POR ESSE AMOR - EP. 4: "PRECISO TE ACHAR"

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3391 palavras
Data: 28/02/2021 15:43:05

Oi, gente. Espero que vocês estejam curtindo. Como eu falei, vou contar a história pela visão dos dois protagonistas, então, neste domingo (28) e segunda (1), vamos ver a versão do Kleber Viana, interesse amoroso do Santino. Desde já agradeço,

Escrito por Kleber Viana:

Adorava minhas férias da escola. Quer dizer, se considerar certo um jovem formado por supletivo tirar férias. Enfim, sempre viajava para a cidade de Aquiraz no Ceará. Parte da minha família é nordestina, então, aproveitava todas as oportunidades para desbravar o Nordeste do país.

Sou Kleber Viana, tenho 20 anos e vou cursar Ciência da Computação em uma universidade pública. Desde pequeno, entendo de computadores, achei a área apropriada para explorar meus conhecimentos. Tá certo, que fiz vários cursos e arrumei trabalhos na área, mas ainda tinha tanta coisa para aprender.

Uma das pessoas que mais me dava forças para prosseguir era minha mãe, Bruna. Que mulher excepcional. Sempre trabalhou duro para oferecer uma vida digna para mim e Thor, o meu irmão canino.

Lembro que tivemos um voo turbulento para o Ceará. Quem deve ter sofrido foi o Thor, como um cachorro de grande porte, o coitado viajou no bagageiro do avião. A mamãe estava mais preocupada com o cachorro do que as malas. Então, sobrou para mim carregar tudo. Afinal, só a caixa de Thor valia por várias.

Amo o Ceará. É um lugar cheio de energia boa. Infelizmente, não posso falar o mesmo do serviço de transporte no aeroporto. Tivemos dificuldades de pegar um táxi ou pedir uma carona por aplicativo, nenhum motorista em sã consciência levaria o Thor. Acabamos alugando um carro, afinal, o grandão precisava de espaço e ainda tinha as quatro malas gigantescas.

Essas férias foram atípicas. No final do ano, o meu tio chamado Cláudio sofreu um acidente de carro, graças a Deus, que não foi nada tão grave, mas ele ficaria de molho por um bom tempo. Só que tio Cláudio é dono de um quiosque de comida regional na orla de Aquiraz, município vizinho a Fortaleza.

Acabei de tirar minha carteira, na verdade, A e B. De acordo com a minha mãe, ainda estou na fase inicial do motorista, ou seja, adoro sair por aí dirigindo. As estradas do Ceará são boas, o carro desliza no asfalto sem problemas nenhum. Conecto o meu celular no aparelho do carro e seguimos cantando Legião Urbana.

***

"Quem um dia irá dizer

Que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

Que não existe razão?"

***

Cantamos o refrão em alto e bom berro! Mamãe e eu somos péssimos, mas nos divertimos juntos. Não fui uma criança planejada ou desejada, pelo menos, não no início da gestação. Ela era inexperiente quando engravidou de mim, ou seja, não tinha qualquer entendimento do mundo. Nunca soube do meu pai, também não fazia questão de saber.

A família acabou me abraçando. Afinal, quem iria renegar um bebê fofo e adorável? Por causa da gestação complicada, a mamãe precisou largar a escola e se dedicar exclusivamente a mim. Uma vez, ouvi a vovó falando que muitos vizinhos viraram às costas para nós. O tempo passou, cresci e percebi todos os esforços que eles faziam.

Adorava aqueles momentos com a mamãe. Em muitos deles, agíamos mais como melhores amigos que mãe e filho. Posso confiar os meus segredos mais profundos a eles e, mesmo assim, serei abraçado e amado.

Recordei do dia que me assumi para ela. Tinha acabado de terminar um relacionamento no auge dos meus 15 anos. O Julinho preferiu namorar a Márcia da rua de baixo. "Não quero namorar um viadinho", foi uma das últimas coisas que o escroto falou para mim. E nem conto quem era o passivo da relação. Alerta de spoiler: ele!

A mamãe entendeu bem, quer dizer, no dia seguinte entrou em contato com a associação esportiva do bairro e me matriculou na aula de Judô. Ela temia pela minha segurança, e achou melhor que eu praticasse um esporte para evitar morrer em um ataque homofóbico. Não gostei da ideia, porém, um dos professores despertou meus desejos adolescentes.

