O Anjo (parte 2)

Um conto erótico de Contista1968
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 6520 palavras
Data: 07/08/2008 22:17:41
Última revisão: 08/08/2008 10:27:16

III.

[continua]

Por um mês inteiro, eduquei minha potranca. Acredite, não foi fácil. Várias vezes, quis pegá-la pelos cabelos e meter entre suas pernas, sem aviso, tomando posse do que já era meu. Isabela olhava-me com uma devoção da qual agora eu tinha completa consciência. Havia nascido com o fogo de uma égua de raça e a doçura de uma cadela mansa, desejando pelo momento de pertencer a um dono. É fascinante conhecer a alma de uma ovelha antes mesmo que ela tenha noção do quanto anseia por ser possuída. Mas eu não queria me precipitar. Não podia ser assim. Um Mestre, antes de domar seu bichinho, tem que aprender a domar a si mesmo. Caso contrário, perderá o controle da situação e o controle, senhores, é tudo. Uma coisa de cada vez, e paciência, sobretudo.

Curiosamente, foi a minha melhor fase com Laura Amante. A energia potencial acumulada durante o dia de trabalho convertia-se em sexo bruto e cruel, do jeito que a agradava. Eu descarregava naquela mulher insaciável o meu desejo cada vez mais latente pela presa que ainda mantinha para o abate. Descarregava nela meu desprezo por Laura Noiva, que então começava a dedicar-se com unhas e dentes aos preparativos do casamento. Você já teve que ouvir horas e horas de blablablá sobre convites? Calígrafo? Damas de honra? Meu cérebro virava pudim enquanto ela falava de bufê e flores. Porque, embora minha presença e atenção fossem requeridas, tudo que eu precisava fazer era mostrar algum interesse e dizer que ela havia feito a melhor escolha.

Laura Amante, antes de ser entregue por mim às mãos de um novo Mestre – na verdade, nas mãos de uma nova Senhora, mais rude e bruta do que eu jamais seria -, beneficiou-se bastante do meu estado de espírito inquieto. Nossos últimos tempos juntos foram uma catarse. Era como se eu eliminasse algo de podre de dentro de mim, partindo com particular virulência para cima dela. Usei em sua pele já marcada vários novos chicotes, testando o ângulo e a força ideais. Não gosto de marcas. Laura Amante tinha várias, deixadas por diferentes Mestres, alguns bastante virulentos. Suas cicatrizes eram medalhas de honra. Quando disse-lhe que não mais a queria, Laura Amante havia acabado de receber sua última chibatada de minhas mãos. Chorou muito, ainda amarrada à sua cama. “Cale a boca, vaca!” – era assim que ela gostava de ser tratada. Confuso? Nem um pouco. “Amanhã, apresente-se à sua nova Senhora”. Cuspi-lhe no rosto. “Não me deixe! Não me deixe, senhor!”. “Nunca mais quero ver essa sua bunda branca na minha frente de novo, galinha. Abra a boca de novo e eu te deixo sem dono, na rua da amargura!”.

Dois dias depois, tivemos uma reunião de negócios, eu e Laura Ex Amante, com um grupo de investidores franco-canadenses. Bem vindo ao meu mundo.

Dor é só uma parte de uma relação sado-masoquista. A outra parte, tão importante quanto, é a confiança e a entrega. Dor pela dor é só violência. É estupro. Sem confiança e entrega, dor não cria o laço de Mestre e escravo. Apenas o de torturador e torturado. Laura Ex Amante punha total ênfase na dor – era o que mais esperava de mim. Ou de qualquer outro Mestre. Não fique com pena dela. Não fui cruel. Ou melhor: o fui, de um jeito que ela apreciou. Sei que a nova Senhora costuma tratá-la por Mula. Monta uma Laura selada, com arreios e um rabo enfiado em seu ânus. Usa o chicote, a pisoteia, cospe em sua boca e faz de seu rosto um penico vivo. Decididamente, não o meu estilo.

Meu anjo agora era o meu bichinho. A cada dia, eu avançava um pouco mais, querendo ver até onde aquela garota estava disposta a ir. Dava-lhe tarefas árduas, às vezes impossíveis – as quais ela cumpria com todo seu empenho. “Lembre-se... a qualquer momento...” – eu dizia-lhe, como uma salvaguarda de segurança, caso mudasse de idéia. Mas Isabela não mudava de idéia. Os olhos ficavam úmidos de lágrimas e ela murmurava – “Não, meu Mestre”. Quando estávamos a sós, meu anjo anotava minhas instruções de joelhos, no chão, ao meu lado. Foi minha primeira instrução destinada a inculcar-lhe obediência. E ela sequer pestanejou. Pôs-se de joelhos, empertigada, enquanto eu enroscava meu dedo em seus cabelos.

Na hora do almoço, se eu não tivesse compromisso, preferia comer em minha sala. Chamava Isabela, trancava a porta e dizia-lhe para tomar seu lugar. Isabela já sabia que deveria sentar-se a meus pés. Eu a alimentava com pequenos nacos de comida enquanto ela olhava-me com olhos de adoração. Sempre gostei de observá-la arfando enquanto tenta domar sua excitação, seu medo, seu nervoso, seu desejo. Meu anjo estava cada vez mais pronta, mais dócil. Mandava que tirasse meus sapatos e me fizesse uma massagem nos pés, algo que lhe dava uma esperançosa alegria, pois saboreava aquele contato, achando que eu a tocaria. Mas eu queria que esperasse o comando. Que estivesse à minha espera. E não a tocava, me deliciando com o seu tumulto de emoções. Queria agradar-me e procurava sempre conter aquele desespero de gozo não gozado, para que eu não visse em seu rosto algum tipo de desobediência. Não é linda?

