Ladrilhos 08

Um conto erótico de Igor Alcântara
Categoria: Homossexual
Contém 2330 palavras
Data: 25/09/2015 23:59:17

As coisas meio que se desenvolveram assim:

- Victor espera! – Rômulo chamou atrás de mim quando ia pegando no trinco da porta da casa.

Eu só queria trocar de roupa e ir embora. A pé se fosse preciso. Eu não dei atenção e entrei na sala. Que ódio daquela parede de vidro! Todo o jardim estava alí do lado da mesma forma de segundos atrás.

- Victor!

- O que foi? – eu falei sem parar de andar em direção ao corredor.

- Victor, eu tô falando com você! – Rômulo me segurou pelo braço e me olhou com a expressão séria.

- Eu vou embora.

- Embora por conta do César?

- Você ouviu o que ele falou? Eu não sei qual o problema dele comigo. E até sei! Eu sou pobre! É tão difícil pra ele aceitar isso? Precisava mesmo me tratar daquele jeito pra me mandar embora?

- O César só tá chateado por não poder trazer ninguém. É birra dele. Esquece isso.

- Tá machucando. – eu falei e indiquei pro meu braço. Ele soltou de imediato.

- Desculpa...

- Só me leva pra casa, por favor.

- Não. Você vai ficar. Nós vamos ficar.

- Fale por você. – eu revirei os olhos e segui pra escada.

- Não, Victor. Por favor. – Ele subiu atrás de mim.

Tirei as chaves do bolso e comecei a destrancar a porta do quarto como se fosse meu com o dono do meu lado. Empurrei a porta pesada e catei meu jeans da cama indo direto pro banheiro.

- Victor, por favor...

Saí do banheiro vestido e mais decidido ainda já que colocar o jeans e o sapato me fez sair ainda mais do clima de fim de semana com piscina.

- Victor, eu não posso brigar com o César. Não hoje.

- Não tô pedindo pra fazer isso por mim. Obrigado pela bermuda, quer que eu leve pra lavar? – eu ergui a peça de roupa na mão. Ele me tomou impaciente e jogou na cama.

- Para! – ele foi pra perto da porta me impedindo de abrir.

- Se você não for me levar eu vou sozinho. Pego um ônibus. Eu vou embora Rômulo.

Ele se deu por vencido e foi bom assim. Eu não ia ficar mesmo.

Descemos as escadas e encontramos com o Dr. Oswaldo.

- Victor você já vai? – ele disse ao me ver de jeans.

- Já sim. Hoje eu tenho umas coisas da faculdade acumuladas e sabe como é o curso de Direito... Não posso deixar acumular muita coisa senão não dou conta.

- É uma boa justificativa. Pode ir então. Mande um abraço pra sua mãe.

- Tudo bem.

Rômulo veio calado atrás de mim. Ao sair da casa apenas acenei ao pessoal da piscina. As vozes se alteraram com frases do tipo “Já vai?”, “Tá cedo!”, “Mas já?”. Eu sorri e entrei no carro.

Rômulo entrou do meu lado.

- Victor, não deixa o César mexer contigo. Cão que ladra não morde. Ele só tá chateado com o lance dos convidados...

- Rômulo, já era. – eu coloquei meu cinto e esperei ele ligar o carro.

Ele deu a partida e o portão da casa começou a ser suspenso pelo comando do controle. César veio pra porta da casa e cruzou os braços com o semblante sério nos observando.

Saímos com o carro e fomos até minha casa calados até que finalmente paramos na minha porta.

- Me desculpa. – Rômulo falou triste. – Não posso brigar com o César hoje.

- Já disse que não quero que brigue por mim. Tá tudo bem. Até mais. – eu abri a porta e desci direto pra casa. Bati a porta sem esperar que Rômulo fosse embora.

_____________________________

- Victor! – minha mãe batia na porta do quarto.

- O que foi?

- Eu cheguei você já tava dormindo. Agora são mais de 9h da manhã e você ainda tá dormindo. Tá tudo bem? Como foi ontem?

Eu levantei. Cheguei na cozinha apenas com os dentes escovados mas com o cabelo desarrumado e as mesmas roupas de dormir.

- Foi horrível. Foi assim que foi ontem.

- O que aconteceu?

- O César aconteceu.

- Como assim?

- Mãe, ele não gosta de mim porque sou pobre. Me disse um monte de coisas sobre aquele não ser o meu lugar, que sabia que eu gostava do Rômulo, que a gente não ia ficar junto, que eu sou como outros...

