Sou Flavia, e guardo comigo muitas histórias, mas a de Adriana é especial. Ela era uma jovem simples, cheia de sonhos, e talvez por isso tenha transformado tudo ao seu redor… inclusive a mim.
Adriana tinha uma presença leve, de aparência simples e natural, com um tipo físico comum, sem exageros — nem magra demais, nem cheia demais. Sua pele tem um tom intermediário, que não a colocava nem entre as mais claras, nem entre as mais morenas, e isso combina com os cabelos castanhos ondulados que ela costumava usar soltos, caindo de forma despretensiosa sobre os ombros.
Seu rosto, de beleza discreta, quase anônima, iluminava-se com facilidade quando sorria, e ela sorria muito.
Sempre chegava cedo ao trabalho, caminhava pelos corredores sem chamar atenção, como se fosse parte natural do ambiente.
Ninguém imaginava que, por trás do semblante tranquilo, seu coração acelerava toda vez que via Roberto. Nada em seu comportamento denunciava o sentimento silencioso que carregava. E justamente por isso, às vezes, quando estava sozinha, um suspiro escapava — rápido, contido — como se uma parte dela pedisse licença para existir.
Roberto é o tipo de homem cuja presença se percebe antes mesmo que ele diga uma palavra. Alto, de postura firme, carrega um porte naturalmente imponente. O tórax largo e os ombros bem definidos dão-lhe a silhueta de alguém acostumado a ocupar espaço.
Seu rosto quadrado, marcado por linhas fortes e simétricas, reforça a impressão de solidez. Os cabelos curtos, levemente ondulados, mantêm sempre um ar de arrumação despreocupada, como se ele tivesse acabado de passar a mão por eles. Mas é o olhar que mais chama atenção: penetrante, de uma sedução silenciosa.
Adriana não resistira ao encanto — mas o limite era claro: ele era casado. E isso bastava para que mantivesse sua paixão guardada sob uma muralha silenciosa.
No escritório, ninguém desconfiava. Roberto a tratava com a mesma cordialidade natural que dedicava a todos, e Adriana fazia questão de preservar isso. Ainda assim, havia momentos — breves demais para serem reais — em que ela se perguntava se ele notava algo a mais.
Às vezes, coincidentemente, eles almoçavam no mesmo horário no pequeno refeitório da empresa. Era um lugar simples, de mesas de fórmica e cadeiras que rangiam, mas para ela tinha um encanto discreto quando Roberto estava ali. Ele sempre tinha uma história espirituosa, um comentário inteligente, uma curiosidade nova.
Adriana ria, sincera, mas comedida. Mantinha o olhar no prato quando temia demonstrar demais. Cuidava do tom da voz, do tempo das conversas. Evitava qualquer coisa que parecesse intimidade — o limite era uma linha vermelha inviolável.
Com o tempo, porém, surgiram murmúrios pelos corredores. Nada explícito: apenas aqueles sussurros que ninguém assume, mas que se espalham. Diziam que o casamento de Roberto não ia bem. Que ele parecia mais cansado, mais calado em alguns dias. Que fotos antigas haviam desaparecido das redes sociais.
Adriana ouvia tudo com neutralidade treinada, embora o coração se agitasse. Não queria alimentar suposições. Nem permitir que a imaginação vagasse por caminhos perigosos.
Até que, certa manhã, enquanto organizava relatórios, Viviane — sempre antenada — comentou como quem fala do clima:
— Você soube? O Roberto se separou. Parece que foi recente.
A frase atingiu Adriana como um trovão. Ela respirou fundo antes de responder, mantendo o rosto perfeitamente neutro.
— É mesmo?
Viviane seguiu falando de outro assunto, sem notar o terremoto silencioso que deixara atrás de si.
Adriana permaneceu parada por alguns instantes, tentando entender o que aquilo significava — se é que significava algo. Só sabia que uma fresta inesperada parecia ter-se aberto dentro dela.
Na hora do almoço, decidiu ir ao refeitório mais cedo. Mas, ao entrar, encontrou Roberto já sentado, distraído com o celular. Ele ergueu o rosto e sorriu.
— Oi, Adriana! — disse, apontando para a cadeira à frente. — Me faz companhia?
Ela hesitou por uma fração de segundo, o suficiente para recuperar o controle. Depois sorriu.
— Claro.
Quando se sentou, a conversa seguiu com a naturalidade de sempre. Roberto falava leve, descontraído, mas Adriana percebia algo novo — talvez um cansaço nas entrelinhas.
O assunto da separação vibrava dentro dela. Por fim, incapaz de segurar, deixou escapar:
— Roberto… é verdade que você se separou?
Assim que a pergunta saiu, ela se arrependeu. Mas Roberto recostou-se, soltou um suspiro e assentiu.
— É. Foi melhor assim.
Havia uma rigidez estranha em sua expressão, algo entre mágoa e irritação.
— A gente já vinha se desencontrando faz tempo — continuou, com um meio sorriso cansado. — Não estava funcionando.
Adriana ouviu em silêncio. Não sabia se deveria comentar, consolar, ou apenas estar ali.
— Você não está triste? — perguntou com cautela.
Roberto deu uma pequena risada — curta demais, quase defensiva.
— Triste… não exatamente. Às vezes é um alívio perceber que tomou a decisão certa. Não sei onde tava com a cabeça quando me casei com ela ...
Adriana notou que ele desviou o olhar ao dizer isso. Eles conversaram mais um pouco. Aos poucos, o tom dele ficou mais leve, quase eufórico ao falar do futuro.