Quando finalmente decidi que já era hora, passei um de nossos almoços juntos, a portas trancadas, em que ela estava sentada a meus pés, lambendo meus dedos besuntados de molho. Eu a alimentava com frango xadrez, direto da caixinha do delivery. Meu anjo abocanhava os pedaços, chupando-os de minhas mãos. A essa altura, ela achava tudo uma grande e excitante brincadeira, a qual levava a sério, procurando seduzir-me de seu jeito manso de menina. Naquele dia, eu a surpreendi. “Isabela...?” – meu pau latejava entre as pernas. O gato havia se cansado do jogo. “Sim, meu senhor...?”. “Vá até a mesa” – instruí.

De algum modo, Isabela pareceu entender que algo de novo aconteceria. Ou isso, ou era a velha esperança de que eu a tirasse de sua agonia. Parecia um bichinho acuado. Ou melhor – uma criança seduzida por algo que a apavora. Uma criança aos pés da montanha russa ou do trem fantasma. E, assim, tomou coragem. Foi até a mesa, como instruído. Viu-me ir até o meu armário, a um canto – um móvel moderno, escuro, onde penduro meu paletó, minha roupa de tênis, da academia, e até uma muda de roupa, em caso de precisar. Viu-me pegar algo de dentro. Minha raquete de tênis de mesa. Engraçado. Quando eu era criança, chamávamos tênis de mesa de ping-pong.

“Você ainda pode dizer não”. Dei-lhe passe livre. Mas meu anjo, com os olhos imensos de medo e fascinação, apenas olhou para baixo. “Você quer ficar?”. “Sim, senhor” – ela murmurou, docemente, ainda tensa. “Muito bem. Então saiba que o que acontecer aqui será por sua livre escolha”. Sim, ela sabia. Sabia e queria. Sorriu com timidez, tão ansiosa pelo que nem podia antecipar em sua cabecinha. “Uma ovelha é sempre mansa. Nunca se insurge, nunca fica indócil, nunca questiona. Uma ovelha pertence ao pastor. Você é o quê, Isabela?” – perguntei, testando a raquete em minha mão.

“Uma ovelha... meu senhor”. “Ótimo. Abra o zíper da sua calça comprida”. Com os dedos trêmulos, meu anjo tratou de obedecer. Abriu o botão, baixou o zíper da calça. “Doravante, você só virá trabalhar de saia. Não quero saber se você tem saias ou não tem saias. Apenas saias. Estamos entendidos?”. Eu falava já perto de meu anjo e ela fez que sim. “Agora, baixe a calça”. Isabela é como uma garotinha – mesmo com medo, obedece. Ainda não me conhecia direito, não sabia o que esperar. Baixou a calça comprida jeans. “Até o joelho” – insisti. Pobre anjo. Estava tremendo de agonia e baixou a calça até os joelhos. Tão linda, de calcinha de algodão branca e pequenas bolinhas cor de rosa. Para meu deleite, pude perceber a mancha úmida na frente, já bastante distinta. Uma ovelha, sem dúvida. “Agora, afaste as pernas, ponha as mãos no tampo da mesa e empine-se para mim. Vou dar-lhe um lição, Isabela. E você terá que aprender a se comportar como uma ovelha”.

Existe o jeito certo de se aplicar um castigo. Um Mestre precisa conhecer seu bichinho. Precisa conhecer a sua própria força. Precisa conhecer seu instrumento. Precisa ser hábil. O objetivo não é massacrar o escravo, mas levá-lo ao prazer através da dor. A dose certa de um conduzirá inevitavelmente ao outro. Se você errar a mão e perder o controle, a magia perde-se. Será violência pura e simples, como Laura Ex Amante buscava tão sofregamente. Naquela tarde, vi meu anjo obedecer-me com a confiança de que entregava seu corpo e sua alma a um Mestre. Fez como ordenado, ainda muito inexperiente, pois conhecia pouco da arte. Empinou seu bumbum para mim – lindo, perfeito, coberto por aquela calcinha quase pueril. Passei a mão na carne tenra, vi o arrepio na pele. Maravilhosa menina. “Conte, Isabela. As que você não contar não serão computadas”.

A primeira atingiu-a na nádega sobre o pano da calcinha. Doeu. Vi seu rostinho contorcer-se e ela reuniu forças para dizer: “Uma”. A segunda atingiu-a na outra nádega, forte. “Duas...” – arfou. Para a terceira, peguei a calcinha, fiz com que entrasse no vão entre as nádegas e puxei-a para cima, deixando o belo bumbum exposto. Ah, que linda! A raquete pegou na pele com um estalido seco, deixando sua marca impressa. “T” – lágrimas brotavam de seus olhos. A seguinte repetiu o mesmo golpe, com a mesma força, na nádega oposta. “Q... q”. Pobrezinha. Eu quase sentia pena do meu anjo. Puxei a calcinha mais para cima, fazendo o tecido de algodão esticar ao máximo. Ah, eis o segredo...! Na quinta vez, a dor já não era mais dor. Vi o rosto contorcer-se no limiar entre uma e outra, saboreando a sensação. “Cinco...” – suspirou, ofegante. Sua vulva roçava na calcinha e deixei que aproveitasse o momento. No sexto golpe, chegou a sorrir depois que a dor espalhou-se pela espinha. “Seis...”. A sétima e a oitava foram rápidas, tirando fôlego de seus pulmões. É preciso mudar o ritmo, senão perde-se o elemento surpresa. “” – gemeu.

