Quando amar demais, fode tudo!

Um conto erótico de Felipe (Por Mark da Nanda)
Categoria: Heterossexual
Contém 4932 palavras
Data: 18/12/2025 19:43:51

Felipe e Betão eram amigos desde a infância. Cresceram juntos nas ruas da periferia de Campinas, no interior de São Paulo. Betão, cujo nome verdadeiro era Robertino Caçapava, mas que ninguém usava desde os tempos de escola, sempre fora o mais imponente dos dois. Descendentes de negros e italianos, herdou o melhor de todos: era alto, com ombros largos, músculos definidos de quem praticava esportes desde cedo e um porte que intimidava à primeira vista, tudo alinhado a um rosto expressivo e um nariz levemente adunco.

Felipe, por outro lado, era mais magro, de estatura mediana, com traços másculos e um ar intelectual que o destacava de todos. Não era somente o ar, Felipe sempre fora muito inteligente e dedicado, garantindo-lhe o apelido de CDF naqueles anos. Por sorte, a amizade com Betão lhe garantia segurança e assim passou incólume aqueles anos em que “bullying” não era um tema, mas uma ameaça quase constante.

Os dois seguiram caminhos diferentes, mas a amizade sempre se manteve forte. Betão tornou-se professor de educação física, conceituado em academias e escolas, com um corpo que era um cartão de visitas permanente. Felipe seguiu para a área de tecnologia da informação, especializando-se em segurança digital e sistemas de vigilância. Acabou abrindo uma pequena empresa de consultoria em segurança residencial e corporativa, instalando câmeras, alarmes e redes protegidas, que crescia a passos largos.

Foi Betão quem apresentou Anália a Felipe, há cerca de oito anos. Anália trabalhava como designer gráfica freelancer, especializada em identidade visual para pequenas empresas e eventos. Betão a conhecera num curso de capacitação, onde ela ministrava uma oficina sobre marketing pessoal para educadores. Ele se encantou imediatamente pela moça de cabelos castanhos ondulados, olhos verdes expressivos e um sorriso que iluminava o ambiente. Queria conquistá-la, mas, a coragem se esvaiu ante o interesse romântico. Pensou em pedir ajuda a Felipe, que sempre fora mais inteligente e centrado.

O encontro aconteceu num churrasco no aniversário de Betão. Felipe e Anália conversaram a noite toda. Havia uma química instantânea: Felipe contava lorotas e ela retrucava de maneira criativa suas histórias. A conversa se aprofundou e a curiosidade mútua também, ele se interessava genuinamente pelo trabalho dela e ela pela inteligência dele. Betão observava de longe, sentindo algo apertar no peito, mas resignou-se.

Em poucas semanas, Felipe e Anália já namoravam. Em dois anos, casaram-se numa cerimônia simples, mas cheia de emoção. Betão, vejam a ironia do destino, foi padrinho e trouxe as alianças no bolso, sorrindo por fora, enquanto guardava por dentro, uma paixão que nunca confessara.

A vida seguiu para todos. Felipe e Anália compraram uma casa ampla num bairro arborizado, com sala, copa, cozinha, três quartos sendo uma suíte, além de piscina, quintal e uma edícula com churrasqueira nos fundos, que servia de escritório e depósito. A empresa de Felipe crescia, Anália atendia clientes em casa ou em reuniões externas, e o casamento parecia sólido, baseado em cumplicidade e respeito mútuo.

Betão também seguiu seu caminho, namorando e casando com Marina, uma professora de português. Marina era linda, alegre, uma luz que parecia ter sido trazida pelos anjos para dar um pouco de paz ao coração de Betão. Mas tudo mudou quando ela ficou doente, um câncer agressivo que havia se espalhado por vários órgãos. Eles já estavam casados havia cinco anos quando Marina deu seu último suspiro. Betão afundou numa depressão profunda. Perdeu o ânimo para treinar, isolou-se e, aos poucos, começou a fazer uso de substâncias para aliviar a dor.

Quando Felipe soube, preocupado com o amigo de toda a vida, conversou longamente com Anália e decidiu convidá-lo para morar temporariamente na edícula dos fundos:

— Ele precisa de nós agora, amor. — Disse Felipe: — Precisamos ajudá-lo a se reerguer.

