Corpo e Alma IV

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1613 palavras
Data: 30/01/2015 18:33:38

Um pouco atordoado, mas nao inteiramente surpreso, olhei para Fabinho. Ele parecia tomado por uma agitaçao nervosa, falando sem parar, usando o cabo da raquete para esmagar as flores roxas do jacarandà caidas pelo chao.

- Talvez voce nao acredite, nem leve a serio, Nathan, mas foi isso mesmo. Desde a primeira vez que vim aqui com o Luan e vi voce, jà me interessei. Te achei tao bonito... _ ele me olhou, corando, e desviou os olhos _ Eu estava com catorze anos, e tinha me aceitado como gay fazia apenas um ano. Luan achava que eu nao era mais tao pivete, e quis me trazer aqui para junto do grupo. Lembra como eu era timido? O Quin caçoava comigo, e voce mal me notava. O Oliver tinha acabado de chegar da California, ainda falava todo enrolado. Lembra, Nathan? Eu nao esqueci de nada... de nada.

- Lembro _ respondi lentamente, olhando-o com um sentimento proximo da piedade.

Ele bateu a tela da raquete no joelho, levemente.

- Eu gosto de voce desde aquela vez _ falou baixinho, me fitando rapidamente _ Voce era o primeiro garoto de quem eu gostava, e mesmo tendo, depois, beijado alguns por ai, nunca deixei de sentir isso que sinto por voce. Sofri bastante quando voce e o Mauricio começaram a namorar, mas nunca demonstrei nada, guardei pra mim. Nem o Luan soube. E na minha cabeça era como naquela musica que voce me ensinou a gostar, lembra? "There Is A Light...".

- "There Is A Light That Never Goes Out" _ sorri de leve, um pouco constrangido _ Dos Smiths, eu sei. "Hà Uma Luz Que Nunca Se Apaga".

- Isso _ ele sorriu, olhando o cabo branco da raquete manchado de roxo das flores esmagadas _ E tambem aquele trecho: "Morrer ao seu lado / Que jeito divino de morrer". Gosto desse tambem. Na verdade, aprendi a gostar da banda por sua causa. Me lembrava muito voce, e era bom "viajar" na minha cabeça, nos imaginando juntos. Bobagem de bichinha virgem, eu sei.

Deu uma risadinha nervosa, me olhando. Fixei meus olhos nos dele, lembrando daqueles beijos vagarosos que trocamos na biblioteca domingo passado. Acima de tudo, eu o via como um tipo de irmao caçula, e era apenas isso.

- Me diz se eu tenho alguma chance _ sussurrou ele, de repente muito vermelho, os làbios tremendo.

- Fabinho..._ deixei escapar um suspiro, olhando para baixo; aquele era um momento bastante desagradavel, e magoa-lo era a ultima coisa que eu queria _ Eu... sinto muito...

- Entendo, Nathan _ disse ele com a voz embargada, apoiando o queixo nas maos sobre o cabo da raquete em pe' entre suas pernas; ficou olhando para um ponto invisivel da quadra de tenis, os olhos umidos, e de subito começou a chorar intensamente, largando a raquete e abraçando os joelhos, escondendo o rosto.

- Cara, nao fica assim _ consolei-o, alarmado, passando a mao por seus cabelos mornos _ Por favor, me entenda... Acabei de ser abandonado pelo Mauricio, estou ainda juntando os pedaços... Nao quero entrar em outra relaçao tao cedo, e muito menos brincar com seus sentimentos, alimentando ilusoes... Por favor, voce sempre foi como um irmaozinho pra mim... Tente me entender.

- Odeio que me enxergue assim, como um irmao _ falou com a voz chorosa, limpando o rosto na barra da camiseta, fungando _ Sou o cara que te ama, poxa.

- Eu sinto muito, Fabinho _ abracei-o pelos ombros, com cautela, e devagar ele se aconchegou a mim _ De verdade. Se eu pudesse... E a situaçao fosse outra...

Ele suspirava longamente, se acalmando aos poucos. Beijei devagar seus cabelos, sentindo neles resquicios do aroma de um xampu floral e do cloro da piscina.

- Melhor? _ indaguei apos alguns minutos de silencio, onde apenas chegavam ate nos pios de passaros e o barulho dos meninos se divertindo na piscina.