Percebi que estava quase gozando. Roçava sua rachinha no pano, cada vez mais alheia à ardência, ao incômodo e à dor. Na nona, vi a cabeça pender para trás, os olhinhos fecharem-se e a boca entreabrir-se em um suspiro de enlevo. “Nove...”. Larguei a calcinha. Eu sei, foi maldade. A menina ia gozar. Olhou-me, confusa e perdida. Estava ofegante, quase em desespero. “Nunca goze sem antes eu permitir, ovelha”. Isabela quase chorou. Tão linda. Nem sabia o tumulto que estava criando em mim. Pois encontrei-me naquele ritual, do mesmo modo que ela também se encontrava. Meu anjo olhou para a mesa, onde ainda se apoiava, tremendo com o gozo interrompido. Então, recompensei-a. Minha mão esquerda escorregou entre suas pernas, segurando-a firmemente. Eu a amparava pela vulva pulsante e úmida, erguendo o corpo. Empinando sua bundinha. “Goze agora, minha ovelha”. Quando a raquete acertou-a novamente, ela sorriu deliciada com a massagem. “Dez...” – suspirou. Estava gozando.

Encontrar meu anjo foi como uma epifania. Como uma reação química perfeita. Engana-se quem pensa que a relação entre Mestre e escravo é uma via de mão única. Não, nada disso. Há Mestres de todos os tipos e escravos com igual diversidade. Quando acontece de haver compatibilidade entre um e outro, ambos são atingidos pelo laço que os une – de formas diferentes, claro, mas com igual intensidade. Essa é a magia.

Meu anjo trouxe paz para o meu universo em caos. Em seus olhos, eu vi o Mestre que eu era e gostava de ser. Vi o que estava errado em minha vida atribulada, onde Lauras abundavam para além dos limites. Vê? Com Laura Ex Amante, a química estava basicamente toda errada. Eu não era o Mestre que ela procurava com tanta ânsia. Laura Ex Amante queria violência bruta e sua sofreguidão despertava o pior em mim. Como eu disse antes, não havia elegância. Vê-la gozar era algo próximo a um freak show. Laura Ex Amante não é sutil. Não tem poesia, não tem aquela coisa sublime e indefinível que prende a alma do Mestre.

Não era como Isabela, cujo primeiro gozo, em minhas mãos, foi de uma perfeição única. Eu a sentia pulsando, sentia o tremor de suas pernas, de seus braços. Ainda acariciava sua vulva enquanto ela recuperava-se. Larguei a raquete e toquei em suas nádegas, agora vermelhas, com a trama da borracha marcada. Meu anjo arrepiou-se, sentiu um espasmo espalhar-se pelo corpo e deu um suspiro quase inaudível. Sorriu-me timidamente, as maçãs do rosto enrubescidas. Não parecia se importar com nada e deixou que eu a beijasse. Seus lábios entreabriram-se mansamente para mim, sem qualquer hesitação ou resistência. Estava entregue e eu a queria com um apetite voraz. Provei daquela boca com fome, com sede, com gula, inebriado com o cheiro que emanava daquele corpo. Um cheiro doce, de patchuli, suor, pele e gozo.

Meus dedos iam escorregando pela vulva, buscando a vagina. Tão quente, tão macia, tão úmida! Isabela havia gozado, estava pronta. Abracei-a, trazendo seu corpo mais para perto. Dois dedos escorregaram para dentro daquele canal que deliciosamente se contraía em espasmos. Meu anjo queria gemer e não podia, pois minha boca não desistia da dela. Queria me abraçar e tinha medo. Sentia seu corpo tremer e roçar-se no meu, acompanhando os movimentos de vai e vem dos meus dedos. Ia gozar de novo. Garota maravilhosa. Como goza fácil! Foi quando agarrei um tufo de seus cabelos da nuca, puxando-os para trás. “Não goze, ... minha ovelha...” – ordenei, ofegante, fazendo meus dedos estocarem aquela boceta deliciosa mais fundo, mais rápido. – “Senão... vou ter que... vou ter que... punir... você...”.

Puxava o cabelo dela para trás, fazendo seu corpo arquear mais e mais. Ela gemia baixinho, mordendo os lábios, segurando ao máximo o que já não podia mais evitar. Eu a olhava fascinado com a sua entrega. Com a candura. Queria mesmo esperar pela permissão que não iria dar de jeito nenhum, pois esperava que falhasse. E, como eu previa, ela falhou. Seu orgasmo irrompeu como um dique inundado. Senti em meus dedos o gozo viscoso que brotava de seu interior. Senti as contrações frenéticas de seu corpo, de sua vulva. Isabela gozou sem coragem de gemer, apertando seus lábios, apertando suas pernas, minha mão. Quase tombou para trás, zonza. Trouxe-a para mim de novo. Queria sua cabeça em meu peito. Queria seu corpo contra o meu. Queria que ainda sentisse meus dedos dentro de sua vagina.