Anália concordou sem hesitar. Sempre tratara Betão com carinho fraterno e via também naquela atitude uma forma de retribuir a gratidão que sempre guardou por ele lhe apresentar o amor de sua vida.

Betão relutou, mas aceitou. Aos poucos, com apoio psicológico, conversas e a rotina da casa, começou a melhorar. Voltou a treinar, recuperou parte do vigor físico e até aceitou dar aulas particulares para gerar renda e aliviar as despesas da casa, embora Felipe e Anália recusassem.

Anália, trabalhando em casa, quase sempre preparava o café ou almoço para todos, perguntava como estava seu dia, ouvia suas histórias e dava seus conselhos. Eram gestos de afeto genuíno, de quem considerava Betão quase da família.

Mas Betão interpretou errado aqueles cuidados. A proximidade diária, o sorriso leve dela, um toque casual quando passava... Tudo reacendeu a antiga paixão, agora misturada à gratidão, tudo confundido pelo manto da vulnerabilidade. Ele começou a procurar oportunidades de ficar a sós com ela. Passou a fazer comentários mais pessoais, a procurar o calor de seus toques, a se insinuar, mesmo que discretamente.

Mas Anália percebeu. No início, ela relevou, pensando que fosse confusão decorrente do luto e do processo de recuperação. Afastou-se um pouco, mas sem perder a ternura, até que, num dia em que ele a segurou pela cintura, quase a encoxando, ela precisou ser mais enérgica, respondendo com educação, mas firmeza:

— Betão, eu sou casada com o Felipe. Você sabe disso. Vamos manter as coisas como sempre foram, tá bem?

Ele pediu desculpas, disse que estava confuso e prometeu respeitar. Por um tempo, as coisas pareceram ter voltado ao normal.

Até que veio a briga. Uma discussão boba ocorrida entre Anália e Felipe. Uma bobeira sobre horários, sobre quem esquecera de pagar uma conta. Era o cansaço acumulado de dias mal dormidos. Palavras duras foram ditas, portas batidas. Anália, ferida no orgulho, saiu de casa e se encontrou com amigas numa choperia. Bebeu mais do que deveria, riu alto, tentou esquecer a discussão, mas chamou a atenção de homens que viam na sua vulnerabilidade, a chance de conseguirem o improvável.

Cíntia, uma das amigas, preocupada, ligou para o celular de Felipe, mas ele havia saído e o esquecido, preocupado com numa reunião extraordinária com um importante cliente de sua empresa. Quem atendeu foi Betão:

— Mas... Mas ela está bem? Quer que eu vá buscá-la?

- Ela está bem, mas... – A amiga pareceu despistar alguém: - Olha... Tem uns caras aqui e um deles já começou a “manjar” a Anália. Seria bom se ela fosse embora. Conheço ele e sei que não pensaria duas vezes em abusar dela.

Betão foi, encontrou Anália emotiva, chorando o fim do casamento num momento de exagero alcoólico no ombro de tal cara. Inclusive, o tal cara quis peitar Betão, mas este, alto, forte e protetor, num leve empurrão, fez com que ele desistisse. Betão então a levou para casa, mas no caminho ela pediu para ele parar, disse que não queria enfrentar Felipe ainda:

- Fica tranquila. O Felipe está numa reunião com um cliente. Um problema qualquer num negócio de vigilância lá... Ele me explicou, mas eu não entendi nada.

- Ainda assim. Ele vai voltar, vai me ver bêbada e vamos brigar de novo.

- E onde você quer ir então?

- Qualquer lugar onde eu possa tomar um ducha, talvez dar uma cochilada, sei lá...

Terminaram num motel próximo. Lá ela tomou uma ducha fria e saiu vestida num roupão felpudo. Nada mais separando seu corpo do de Betão. Ela decidiu beber mais um pouco, mesmo com ele pedindo que não fizesse. E entre lágrimas e consolos, a confusão emocional tomou conta. Ela roubou um beijo dele.