- Meu Deus... – ela colocou a mão no meu ombro. – Você não disse nada de volta?

- Na casa dele? No almoço dele? Comendo da comida dele?

- Não precisa ficar triste Victor. Isso não vai acontecer de novo. Já deu pra ver que ele é muito diferente do Rômulo.

- Sim... Rômulo não disse nada. Ele me falou essas coisas na frente do Rômulo e ele não fez nada. Depois veio com desculpa...

- Cuidei do Rômulo até grandinho, ele não é de briga.

- Mãe, o César não é irmão do Rômulo. A senhora tem certeza?

- Só se for de outro casamento. Eu trabalhei anos na casa do Dr. Oswaldo. Ante do Rômulo nascer até. Fiquei lá até o Rômulo ter, sei lá, uns 3 anos. Saí de lá pouco depois de você nascer.

- Esse moleque é metido assim e foi adotado?

- Não importa se ele foi adotado Victor. É a família dele. E de todo jeito ele tem direito de simplesmente não gostar e você. É normal.

Durante o dia de domingo eu respondi poucas mensagens do Rômulo. A noite foi quando de fato conversamos. Após mais desculpas sobre o dia anterior...

“Você ainda não me devolveu sua opinião sobre a última foto que mandei.”

Eu procurei nos arquivos do WhatsApp e encontrei o céu estrelado com a lua pequena no canto.

“Me parece um céu com uma lua.”

“Bem perspicaz. Sério.”

“Me lembra solidão... Me lembra silêncio... Me lembra quietude. Um lugar quieto onde você possa ficar sozinho sem se preocupar com ninguém nem nada. Só pra relaxar. Um lugar só seu.”

“Acertou.”

“A foto é real? Pensei que fosse mais um tumblr.”

“Não.”

“E onde fica esse lugar?”

“Te levo qualquer dia desses. Na verdade eu estou nele nesse exato momento.”

Ele me enviou uma selfie. Estava um pouco escuro mas era possível vê-lo sorrindo e ao redor do seus ombros e cabeça haviam pequenos ladrilhos brilhando. Era como se ele estivesse deitado no chão de algum lugar. Estava usando óculos. Que lugar era aquele?

“Me leva agora.”

“Você vem?”

“Claro.”

“Então se arruma. Mas não demais...”

“Ok.”

Meia hora depois eu saí do quarto. Já arrumado.

- Olha quem decidiu sair do quarto... – minha mãe dizia acendendo uma vela na mesa de centro da sala enquanto ouvia um mantra.

- Vou sair com o Rômulo.

- Pra onde?

- Não sei. Ele disse que ia me levar num lugar.

- Vai demorar?

- Não... Acho que não.

Mais alguns minutos e o Rômulo parou na porta de casa. Eu entrei no carro. O perfume dele era tão bom. Tornava o cheiro de couro do carro imperceptível. O sorriso perfeito. O cabelo preto e brilhoso. Ele usava um óculos estilo geek meio quadrado. Até isso conseguia o deixar mais bonito.

- Novo visual?

Ele riu.

- É um óculos antigo que eu uso quando estou sem lentes.

- Você usa lentes?

- Sim. Alguns graus... São incolores mas me ajudam muito. Principalmente porque pratico esporte, o óculos atrapalha um bocado.

- Legal.

Ele começou a dirigir e o caminho me era familiar.

- A gente tá indo pra sua casa?

- É.

- Você só pode tá de brincadeira! – eu falei emburrado.

- O César não está lá. Eu tô só.

- Não importa. Por favor, sua casa não. Ele pode chegar...

- Ele não vai chegar e mesmo que chegue eu não tenho porque evitar que você ande na minha casa. Você é meu amigo.

Fiquei na minha no banco.

- Não fica calado, por favor. – ele pediu enquanto entrávamos na casa.

Todas as lâmpadas, com exceção dos refletores da piscina, estavam apagadas.

- Cadê todo mundo? – eu perguntei.

- Meus tios já foram embora. Meu pai saiu. Josi, Beto e Ana saíram com o César.

Saimos do carro e fomos pra área da piscina. Ainda haviam litros de bebidas largados pelos cantos. Não haviam arrumado tudo ainda. Assim que fomos nos aproximando eu notei algo novo.

O chão. Era todo cheio de pequenos ladrilhos que brilhavam verdes. Lembravam muito aqueles fluorescentes que colamos no teto do quarto, mas eram em formatos irregulares e pequenos. Eu não sei que azulejo provocava aquele efeito, mas era lindo.