“Ah, má menina, Isabela... desobedeceu minha ordem” – ralhei, deixando-a atordoada. Meu anjo ofegava, tentando recuperar seu fôlego. Recolhi minha mão. Minha mão toda melada dos sucos e do doce gozo de Isabela. “Me perdoe... senhor... me perdoe... eu não pude... não consegui... não consegui evitar...” – estava com medo de haver incorrido em meu desprezo. Deixei-a em suspense. Afastei-me em direção ao armário, de onde parei para observá-la. Lindo anjo, com as calças arriadas até os joelhos, a calcinha enterrada na bunda, a bunda toda vermelha... devia estar ardendo... eu podia ver a trama da borracha impressa na pele clara... cabelos desgrenhados... os lábios ainda inchados... o rostinho pálido e acuado. Por que eu não havia reparado antes em sua doçura? Em sua mansuetude? No olhar tímido, nos modos gentis? No modo de baixar a cabeça, por respeito, e olhar por cima das sobrancelhas, como uma criança, sem empinar o queixo, sem desafiar o Mestre? Minha ovelha era minha antes de eu saber que a desejava. Isso não estava certo.

“Tire a calça, Isabela”. Vi que estava nervosa e trêmula, mas de certa forma aliviada de eu não a haver enxotado para fora da sala. Tirou as calças – sempre um entrave. Às vezes, até que gosto de vê-la de calcinha. Como naquele momento. Meu anjo, de calcinha branca, com bolinhas cor de rosa. A calcinha entrava por sua rachinha. “Vamos, minha ovelhinha... abra os botões de sua blusa”.

Isabela tem o tipo de beleza que vai se tornando mais e mais encantadora à medida em que você pára e presta atenção em seu rosto. Com os dedos trêmulos, resignou-se a obedecer-me sem qualquer sinal de resistência, como que esperando meu veredicto. Tão linda. “Você é uma potranca inquieta. Quem te treinou, treinou mal”. Meu anjo olhava para mim, mas não diretamente nos olhos. “Fale”. – ordenei. “Eu não... eu nunca...” – buscava as palavras certas. Estava aflita. “Me perdoe, me senhor... eu não sei como me portar... eu nunca tive... eu nunca tive ninguém que me ensinasse...”. “Vê-se”. Por baixo da blusa azul, Isabela usava um sutiã semelhante à sua calcinha, branco de bolinhas cor de rosa. Eu parecia a ponto de explodir entre as pernas. “Tire a blusa”. Ela assim o fez, sem saber que tamanha docilidade era como mel em meus lábios.

Imagine seios redondos, cremosos e clarinhos, nem grandes nem pequenos, do tamanho perfeito para o corpo de uma mulher. Seios que um sutiã de algodão branco, de bolinhas cor de rosa, mal conseguem esconder. Imagine os bicos enrugados e intumescidos, bem durinhos, marcando o tecido por baixo. Respirei fundo e tirei de dentro do armário o que esperava usar naqueles lindos seios perfeitos – um chicote formado por várias tiras de couro. Novinho. Os olhos cor de oliva arregalaram-se de um medo enfeitiçado, seduzido, inquieto. A imagem do chicote em minhas mãos a atraía com uma força irresistível. Isabela não saiu do lugar, arfando de seu jeito manso, enquanto eu me aproximava. “Dessa vez, você coloca as mãos no tampo da mesa, virada de frente para mim...” – instruí com a voz carregada de desejo, como um leão que água na boca, esperando pela primeira mordida na presa. “Plante os pés bem plantados no chão... estique o corpo... arqueie as costas para trás... Olhe para a linha em que o teto e a parede em frente a você se encontram. Entendeu?”.

“Sim... meu Mestre...”. Ah, meu anjo estava em minhas mãos. Eu vi que, daquele ponto em diante, não haveria mais retorno. Ela não queria mais retornar. Mesmo com medo, deixou-me desabotoar o sutiã adorável, que removi de seus braços sem qualquer resistência. Mamilos róseos, delicados, agora bem duros. Eu poderia sugá-los, mordiscá-los. Mas ainda não era hora, por mais que saliva ameaçasse de pingar pelos cantos de minha boca. “Em posição, potranca”. Isabela fez exatamente como mandei, item por item, detalhe por detalhe, do jeito sério e resignado com que cumpria minhas instruções. Sempre.

Eis a poesia de que lhes falo. A entrega, a confiança de um bichinho em seu dono. Meu anjo ficou ali, entregue, esperando pelo primeiro golpe do chicote. Vi seus olhinhos fecharem-se. Vi sua agonia, seu medo, seu desejo. Latejava de vontade e antecipação. Havia uma alma de ovelha naquela menina e eu estava pronto para clamá-la. “Lembre-se, minha potranca... as que você não contar não serão computadas”. Isabela engoliu seco e assentiu, abrindo os olhos para fixar-se na linha que une o teto à parede, conforme instruído. “Sim, meu Senhor...”.

O primeiro golpe acertou-a através do peito, pegando mais o esquerdo do que o direito. Sou destro, estava em posição. A boquinha abriu-se em busca do ar roubado de seus pulmões. “Uma...” – contou, querendo disfarçar o gemido. Mudei de posição e slapt. Peguei o seio direito, vendo que uma das tiras acertou em cheio o mamilo endurecido. “Duas...” – meu anjo suspira com a voz trêmula. A terceira a atinge no ventre liso, onde nenhuma grama de gordura pende. Isabela estremece por um segundo, mas não desaponta. “Três...”. De onde eu estava, podia ver sua linda calcinha branca de bolinhas cor de rosa já bem úmida dos sucos que pingam de dentro de sua rósea vagina. Isabela não é peluda, mas a quero bem lisa. Terei que mandá-la depilar-se por completo. Minha quarta chicotada premia o monte de Vênus que está algo exposto, com o tecido de algodão meio entrando pela rachinha. É quando ela sofre um espasmo brusco, ficando por alguns segundos nas pontas dos pés.