Betão não resistiu mais. Tomou-a em seus braços e a carregou como a uma pluma até a cama. Ali a desnudou. Ali a admirou. Ali se beijaram novamente e ali o pênis grande e grosso dele devolveu a ela prazeres que até então havia esquecido. Ela se lembrou de sua primeira vez, quando fora deflorada por um antigo namorado. Com Betão a sensação foi a mesma, de leve dor, ardência, mas depois de um prazer expressivo.

Naquela noite, Anália chupou, lambeu, mordeu, foi lambida e chupada, deu e recebeu prazer. Foram três transas insanas, regadas a muitos xingamentos, gritos e gemidos. Betão gozou nas três, ela perdeu as contas. Naquela noite, Anália cruzou uma linha que jamais imaginaria cruzar.

Não dormiram no motel, voltando só tarde da noite. Felipe já estava dormindo e ela, após o banho do arrependimento, deitou-se ao seu lado, sem se encostar, sem acordá-lo, sem coragem de encará-lo.

No dia seguinte, acordou só e devastada. Havia culpa, arrependimento, vergonha e quando se encontrou com Betão, foi direta:

— Eu vou contar tudo pro Felipe assim que ele chegar. Foi um erro, Betão. Um erro horrível. Eu não acredito até agora que a gente fez “aquilo” e... e... três vezes! Três!

Betão, porém, pediu calma. Sugeriu que conversassem antes, que pensassem nas consequências:

— Vamos conversar lá na edícula? Estou dando uma reformada lá e sei que lá não corremos o risco de sermos pegos e...

- Pegos!? Nem em sonho diga isso. – Ela o interrompeu.

- Então... Lá é tranquilo. Só pra gente colocar as coisas em perspectiva.

Foram. Conversaram por horas. Lágrimas rolaram, justificativas foram dadas, confissões foram feitas, mas uma em especial mudou tudo:

- Como assim!? – Disse Anália, levantando-se de sobressalto.

- Pois é... Naquele dia em que apresentei vocês. Não era para vocês se apaixonarem. Eu queria que ele te conhece para depois me ajudar a te conquistar, mas...

Anália ficou perplexa, agitada. Betão se levantou, falando algo que ela não prestou atenção. E, novamente, a proximidade falou mais alto. A atração estabelecida venceu mais uma vez e novamente eles se entregaram, não ao mesmo sexo profano do dia anterior, apenas uma “rapidinha”, mas uma que entraria para a história, pois além de sua buceta, Betão teve a ousadia e o prazer de deflorar o cu de Anália.

Após o gozo deles, Betão, amparando-se e a ela que tinha as pernas trêmulas, ainda empalada no rabo pelo pau do “amigo”, perguntou:

- Como assim “primeira vez”?

- Eu... nunca dei para o Felipe.

- Como assim nunca!? Ele nunca quis, não tentou?

- Tentou, várias vezes, mas eu tive medo e não deixei.

- Obrigado. – Disse Betão, beijando o pescoço dela.

Mas ela sabia que, além de ter cruzado um limite profano com o amigo, agora havia dado a ele algo que não tinha mais como retomar, sua virgindade anal, algo que seu próprio marido nunca recebera. Sua consciência agora gritava e os nomes pelos quais era chamada, não eram belos.

O que nenhum dos dois sabia era que Felipe, por profissão e paranoia com segurança, instalara câmeras em todo o perímetro externo da casa, inclusive uma que captava a janela da edícula, tão pequenas e discretas, tão bem disfarçadas nas eiras do telhado que passavam despercebidas. Aquela conversa, aqueles momentos, aquela entrega, ficariam registrados para sempre.

A partir dali, o relacionamento clandestino se instalou, apesar da culpa e da consciência que gritava após o sexo. Sempre que Felipe saía para o trabalho ou viagens curtas, Anália e Betão se entregavam ao momento. Parecia que a culpa inicial de Anália transformara-se numa mistura perigosa de desejo e dependência emocional.

A vida sexual de Felipe e Anália, paradoxalmente, melhorou: ela trazia para a cama uma energia nova, tomando iniciativas e variando posições nunca antes experimentadas, aprendidas por ela com Betão. Inclusive, foi numa noite, com as luzes apagadas que ela pegou seu pau e o direcionou para o cu:

- Tem certeza, amor? – Perguntou Felipe, preocupado.