— Agora que ganhei minha carta de alforria, quero aproveitar essa fase nova — disse. — Sair, me divertir, fazer minhas próprias escolhas. Curtir a solteirice
A frase soou natural, mas algo nela tocou Adriana de modo estranho. Não era ciúme — era um desconforto sutil, como se a imagem idealizada que guardava dele ganhasse contornos mais complexos.
Então ela perguntou:
— Você tem filhos?
Roberto riu, num gesto rápido de nervosismo, e bateu três vezes na mesa, como se fosse superstição.
— Não. Ainda bem. Criança não é pra mim.
O tom não era agressivo — mas era firme, impaciente. Adriana não esperava aquilo. Não porque desejasse filhos naquele momento, mas porque aquele Roberto não combinava com o homem gentil que ela sempre vira.
Ela ficou em silêncio, digerindo.
Logo depois, Roberto olhou o relógio e murmurou:
— Está quase na hora.
Antes de se levantar, porém, tocou a mão de Adriana. Primeiro de leve, depois um pequeno carinho com o polegar.
O mundo dela parou.
Quando ergueu os olhos, encontrou o olhar dele:
— Agora posso falar isso sem culpa… — começou ele, num tom baixo. — Sempre te admirei, Adriana.
Ela prendeu a respiração.
— Você é encantadora. E, sinceramente… a mulher mais bonita da empresa.
A frase a atingiu de forma profunda, quente, confusa. Era tudo o que ela sonhara.
Roberto então se inclinou um pouco.
— O que acha de a gente sair depois do expediente? Podemos… nos conhecer melhor.
A intenção era clara.
Era Roberto. O homem por quem ela nutrira um amor silencioso.
Antes que pudesse organizar os próprios pensamentos, ouviu sua voz responder:
— Eu… posso, sim.
Roberto sorriu, satisfeito.
— Perfeito. Te encontro na saída.
Tocou de leve o ombro dela e saiu.
Ela permaneceu ali, imóvel por alguns instantes. Não sabia se o que sentia era felicidade, medo, esperança… ou um aviso silencioso de que estava entrando num território desconhecido
O relógio finalmente marcou o fim do expediente. Adriana respirou fundo antes de descer para a portaria, sentindo o coração bater com um misto de ansiedade e incredulidade. Roberto a aguardava encostado na parede, mãos nos bolsos, postura relaxada. Quando a viu, abriu um sorriso lento, quase deliberado — como se a cena já estivesse escrita.
— Pronta? — perguntou.
Ela assentiu.
Saíram juntos, e Roberto a guiou para um barzinho, um lugar aconchegante, iluminado com música ao vivo. O som era leve, acolhedor, quase íntimo.
Assim que se sentaram, Roberto puxou a cadeira para ela — gesto simples, mas que fez seu corpo inteiro reagir. Ele parecia mais solto que no trabalho: abriu a camisa em um botão, apoiou o braço no encosto da cadeira dela, inclinou-se de modo que seus ombros quase se tocavam.
Conversaram sobre coisas triviais no começo, mas em determinado momento, Roberto colocou a mão sobre o encosto da cadeira dela, os dedos roçando-lhe a nuca quase sem querer.
Quase.
Adriana sentiu um arrepio subir pela espinha.
Ele percebeu — claro que percebeu — e aproximou-se mais um pouco, dizendo algo sobre a música, mas em voz baixa demais, próxima demais.
O cheiro dele, o calor do corpo dele, tudo parecia puxá-la para um lugar do qual ela não queria escapar.
Mas então, como um flash incômodo, a lembrança da conversa no refeitório voltou inteira:
“Quero aproveitar a solteirice. Me divertir.”
E aquilo queimou dentro dela como um alerta.
Adriana respirou fundo e recuou um pouco, sem fazer alarde. Apenas o suficiente para criar um espaço mínimo entre os dois. Roberto ergueu as sobrancelhas, ligeiramente surpreso — não por irritação, mas por curiosidade.
— Está tudo bem? — perguntou, com um sorriso leve.
— Está, sim — ela respondeu, tentando manter a voz firme. — Só… é muita informação pra um dia só.
Ele riu, inclinando-se novamente, mas não avançou.
— Imagino. — Seus dedos tocaram os dela sobre a mesa, apenas um toque breve, quase um pedido. — Mas eu gosto de estar aqui com você.
Adriana sentiu o corpo inteiro responder ao gesto. Ela o desejava — desejava como nunca havia desejado alguém — mas também havia um alerta, lembrando-a de que ele não procurava o mesmo que ela buscava no fundo do coração.
A noite avançou. Eles conversaram, riram, dividiram uma porção de petiscos. Em alguns momentos, Roberto tentava de novo aproximar-se: uma mão que pousava no joelho dela, um dedo que descia pelo braço, um toque demorado em sua cintura quando ele se inclinava para falar ao ouvido.
E, todas as vezes, Adriana recuava com delicadeza. Não o afastava — apenas não avançava.
Não queria ser uma passagem rápida na nova vida dele.
Não queria ser “mais uma”.
Queria ser vista.
Queria ser escolhida.
E temia que, se cedesse fácil demais, se entregasse ao calor do momento, ele a encaixasse exatamente no papel que dissera estar buscando: diversão. Leveza. Nada sério.
Mas o desejo… o desejo era um animal vivo dentro dela.
Quase no final da noite, enquanto a cantora afinava a última canção, Roberto se aproximou devagar, como quem não quer assustar. Seu rosto parou a poucos centímetros do dela.
— Posso? — murmurou.
Adriana hesitou. Um segundo. Dois. Era como se o tempo tivesse parado para que ela escolhesse entre o sonho e o medo.
E então ela cedeu — devagar, como quem desliza em um abismo escolhido.