Após um ano de treino, virei o primeiro faixa laranja da família. Segundo o meu mestre, me tornei uma verdadeira máquina de judô. Claro, que usei a minha arte marcial apenas para o bem. E graças a rotina de atividades, ganhei massa e disposição, além de disciplina. Pena que o treinamento não afetou meus 1,69 de altura.

Não sou alto. Então, ouvir apelidos como "tampinha", "mascote" e "McCurtinho" se tornou algo banal na minha rotina. No futebol, as coisas eram piores: "goleiro de futebol de botão", "chaveirinho" e "líder comunitário de playmobil", o ensino médio foi maravilhoso. Só que nunca deixei essas coisas me afetarem. Como dizem, todo baixinho é invocado. Perdi a conta de quantas vezes fui parar na diretoria da escola por bater nos coleguinhas desavisados.

— Filho. Eu estava pensando. Este ano, algumas mudanças vão acontecer, né? — mamãe soltou no meio da música "Pais e Filhos" do Legião Urbana. Ela adorava filosofar comigo.

— Sim. Faculdade. Eba. — fingi uma felicidade, mas sem tirar os olhos da estrada.

— Acho que podemos ver aquele projeto da casa popular. Posso conversar com o meu chefe sobre o aumento e...

— Mãe. Acho melhor esperar a formatura. São apenas quatro anos. — tentei convencê-la a mudar de ideia.

A mamãe acha que tenho vergonha da nossa casa. Moramos em uma área chamada de rip-rap, ou seja, quando locais propensos a alagação recebem uma estrutura com sacas de cimento e areia, que depois de molhadas formam um paredão de concreto, evitando erosões causadas pelas chuvas.

Em tese, a ideia é perfeita, né? Mas no primeiro sinal de chuva, o rio sempre transborda e destrói tudo. A nossa casa é de madeira, então, o efeito da água é muito ruim. Já sou quase um marceneiro formado, pois, desde cedo, aprendi a concertar todas as ripas que quebravam ou eram danificadas pela chuva.

Mas não vamos pensar em coisas tristes. Estou de férias. Tenho alguns meses para pensar em problemas. Em menos de 30 minutos, chegamos na casa da minha tia. Ela e mamãe dão um abraço apertado, quase que sufocante. Não tenho irmãos, a dona Bruna decidiu fechar a fábrica para sempre, por esse motivo, não sei o que é sentir saudades de um irmão.

Adorava a casa dos meus tios. Ela foi planejada por eles desde o início. O legal é que todos os ambientes são integrados. Apenas dois quartos e o banheiro que possuem portas. É tudo simples, mas feito com muito amor. Fiquei perdido nos pensamentos e levei um susto, quando a tia Luciana, ainda emocionada, correu na minha direção e encheu meu rosto de beijos. Não vou mentir, gosto dessa atenção.

Não deu nem tempo de chegar e já somos empanturrados de comida. A tia Luciana era a melhor cozinheira da família, tanto que abriu o próprio restaurante em Aquiraz. O nome "Cozinha da Dê" é uma homenagem para a minha avó, a dona Deuza, conhecida carinhosamente como Dê Loures.

Animada, a mamãe abriu a mala na cozinha e começou a tirar todos os presentes que trouxemos. Eram na sua maioria roupas e temperos da nossa cidade. O tio Cláudio apareceu, estava abatido e usando muletas para se locomover. Ele sofreu um acidente de moto, e só escapou com vida porque foi lançado ao mar.

— Olá, cunhada. — ele disse tentando sentar, mas tendo dificuldades.

— Cláudio. Fiquei tão preocupada. Pedi até para adiantarem minhas férias. — mamãe tentou abraçar o meu tio, mas ficou com medo e voltou sua atenção para os presentes.

Guardei minha mala o quarto. Não havia muitas coisas ali, apenas uma cama e um guarda-roupa antigo. Na parede, uma saída de ar que conectava os dois quartos, pois, só no dos meus tios que havia um ar-condicionado. No verão, aquilo era bem útil, uma invenção dos deuses. Se bem que para dormir não tenho problemas. Consigo dormir em qualquer situação, no frio e calor, até mesmo em pé no transporte público.

