Relatos de um Escravo - parte 4

Um conto erótico de Bruno
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 2751 palavras
Data: 22/01/2016 11:38:28
Última revisão: 22/01/2016 16:29:11

Cap. 6 – Passado.

Por volta de uma hora dois amigos dele chegaram. Tharick havia tomado banho, usava um short e uma camisa polo listrada. Estava na churrasqueira e pelo visto não sairia dali. Adriano veio até a cozinha onde Jonas esperava apreensivo. Ele entregou um avental e disse.

- Vamos conhecer gente nova – disse ele.

Jonas se sentiu uma criança aprendendo a andar. Pouco mais de vinte metros até a parte do quintal onde eles estavam era como andar sobre um piso de vidro quebradiço. Ao menos o avental tampava a parte da frente, mas quando virasse de costas veriam a calcinha atolada no rabo.

A churrasqueira estava perto da parede, Tharick estava sentado no banco e parecia perdido em seus pensamentos – ele era assim na maioria do tempo. Haviam dois homens sentados em cadeiras de bar próximo a churrasqueira.

Um era alto e musculoso, era o tipo que ficava a maior parte do tempo na academia. A camisa lisa apertada evidenciava os músculos definidos, tinha cabelo espetado, rosto largo e enérgico, olhos claros e pele bronzeada. Os antebraços eram grandes e lisos. Usava calça jeans e tênis comum.

- Sub novo – disse de maneira alegre, seus olhos pousaram sobre Jonas, ele sorriu. Parecia ser uma pessoa alegre, mas por trás daquela alegria a aparência indicava alguém extremamente rígido. Gente com rosto quadrado trazia essa impressão.

O outro era alto e gordo – que raio de lugar é esse que so tem gente alta? Pensou irritado tomando cuidado para não cair enquanto caminhava, os joelhos estavam bambos. Era alto e gordo, pela roupa que usava parecia ser vigia ou segurança – calça e coturno preto com uma camisa lisa preta um pouco justa. Tinha uma barriga considerável, rosto largo e cabelos pretos cortado com maquina. O rosto era liso e quase não tinha barba. Ele tinha olho verde. Apesar de ser meio gordo os braços eram fortes e definidos. Aparentava ter trinta e poucos anos.

- Bonitinho ele – disse e sua voz era fria. Ele parecia ser sério. Suas mãos eram grandes, logo Jonas imaginou o tamanho do seu pau. Diziam que gente gorda tinha pau pequeno. Nunca foi de ficar com gordos então não sabia. Esperava que fosse verdade, um roludo a menos para comer ele. Há um tempo atrás isso seria uma boa Idea, hoje não era mais. – To doido para colocar meus vinte centímetros nesse rabo arrombado dele – disse olhando com a expressão sacana.

Ele só pode ta lendo a minha mente! Pensou Jonas irritado.

- Ele está em período de teste – disse Adriano sentando-se ao lado do moreno. – Esse é o Sr. Frederico e esse – disse indicando o homem gordo – é o Sr. Juliano.

Jonas não disse nada, na verdade não sabia o que dizer. O máximo que fez foi tentar sorrir, o que não soou um tanto esquisito dado a situação.

Tharick o chamou e ele foi. Nesse ponto ficaria de costas e eles veriam que ele estava de calcinha. Seu estomago parecia estar envolto no gelo, era como se borboletas batessem asas dentro deles. Ele deu alguns passos e nesse ponto, quando Frederico viu que ele estava de calcinha soltou uma gargalhada.

Aquilo pareceu ecoar em sua mente.

Sem se virar ele continuou andando, o rosto ardeu. Ainda bem que estava de costas e assim não veriam a vergonha que ele estava sentindo.

-Que gracinha de puta você foi arrumar – disse Frederico. Ele ria alto. – Onde você arruma esses putos? O meu custei para conseguir, você parece ter imã para viado submisso.

Ele se levantou e foi atrás de Jonas, que com passos vacilantes não sabia se corria ou se ficava parado. Ao chegar perto ele passou o braço pelo seu pescoço e o puxou para perto dele. Seus braços eram duros e ele era muito cheiroso. Pela maneira que o segurou era lutador, provavelmente jiu-jítsu. Jonas poderia jurar que o jeito que passou o braço envolta dele era uma maneira disfarçada de um mata leão [um tipo de golpe].