O beijo aconteceu no meio daquela música suave, delicado no começo, depois mais firme, mais quente, mais cheio de tudo o que ela tentara conter a noite inteira. O mundo desapareceu ali: o bar, as luzes, as mesas ao redor. Só havia ele. Só havia aquele toque que ela esperara por tanto tempo .
Quando se afastaram, Roberto sorriu daquele jeito que fazia o peito dela estremecer.
— O que acha de a gente esticar a noite? — perguntou, com a voz baixa, convidativa. — Ir para um lugar mais… aconchegante?
O coração de Adriana disparou. Ela quis. Deus, como ela quis. Por um instante, imaginou o que seria ir com ele, sentir aquele toque sem interrupções, sem resistências.
Mas então a frase voltou — cortante:
“Quero aproveitar a solteirice, sair, me divertir de verdade.”
E a realidade se impôs: “Ele só quer me comer e nada mais” – pensou ela
Ela respirou fundo, tentando sorrir.
— Eu… acho melhor não.
Roberto pareceu surpreso, mas não irritado. Apenas observou-a por alguns segundos, como se tentasse decifrá-la.
— Tudo bem — disse, por fim. — Tem tempo pra tudo.
Quando saíram do bar, já eram 22h30. O ar da noite estava morno, e a rua tinha aquele silêncio típico de bairro, com alguns grupos risonhos passando, carros dispersos.
— Eu te levo — ofereceu Roberto, com naturalidade.
Adriana sorriu, apertando a bolsa contra o corpo.
— Não precisa. Vou de ônibus.
— Tem certeza?
Ela assentiu.
Havia nele um brilho curioso nos olhos — talvez confuso, talvez admirado pela resistência dela — mas não insistiu. Apenas sorriu, aproximou-se um pouco demais e depositou um último beijo curto em seus lábios.
— Boa noite, Adriana.
— Boa noite, Roberto.
Ela caminhou até o ponto de ônibus com as pernas leves, quase flutuando. Dentro do ônibus, encostou a cabeça na janela e deixou que a alegria tomasse conta.
Estava encantada. Deslumbrada. Era como se tivesse vivido um sonho.
Estava com a bucetinha bem molhadinha depois do beijo e dos toques dele.
Mas, por trás da euforia, uma frase insistia em ecoar como um tambor distante:
“Quero aproveitar a solteirice.”
E, embora estivesse nas nuvens, algo nela permanecia alerta — uma mistura de esperança e pressentimento de que aquela história, tão sonhada, talvez viesse a cobrar um preço.
As semanas seguintes pareceram deslizar como uma sequência de pequenos encantos. Adriana e Roberto passaram a sair com frequência — às vezes para um bar aconchegante, outras para caminhar pela orla depois do trabalho, ou simplesmente tomar um café em silêncio confortável. A naturalidade com que ele buscava sua companhia dava a Adriana a sensação de estar, enfim, vivendo algo real.
E, a cada encontro, os gestos de Roberto tornavam-se mais ousados — mas não invasivos. Ele sabia se aproximar com uma espécie de precisão instintiva: a mão que descia pela cintura enquanto conversavam, os dedos que brincavam com a mecha de cabelo dela, o abraço que demorava um segundo a mais. Adriana, que no início recuava, começou a ceder. Primeiro apenas permitindo o toque; depois, respondendo; e, por fim, buscando-o também, com uma vontade doce, quase juvenil.
O desejo se misturava com algo mais profundo — um afeto crescente, uma esperança que nascia antes mesmo de ela perceber.
Os beijos se tornaram mais intensos. As mãos dele passaram a tocar seus seios, apalpar sua bunda, acariciar sua vagina por cima da roupa.
As despedidas, cada vez mais difíceis. E, embora a frase sobre “aproveitar a solteirice” ainda ecoasse às vezes, Roberto não parecia agir como alguém interessado apenas em diversão. Ele a buscava, mandava mensagens, ria com ela, compartilhava detalhes do dia. Criava intimidade. Criava rotina.
Criava expectativa.
Até que, numa noite de sábado Roberto parou o carro em frente a um motel elegante — era discreto, moderno, com iluminação suave e fachada quase de hotel boutique.
Ele tocou a mão de Adriana, entrelaçando os dedos com cuidado.
— Se você não quiser… a gente vai embora. — Sua voz era baixa, sincera. — Mas eu queria estar com você por inteiro hoje.
O coração dela disparou. Adriana sabia que desejava aquilo havia semanas — talvez meses.
Ela respirou fundo.
— Eu quero — disse.
O sorriso de Roberto foi suave, quase agradecido, enquanto seguia para a entrada.
A porta do quarto se fechou atrás deles, abafando o mundo lá fora. A luz baixa envolvia tudo em um tom quente, os lençóis claros e a fragrância de flores criavam um ambiente íntimo, irresistível.
Roberto deixou a chave sobre a bancada e a olhou daquele jeito que sempre desmontava suas defesas, um olhar que tocava nela antes mesmo que suas mãos chegassem perto. O corpo dela reagia antes do pensamento.
Ela respirou fundo. Será que ele só quer me ter? E depois… nada?
Mas nunca se sentira tão desejada. Tão escolhida.
— Tá tudo bem? — ele perguntou, aproximando-se devagar, como se pedisse permissão.
Adriana assentiu, apesar da confusão dentro dela.
— Tô… só nervosa.
Ele a puxou para os braços e a beijou.
Sem pensar, movida por um impulso quente, ela tirou a camisa dele.
Quando o tecido caiu no chão, seu peito se apertou. Não era só o corpo dele — era ele inteiro, que ela queria.
È verdade que o desejo crescia, pulsante, afastando um pouco do medo… mas não totalmente.