- Tenho. Você é o melhor marido do mundo, merece tudo de mim.

Ele a penetrou e se surpreendeu com a facilidade que tal se deu, afinal, sabia de leituras que era um sexo mais rústico, difícil, normalmente causando dor na mulher nas primeiras vezes. Mas Anália aceitou bem a penetração e pareceu gostar, aliás, ela suspirava prazerosamente e pareceu gozar com o pau do marido, algo que ela não conseguia com Betão, muito maior e mais grosso.

Felipe transava com Anália à noite e de madrugada, e Anália transava com Betão de manhã e, às vezes, à tarde. Houve uma madrugada em que ela, após Felipe exagerar no vinho e desmontar, ousou em procurar Betão para uma “rapidinha”. Não foi rápido, nem foram cuidadosos, extrapolando no tempo e nos gemidos. Anália chegou a dormir com o amante em sua cama, mas, por sorte, acordou antes do marido, retornando para o leito nupcial.

A vida seguia e tudo parecia perfeito. Mas Felipe começou a notar mudanças sutis em Anália. Às vezes não atendia o celular imediatamente, justificando que estava concentrada no trabalho ou em reunião com clientes. Ela passou a sair mais para “fazer compras” ou “resolver questões profissionais”. Passou a usar roupas mais novas e sensuais dentro de casa. Até Betão mudou. Apesar do corpo forte, ele parecia mais cansado, com olheiras ocasionais.

O estopim veio numa noite em que Felipe chegou mais tarde do que o previsto. Encontrou a casa em silêncio. Ao passar pelo quarto de Betão, notou a porta encostada e o amigo roncando, nu, com o pau meia bomba jogado de lado. Além disso, encontrou Anália também dormindo e igualmente nua na cama do casal, deitada meio de lado com uma perna esticada e a outra curvada. Convenceu-se que talvez fosse só o calor, porque naquele dia ele estava de fritar ovo no asfalto e foi tomar o seu banho. Ao sair, com a luz indireta do banheiro, notou marcas no corpo da esposa, arranhões, hematomas suaves nos quadris, algo que ela não deveria ter. Pegou seu celular e com a luz examinou-a com mais atenção e viu que a região anal estava mais vermelha e inchada. Pior! Escorria algo líquido e pegajoso:

- Não pode ser... – Disse Felipe para si mesmo.

Anália resmungou nesse momento, virando-se para o lado contrário e se enrolando num lençol. Felipe pensou em acordá-la. Pensou em acordar aos dois. Queria explicações, queria expô-los, queria sangue. Mas seu lado analítico falou mais alto e ele se calou. Decidiu descer para a cozinha, mas a água com açúcar não o acalmou. Foi até o barzinho da sala e somente após a quarta dose de uísque, um sono artificial o acolheu:

- Amor!? Você não vem para a cama? – Ouviu a suave voz de sua esposa.

- Cama!? Que cama? Aquela onde você anda dando para aquele filho da puta que se dizia meu amigo, meu irmão!?

- Ué!? – Disse Betão, chegando à sala nesse momento: - Se você preferir posso comê-la aqui no sofá também, ou nesse tapete macio.

- Como é que é!? Seu filho da puta...

Felipe levantou-se dando socos no ar e só se deu conta de que tivera um pesadelo ao firmar a visão e não ver ninguém a sua frente. Só a dor estava ali, companheira imprestável e conselheira desprezível.

Na manhã seguinte, Felipe foi cedo para sua empresa. Trancou-se em seu escritório e abriu o sistema de “back up” do monitoramento de sua casa. Começou pelas câmeras externas, depois pelas internas que gravavam apenas os espaços de uso geral, nada nos quartos ou banheiros. Encontrou cenas que começaram como suspeitas e tornaram-se provas irrefutáveis: toques discretos, risos cúmplices, eles entrando no quarto de hóspedes e ficando por horas trancados, eles entrando na sua suíte e ficando horas trancados, os sons de gemidos e gritinhos. E, por fim, a gravação completa da edícula, com imagem e som impressionantes, que não deixava margem para dúvida daquela traição, da dupla traição.