- Levei um fora monumental do cara que eu gosto, querido _ respondeu, entre debochado e infeliz _ Um tanto quanto cinica sua pergunta, nao acha?

- Tem razao _ dei um sorriso sem graça _ Desculpe.

Soltei-o devagar de meus braços, recebendo dele um sorriso desanimado e lento afago nos cabelos.

- Gosto dos seus cachos pretos _ disse ele _ Brilhantes e compridos.

- Acho que estao na hora de cortar.

- Nao! Deixe assim. Fica tao mais bonito.

De tras da casa o Quin veio chegando, com uma garrafinha de cerveja na mao. Estava suado e vermelho, e ao nos ver juntos franziu o cenho, intrigado.

- O que fazem aqui? Jà estao perguntando sobre voces por là.

Fabinho se ergueu, um pouco envergonhado, o semblante ainda entristecido. Bastou isso para Quin me fitar mais atentamente, como que procurando uma resposta.

- Jogavamos uma partidinha de tenis _ respondi me levantando, recolhendo o material de jogo _ Jà estavamos para voltar.

Ele me reteve consigo um instante, enquanto Fabinho ia à frente, mais afastado.

- O que diabos estava acontecendo aqui, Nathan? _ indagou meu amigo, serio.

- Uma embrulhada, nem te conto... _ suspirei _ Depois explico.

À beira da piscina o burburinho de conversas ia e vinha, numa entonaçao preguiçosa de meio de tarde. O tempo que estava bom começava a virar, o sol se escondendo por tras de nuvens cinzentas, matizando o resto de sabado de gris. Ventava.

Peguei um drinque de mamao e cassis e me acomodei numa espreguiçadeira, evitando olhar para o casal de palhaços que conversava animadamente com o Luan. Quin abaixou o volume da musica para conversar com o seu mais novo casal de amigos, enquanto Oliver cochilava mais à frente, deitado na toalha à borda da piscina; dormia com a mao no peito, como um menininho.

- E entao, Marquinhos? Melhorou a situaçao com sua mae? _ perguntou meu amigo ao casal que dividia uma espreguiçadeira larga, de madeira crua.

Compreendi que o rapaz estava se reaproximando da mae que, penalizada com sua doença, procurava auxilia-lo na medida do possivel. No entanto, a questao da sexualidade era ainda um ponto de atrito na retomada dessa relaçao, e segundo ele, ela preferia pensar que os dois rapazes eram apenas amigos dividindo um apartamento. Marcos achava que ela simpatizava com o Alex, pois lhe trazia bolos e outras coisas de que ele gostava, mas tudo num rigido sistema de "finjam de là que eu finjo de cà". Em todo caso, o rapaz me parecia satisfeito com a reaproximaçao. Sobre o pai, nenhuma palavra. Alex tambem nada disse a respeito de sua familia, e notei ali o velho conhecido silencio da rejeiçao, talvez do abandono. Senti pena, lembrando que nunca conheci meu pai, um vagabundo bebado que segundo minha mae a abandonou quando soube da gravidez; toda vez que ela tinha me contado, ainda em minha pre-adolescencia, aquela historia reles e vulgar sobre minha concepçao, enumerando os graves defeitos daquele homem, eu apenas pensava, sem remorso: "Entao porque abriu as pernas para ele, querida?"

Por volta das quatro horas William e Mauricio resolveram ir embora, para meu alivio total. Despediram-se de todos, me ignorando, e partiram no Monza. Menos tenso, aproveitei melhor a tarde, observando Fabinho nadar na piscina todo energico, como quem quisesse descarregar uma tensao, um sentimento penoso. Apesar disso, ao sair e se enrolar na toalha, sorriu para mim no seu jeito doce.

- Ele esta ficando bem gostosinho, nao? _ falou Quin, me olhando com um ar velhaco _ Vai virar um homem disputadissimo no nosso high society gay.

- Ele se declarou para mim, hoje. Infelizmente _ falei baixinho _ Disse que me ama desde que nos conhecemos, imagine! Ele era uma criança, na epoca. Precisei dar um fora nele, coitado... chegou a chorar.

- Pobrezinho, Nathan _ Quin esvaziou seu decimo drinque, olhando para a cereja açucarada partida ao meio na boca da taça _ Acabou com as esperanças do menino...