Troquei o look do aeroporto por algo mais confortável. Não vou mentir, amo regatas, tenho uma coleção delas, para o desespero da mamãe. Ela diz que regatas me deixam com "cara" de marginal. Acho prático e confortável. Encontro o Thor na sala, o coitado está impaciente, andando de um lado para o outro, abanando seu rabo peludo.

— Mãe! Vou levar o Thor para dar uma volta. — falei colocando alguns itens dentro da mochila.

— Ok, mas não demora. Tua tia vai preparar tilapia e creme de camarão para o jantar! — ela gritou da cozinha, logo emendando outro assunto com a tia Luciana.

Os meus tios são privilegiados. Eles moram em um verdadeiro paraíso, deve ser perfeito acordar todos os dias com aquela brisa gostosa no rosto. Tento correr com o Thor na orla que fica ao lado da casa da tia Luciana. Ele é um pastor alemão imperativo e adora sair em disparada, mas apesar de ser forte, não consigo segurar sua coleira. Não tem outra, o Thor sai correndo pela areia e esbarra em um garoto gordinho.

Fiquei desesperado, pois, eu sei que o Thor não é capaz de matar uma mosca, só que outras pessoas não. Parti em disparada na direção dos dois e para minha surpresa, o garoto conhecia o meu cachorro. Depois que o susto inicial passou, percebi que ele é lindo. Não tenho tempo de raciocinar, uma vez que o Thor correu na minha direção e me fez cair no chão.

Não tenho outra reação, comecei a rir e afagar a cabeça do Thor. Levantei com dificuldade, quando vi o rapaz ir embora. Seria essa uma versão bear de Cinderella? Não encontrei nenhum sapatinho de cristal. Corri na direção dele, ainda sem ideia do que falar, apenas corri. Cheguei ofegante, agradeci a ajuda e, claro, me apresentei.

O carinha se chamava Santino. Que nome lindo. Ele é definitivamente mais alto que eu, precisei olhar para cima enquanto conversávamos. Seus olhos cor de mel se destacavam no rosto branco e sem pelos. A boca era um espetáculo a parte, parecia feita sob medida para fazer meus lábios felizes. Os ombros dele eram largos, a sua barriga saliente, uma das coisas mais lindas que já vi.

Como descrever o Santino? O urso dos meus sonhos. Desde que me entendo por gente, gosto de homens robustos. Os magros nunca me chamaram a atenção. De acordo com o universo LGBTQI+, entro na categoria de Chaser, mais conhecida como caçador. Carinhas como eu, são feitos para fazerem a alegria da comunidade ursina, mas no caso, eles que fazem a minha.

Bolei um plano rápido na minha cabeça, não queria perder o boy. Com conquistar um urso? Pesquisei dentro do meu banco de dados e uma ideia surgiu: sorvete. Ofereci uma recompensa para o Santino, então, seguimos para o quiosque de sorvete. Afastei qualquer pensamento malicioso, porém, o meu cérebro é mais rápido.

O Santino tomando sorvete. Aquela boca rosinha geladinha. Meus sonhos são esmagados como uma barata, quando a atendente fala o valor. Como assim? Um sorvete por R$ 20. Que universo monstruoso era aquele. Olhei para o Santino, igual ao Thor quando apronta alguma coisa. Peguei a carteira na mochila, mesmo sabendo que não havia grana para dois sorvetes.

— Eu quero dois, por favor. — Santino soltou, abrindo a carteira e comprando os sorvetes.

Puta merda. O que ele ia pensar de mim? Não queria passar a sensação de 'interesseiro' no garoto. Usei todas as minhas forças para negar, mas o Santino já laçou o meu coração. Desisti de lutar e aceitei o doce sabor da derrota que vem com um gostinho de morango.

Sentamos na areia, um ao lado do outro, e começamos uma verdadeira disputa contra o vento. Nota mental: nunca tomar sorvete na praia. Olhei para o Santino, e ele parecia querer me provocar, enquanto tomava o sorvete de chocolate. Acho que nunca pensei tanto em coisas tristes na vida.

Tenho uma sensação boa com o Santino. Sabe, aqueles caras que além de bonitos são simpáticos? É ele. O Thor ficou agitado, tentando roubar os nossos sorvetes. Percebi o Santino acanhando, por isso, o meu objetivo número um se tornou agradar aquele coração fofinho. Novamente, entrei no universo do Kleber, planejando coisas antes da hora. Será que ele aceitaria sair em um encontro? Pensei comigo mesmo.