Seu nariz cheirou seu pescoço, sua língua deslizou até sua orelha e ele mordeu. Os pelos da sua nuca eriçaram e seu corpo ficou bambo. A mão apertou sua bunda com tanta força que doeu. O pau grosso roçou pela calça.

- Passa esse puto nesse teste logo porra!

Juliano apenas riu achando graça de tudo. Rua risada era gutural e grotesca.

- Faltam dois testes ainda – disse Adriano com os olhos no escravo. – Trás alguma coisa para a gente comer viado.

Tharick lhe entregou a bandeja e ele serviu. Logo encheu os copos com cerveja. Seu pau estava tão mole que parecia morto entre as pernas. Mesmo fazendo calor ele sentia frio e o suor descia pelo seu rosto. Nitidamente estava tenso. Frederico sempre olhava seu corpo quando ele passava e sempre tentava olhar em seus olhos. Jonas sempre desviava, o conselho de Tharick vinha sempre em sua mente.

- Onde conheceu esse puto? – perguntou Frederico sem tirar os olhos de Jonas. Seus olhos cor de mel encaravam fundo os olhos de Jonas, que a cada momento achava cada vez mais difícil desviar o olhar. Era desejo e curiosidade ou talvez algo mais. Era como se olhasse dentro dele e soubesse tudo que sentisse. Jonas estava desnorteado de mais para falar ou fazer qualquer coisa. Segurava a bandeja com as duas mãos para não deixá-la cair.

- No metrô acredita? – disse Adriano dando um gole na cerveja. –Veio para cá com o rabo entre as pernas atrás de rola.

Juliano soltou uma risada.

- Vem cá, deixa eu da uma olhada nesse rabo – chamou Juliano. Sem jeito Jonas foi até ele.

A mão grande dele alisou a bunda de Jonas de maneira delicada. Logo pegou o fio da calcinha e olhou o cu dele. Bem arrombadinho já – disse ele. O coração de Jonas bateu mais forte. Juliano puxou o fio da calcinha e soltou, o elástico bateu com força no rego dolorido de Jonas.

- Faz uma dancinha – pediu Frederico rindo.

Jonas não se moveu.

Juliano deu um tapa de leve na bunda dele.

- Rebola ai viado – disse ele.

Jonas sentiu o estomago arder, não sabia o que fazia.

- Anda... – a voz de Adriano soou fria e autoritária, livre de risadas como a dos demais.

Sem jeito Jonas tentou dançar ou ao menos rebolar. Não sabendo ao certo o que estava fazendo mexeu a bunda e girou em um gingado que nem mesmo ele entendeu. Houve um momento de silêncio e depois todos, até mesmo Tharick, que estava na churrasqueira. Foram risadas altas como se tivessem visto a coisa mais engraçada do mundo. Em poucos segundos Adriano deu um basta.

- Podem parar de rir dele – ele parecia meio irritado e suas palavras soaram com urgência.

Juliano segurou o riso.

Lágrimas se formaram nos olhos de Jonas, mas ele definitivamente não chorou.

- Ok ok – Juliano segurava a risada. Frederico parou de imediato.

Jonas respirou fundo, se sentia um lixo. Cansado ele foi até a geladeira e pegou algumas cervejas. Logo encheu o copo deles com a expressão facial fria e indiferente, parecia que a vergonha pela situação, as vozes, tudo havia simplesmente desaparecido. Em momento algum pensou em olhar Frederico, a risada dele foi a mais alta e de repente, todo o encanto dele acabara. Ele provavelmente percebeu isso, pois não voltou a falar de Jonas.

Tharick ficou um pouco sem graça com ele, porém com seu habitual jeito indiferente não disse nada. Jonas sentia seu coração doer e seu estomago revirava, uma dor intensa e por um instante sentiu que fosse vomitar. Estava suando frio e de repente ficou um pouco tonto. Olhava para o chão e sua visão embaralhava, o estomago parecia querer sair pela boca.

Apressado ele entrou na casa e meio trôpego foi até o banheiro. Sem pensar no que estava fazendo ligou o chuveiro no frio e colocou a cabeça debaixo da água. A água escorreu em seu corpo e ele começou a melhorar. A respiração aos poucos voltou ao normal e a vontade de desmaiar passou.