“Quatro...” – boa menina, não perde a contagem. Nem a ponto de gozar. A quinta, também direcionada ao monte de Vênus, estala mais acima, na virilha. O rosto já não é só dor. É algo a mais também. “Cinco...” – ela mantém-se firme em curso. Mais uma vez, miro nos seios. O esquerdo. Isabela geme um gemido perdido, confuso, meio dor, meio sorriso. Que linda potranca. Está se acostumando ao meu ritmo. “Seis...”. “Abra mais as pernas, minha ovelha”. Ela obedece. “Mais”. Ela obedece. “Mais”. Seu corpo agora está bem estirado e nem estamos usando cordas. É magnífico. Meu anjo ofega. A oitava a acerta de surpresa, vinda de cima para baixo, pegando a xoxota. “Não goze. Não dei permissão ainda” – faço a advertência, pois vejo os olhinhos revirarem-se. Pobre anjo. Nem entende que está a ponto de ter um orgasmo. Para a nona, peço que fique de pernas bem juntas e braços para cima, bem esticados. É o que o meu anjo faz, à espera do golpe que vem de cima para baixo, pegando do seio direito à virilha. “Pode relaxar”. Ela relaxa, exausta. “Nove...”.

“Muito bem, minha ovelha. Agora, falta apenas uma”.

[continua]

IV.

[continua]

Faltando apenas uma, a última, derradeira chibatada, amparei o corpo de minha ovelha. Em sua pele branca e cremosa ficaram os vergões, mas sem futuras cicatrizes. Os pontinhos de sangue que despontam são minúsculos, em locais onde o couro mais arranhou do que rasgou a pele. Existe uma técnica para isso. Como eu disse antes, um Mestre tem que saber dosar a sua força, conhecer o instrumento em suas mãos e também o seu bichinho. O meu era um espetáculo de riscos vermelhos, dos ombros à virilha. A bundinha em formato de coração ainda devia estar latejando, pois continuava bem vermelha. Isabela, porém, sorria em êxtase, aninhada em meus braços. Seu sangue manchava a minha camisa e me conferia um primeiro troféu. Era a virgindade de corpo e alma que entregava ao Mestre.

Levei-a para o sofá. “Fique de quatro, Isabela. Bunda empinada, braços cruzados na frente e a cabeça enterrada”. Meu anjo, ainda que trôpega dos golpes, tratou de fazer como eu dizia. Na verdade, tive que ajudá-la a entrar em posição, pois parecia um pouco perdida em seu limbo de dor e prazer. Queria gozar e, no entanto, não arriscava tocar-se. “Espere”. E ela esperou, quieta, enquanto fui buscar a adaga. Quando a ponta tocou-lhe no alto da coluna, Isabela não pôde evitar o espasmo de susto, seguido do rastilho de arrepios que o metal frio estava causando em sua pele. “Calma...”. Fiz a adaga percorrer a trilha da coluna vertebral sem qualquer dano à sua pele, até chegar ao rego. Idéia de Laura Ex Amante. A lâmina, posicionada por sob o tecido de algodão, rompeu-o com um ruído característico. Em dois golpes, a calcinha era apenas um retalho de pano, que puxei para mim.

Vi Isabela soltar um gemido que mais parecia um risinho. Garota linda. Agora, toda exposta para mim. É uma bela visão, uma mulher empinada, com a vulva brilhando com seus sucos e o ânus cor de rosa, bem fechado e indócil, a espera de misericórdia para a sua agonia. Passei a mão por aquele espetáculo de cores e formas. Meu anjo é toda em tons pastéis, toda perfeita em suas formas, toda deliciosa em seus perfumes naturais. O cheiro de fêmea no cio, eu saboreei com gosto. Exalava de seu corpo, da calcinha em minha mão. “Em breve, Isabela, você irá me pedir para que eu amarre as suas mãos com cordas e estique seu corpo bem esticado”. Toquei em seu ânus e ela gemeu, rebolando seu corpo como um espasmo reflexo. Quando meus dedos afundaram em sua vagina, senti que estava pronta. Muito pronta. Pingava por dentro.

Meu anjo esperou pela última chibatada. Ficou ali, empinada, sem saber nem quando nem como. Quando o chicote desceu pelo ar, não teve tempo de reagir. O couro pegou na pele vermelha das nádegas, que já haviam suportado dez golpes de raquete de ping-pong. Pela primeira vez, Isabela gemeu mais alto. Gemeu um gemido mais longo, mais sofrido. Fiquei esperando. “Dez...” – ela contou, tremendo, já sem fôlego, já completamente atordoada. Foi quando, enfim, meu pau deslizou para dentro da vagina úmida, quente e macia, suave e perfeitamente, como se tivéssemos sido feitos um para o outro.