E se para ele fosse só mais uma noite?
Quando seus olhos percorreram o corpo dele — exposto, entregue — algo dentro dela cedeu. O desejo tomou conta com uma força que já não pedia licença.
Ela levantou a barra da própria blusa e a deixou escorregar pelos braços. A pele arrepiou ao contato com o ar. Era entrega. Uma entrega verdadeira.
Roberto a fitou com intensidade.
— Você é linda — disse, não havia dúvida nenhuma na voz.
As palavras atingiram o ponto exato onde ela sempre temeu não ser suficiente. E, naquele instante, o medo se dissolveu.
Adriana deixou de resistir e se rendeu — a ele, ao toque, ao desejo que já não conseguia esconder.
Deitada nua , na cama, viu Roberto se aproximar, sem dizer nada, e se deitar sobre ela, apenas passando os braços ao redor de seu corpo. As mãos grandes passando suavemente por suas costas, num abraço firme, quente, estável.
Adriana soltou o ar que nem tinha percebido estar prendendo, encostando a cabeça no ombro dele. Sentiu o ritmo tranquilo da respiração de Roberto e o calor do peito dele contra seus seios.
Quando seu pênis invadiu sua buceta, somente fechou os olhos e aproveitou o momento. Ele a abraçava com ternura, e isso a fazia relaxar, permitir-se confiar.
Começou lentamente, com carinho. Mas então o corpo de Roberto começou a se transformar numa máquina de repetição, rápida e selvagem.
A penetração se tornou cada vez mais vigorosa e bruta.
Sentiu como se a vagina estivesse pegando fogo por dentro, e seu corpo inteiro vibrando com o movimento de penetração.
A delicadeza deu lugar a uma intensidade repentina, quase brusca. Adriana percebeu que o ritmo agora era muito mais acelerado, muito mais urgente.
A mudança provoca respostas físicas — o prazer sexual aumentava — mas, ao mesmo tempo, isso despertou uma inquietação que cresceu rápido dentro dela.
A dúvida chegou como um pensamento que ela tentava empurrar para longe, mas não conseguia:
“Ele ainda está comigo… ou só está apenas se satisfazendo?”
Ambos gozaram, mas o receio permaneceu “ Será que ele é um daqueles homens que colocam suas vontades acima de tudo, sem perceber ou considerar o que a parceira sente?”
Roberto se afastou apenas o suficiente para recuperar o fôlego. Respirou fundo, o peito subindo e descendo rapidamente, como se precisasse de alguns segundos para voltar ao próprio eixo. Seus olhos, porém, permaneceram fixos em Adriana — não com urgência, mas com algo mais suave.
Ele passou a mão pelos próprios cabelos, ainda tentando se recompor, e soltou um pequeno sorriso, meio tímido, meio encantado.
— Adriana… você é incrível.
As palavras sairam baixas, sinceras, ainda entrecortadas pela respiração que aos poucos retornavam ao ritmo normal. Ela percebeu que o tom dele mudou; não havia mais aquela pressa intensa, nem o ímpeto que antes a deixou dividida. O que restava agora era algo mais calmo, mais cuidadoso.
Quando Roberto finalmente recuperou o fôlego, ele se aproximou outra vez — mas desta vez com a mesma delicadeza do início. O toque dele voltou a ser gentil, atento, como se estivesse consciente do efeito que cada gesto causava nela. Havia um carinho renovado, quase como uma tentativa silenciosa de dizer: “Eu estou aqui. Com você, não apenas no momento.”
Essa mudança sutil, esse retorno à ternura, fez Adriana respirar um pouco melhor. Não dissipou todas as dúvidas que surgiram, mas criou um contraste suficiente para que ela se permitisse se entregar novamente.
Ela se aproximou devagar, como se estivesse descobrindo um território que queria explorar com calma.
Cada linha do corpo de Roberto parecia convidar ao toque, não por provocação, mas por vontade genuína de oferecer carinho, de conhecê-lo com as mãos e com a boca...
Começou com beijos suaves no ombro dele, deslizando a boca pela pele quente, enquanto suas mãos percorriam os braços fortes, sentindo cada músculo se mover sob seu toque. Roberto respirou fundo, cedendo ao carinho.
Os dedos dela continuaram a explorar: o contorno do braço, o antebraço, o caminho até o peito, onde ela apenas acariciou de leve, sentindo a tensão e o relaxamento alternando, conforme seus gestos avançavam.
Mas quando Adriana começou a descer, aproximando-se da virilha, percebeu algo diferente.
Roberto se remexeu. Primeiro um movimento quase imperceptível… depois outro, mais nítido. Ela sabia. Obviamente ali era o ponto que mais lhe dava prazer.
E, sabendo disso, deixou escapar um sorriso pequeno e travesso.
Como se fosse sem querer, ela deixava a boca chegar perto… muito perto… do pau, e então desviava no último instante, espalhando beijos ao redor, apenas o suficiente para deixá-lo sem saber quando o toque viria.
Roberto reagia a cada aproximação: o peito subia e descia mais rápido, os músculos se contraíam, um suspiro escapava antes que ele conseguisse conter.
Adriana adorava vê-lo assim.
Depois de provocá-lo até sentir o corpo dele estremecer de expectativa, decidiu finalmente ceder.
Começou a acariciar o pau dele devagar, com um carinho quase reverente. O toque foi leve, mas Roberto reagiu como se fosse muito mais intenso — o corpo arqueou um pouco, a respiração falhou por um segundo.
Ela ergueu o rosto para olhar para ele.
A expressão dele dizia tudo: olhos semicerrados, a boca entreaberta, o rosto vulnerável de um homem completamente entregue ao momento.