- E eu nao sei? Morri de pena. Mas nao dà certo, cara. Nao tenho condiçoes para entrar em outra relaçao de novo, nao agora... E vejo o Fabinho como um irmaozinho caçula, apenas. Ia acabar de criar o moleque? Nao. Sem chance.

- Voce quem sabe, meu caro... _ ele suspirou, vendo o menino vestir a camiseta jà amassada, com o simbolo do Superman _ Mas talvez fosse bacana tentar.

Nao respondi mais nada, nao havia porque responder. Minha vida estava uma atrapalhaçao havia dois meses, e eu nao queria mais problemas, e muito menos jogar com os sentimentos do Fabinho. Seria injusto que ele sofresse assim de primeira, sendo tao jovem.

Perto das seis horas todos começaram a ir, como que combinados. Despedi-me de Fabinho com um abraço um pouco constrangido, tentando falar algo, alguma palavra de consolo que nao veio; e quando ele se afastou com seus olhinhos cintilantes, onde a tristeza as vezes ensombreava, fiquei definitivamente calado, vendo-o entrar no Audi do Luan. Fechei o portao, enquanto buzinavam jà na rua. Começou a garoar, e eu pensei no casal que tinha ido antes de todos eles, e no outro casal que saiu hà pouco, tao jovens e tao unidos. Voltando para dentro de casa, passando pela area vazia da piscina cuja agua o vento movia, fazendo tremular o reflexo cinza-azulado do crepusculo chuvoso, pensei comigo que Fabinho estava certo, afinal, que mesmo em meio a amigos eu me sentia insuportavelmente sozinho. Um sentimento atroz, talvez antigo, e que Mauricio tinha reavivado em mim quando me abandonou.

Apertei o passo, sentindo a garoa gelada na cara, e a grama molhada sob meus pes nus. Da sala aquecida e iluminada ouvi Quin brigando com Oliver na cozinha, reclamando pois o americano comera todas as castanhas do Parà que haviam na geladeira, e agora Estela nao poderia fazer a salada do jantar.

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Valeu, gente!

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Comentários

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Ain sabe? Triste pelo Nathan sei o que ele tá passando, pois já passei por isso... Rs bom, espero que tudo dê certo pra ele..

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Ain, triste pelo Fabinho. :'( É ruim vc nao ser conrrespondido. Pelo menos o Nathan foi sincero. E esse casal, Quinver?! Vivem brigando... kkkkkk beijos! Correndo ler o proximo.

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Boa noite ^^ Já viciado com tua série nova. Sei q vou morrer de chorar com o final q tu bolou (meio masoquista), mas já to ansioso pelo próximo. Enfim, obrigado por sua nova história, sou teu fã garota! Abraços.

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Oi Irish eu jah peguei Americano que nasceu no Brasil rsrs ele era filho de Americano e tinha dupla nacionalidade, mas foi soh oral. Vogue (1990) é um dos maiores sucessos da Madonna. Erótica foi muito polêmico, pesquisa ^^ era o album de 1992. Gata eu estava abusadissimo nesse dia, brigando com o meu gato Oliver :O Mas qnd estou estressado sou assim mesmo, deve ter sidono stress de ter organizado a reuniao. Achei o Nathan recalcado no inicio, mad agora gosto mais dele. Coitado do Fabinho, é isso acontece. O Nathan o tratou com respeito. Mas, de repente, o Fabinho é mais maduro do que o próprio Nathan :-) Diz pra May jogar praga pra outro, pq ninguem põe a mão no que é meu, ninguém mexe com o Oliver!!! 😤

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Boa noite! :) • Docinho 21, o Fabinho eh fofo, neh? , • naneborges, sao eles mesmo! Emprestei um pouquinho do outro conto, rs, • M/A, valeu! , • May Lee, porque vc acha que o Oliver vai se envolver com o Nathan? Olha,volte mesmo! Suas historias sao fantasticas! Te adoro,miga!! , • Quin, nao conheço esse som da Madonna, vou pesquisar. Achei Vogue legal, e eh meio da epoca,,neh? Quem me dera poder presentea _lo com esse livro! Se eu ganhar a mega sena, rs... Beijao, garoto! Ah, tomara que na proxima vc pegue um americano! Ja pegou? E um grego, hein? Tambem seria legal, rs.

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