De repente, sou trazido para o mundo real, quando dois garotos começam a fazer piadinhas gordofóbicas contra o meu crush. Fiquei irado, indignado é palavra certa. Entreguei a guia do Thor e levantei como um dos Vingadores preparado para o ataque. Eles são mais altos, entretanto, aquilo não me deixava nenhum pouco intimidado. Segurei a irá o máximo que deu, pensei até nos ensinamentos dos meus mestres de judô.

— Olha só, Sérgio. O tampinha é estressado. — disse um dos garotos. Ele era magro, alto e ostentava uma pose de malandro.

Tampinha, cara. Sério. A raiva me cegou. Esse é um dos meus maiores defeitos. Em momentos de raiva, não penso direito e faço coisas que me arrependo. Dentro de mim, os meus 'divertidamente' começaram a entrar em um debate. Alguns são a favor de violência, outros não. O Santino parecia assustado e queria evitar conflito, porém, as palavras daqueles idiotas martelavam na minha cabeça.

Andei na direção do magrelo e apliquei um golpe chamado de Morote Seoi Nage, um dos primeiros que aprendi dentro do curso de Judô. Segurei na camisa do escroto com a mão esquerda e usei a direita em seu braço. Em menos de cinco segundos, o garoto estava no chão.

O colega dele partiu para cima de mim. Esse é maior e boca suja, chamou minha mãe de vários nomes errados. Nele decidi aplicar o Ippon Seoi Nage, uma variação bem popular no Judô. Evitei usar toda a força do meu braço para não machucá-lo (o Kleber medroso pediu o mínimo de violência), mesmo ele merecendo.

Tá, não me orgulho desse momento. Fiz merda e assumo, tanto que algumas pessoas ficaram olhando para nós. Peguei meu chapéu que caiu no chão, em seguida a mão do Santino e saí correndo igual um maluco. Paramos em um lugar mais afastado, perguntei se está tudo bem, mesmo assustado, ele respondeu que sim.

Ótimo, Kleber. Que primeira impressão bacana. Agora, o boy vai pensar que tú é um psicopata, alguém que bate em pessoas aleatórias na rua. Que merda. O Santino vai embora, nem consegui me despedir direito. Me senti tão destruído por toda a situação que apenas o deixei ir para o resort.

— Esses bobões mereceram, né? — perguntei para Thor que olha de forma engraçada para mim. — Eu deveria ter feito mais, eu sei. Só que o Santino ia me achar pior do que ele já pensa que eu sou. E, agora? Me ajuda, Thor.

Voltei para a casa dos meus tios e um cheiro agradável conseguiu tirar minha áurea negativa. Sabe aquele aroma que te lembra infância? De repente, volto a ser o Kleber de 10 anos. A tia Luciana está colocando os pratos na mesa, enquanto, minha mãe dá os últimos toques no creme de camarão.

Tá bom, confesso que esqueci do Santino. É que meu cérebro consegue trabalhar apenas com uma situação complicada por vez. Naquele momento, queria destruir a fome que invadia meu ser. Fiz um pequeno prato de pedreiro, estou faminto, afinal, dar uma surra em dois idiotas faz isso comigo.

A primeira garfada quase me faz chorar. É incrível como a veia nordestina presente nos meus familiares faz milagres. A mamãe é um desastre para reproduzir outros pratos, entretanto, ela sempre acerta no creme de camarão. A medida certa de dendê, camarão e especiarias. Eu nunca reclamei quando era creme de camarão em casa.

Meus tios olham horrorizados, enquanto atacava o inocente creme de camarão, parecendo mais desesperado do que o necessário. Durante o jantar, a tia Luciana revelou que o meu primo, Pedro, homofóbico do satanás, estava trabalhando em São Paulo. Fiquei feliz por ele, apesar das mágoas, ainda o amo.

Sempre tive uma ótima relação com o Pedro. Temos praticamente a mesma idade, poucos meses de diferença. Quando visitava o Ceará, sempre pedia para ficar na tia Luciana. Lembro que assistíamos séries e desenhos animados, como Pokémon, Digimon, Os Anjinhos, Tom & Jerry, Um Maluco no Pedaço e Power Rangers.