Aquilo foi um crise de ansiedade e sua pressão quase caiu, pensou com a cabeça debaixo da água. A água fria escorria por todo o seu corpo causando arrepios. A sensação era ruim mas estava fazendo-o ele melhorar. Depois de alguns minutos saiu do chuveiro e fechou a porta, sem jeito sentou-se no chão do banheiro.

Estava acalmando mas ainda podia sentir náuseas e uma imensa vontade de chorar. O coração parecia não querer ficar no peito. Era como se estivesse se afogando, como se estivesse desesperado para respirar.

Como eu pude me sujeitar a isso? Isso é loucura!

Estava ali de livre e espontânea vontade? Será que ainda tinha as rédeas da situação, será que essa porra toda era consensual? Estava vestindo uma calcinha... uma calcinha! Tinha gente rindo dele, tinha gente apontando o dedo para ele.

Desde a escola não se sentia assim, era até estranho reviver aquilo. As lembranças de adolescente, lembranças de quando todos riam dele, lembranças de quando ele era sozinho. Era igual, era dessa forma que ele se sentia.

A vida toda ele foi uma pessoa com estatura baixa e magra. Sempre aparentou ter uma idade inferior a que tinha e sempre foi tratado pelos outro como uma pessoa indefesa. Não importava o lugar, fosse na escola, igreja, curso e qualquer outro as pessoas sempre lhe chamavam de viado. Não tinha voz de gay, não tinha jeito de gay, mas sempre as piadas se voltavam para isso. As vezes pensava que era gay pelo fato de ter sofrido tanto com isso na adolescência. Como era dito desde a segunda guerra mundial, uma mentira contada mil vezes se torna verdade.

Uma época isso era tão freqüente que sofria em lugares diferentes no mesmo dia: de manha na escola, a tarde no curso e a noite nos dias que ia para a igreja. A pressão foi tanta que ele resolveu acabar com tudo.

Nesse dia sua mãe lhe procurou, ela não sabia da decisão que ele tinha tomado pois ele não havia contado a ninguém. Decidiu procurar um lugar alto e saltar – uma coisa simples que resolveria tudo de uma vez. Uma carta com poucas palavras ia ser o ultimo contato com a família. Nesse dia sua mãe disse que amava muito ele e que sentia feliz por ter ele como filho, ela disse isso sem motivo aparente, no dia cantarolava musicas da igreja e parecia muito feliz. No final do dia enquanto seus olhos fitavam a ponte que saltaria as palavras dela pesaram e ele desistiu. Em sua mente pensava – uma mãe não merece isso...

Depois desse dia Jonas se tornou alguém indiferente com a vida. Não se importou com nada que falavam na escola ou em qualquer lugar. Largou o cursinho de pré-vestibular e saiu da igreja. Na escola entrava surdo e saia mudo. Assim conseguiu vencer o resto do ensino médio que faltava. Não aprendeu nada no ensino médio e passou praticamente empurrado pelos professores, mas ao menos havia terminado.

Havia uma chama dentro dele, um fogo que ardia em seu coração e ele simplesmente o abafou. Nunca mais pensou naquilo, nunca mais pensou no dia que tentou se matar ou nas pessoas que apontavam o dedo e lhe chamavam de gay, de viado, de biba e tantas outras coisas. A única conclusão que chegou era que lhe chamavam dessas coisas por que ele aparentava ser frágil, indefeso. Depois desse dia ele decidiu que nunca mais seria alguém frágil e esses sentimentos foram apagados dentro dele.

Talvez fosse por isso que mesmo adulto, mesmo aos vinte quatro anos nunca tenha se apaixonado. Nesse dia ele bloqueou todos os sentimentos e se tornou alguém frio.

- Eu já superei isso – disse em voz alta se controlando. A água fria ainda caia dentro do box.

Seu coração ardia no peito, as lagrimas se formavam nos olhos.

Seu punho socou com força o azulejo.

- Eu já superei isso.

O coração ainda doía, ele sentia que o suor descia mesmo com o corpo molhado. As lágrimas caiam dos seus olhos contra sua vontade, não sabia por que se sentia assim. A única coisa que sua mente conseguia focar era na exposição, neles rindo. As risadas altas. Seu coração ardia como se queimasse. E nisso as lembranças voltavam, a tristeza voltava e tudo parecia ter sido em vão. A pior das lembranças flutuava em sua mente como se ele pudesse vivenciá-la de novamente, a lembranças do dia que seus olhos olhavam do alto da ponte enquanto um turbilhão de emoções brigavam dentro dele.