Felipe mudou ante a verdade. Tornou-se frio, distante. Respondia com monossílabos. Evitava dar e receber carinhos a esposa. Aliás, passou a dormir de costas para ela. Anália e Betão perceberam a mudança, trocaram olhares preocupados, mas não ousavam perguntar diretamente.

Dias se passaram com Felipe preso ao dilema.

Numa manhã de sábado, Felipe estava sozinho na cozinha, tomando café, perdido em pensamentos. Tentava decidir: confrontar e terminar tudo? Tentar entender e perdoar? A dor era física decorrente da emocional, lhe assolava o peito. Então ouviu passos na escada. Anália e Betão desciam juntos, rindo de algo que haviam conversado, os rostos ainda corados, os cabelos ligeiramente desalinhados. Era evidente que tinham acabado de dar uma “rapidinha” que achavam que ninguém percebia. Cumprimentaram-no com animação exagerada:

— Bom dia, amor! — Disse Anália, dando-lhe um salgado beijo de língua inesperado.

— E aí, irmão! — Completou Betão, servindo-se de café, com um sorriso malicioso na boca: - Que beijo é esse, hein? Já cedo...

A alegria dos dois foi a gota d’água. Felipe olhou para eles por alguns segundos, o rosto endurecido. Não respondeu de imediato. Apenas tomou um gole do café já frio e observou-os por alguns segundos longos demais. O sorriso de Anália vacilou. Betão parou no meio do movimento de levar a xícara à boca:

— Vocês dois parecem muito felizes hoje.

O tom gelado fez o sorriso de Anália desaparecer de vez. Betão engoliu em seco, pois a xícara não alcançara sua boca ainda e brincou sobre uma aposta boba que fizeram e que ela ganhou:

- É!? E o que ela ganhou? – Perguntou Felipe.

- Um conjunto de lingerie, à escolha dela. – Disse Betão, dando-lhe um tapa no ombro: - E adivinha quem vai ser o sortudo a ver? Hein, hein!

Felipe se levantou devagar. Limpou a boca com o guardanapo e pegou as chaves do carro que estavam sobre a bancada:

— Preciso ir à empresa. Tem uma atualização de sistema que não pode esperar. — Mentiu, sem olhar diretamente para nenhum dos dois: — Volto mais tarde.

Anália franziu a testa, confusa:

— Mas é sábado, amor. Você disse que ia ficar em casa hoje, lembra? Nós íamos fazer compras.

— Pois é... Mudança de planos.

Ele passou por eles sem tocar em ninguém, sem um beijo de despedida, sem um olhar demorado. Apenas saiu, mas se lembrou de que esquecera as chaves do carro. Voltou em silêncio a tempo de ouvir uma conversa que lhe daria asco:

- Será que ele sentiu o gosto? – Perguntou Anália.

- Até parece que ele iria imaginar que eu havia acabado de gozar na sua boca. – Betão deu uma risada: - Mas eu duvidei até o último momento de que você teria coragem.

- Tive e quero a minha lingerie, e não vai ser barata.

- Desde que eu a estreie.

- Nã-na-ni-na! Você não disse que o meu marido seria o sortudo? Só ele vai ver...

Felipe não esperou mais nada. Pegou as chaves e saiu. A porta da garagem se abriu, ligou o carro, saiu pela rua e desapareceu.

Na casa, após rirem daquela maldade, Anália e Betão ficaram em silêncio e começaram a mancomunar:

— Ele tá estranho mesmo. — Murmurou ela, mordendo o lábio.

— Eu não acho que seja disso. Deve ser estresse do trabalho. — Respondeu Betão, mas a voz saiu sem muita convicção.

- Não sei. Faz dias que a gente não transa com vontade. A gente até tem feito, mas... Sabe quando é sem vontade, só para bater o cartão?

- Deve ser nada não, safada. Que tal se a gente brincasse um pouquinho já que ele teve esse imprevisto.

A alguns quarteirões dali, Felipe estacionou o carro numa rua paralela, sob a sombra de uma árvore. Abriu o aplicativo de monitoramento no celular e viu pelas câmaras internas, eles terminarem o café, mas quase sem falar. Viu eles lavarem as louças e colocarem no escorredor. Viu eles subirem as escadas, ela na frente, ele atrás bolinando sua bunda. Viu eles entrarem na suíte do casal e fecharem a porta:

- Miseráveis! – Rugiu, mordendo os próprios dentes.