E foi essa entrega que a fez continuar. Adriana inclinou o rosto e depositou beijos na cabeça do pau, carinhosos, lentos, quase como se estivesse acariciando com a boca.
Roberto gemeu baixinho — a sensibilidade estava exposta.
Adriana o observou enquanto beijava, fascinada por cada detalhe da expressão dele.
Disposta a dar a ele o máximo e prazer , Adriana envolveu todo o seu membro com a boca, de forma bem gulosa.
Começou a sugar com tanta gana que alguns sons escapavam involuntariamente.
Num ritmo frenético, cada chupada, cada lambida era intensa, quase desesperada.
Enquanto chupava, Adriana percebeu a onda de prazer no corpo dele, sabia que estava prestes a gozar!
Ela fechou os olhos e suspirou, relaxou e esperou o liquido quente que invadiu a sua boca. Tão intenso que escorreu por seu queixo.
Continuou chupando, sugando gostoso ... O barulho da sucção, o sorriso involuntário e os pequenos respingos deixavam claro a intensidade do momento.
Após aquele momento intenso, enquanto recuperavam o fôlego, Adriana e Roberto começaram a perceber melhor o quarto ao redor. Levantaram-se devagar e exploraram o espaço: a piscina iluminada, a sauna de vidro, a banheira ainda silenciosa no canto. Entre risos leves, decidiram pedir o jantar — e, por insistência de Adriana, uma sobremesa de sorvete.
Quando a mesa foi arrumada, os dois se sentaram, aproveitaram a refeição em um clima tranquilo e, ao final, aproximaram-se da bandeja com o sorvete.
Os dois jantando nus, Adriana sentada em seu colo, Roberto pegou a colher, olhando para ela com aquele sorriso, e ofereceu uma pequena porção do sorvete diretamente à boca dela.
Adriana abriu a boca com leveza e sorveu o sorvete, mas, na pressa ou na diversão do momento, um pequeno pedaço acabou caindo sobre seu seio:
— Agora vou ter de limpar! — disse ele, com aquele tom provocador.
Sem esperar, ele se inclinou e depositou um beijo suave no seio dela, limpando o sorvete com a boca de maneira cuidadosa. Adriana sentiu o toque quente dele, a proximidade e o carinho naquele gesto simples.
Adriana, ainda segurando a casquinha de sorvete, sorriu maliciosamente para Roberto. Com um gesto brincalhão, pegou um pouco do sorvete e, deliberadamente, deixou escorrer um pedacinho sobre o outro seio:
— Nossa… me sujei de novo.
Roberto entendeu imediatamente a provocação. Sem perder tempo, inclinou-se e depositou um novo beijo suave no outro seio de Adriana, limpando delicadamente o sorvete com a boca.
Adriana repetiu a brincadeira, só que desta vez colocou o sorvete na vagina.
Roberto mais uma vez foi limpá-la ...
O sorvete deixava de ser apenas sobremesa: era uma experiência sensorial completa, um jogo de frio e calor, doçura e afeto, brincadeira e proximidade, que fez com que Adriana gozasse muito.
Por último colocou sorvete na entrada do cu ...
Depois de várias lambidas, gemidos e risadas, Adriana e Roberto se recostaram um no outro, ainda segurando a casquinha quase vazia. Ambos respiravam devagar, sorrindo, com os lábios ainda manchados de chocolate e o calor da proximidade se espalhando pelo peito.
— Acho que nunca comi um sorvete tão… incrível — disse Adriana, rindo baixinho, apoiando a cabeça no ombro de Roberto.
Ele sorriu de volta, passando a mão pelos cabelos dela com carinho:
— Nem eu… acho que foi o melhor sorvete da minha vida — completou, olhando para ela com ternura.
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Depois daquela noite, algo mudou. Eles continuaram saindo, mas agora o vínculo era mais profundo. No domingo, algumas semanas depois, ele a convidou para almoçar na casa da família. Adriana demorou a acreditar. Era cedo demais? Seria aquilo um sinal? Uma promessa?
Mas Roberto apenas sorriu, tranquilo:
— Eles vão gostar de você. Vem comigo.
O almoço foi agradável. A família dele era calorosa, barulhenta.
Roberto permaneceu ao seu lado quase o tempo todo, tocando-lhe a mão discretamente sob a mesa, sorrindo para ela de vez em quando, como se orgulhoso de tê-la ali.
Mas havia algo que não passou despercebido por Adriana.
Quando a mãe dele perguntou, com naturalidade:
— E vocês estão juntos há quanto tempo?
Roberto riu e respondeu:
— Ah, a gente está saindo.
Só isso.
Sem a palavra “namorada”.
Sem nenhuma definição.
Adriana sorriu por educação, mas sentiu o coração apertar.
Era feliz ali. Muito feliz.
Mas a mesma frase de semanas atrás ainda martelava em algum canto da memória:
“Quero aproveitar a solteirice.”
E apesar de tudo… apesar do beijo, do motel, da família, dos carinhos… ela não tinha certeza se Roberto continuava pensando assim.
Ou se ela corria o risco de amar um homem que ainda não sabia o que queria.
Os dias seguintes ao almoço foram tranquilos para Adriana. A rotina no trabalho, os encontros com Roberto, as mensagens trocadas à noite… tudo seguia um fluxo quase suave demais. Mas, dentro dela, algo começou a mudar.
Primeiro veio um cansaço estranho, uma sonolência que não combinava com seu ritmo habitual. Depois, pequenos enjoos ao acordar. Atrasos no ciclo. Uma sensibilidade maior nos seios. Um aperto inexplicável no estômago que ia e voltava.