- Ai que legal... – eu falei encantado sem querer pisar neles.

- Ladrilhos.

- Ladrilhos. Sim. São lindos.

Rômulo continuou até o outro canto da piscina.

- Então aqui é o seu lugar preferido? A piscina?

Ele riu.

- Não do jeito que você está vendo e pensando.

- Como assim?

Ele chutou os chinelos e sentou na borda da piscina colocando os pés na água. Se deitou no chão e olhou pra cima.

- Deita aqui e você vai entender.

Eu o olhei meio incerto do que fazer.

- Deita! Coloca as pernas na água e deita.

Eu fiz isso bem devagar.

- Ok... – eu disse após terminar. Minhas mãos estavam sobre minha barriga, juntas.

- Agora olha pra cima. Algo familiar?

Eu olhei e... Espera, era a foto! Aquele era o céu, com as estrelas e a lua.

- Que demais! – eu falei rindo.

- Gosto de vir aqui pra pensar e pensar é algo que eu tenho feito bastante ultimamente...

- Tá acontecendo algo?

- Tá sim. Umas coisas que estão rolando aqui em casa.

- Problemas com seu pai?

- Mais ou menos. Preciso te contar uma coisa e você não pode contar pra ninguém.

- Tudo bem.

- O César é adotado.

- Eu já sabia.

- Já sabia?

- Minha mãe disse que cuidou de você até os três anos e você não tinha irmãos. Sua mãe faleceu quando você tinha sete anos e ele cinco. Seu pai não se casou de novo então meio que juntei uma coisa com a outra. Ele foi adotado logo quando minha mãe saiu daqui e a sua faleceu, certo?

- Sim. Certo. Quando ele chegou aqui ele já tinha um ano de idade e eu três. Meus pais já estavam com o processo de adoção rolando há muito tempo. Quando veio sair foi pouco antes da morte da mamãe. Ela ainda cuidou dele por pouco mais de um ano.

- Vocês não sabem quem é a mãe dele?

- Não. Quer dizer, o papai diz que não sabe nada do passado dele. Pais, parentes... Nada. Só o adotou e pronto. César chegou num momento complicado aqui em casa. Mas crescemos juntos e eu nunca o tratei diferente por ser adotado. Só que... Ultimamente ele tem procurado bastante saber quem é a mãe dele.

- Ele vai mesmo atrás disso?

- Você não imagina. Ele diz que é muito simples a gente ter pai e mãe e não entender alguém que quer ir atrás dos seus. Pior é que no fundo eu concordo. Ele sempre procurou mas não encontrava muita coisa, sabe... Só que esse mês passado ele teve acesso a umas informações antigas e ele tá mergulhado de vez nisso. Um mistério todo.

- Eu não iria atrás dos meus pais. Nunca fui atrás do meu.

- Mas você sabe quem ele é?

- Sei.

- Então isso muda tudo. César só quer saber de onde veio. A origem.

- Mas isso também não é errado Rômulo.

- Não. Não é... Mas e depois? Depois que ele descobrir quem é a mãe e o pai dele? E aí? O que vai acontecer? Ele vai querer contato? Querer trazer essas pessoas pra vida dele que até então é uma maravilha? Nunca faltou nada pro César aqui, muito menos amor mesmo sem a mamãe. Isso tá machucando o papai, eu vejo.

- Ele também é contra essa busca dele?

- Ninguém aqui é contra. Mas também não é algo que queremos ver acontecer. A gente engole.

- Entendo. De toda forma é algo que vai satisfazê-lo, vai torna-lo mais completo. Não depende de vocês.

- Eu sei que não.

As horas se passaram muito rápido e já passavam das 22h.

- Preciso te deixar em casa. – ele disse se levantando.

- Vamo. – eu também me levantei do lado dele.

Ele me olhou por um tempo e me deu um abraço.

- Obrigado por ter vindo e me escutado desabafar essas coisas. Promete guardar segredo?

- Prometo. Não precisa se preocupar.

Ele me apertou um pouco mais e me deu um leve tapa nas costas. Se separou rindo.

Eu agi por impulso. Agarrei em sua camiseta e o trouxe pra um beijo. Colei meus lábios nos dele de forma rápida mas duradoura o suficiente pra sentir seu hálito e seu gosto. Rômulo deu um leve grunhido estranho e levou as mãos aos meus ombros. Senti seus lábios se espremerem e revirarem pra dentro e ele me afastou me olhando meio assustado.

