cantina conversando com uma amiga e médica aqui do hospital. Ela se chama Angélica.

- Bem, se for a mesma pessoa, acredito que seja a ex-namorada do meu filho.

- Seria muita coincidência se não fosse.

- Quem sabe o meu filho não abre o coração para o amor novamente. Seria ótimo para ele.

- Vamos torcer por isso, doutor César.

- Ítalo, sei que não é hora para isso, mas caso o seu pai não sobreviva, o que você pretende fazer com as empresas da família?

- Ainda não pensei nisso. Acho que venderei, sei lá.

- Andei analisando algumas coisas e acredito que uma fusão de nossas empresas seria ótima. Não explorei muito o setor imobiliário, da construção civil. O Lucas vai ser o futuro herdeiro da empresa que pertence a mim e ao pai dele, então vocês poderiam administrar as duas juntos e unidos.

- Pode ser uma boa ideia, mas eu sou fotógrafo e tenho um curso na área de Enfermagem, e o Lucas será psicólogo, não sei de onde tiraremos aptidão para o ramo empresarial.

- Isso está no sangue. Os métodos do seu pai podem não ter sido os mais honestos, mas ele teve muito faro e pulso para os negócios. Você precisa investir nisso. Pode ser um grande empresário com ética e visão de futuro.

[Íris narrando]

- Queridinha, diga ao doutor Tavares que Íris Brunchel deseja ser recebida.

- O doutor Tavares está em uma reunião importante.

- Não há reuniões que me impeçam de falar até com o Presidente. Com licença, vou acabar com essa reuniãozinha agora!

Entrei na sala do doutor Tavares e percebi que todos me olharam com reprovação.

- O que significa isso? Como ousa entrar assim na minha sala, mocinha?

- Eu tentei impedi-la, doutor. – falou a subalterna.

- Vou chamar a segurança. Você deveria ter modos\

- (Cortei-o) O mesmo vale para você, doutor. Você me deve satisfações. Que história é essa de tentar passar o controle acionário da empresa e da fortuna do Humberto para o Ítalo?

- Isso não lhe diz respeito. Para sua informação, o Ítalo é o único herdeiro legal do Humberto.

- Ledo engano, advogadozinho. O Humberto me deu uma procuração de plenos poderes em vida. Ele já morreu? A resposta é não! Portanto, essa tentativa de transferência é ilegal. O Ítalo não tocará em um centavo do Humberto. Quem dá as cartas sou eu, doutor. Quer levar isso para as vias judiciais, leve; mas, enquanto isso, posso dispor dos bens da maneira que eu bem entender.

[Alexandre narrando]

- E quais as chances de dar certo?

- Vejamos, pelo estado do doutor César nesse momento... hum... acredito que temos uns 51% de chance. Claro que precisamos fazer mais exames, substituirmos os medicamentos e prepará-lo para o tratamento em si. É um caminho tortuoso, mas pode ser a única saída e a única chance de cura.

- Iremos até o fim. Meu pai vai sair dessa.

[Álvaro narrando]

- Tudo certo com sua bagagem? – Otávio perguntou-me.

- Sim, mas não precisa pagar a conta da minha suíte. Meu amigo vai ficar lá ate amanhã. Depois ele segue o destino dele.

- Acho bom. Já tivemos muitos desvios de rotas e acidentes de percurso.

[Clara narrando]

- Esse lugar é incrível. Você me trouxe aqui pelas estrelas?

- Sim, a gente consegue ver o céu de pertinho. É como se o céu fosse o teto da nossa casa.

- Me dá vontade de passar a eternidade toda aqui com você.

- Eu vou ficar mal acostumada, Felipe. Nunca fui tão bem tratada ou recebi tantos elogios assim.

- Pois se acostume. De hoje em diante, você será a mulher mais feliz desse mundo. Vou cuidar de você para sempre.

- Aqui é onde os casais gravam as iniciais deles. – Abaixei-me para mostrar os corações desenhados na pedra. - Esse é o meu e do Bruno. – Apontei.

- Você não precisar lembrar-se dele, Clara. Vamos fazer o nosso? – Falou pegando uma pedra pontiaguda.

- Duvido que fique tão bem quanto o nosso.

- Bruno, seu cafajeste, o que veio fazer aqui?

O Bruno veio em nossa direção com um sorriso sarcástico no rosto.

Continua...

Amores, mais um capítulo para vocês. Prometo que volto logo. Desculpem os possíveis erros. Reviso com calma depois. Obrigado por tudo. Amo vocês!

Catita, você é 10!

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