Meu anjo quis empinar, alucinada com a sensação pela qual tanto esperava. Não posso descrever em palavras o que foi sentir-me dentro daquela garota. O calor que emanava de dentro dela parecia espalhar-se por todo meu corpo. Não havia outro lugar no universo onde eu desejava estar naquele momento. “Calma, potranca...” – murmurei, deliciando-me com a os gemidos de Isabela. “Você pode gozar...”.

Cavalguei-a por um longo tempo. Não queria gozar logo, não queria perder a sensação de estar duro, quente e dentro dela. Eu latejava por inteiro. Com as mãos em seus ombros, estoquei-a arremetendo contra o corpo que renascia das chibatadas como uma fênix renascida das cinzas. Para Isabela, não havia mais dor nem mais desconforto, só gemidos de guloso prazer, que ela tentava abafar, para não ouvirem. Eu tinha que adorar meu anjo. Era, de fato, um anjo. Meu anjo. Seu orgasmo era música angelical em meus ouvidos, nada de ganidos estridentes nem tampouco urros desesperados. Queria ouvir mais. Queria ouvi-la chegar ao ápice. Queria que subisse e descesse pela montanha russa várias vezes.

Larguei seus ombros e peguei-a pelos quadris. Ao invés de arremeter, eu é que agora a puxava para mim com movimentos cada vez mais vigorosos. Ah, era cada vez mais difícil não ceder, não explodir junto com aquela boceta que se contraía loucamente, sugando meu pau para dentro. O gemidinho abafado estava me embalando, me tirando do controle. Sentia meu anjo agora fazer pressão contra mim, querendo que eu fosse mais fundo, mais rápido, mais forte. Não, potranca! Nada disso. Agarrei-a pelos cabelos e parei bruscamente, deliciando-me com a visão de Isabela em desespero, corcoveando, resmungando. “Calma! Assim não!” – eu puxava os tufos de cabelo como rédeas e fui fazendo com que parasse. Linda, minha garota. Iria pegar caro por isso.

“Quieta!” – ordenei. Sentia o suor escorrendo pelo meu rosto. E o ar condicionado estava ligado! “Se mexer, eu saio de dentro de você!”. Pobre Isabela, parou de imediato. Ofegava loucamente agora, presa pelos cabelos e dominada. Foi quando deslizei meu pau para fora da vagina que pingava de gozo e sucos para apontá-lo em outra direção. Meu anjo não teve tempo de protestar – chegou a gemer, resmungando por causa da sensação de vazio na vagina. Mas eu já estava em seu delicado ânus, massageando a entrada com a cabeça do pênis e forçando a entrada. Meu anjo ainda não havia ainda experimentado nada assim – era uma novidade. Arriscou erguer a cabeça e olhou-me assustada. “Relaxe...”.

Encontrar uma garota como Isabela é pura magia. Ela abandona-se, entrega-se inteiramente, fazendo força para domar seu próprio medo. Disse para que relaxasse e ela, mesmo em seu pânico, obedeceu. Confiava em mim. Mesmo depois das chibatadas. Mesmo depois dos golpes de raquete. Mesmo depois que a masturbei com os dedos e com sua própria calcinha. Talvez, por causa disso tudo. Confiava em mim e estava disposta a fazer o que eu mandava. Ver Isabela entregar-se assim era a maior glória, o maior troféu. Ela era minha. Começou a abrir-se. Nada mais importava.

“Isabela... você sente?” – eu gemia entre os dentes, sentindo meu pau, todo melado da própria Isabela, avançar pelo ânus tão estreito. – “Sente eu pulsar?”. Isabela não poderia responder o que quer que fosse, estava passada de dor, com o rosto contorcido e a respiração rápida, nervosa. Seu corpo escorregava em transe. Não podia desmaiar. Com a mão espalmada, acertei-lhe a vulva com um tapa sonoro, atingindo o grelo inchado e pulsante. A dor aguda a fez reagir. “Acorda!” – dei-lhe mais um tapa, mais outro. Eu também ofegava agora, não só pelo esforço, mas porque a visão daquele anjo sacrificado era como um martelo batendo dentro de mim. Eu queria mais. Queria ir mais longe e levá-la comigo. Naquele frenesi, a cabeça do meu pênis enfim deslizou para dentro do ânus que se esticava, abria, alargava. Isabela não tinha forças mais sequer para gemer, embora conseguisse – ainda que a custo – manter-se empinada para mim. Quando comecei a estocá-la, a cabeça pendeu para frente, depois para o lado. Eu avançava no caminho que iria me enterrar dentro daquela criatura divina e vi a expressão em seu rosto – algo como um estado de transe ou alucinação. Estava transpondo o limiar da dor, totalmente entregue. Foi o que a relaxou e permitiu que eu enfim a abraçasse, com o corpo colado às suas costas.

Um Mestre olha para o seu bichinho nesse limbo entre consciência e inconsciência, entre dor e prazer, entre o tudo e o nada, e essa é a maior dádiva que poderá ter daquele ser que se colocou em suas mãos. O bichinho entregou-se, deu-se. Isabela, naquele sofá, era a mais bela imagem de sua própria alma. Estava ali, flagrante. Arfava. Mal conseguia abrir os olhos. Suava. Parecia semi morta e imortal. O cheiro que exalava de seu corpo era inebriante. “Volte, meu anjo...” – sussurrei-lhe ao ouvido. Queria vê-la voltar dos infernos, onde havia mergulhado de cabeça e braços abertos, confiante que eu a buscaria. Foi com esse desejo que comecei a mover-me, vai e vem, vai e vem, vai e vem. Devagar, aos poucos, ofegando, suando, achando que iria gozar antes, que não conseguiria trazê-la comigo, que era bom demais, que era perfeito, divino, irreal. Aquele ânus agarrava-se ao meu pau, apertava-o, sugava-o para dentro. Eu ia gozar, ia gozar, ia gozar. Fechei os olhos. Minhas bolas batiam naquela bunda perfeita, branca cremosa, em que eu ainda cravaria os meus dentes. Era eu que começava a me perder em transe. E, então, ouvi os gemidos. Os gemidos baixinhos.