Por que isso veio a tona de novo?

Ele tampou o rosto com as duas mãos.

- Se chama Prova de Fogo...

Seu olhar se voltou assustado para a porta do banheiro. Tharick estava escorado na porta com os braços cruzados na altura do peito. Seu olhar era vazio e inexpressivo como sempre.

- Que diabos é isso!? – disse Jonas irritado.

- É um mantra – disse ele calmo. Sua visão era um rapaz sentado no chão do banheiro usando uma calcinha rosa. Seu semblante visivelmente abalado. Jonas se sentiu incomodado mostrando esse lado fraco, logo tentou se recompor, mas parecia ter perdido as forças. Os olhos vermelhos com lágrimas que ele não deixaria mais cair, seu pomo de adão subia e descia como se estivesse engolindo algo viscoso. – As pessoas não costumam ter uma crise de ansiedade ao colocar uma calcinha – ao menos todos os outros não tiveram. Isso pode lhe deixar constrangido com certeza, mas não deixa a pessoa nesse estado. Algo do seu passado, algo não resolvido veio a tona hoje, algo que provavelmente você reprimiu. É por isso que se chama “prova de fogo”. Está queimando dentro de você muito mais forte do que queimava na época em que aconteceu, seja lá o que for. Dessa vez voltou mais intenso e você vai ter que enfrentar e resolver. Não simplesmente bloquear.

- Você só pode ter ficado louco Tharick, que papo estranho é esse? – perguntou Jonas olhando ele.

- Não é estranho, você sabe exatamente do que estou falando Jonas – disse ele ainda calmo, porem havia mais tenacidade em sua voz.

- Eu não sei de mais nada – disse Jonas olhando o chão. No fundo sabia exatamente do que ele falava. Falava sobre enfrentar os problemas de frente e não os reprimir dentro dele. – Como você consegue Tharick, como você consegue viver assim? Eu achei que seria de uma jeito mas está saindo de um jeito totalmente diferente.

- Você imaginava um conto de fadas – disse ele. – Esse tipo de relação é real Jonas e muito diferente do que a maioria das pessoas imaginam. Mas o fato de estar se sentindo assim agora não tem nada a ver com a relação em si, tem a ver com o que aconteceu lá fora hoje.

As palavras de Tharick faziam sentindo.

- Ele quer você – disse Tharick respirando fundo.

- O Adriano?

- Sim, ele gostou de você.

- Por quê?

- Porque você é inteligente, diferente... forte – disse ele. – Frederico notou isso também. Ele ficou interessado em você.

- Detestei ele.

- Ele é uma boa pessoa. De todos é o mais sensato – Tharick pareceu cansado, se tivesse um banco ali ele sentaria. – Se recomponha, tome um banho. Vou falar com o Adriano que você se sentiu mal. Daqui a pouco venho ver como você está.

- Ele vai acreditar?

- Vai.

- E o que vai dizer a ele?

- Vou dizer que teve uma crise de ansiedade por causa do que aconteceu.

- Sério?

- Ele deve saber disso com certeza – disse Tharick. – Não o julgue pela aparência, ele é mais inteligente do que imagina.

- Tudo bem... – Jonas respirou fundo e olhou para o chuveiro aberto. A água ainda caia.

- Certo, vou lá então, toma um banho e melhor ai, não precisa voltar lá fora – disse ele. Logo ele foi até Jonas e fez um cafuné nele. – Agora que somos “irmãos” eu me sinto na obrigação de cuidar de você então vê se não da me trabalho.

Jonas sentiu o umbigo ficar morno e seu rosto sorriu contra sua vontade.

- Digo o mesmo.

Tharick deu um largo sorriso em resposta. Era a primeira vez que via um sorriso dele: largo, com dentes brancos e bochechas com covinhas.

- Pode deixar – e dizendo isso saiu.

Jonas se levantou e tomou um banho rápido e voltou para o quintal. Não ia se deixar abater com fantasmas do passado, era alguém que sabia o que queria e ficar no chão sentando como um verdadeiro idiota era algo que ele não iria fazer. Se esses sentimentos reprimidos haviam voltado talvez fosse a hora de enfrentá-los. Talvez fosse a sua “prova de fogo”.

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