Mas ele esperou. Pacientemente, esperou.

Dentro do quarto, Anália e Betão não perderam tempo. A urgência era maior agora, alimentada pelo tesão da brincadeira da manhã. Roupa alguma ficou no corpo por mais de um minuto. Os beijos foram famintos, as mãos ansiosas. A cama rangeu quase imediatamente. Primeiro os suspiros abafados por beijos, depois os gemidos mais altos de bocas livres, os nomes ditos em voz rouca, os sons de corpos se chocando. Tudo era captado pelos microfones sensíveis que Felipe instalara.

No carro, Felipe ouvia tudo pelo fone de ouvido. Não assistia às imagens, mas nem precisaria. O áudio era suficiente para que cada detalhe se desenhasse em sua mente com precisão cruel, mais ainda porque Betão parecia um locutor:

“Arreganha essas pernas, sua putinha safada!”

“Agora, abre a buceta pro teu dono. Abre!”

“Quer só a cabeça ou quer tudo?”

“Então, pede, puta. Pede!”

Felipe apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Respirava fundo, lento, acumulando a raiva como quem enche um balde gota a gota. Não queria explodir antes da hora. Queria ter controle total quando chegasse o momento.

Passaram-se vinte e sete minutos. Ele teve a paciência estratégica de contar cada um. Quando os sons de batidas de corpos cessaram, substituídos por risos baixos e sussurros carinhosos, Felipe deu partida no carro e voltou para casa.

Estacionou na frente e entrou pela porta da garagem sem fazer barulho. Descalçou os sapatos para não ecoar no piso. Subiu as escadas em silêncio. Parou diante da porta da suíte. A mão pousou na maçaneta. Por um segundo, pensou em abrir de supetão, pegá-los ainda nus, ainda entrelaçados. Talvez ameaça-los, talvez mata-los com a arma que ficava escondida no escritório. Mas não. Ele queria algo pior que um escândalo. Queria que eles sentissem o mesmo vazio que ele sentia há semanas.

Felipe desceu novamente e foi até a cozinha. Pegou uma cadeira pesada madeira maciça e subiu com ela, passo a passo, sem pressa. Colocou-a de frente para a porta do quarto, a cerca de dois metros de distância. Foi até o seu escritório e pegou uma arma, um antigo 38 de cano curto que ganhara de seu pai. Voltou até a cadeira, e se sentou, e esperou. A vingança teria que ser plena.

Dentro do quarto, Anália e Betão conversavam em voz baixa, ainda deitados:

— A gente precisa parar com isso, Betão. — Disse ela, de repente: — O Felipe tá diferente. Eu sinto que ele tá desconfiado.

Betão acariciou o cabelo dela:

— Ele só tá cansado, gatinha. Quando ele voltar a gente age normal. Vai passar.

— Sei não... Eu conheço ele.

Ficaram em silêncio por mais um tempo. Depois sons de beijos começaram a surgir. Felipe apertou a arma como se ela fosse a única coisa real naquele momento irreal. Logo ouviu a voz da esposa:

- No cu de novo!? Caralho, cê não cansa?

- Desse cuzinho lindo!? De que jeito?

Após uma risada e um gemido de Anália, Betão perguntou:

- E aí? Já liberou para o meu amigo?

- Já, né! Ele que devia ter sido o primeiro.

- Ele nem tem o direito de reclamar. Eu abri o caminho e deixei o buraco laceado para ele usar. Aposto que deve estar se esbaldando.

Uma risada. Um gritinho. Sons. E 15 minutos depois, gritos e o urro de um animal em hora de morte. Depois só o silêncio.

Dentro do quarto, minutos se passaram de respirações aceleradas. Após isso, eles se levantaram e se vestiram devagar. Anália ajeitou o cabelo no espelho. Betão suas roupas. Finalmente, giraram a maçaneta.