Abri meus olhos e vi o sorriso iluminando o rosto que, até momentos antes, mais parecia o de uma boneca de cera. Vi o sangue corar-lhe as maçãs. Vi os olhinhos semi abertos, semi fechados, revirando-se. Vi a boquinha abrir-se, querendo mais ar. Vi as mãos agarrarem-se ao sofá, os dedos crispados, como se estivessem dragando o corpo de volta à vida. Meu anjo estava retornando do abismo. Meu anjo ofegava. Seu corpo tinha vida de novo, buscava o meu. Movia-se em meu ritmo, forçava-se contra mim. Queria que eu fosse mais fundo, mais longe. “Senhor...?” – ouvi sua voz, tão doce, quase um suspiro. “Ah? O quê?” – eu já estava quase lá, quase na beirada do mesmo abismo. “Posso... gozar...?”.

Gozamos juntos. Abracei-a com força, batendo meu corpo contra o dela, e gemi que sim. Que sim. Que sim! Explodi insanamente dentro daquela criatura, jorrando meu sêmen por suas entranhas tão quentes. Abraçado ao meu anjo, éramos como uma única massa pulsante. Até o nosso fôlego estava perdido no mesmo compasso. Senti que babava em suas costas. Senti que sua vagina também irrompia em sucos e secreções. Não resisti à vontade de tocar naquele paraíso. Minha mão escorregou no vão entre as pernas do anjo que sorria em meus braços. “Goze mais...” – ri para ela, massageando seu clitóris divino. “Quero ouvir seu gozo de novo...”.

Naquele dia, mandei Isabela de volta para sua casa. Ela queria ficar, mas dei a ordem para que fosse. Requisitei um carro da companhia para levá-la e dei-lhe um pote de ungüento, a fim de que aplicasse um bálsamo no corpo que eu torturara e adulara com tanta paixão. Lágrimas afloraram com tanta facilidade que logo irromperam pelo rosto pálido e abatido. Chorando, os olhos cor de oliva chegavam a se tornar verdes. “O que foi?” – perguntei enquanto ela enxugava as lágrimas com a palma da mão. “Não quero ir... quero ficar... com o senhor...”. “Não, nada disso. Dei-lhe uma ordem e você vai cumprir a ordem do jeito que eu dei. Estamos entendidos?”. É claro que meu anjo cumpriria uma ordem. Era o bichinho que eu adotava. Por isso, abracei-a, dizendo que tudo ficaria bem. E tudo estava mesmo bem. O universo voltava ao lugar. Isabela perguntou-me, hesitante, se eu ainda iria querê-la. Tão linda. Não percebia que estava agora dentro de uma jaula e que eu trancaria a porta, engoliria a chave e rosnaria para qualquer um que tentasse chegar perto dela.

“Claro que vou”. “Eu agradei o meu Mestre...?”. Tolinha. Adorável e tolinha. “Muito, meu bichinho”. Aquilo a fez sorrir com uma alegria zonza. Estava confusa depois do que passara em minhas mãos. Disse que viria trabalhar de saia no dia seguinte. Perguntou se deveria usar calcinha. Ora, ora... ela realmente presta atenção ao que lhe é dito. Boa garota. Irá aprender rápido. “Você vai precisar de calcinha amanhã, meu anjo. Até que seu corpo se acostume”. Beijei-a. Não costumava beijar minhas ovelhas, mas havia algo de diferente em Isabela – uma doçura que eu não via em outras das minhas criaturas. Ela pedia o beijo com os olhos, sem coragem de usar as palavras. Não precisava. “Pode pedir, Isabela”. “Um beijo... se o senhor quiser...?”. Sim, eu queria. Em mais ou menos uma hora, estaria enterrado em papel e cálculos. Estaria em vídeo conferência com Nova York e Zurique. Estaria frente a frente com o meu futuro sogro. Sim, eu queria aquela boquinha doce e meiga, que se rendia aos meus caprichos. Só de enroscar a minha língua à dela, já pensava em tudo que ainda faríamos. A minha língua nela, a dela em mim.

Dali por diante, somos Mestre e animalzinho de estimação. Tenho a chave do apartamento do meu anjo, onde apareço para vê-la sem qualquer aviso. Às vezes, entro no meio da madrugada e vou vê-la em sua cama, onde ela dorme abraçada a seus travesseiros. Cumpre minhas tarefas com diligência. Seu eu mandar que adormeça com os seios pregados, irei vê-la no dia seguinte com os biquinhos marcados. Se chegar em seu apartamento, ela estará lá, na cama, devidamente pregada. Quando viajo, levo meu bichinho comigo. Não é o que acontece? Muita gente não se desgruda de seu animal de estimação. Tenho o meu – um perfeito anjo, que me faz companhia. Que luta consigo mesma para me agradar, domando seus medos e ansiedades.

