Portas Fechadas IV

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1014 palavras
Data: 01/01/2015 18:05:29

Havia em mim uma forte desconfiança de que Rodolfo conhecia a natureza de minha relaçao com Paolo. Na ocasiao de nossa despedida no jardim de casa, talvez nao estivessemos sozinhos, afinal. Rodolfo poderia muito bem ter me seguido, como era de seu feio costume, e flagrado aquele nosso beijo ao entardecer.

Aquilo era mais uma complicaçao, sem duvida. Se antes ele sentia raiva por Paolo ter tomado seu lugar em meu afeto, agora entao devia sentir odio puro ao constatar que aquela nossa amizade nao fora deixada no passado como ele decerto esperava.

Nao fosse por Paolo, eu nunca teria retornado à Jundiai. Ficaria pela capital, mesmo, arranjaria trabalho como advogado e tocaria meu barco longe da figura repugnante de meu irmao. Mas eu tinha que rever Paolo, estar com ele, encontrar ao seu lado a soluçao de meu conflito, porque eu, secretamente, tinha a intençao de viver com ele em outro lugar, bem longe de Rodolfo. Nao sabia, entretanto, se meu italiano aceitaria isso.

Da herança que me foi legada por meu pai, havia para mim o escritorio dele na cidade, um sobrado precisando de reparos, um terreno grande que a prefeitura queria comprar, e uma lojinha de livros usados e quinquilharias, fechada desde sua morte. Para Rodolfo ficou o casarao, uma chacara no final da cidade que ele alugava para uma familia mineira, alem de outra residencia de aluguel.

A minha intençao era a de vender tudo o que era meu, depositar o dinheiro no banco e sumir no mundo com o Paolo, para nunca mais ver a cara do Rodolfo na minha frente. Seria facil se meu amigo aceitasse e meu irmao permitisse aquela fuga, o que eu duvidava.

Contar a Yedda sobre meus planos foi o mesmo que falar diretamente a Rodolfo, porem eu nao tive mesmo a vontade de esconder minhas pretençoes e, excetuando a parte do meu planejamento que envolvia Paolo, de tudo eles souberam e depois do jantar Rodolfo invadiu meu quarto, furioso como um escorpiao atiçado.

- Entao voce mal chega e jà quer ir embora? _ falou naquela sua mistura desagradavel de deboche e irritaçao _ Pois venda tudo, Luciano! Venda ate mesmo suas meias, mas que fique bem claro que desta casa voce nao sai!

- E voce acha que pode me impedir? _ enfrentei-o numa onda subita de indignaçao.

- Nao apenas posso, como vou. Daqui voce nao sai, tenho dito! _ murmurou ele, entredentes, num olhar feroz se aproximando de mim _ Porque se voce tentar, Luciano, aquele seu amigo italiano pode, de repente, ficar eternamente impossibilitado de acompanhà-lo. Que tal?

Ele era esperto, decifrou meu plano simples num golpe, ajudado agora por minha revolta que nao pude ocultar.

- Canalha! _ murmurei livido de odio e medo.

- Entao era isso mesmo! _ ele esboçou certo sorriso zombeteiro, vitorioso, olhando-me de cima a baixo, tocando devagar meu abdomen recoberto pela roupa _ Eu sabia... Dormiu com ele hoje à tarde? Para aquele porco voce sempre foi bonzinho, nao? Podia ser assim comigo...

Empurrei-o num rompante de nojo e raiva misturados, afastando-me, tremulo, sentindo as maos suadas como se aquele trauma tivesse acontecido ontem. Ou era o meu medo que me paralisava, ou era o nervosismo que nao me permitia agir direito, porque no final das contas Rodolfo acabava me aniquilando de qualquer forma.

- Voce nao sabe, Luciano, mas agora tenho um segurança pessoal _ disse ele atras de mim, em voz baixa, e onde despontava a sua certeza de ser o mais forte _ Precisei de um quando fui assaltado na estrada velha hà alguns meses. Irà conhece-lo, ele passou a tarde toda na chacara fiscalizando umas coisas... Um bom sujeito, meu irmao: alto, forte, eximio atirador. De modo que estou muito seguro com ele, sem precisar executar com minhas proprias maos as promessas que faço e os avisos que dou, entendeu?