Ela tentou ignorar. Tentou justificar com estresse, alimentação, ansiedade. Mas era impossível negar a matemática silenciosa que se formava na cabeça.
Comprou um teste de gravidez.
Chegou em casa quase sem respirar, abriu a embalagem com mãos frias, fez o que precisava fazer… e o resultado apareceu rápido demais.
Positivo.
O chão pareceu ceder debaixo dela. Sentiu um calor subir pelo rosto, uma mistura de alegria, medo, confusão e incredulidade. Era uma avalanche de sentimentos.
Mas então se lembrou da frase dele — dura, clara, inconfundível:
“Ainda bem que não tenho filhos. Criança não é pra mim.”
Seu coração afundou.
Fez outro teste.
Depois outro, de outra marca.
Depois mais um, só para confirmar aquilo que já sabia.
Todos positivos.
Adriana passou a noite acordada, sentada na beira da cama, abraçando as pernas, balançando levemente como quem tenta acalmar a própria tempestade. O que faria? Como contaria? O que ele diria?
Quando decidiu falar, esperou um dia em que estivessem a sós.
Ele chegou sorrindo, sem imaginar nada. Mas o sorriso se desfez quando viu o rosto dela — os olhos vermelhos, o ar aflito, a respiração curta.
— Adriana…? O que houve?
Ela demorou alguns segundos até conseguir começar. As mãos tremiam tanto que precisou enfiá-las no bolso.
— Roberto… eu… eu acho que estou grávida.
Roberto ficou imóvel, como se tivesse levado um golpe no peito. Os olhos se arregalaram, depois piscaram rápido — surpresa, medo, negação, tudo misturado.
— O quê? — Sua voz saiu rouca. — Mas… como assim?
Ela tentou manter a calma, mas a pergunta a atravessou.
— Eu fiz quatro testes… todos deram positivo.
Roberto passou a mão no cabelo, depois no rosto, caminhou dois passos para longe e voltou. Ele parecia perdido dentro de si mesmo.
— Mas… mas como isso aconteceu, Adriana? — perguntou, a voz mais alta que o necessário. — A gente sempre se cuidou!
— “Como aconteceu?” — repetiu ela, sentindo algo arder no peito. — Você sabe muito bem como uma gravidez acontece, Roberto.
Ele abriu as mãos num gesto aflito, quase agressivo de tão desesperado.
— Mas você… você não se protege? Não toma nada?
Adriana sentiu o mundo girar. A culpa que ele lançava, mesmo sem perceber, foi como uma lâmina fria. As lágrimas surgiram antes que pudesse segurar.
— Eu… nunca tomei nada — A voz dela falhou. — Mas você usava camisinha… eu achei que… achei que estava tudo certo.
Roberto fechou os olhos, respirou fundo, nervoso, tenso. Por um instante, ele pareceu prestes a dizer algo duro — algo que ela temia ouvir mais do que tudo.
E então a dor veio — não física, mas emocional.
— Eu não fiz isso sozinha, Roberto — murmurou ela, agora chorando abertamente. — Não joga isso em mim. Eu não fiz isso sozinha…
Ele congelou. O choro dela o desmontou completamente. Roberto pareceu recuperar o ar, como se percebesse apenas naquele momento o quanto ele estava sendo duro.
Adriana, engolindo soluços, baixou a cabeça.
— Se você não quiser assumir… não precisa. Eu vou criar essa criança sozinha. — Limpou as lágrimas, tentando parecer forte, mas a voz tremia. — Não quero nada seu. Nem obrigação, nem presença. Nada. Fica tranquilo.
Aquelas palavras atingiram Roberto de um jeito que ele não esperava. A expressão dele mudou — o susto deu lugar a um silêncio pesado, reflexivo. Ele respirou fundo, depois se aproximou devagar, com cautela, como se a própria aproximação pudesse desmoronar ainda mais ela.
— Adriana… — disse, mais baixo. — Olha pra mim.
Ela levantou os olhos, ainda marejados.
Roberto passou a mão no rosto, respirou de novo, como quem tenta se recompor.
— Eu posso ter me assustado, tá? — começou ele, sem disfarçar o tremor na voz. — Mas eu sou homem. E eu vou assumir esse filho. Não vou fugir. Não faz isso com você… nem comigo.
O tom era sério, firme — mas havia medo misturado, um medo que ele não conseguia esconder. Não era alegria. Não era exatamente aceitação. Mas era responsabilidade. Era compromisso. Era o que ele conseguia dar naquele instante.
Adriana não sabia se acreditava, se confiava, se podia relaxar. Só sabia que o peso da decisão dele — mesmo atravessado pelo susto — tirou um pouco da dor que apertava seu peito.
— Vamos conversar com calma — continuou Roberto. — Isso muda tudo… mas a gente vai dar um jeito. Eu tô aqui. Não vou sumir.
Adriana fechou os olhos e soltou um suspiro tremido, sem saber se aquilo era consolo, promessa ou apenas um alívio temporário.
Mas era alguma coisa.
E, naquele momento, era tudo o que ela tinha forças para receber.
Os dias seguintes foram estranhos para Adriana. Havia momentos em que Roberto parecia mais presente, mandava mensagens perguntando se ela tinha comido, se estava se sentindo bem, se precisava de algo. Em outros, ele ficava em silêncio por horas, perdido em pensamentos que ela não conseguia decifrar.
Ainda assim, ele não a evitou.
E quando chegou o dia do encontro de família — aquele encontro que já estava marcado desde antes de tudo — Roberto insistiu:
— Vamos juntos. — disse, firme.
— Tem certeza? — ela perguntou, insegura.
— Tenho. Você é parte disso também.