Eu não estava entendendo.

Uma agonia começou a correr no meu estômago. Eu sentia que se abrisse a boca provavelmente ia gritar. Eu o havia beijado. E foi tão bom! Deus, como foi bom! Eu não estava acreditando. Aconteceu!

- Victor... – ele me olhou triste – Por favor... Não faz isso. – ele deu mais uma pausa derramando mais um pouco daquele olhar triste e indignado sobre mim – Eu não sou gay. Você tá estragando tudo assim.

Ele se virou catando a chave do carro do chão. Passou por mim em direção ao carro.

Eu queria morrer.

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Nem quero imaginar os comentários e emails que vão surgir hoje...

SafadinhoGostosoo e Tozzi : Eu gente assim super babaca também. E concordo com a ideia de que quem tem dinheiro é o pai dele.

Tay Chris: Meu Deus, você me deu 4 histórias diferentes!

tavinhoo: Morri! kkkkk

Monster: Eu também acho o Victor meio retardado. Isso jamais aconteceria comigo.

esperança: Foi o lance lá dos convidados, gente de fora em casa e tudo mais... O pai não queria brigas por conta desse assunto.

Lytah: Será???

guisandes: Então que boa maratona você fez, hein? Obrigado!

LUCKASs, LiloBH, Marcos Costa: Valeu!

Drica Telles(VCMEDS): Meu deus que má!!! kkkkk Adorei esse comentário. Sério. Ri muito na mesa do almoço enquanto li isso. Vamos ver o que o Victor vai fazer com essa informação.

É isso. Por hoje é só. Foi mal a hora.

Abraços.

Igor.

kazevedocdc@gmail.com

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Comentários

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Sentido mt a falta de sua história... Tds os dias venho aqui mais num tem nada...😭😭😭😭😭😭😭

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Ai meu Deus... Eu fiquei tipo😱... E agora? O Rômulo nao vai tipo "virar" gay e ficar com o Victor vai? Se isso acontecer eu não leu mais.

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Vai aqui um desabafo, li todos os contos seus e sou fã de carteirinha, gosto da ambientação, do toque de realidade, e gostava mais ainda quando seguia alguma frequência, agora nunca sei que dia vai publicar, fica aqui minha critica, como leitor assíduo e fã que sou, continuo dando nota 10, pois gostos demais, porém nao gostei de ter cancelado o outro conto.

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Concordo com o comentário da Drica, o Rômulo é um palerma total. Como deixa um pessoa que considera seu amigo ser humilhado assim ? O Victor também é outro frouxo. Enfim, Cesár ainda me intriga.

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O Rômulo não gosta de briga? Ele é um palerma isso sim, palerma, indeciso e sem personalidade... Com um "amigo" igual esse que deixa a pessoa ser humilhado na casa dele e na cara dele e não faz nada é preferível estar entre inimigos. Com relação a coisinha ter todo direito de não gostar do Victor é verdade, só que não gostar é uma coisa é não respeitar outra completamente diferente... Qualquer um tem todo direito de não gostar de mim, só que se me maltratar por isso, darei a ela todo direito de não gostar nem um pouquinho das consequências, simple assim:). Voltando a coisinha, fiquei admirada com a coragem da menina, afinal não é qualquer um que tem a coragem de ficar frente a frente com uma naja, mesmo sendo sua mãe.😇

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Muito bom,mas posta com mais frequncia igor.

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a quando tempo !!!! me sentir super feliz quando vi que estava com um novo conto!e que historia em rsrs eu amei .como sempre esta me prendeu esses oito capitulos o vitor agiu por impulso ão beijar o romulo e isso quase nunca acaba bem. espero que esteja tudo bem com o casal mas fofo da cdc.pečo desculpas por ter te abandonado.meu lindo mas agora estou aqui e não vou mas sumir.beijos da drika

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Perfeito! Na expectativa para ver como vai ficar a amizade dos dois.

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Sério que acabou? SACANAGEM É POUCO IGOR! Como assim o Rômulo não é gay? Victor esse lesado cada dia me irrita mais!!!

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Pois ressuscita que quero ler a continuação.kkkkk ainda mais depois desse beijo...

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Nossa mts revelações, sinto q ele se pós na frente dos bois, não devia ter feito isso, ao menos agora, porém qm consegue ser racional nessas hrs?

Cara tomara q não afete em nada a relação dels... Mas acho q vai... 😭

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Aii que agonia. Rômulo beija logo homem 😒 Nem sei mais oq dizer, só digo continue kkkk

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