Ele falava agora calmamente, o que me parecia pior do que sua ira. Nao esperando mais que ele saisse do meu quarto, sai eu, enojado, arrasado por estar completamente nas maos daquele cràpula, sem escapatoria. Sentia-me preso em um labirinto, sem nenhuma saida.

O infeliz teve ainda o descaramento de me oferecer um pequeno recital de piano antes da hora de dormir, com Yedda bocejado na sala, afagando os cabelos de Laura que dormia encolhida no sofà. Rodolfo sempre fora mestre ao piano, com especialidade em Chopin, porem sua musica me soava agora como uma cançao funebre, um riso de sua vitoria cinica que ele fez ecoar pela sala atraves de seus dedos privilegiados.

A noite ia alta e minha insonia era absoluta. Jà havia chorado, amaldiçoado o destino, desejado a morte de meu irmao e a minha tambem. Nao era possivel, aquilo devia ser um pesadelo. Um lodo negro onde eu mergulhei por acidente e do qual ia me livrar a qualquer momento.

Devagar, sem ruido, notei a porta abrindo. Eu paralisei na cama, voltando doze anos no tempo, sentindo o suor do medo, do asco antecipado e da revolta me umedecendo o corpo. Na penumbra o vulto dele se esgueirava, respirando forte como se estivesse nervoso, apertando freneticamente o meio das pernas. Ele descalçou os chinelos e derreou a calça e a cueca, me fazendo sentir o cheiro intenso de seu penis perto de mim.

- Lembra?... Lembra? _ ele sussurrou, chegando mais perto _ Abre essa boquinha... vai...

Sua mao tremia violentamente, tentando mirar o penis na minha boca ao passo que virei o rosto, me levantando e vencendo de uma vez por todas aquela imobilidade traumatizada que me tolhia na cama. Rodolfo respirava agora em arquejos, e era estranho pois parecia extremamente nervoso. De subito grunhiu baixo e caiu ao chao se retorcendo num ataque epileptico, debatendo-se como se estivesse possuido. Era sempre assustador presenciar aquilo, contudo dessa vez nao senti pena e nem o ajudei, como deveria, fitando-o com uma raiva profunda e uniforme, desejando que aquilo o matasse. Levantei e calcei meus chinelos, passando por cima dele como quem salta sobre um verme retorcido no chao. Sai batendo a porta do quarto, sem olhar para tras.

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Obrigada, povo! :)

Abraços!

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Comentários

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Não sei se sinto pena ou o contrário disso sobre esse Rodolfo, agora vou chutar, o vilão que é o Quin é o cara que o Rodolfo falou né ? É o mais provável, mais quero logo o próximo e quero ver o que acontece com o Antagonista da história. Feliz Ano Novo (Atrasado) E tudo de bom pra você e sua família nesse novo ano de 2015 \o/

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Esse conto está a cada capitulo mais forte.Comecei a ler hj e adorei

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Coitado do Rodolfo... ele ficou nervoso ao ter contato com o irmão novamente e teve o ataque. O problema dele é que ele sempre quis forçar algo. Se ele tivesse sido bom com o Luciano, talvez conseguisse o seu amor.

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Continua, cadê o italiano masculo .?

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Gente tenho queda por italianos muito forte. Então eu sou suspeito em falar. Mas meu querido Irish não seja mau com o Rodolfo que é apenas um ser com desejos e que não soube direciona-los. Aqui mesmo na casa existem diversos contos cuja temática é a relação amorosa entre irmãos. Mas ele pregam q viver isso é fácil e lindo. Mas não é. E o Rodolfo infelizmente sabe disso. Eu gostaria q os irmãos ficassem junto no final. O Rodolfo so é um ser carente de amor não o torne em algo monstruoso. Pfv ;-;

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Boa noite :) Respondendo: • prireis, que linda sua mensagem de ano novo! Desejo um maravilhoso Ano pra voce, menina! Seja muito feliz! , • Ru /Ruanito, Bom Ano Novo pra ti, rapaz! , •Quin,,no proximo surge teu personagem :D Aguarde!! E obrigada pelos votos de Bom Ano! , • VictorNerd, foi pertinente sua observaçao. Veja agora neste capitulo que a intençao do Luciano era a de sair da casa do irmao que,,claro, nao permitirà. Gosta do italiano, neh? rs

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