Tudo mudou no ano em que me assumi gay. A mamãe conversou com meus tios, que também aceitaram de boa, mas o Pedro, aparentemente, odiava os homossexuais, incluindo, o primo dele que vós fala. No início, fiquei chateado com a situação, mas no final percebi que quem perdeu foi ele.

Fiquei calado durante todo o jantar, parte por que estou comendo e outra pensando no Santino. Como eu poderia tirar a péssima impressão que passei ao bater nos colegas dele. Tentei procurar ele nas redes sociais e nada. Procurei pelas hashtags do Beach Park no Instagram e nada. Será que o Santino era um fantasma?

Eu não ia desistir de encontrar o meu príncipe ursino. Antes de dormir, coloquei o despertador para tocar às 5h. Para o desespero da mamãe, eu adquiri o costume de correr cedo, ajudava na recuperação do meu joelho ruim, algumas vezes, nem corria de fato, apenas trotava. O Thor era meu companheiro nas atividades matutinas.

Tive um sonho com o Santino. A gente namorava na praia. As únicas testemunhas das nossas peripécias eram o mar e as estrelas do céu. Não sou um cara muito romântico, mas ele conseguia extrair um Kleber que eu nunca vi. Acordei ao som de "Que País é Esse?", o toque do despertador ecoou pelo quarto, chateada, a mamãe colocou o travesseiro sob a cabeça, resmungou algumas palavras e voltou a dormir tranquilamente.

Sabia o dia que teria pela frente, então, preparei várias marmitas para aguentar a busca por Santino. Usei um cantil do tio Cláudio para colocar água, o meu companheiro de corrida foi bem tratado, viu. Não quero ninguém chamando a Luísa Mel. Repassei todo o plano:

1 - Correr até 6h;

2 - Tomar o café da manhã;

3 - Ração para o Thor;

4 - Procurar o Santino;

Não tinha como dar errado, né? Acho que uma das minhas maiores qualidades é nunca desistir, não importa a situação. Sempre me inspirei na mamãe. Afinal, ela tinha tudo para se livrar de mim e, aos 14 anos, aceitou a missão de criar outra criança. Todos os meus passos são pensando nela. Por isso, lutei para ser um bom aluno, terminar meus estudos (mesmo com supletivo) e entrar em uma universidade pública.

Lá fomos nós, Thor, a mochila cheia de suprimentos e eu. Não existe sensação melhor que correr na praia pela manhã. O vento matinal nos abraça como se fossemos amigos de longa data. O meu coração vai acelerando, logo, diminuo a velocidade. O sol vai se erguendo no horizonte e paro para tirar algumas fotos. Os raios laranjas deixavam o mar alaranjado e a água parecia brilhar.

O Thor ficou animado e começou a latir em direção ao mar. Fechei os olhos, enquanto, o vento esfriava o meu corpo. O momento zen não dura muito, pois, Thor quer continuar a caminhada matinal. Esse cachorro tem uma personalidade forte, culpa da Dona Bruna que sempre o mimou, ele recebe um tratamento melhor que eu.

Damos algumas voltas na orla, quando o Legião Urbana avisa que é horário do café. Seguimos para um quiosque vazio, só acho que a prefeitura devia tomar providências para evitar o desperdício de espaços tão bonitos. Peguei algumas frutas, sucos e um bolo de macaxeira da geladeira dos meus tios.

— Tá com fome, né, monstrinho? — perguntei para Thor que respondeu com um latido. — Claro. — amarrando a guia de Thor em uma cadeira.

Tirei o pote e enchi de água. Em seguida, usei a tampa de uma tappaware para colocar ração. Espero que a tia Luciana não se importa. O Thor é limpinho, acho que não vai ter problema. Olhei para a praia, alguns banhistas começavam a chegar, entretanto, nenhum deles era o Santino.

Enquanto comia uma maça, lembrei do nosso encontro no dia anterior. O Santino é maravilhoso, um sorriso tímido que me deixou ligado no 220 volts. Será que ele não gostou de mim? Ou a surra que dei no colegas dele foi demais? Merda, Kleber, o primeiro garoto bonito que encontra em meses e você faz isso.

— Ursão. Espero te encontrar. — falei olhando fixamente para o mar.

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Comentários

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Muito bom ler esse conto na visão do kleber. Eu adorei.

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