Meu anjo abraçou meu modo de vida. Não estranha as algemas, as gags, as cordas que a esticam em linha reta, perfeita, fazendo com que os dedinhos dos pés mal toquem o chão. Nem tampouco os chicotes, a palmatória, a vara de marmelo. As vendas, as velas, a cera quente. Os vibradores, os plugs, os grampos, os pregadores. Entrega-se com o desejo de me agradar e também com uma curiosidade quase pueril por todas as coisas. Às vezes, imponho minha vontade pelo simples exercício de impô-la. Meu anjo capturou meu espírito e eu a puno com meu caprichos, pois quero que se sinta tão presa a mim quanto eu me sinto preso a ela. Sempre pergunto-lhe por que não vai embora – porque eu mesmo não vou parar. E o mais curioso é que Isabela não tem a menor idéia de que a sua intensa beleza de espírito me acorrenta. Não imagina uma fração do poder que possui.

Duvido que entenda a necessidade que sinto de controlar sua mente, suas vontades, sua alma, sua cabeça, seu corpo. É uma maneira de puni-la pelo modo como chegou de mansinho e invadiu a minha vida. Quero ser a lua de suas marés. Quero marcar o ritmo de suas pulsações, ditar o momento preciso de seu orgasmo. Digo para que controle o gozo, para que não goze sem permissão simplesmente porque adoro vê-la gozando. Adoro ver o seu rosto iluminar-se com um sorriso tênue. Adoro ouvir os gemidos, os suspiros, os ruídos que abafa para que ninguém a escute. Meu anjo consegue me fazer gozar só de ouvi-la gozando. Não tenho que punir a garota por isso?

Há muitas histórias – eu poderia ficar aqui contando como Isabela, nua, acomodou um vibrador no formato de ovo dentro de sua vagina enquanto fazia ponte, tal como uma ginasta. Como deixou o ovo escorregar entre suas pernas na posição inversa, dobrada para frente, com os pés e as mãos plantados no chão, as pernas esticadas, o bumbum empinado, e a xoxota tão úmida do exercício da ponte que não teve como conter o objeto dentro de si. Ou como deixou que eu a amarrasse, amordaçasse, e a fizesse gozar intensamente com um jato forte de água gelada da mangueira. Ou de como, suspensa por correntes, ficou à minha mercê, trêmula mas entregue, para que eu a possuísse. Como eu disse, há muitas, muitas histórias. Isabela é uma musa – uma dessas mulheres que nascem com espírito de ovelha e que inspiram um Mestre. Para ela, minha criatividade e a minha disposição renovam-se a cada dia.

Por isso é que, aqui, sentado na última fileira do jatinho do Grupo, voltando de uma rodada de negócios em Berlim, quatro dias sem ver meu anjo, fico pensando na hora em que nos encontraremos. Sei que ela virá até a mim e, se eu permitir com um sorriso, pulará em meus braços, dizendo – como sempre diz – que sentiu saudades. Que sentiu a minha falta. Que ficou com medo de não me ver mais. Sei que chorará e rirá ao mesmo tempo. Que irá deixar-me tocar e explorar o corpo em que existe e que é, afinal, todo meu. Ela não tem idéia, mas... em Berlim... entre uma reunião e outra... verifiquei o saldo da minha conta. A que abri, em uma de minhas viagens a Zurique, há algum tempo atrás, e que foi alimentada com pequenas mordidas no dinheiro que meu sogro movimenta no exterior, ilegalmente, sem o conhecimento do Governo brasileiro.

É... ser o futuro genro traz algumas vantagens. Algumas portas se abrem. Durante todo esse tempo, as mordidas foram tão pequenas, tão difusas, que é altamente improvável que descubram como já juntei uma fortuna. À polícia, meu sogro não poderá me denunciar. Se é que irá conseguir montar o quebra cabeças e matar a charada. Porque, oficialmente, eu não tenho qualquer conhecimento dessas movimentações. Meu sogro não imagina que eu sei o que ele esconde debaixo de sete chaves, e que sua filha, desavisadamente, deixou escapar. Bastou que eu fizesse uma pesquisa aqui e outra ali para acabar entrando no sistema.

Meu pé de meia. Sei que precisarei ser discreto e agir com parcimônia no início. Será meu disfarce. Já sou milionário em euros, posso esperar o momento certo de começar a viver como um. Por isso, fico aqui brincando com um elástico e uma bolinha de papel em meus dedos, pensando em Laura Noiva. Não sei se me caso, e me divorcio depois, se cancelo o casamento na véspera ou se digo 'não' em alto e bom tom diante dos estupefatos convidados VIPs. Ainda não sei. Faltam dois meses e não me decidi direito. De qualquer modo, não precisarei mais trabalhar na vida. Ando com idéia de morar em Paris. Isabela combina com Paris. Ou, talvez, na Tailândia. É engraçado. Meu anjo com bolinhas tailandesas no rabinho – legítimas. Vai ser divertido.

-- FIM --

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Comentários

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Excelente... Meu sonho encontrar um Mestre para me iniciar assim... Pimentinha30.

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Amo tudo que escreve, li todos seus conto.Mais o melhor conto é o lesbian chic na minha opinião e que você deletou, queria pedir que postasse de novo ou que me mandasse, porque eu queria muito ler novamente.Por favor Se quiser me mandar meu gmail é cogumelosa@gmail.com.Beijo

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Conto muito bem escrito, meus parabéns! Nota 10.

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