Adriana respirou fundo, tentando controlar o turbilhão dentro do peito. A barriga ainda não mostrava nada, mas ela já se sentia diferente, mais sensível.
A casa da família de Roberto estava cheia. Risos, cheiro de comida, crianças correndo, parentes conversando alto. Adriana sentiu um frio na barriga ao entrar. A mãe de Roberto a cumprimentou com afeto, a irmã sorriu largo — todos pareciam genuinamente felizes em vê-la de novo.
Mas não sabiam de nada.
Ainda.
Roberto segurou sua mão discretamente, e o gesto fez algo dentro dela aquietar por um instante.
Depois do almoço, quando todos estavam na sala, ele pigarreou. O ruído foi suficiente para atrair os olhares.
Adriana gelou.
— Eu… preciso contar uma coisa importante — começou ele, passando a mão no cabelo, nervoso. — Aliás, nós precisamos.
Roberto engoliu seco e apertou a mão dela com força.
— A Adriana… está grávida.
O silêncio caiu como um lençol sobre a sala.
Os olhos se arregalaram quase em uníssono. A mãe de Roberto levou a mão à boca, surpresa. A irmã sorriu — agora ainda mais. O pai franziu a testa, mas não pareceu indignado, apenas surpreso.
E Adriana, no meio de tudo, não sabia onde enfiar o próprio corpo. Sentia o coração bater no pescoço.
Mas antes que pudesse tentar analisar as reações, Roberto continuou — e não apenas continuou, como disse algo que fez o mundo de Adriana parar:
— E… nós vamos casar.
Ela virou-se para ele tão rápido que mal lembrou de respirar.
A família explodiu em exclamações — umas felizes, outras chocadas.
Mas Adriana não ouviu nada.
Um zumbido tomou seus ouvidos, como se estivesse debaixo d’água.
Casar?
Ela não sabia se estava pálida ou vermelha. Não sabia se sorria ou chorava. Simplesmente ficou ali, atônita, enquanto Roberto recebia abraços, tapinhas nas costas, felicitações atropeladas. A mãe dele abraçou Adriana com força, emocionada.
— Minha querida… parabéns! Que bênção, meu Deus!
Adriana tentou sorrir, mas o gesto saiu fraco, quase automático.
Por dentro, ela estava completamente perdida.
Quando finalmente conseguiram alguns minutos a sós no quintal, ela fechou a porta atrás de si e encarou Roberto com olhos arregalados.
— Roberto… casar? Assim, do nada? Você nem… nem conversou comigo…
Ele parecia tão nervoso quanto ela — mas tentava manter a expressão firme.
— Eu sei — admitiu, passando as mãos no rosto. — Sei que devia ter falado antes. Mas eu pensei muito. Não quero que você faça isso sozinha. Não quero seguir como se nada tivesse acontecido. Se vai nascer um filho nosso, eu quero fazer o que é certo.
Ela sentiu o peito apertar.
“Fazer o que é certo.”
Não era exatamente uma declaração de amor.
Mas também não era covardia.
Roberto respirou fundo e tocou o rosto dela com cuidado.
— Eu sei que te assustei quando falei que não queria ter filhos. Mas… as coisas mudaram. Aconteceu. E eu não vou fugir. Eu vou assumir. E… se você quiser, eu quero tentar construir uma família com você.
Ele falava com sinceridade — mas havia medo nos olhos. Muito medo.
Adriana também estava com medo. Mais do que nunca.
Mas ali, naquele quintal iluminado pela luz suave da tarde, algo dentro dela começou a se acender — uma esperança tímida, incerta, uma pontinha de fé em algo que talvez desse certo.
Ou que talvez machucasse muito.
Ela respirou fundo, sentiu que a vida estava prestes a mudar de um jeito que ela ainda não conseguia entender — só sabia que nada seria igual.
Nem ela.
Nem ele.
Nem o que estavam construindo.
Os dias seguintes foram de uma estranha euforia silenciosa.
Roberto parecia genuinamente animado — mais do que Adriana imaginara possível. Em mensagens rápidas entre um intervalo e outro no trabalho, ele pesquisava móveis, mandava fotos de berços, perguntava a opinião dela sobre roupinhas neutras, sobre cores para o quarto.
— Você prefere verde clarinho ou bege? — ele perguntou uma tarde, segurando um catálogo de enxoval enquanto caminhavam pelo corredor de uma loja infantil.
Adriana sorriu, tímida.
— Qualquer um fica bonito…
— Então a gente escolhe juntos — disse ele, tocando a mão dela com carinho.
Era estranho… mas doce.
Como se, pouco a pouco, uma nova versão de Roberto estivesse surgindo.
Mais presente.
Mais comprometida.
Mais… deles.
Até que, num sábado, enquanto viam berços numa loja ampla, iluminada por luz natural, Adriana sentiu algo dentro do corpo dobrar, como se uma mão invisível tivesse apertado seu ventre com força.
Ela levou a mão à barriga e empalideceu.
— O que foi? — Roberto perguntou, aproximando-se rápido.
— Eu… acho que… — Adriana tentou dizer, mas a dor veio novamente, mais forte, cortante, quase paralisante.
Roberto a segurou antes que ela caísse.
Minutos depois, no banheiro da loja, ela viu o sangue.
E seu coração quase parou.
— Roberto… — disse, com a voz trêmula, — eu… estou sangrando…
Ele não hesitou. A abraçou firme, a conduziu até o carro e dirigiu para a emergência com uma urgência que beirava o desespero. Não falava nada, só apertava o volante, a mandíbula travada.
Adriana, com as mãos apoiadas no baixo ventre, tentava não entrar em pânico — mas já sabia.
No fundo, já sabia.
Ela foi examinada, medicada, levada para observação. Roberto ficou do lado de fora, porque era o que permitiam. Ele caminhava pelo corredor como quem tenta espantar pensamentos sombrios.
Quando finalmente autorizada a vê-la, Adriana estava pálida, com os olhos vermelhos de tanto chorar.
E o médico ainda estava no quarto, explicando com voz calma:
— Você está fora de perigo. Foi um aborto espontâneo, infelizmente. Mas está estável, e vamos observá-la só mais. Seu corpo vai se recuperar bem.
Adriana ouviu as palavras como se viessem de muito longe.
Assentiu devagar, mas não absorveu nada.
Quando o médico saiu, Roberto fechou a porta atrás de si e se aproximou devagar, como quem teme quebrá-la.
— Adri… — sua voz era quase um sussurro. — Meu amor…
Ao ouvi-lo, ela desabou.
O choro veio profundo, rasgado, cheio de um luto que ela nem sabia que já era tão grande.
— Eu… eu estava tão feliz… — soluçou, escondendo o rosto nas mãos. — Já imaginava o quartinho, já imaginava o rostinho dele… já… já amava tanto…
Roberto a abraçou, sentando-se na beira da cama, puxando-a para o peito.
Ela se agarrou a ele como quem se agarra a um salvador e a um naufrágio ao mesmo tempo.
— Adriana… eu sinto muito. Sinto tanto… — sussurrou, a voz embargada.
Ela demorou longos minutos até conseguir falar algo mais.
E quando falou, foi com um fio de voz trêmulo:
— Roberto… você não precisa mais… — engoliu o choro — não precisa mais casar comigo. Eu sei que você só queria assumir o nosso filho. Agora… agora acabou. Você está livre.
Ele se afastou o suficiente para segurar o rosto dela entre as mãos.
— Não fala isso.
— Mas é verdade! — ela choramingou. — Eu… eu sei o que você disse no refeitório, eu lembro de cada palavra… que queria aproveitar a solteirice, que criança não era pra você… que—
— Aquilo foi antes de eu me apaixonar por você.
As palavras foram tão inesperadas que ela parou de respirar.
Adriana piscou devagar, ainda chorando, tentando acreditar.
— Mas… e agora? — sussurrou. — Agora não tem mais bebê…
Roberto passou o polegar pelas lágrimas dela.
— Agora tem você. Tem nós dois. E eu não vou embora.. Eu quero continuar com você. Quero ser seu marido, mesmo sem… — sua voz falhou por um instante — mesmo sem o bebê.
Ela abriu a boca para responder, mas não conseguiu.
Roberto a puxou com carinho, inclinou o rosto dela e a beijou
Os olhos dela se encheram de lágrimas outra vez — mas agora eram lágrimas diferentes.
— Você tem certeza? — sussurrou.
— Eu nunca falei tão sério na minha vida.
E foi ali, na penumbra silenciosa do quarto de hospital que algo novo nasceu entre eles.
Não era mais a paixão platônica de Adriana.
Nem o encanto impulsivo de Roberto.
O casamento de Roberto e Adriana aconteceu meses depois, discretamente, sem pompa, sem exageros. Adriana usava um vestido simples, mas havia algo luminoso nela, algo que não vinha do tecido, e sim dos olhos: um brilho de esperança renovada.
Depois da perda do primeiro bebê, ela carregava uma mistura de medo e desejo. Desejo de ser mãe. Medo de nunca conseguir. E, por isso mesmo, logo após o casamento, iniciou um tratamento médico para tentar engravidar novamente. Eram consultas, exames, medicamentos, mudanças de rotina.
Mas, algo nele havia mudado profundamente desde aquela noite no hospital.
Roberto não queria ser pai apenas de um bebê de sangue.
Roberto queria ser pai. Começou a se informar sobre adoção.
Depois de algum tempo, o sonho de Adriana finalmente se concretizou: ela engravidou. A gestação foi cuidada com carinho dobrado, como quem protege um milagre. Nove meses depois, nasceu Michele. Um bebê tranquilo que trouxe luz nova à nossa casa.
Mesmo assim, mesmo com a alegria da filha nos braços, Roberto não abandonou o processo de adoção. Continuou firme, determinado. E Adriana, ainda que insegura no começo, acabou aceitando — e depois abraçando — aquele sonho também.
Foi então que nossas vidas mudaram para sempre.
Como já disse no começo, eu me chamo Flávia, e sou a narradora desta história.
Naquela época, eu tinha nove anos. Meu irmão, Carlos, tinha sete. Nós vivíamos no orfanato havia anos , por isso, quando uma assistente social nos chamou para conversar, Carlos apertou minha mão tão forte que doeu.
Naquela tarde, ela nos explicou que um casal queria nos conhecer. Um casal disposto a adotar nós dois.
Conhecemos Roberto e Adriana.
Ela parecia nervosa, mas tinha um sorriso que acolhia.
Ele tinha olhos firmes e gentis..
— Somos seus novos pais — Roberto disse, ajoelhando-se para ficar na minha altura.
— Se vocês quiserem — completou Adriana, com os olhos marejados.
Eu não respondi de imediato. Carlos se encolheu atrás de mim.
— Vocês… vocês vão levar a gente junto? — perguntei, ainda temendo a resposta.
Adriana sorriu:
— Sempre juntos. Sempre.
Essa história aconteceu há alguns anos.
Hoje, já cresci.
Carlos e Michele também.
E, agora que o Natal se aproxima, sinto aquele calor familiar preenchendo a casa outra vez. Mais um Natal que passaremos em família!
Um feliz Natal a todos.