Anália surgiu, de costas para o marido, beijando o amante, quase tropeçaram em Felipe. Mas o instinto feminino a fez parar e se virar lentamente, e ela o viu: Felipe. Sentado na cadeira, pernas cruzadas, mãos segurando um revólver, olhando fixamente para o chão à sua frente. Imóvel. Silencioso.

Anália soltou um grito abafado. Betão deu um passo atrás instintivamente:

— FELIPE!!! — A voz dela começava a falhar.

Ele não ergueu o olhar imediatamente. Deixou o silêncio crescer mais alguns segundos. Quando finalmente olhou para os dois, seus olhos estavam sem vida, sem lágrimas, sem vermelho de raiva:

— Há quanto tempo... — Disse Felipe, olhando o relógio de pulso, por fim.

Anália não sabia o que dizer:

— A-Amor... Vo-Você… quando você chegou?

— Há tempo suficiente.

Betão pigarreou ao ver a arma não mão do amigo. Tentou manter a postura:

— Felipe, a gente pode conversar. Eu assumo toda a responsabilidade, cara, mas… não precisamos usar de violência.

Felipe ergueu a mão, justamente a desarmada, num gesto simples que fez Betão calar-se na hora:

— Não! Você não assume nada. Vocês dois assumem. Juntos.

Felipe se levantou devagar. Apesar da diferença física gritante, Betão era quase vinte centímetros mais alto e pelo menos quarenta quilos mais pesado, todo músculo, Felipe não recuou. Levantou a arma e caminhou na direção deles, fazendo-os recuar até dentro da suíte:

— Eu ouvi tudo. — Continuou: — Cada palavra. Cada gemido. Cada grito. Cada vez que vocês riram de mim, do otário que sustenta essa casa, que paga as tuas contas, Anália, que acreditou que estava ajudando um amigo...

Anália começou a chorar:

— Me perdoa… Por favor… Eu te amo…

— Você não ama ninguém além de você mesma, sua piranha. E você... — Olhou para Betão: — Você nunca foi meu amigo. Amigo não faz isso. Amigo não espera o outro virar as costas pra foder a mulher dele.

Betão baixou a cabeça pela primeira vez, sentindo o peso das palavras e da tensão naquele momento:

— Eu sei que não tem desculpa. Se quiser me bater, bate. Se quiser me matar, mata. Mas não faz nada com ela...

Felipe deu uma risada seca, amarga:

— Acha que eu vou te dar esse prazer? Acha que vou te dar a chance de se sentir menos culpado porque “aguentou os socos”? Não. Você não merece nem isso. Mas a bala... Há! Essa eu ainda estou pensando...

- Amor... Felipe... Por favor... Não faz isso com você. – Pediu Anália entre as lágrimas.

- Comigo!?

- A gente errou. Você não precisa acabar com sua vida por nossa causa.

No fundo, ela estava certa. Eles não mereciam sequer a morte naquele momento. Seria fácil demais. Felipe então deu um passo para o lado e apontou a arma pelo corredor, na direção da porta da casa:

— Vocês têm até o meio dia para tirar tudo que é de vocês dessa casa. Roupas, documentos, o que quer que seja. Depois disso, o que restar eu vou queimar. Nunca mais quero ver nenhum dos dois na minha frente.

Anália caiu de joelhos no chão do corredor:

— Felipe, essa casa é minha também… a gente construiu isso juntos… por favor, não faz isso…

— Construiu? — Ele riu sarcasticamente, embora soubesse que ela tinha razão: — Eu construí. Você só usufruiu. E ele... — Apontou a arma para Betão: — Esse merda aí só a sujou.

Betão se agachou ao lado de Anália, tentando fazê-la se levantar:

— A gente vai embora. Você tem razão em tudo. Só… me deixa ajudar ela a arrumar as coisas.

- Eu não vou! Essa é a minha família. Não vou abandonar o meu marido.

Felipe se surpreendeu e riu de uma forma que assustaria até mesmo Conde Drácula se ele realmente existisse. Depois os observou por um tempo longo demais:

— Façam o que quiserem. Mas às doze horas essa porta se fecha pra vocês pra sempre. E o que estiver aqui, eu vou queimar, até mesmo se forem vocês.

Felipe então desceu as escadas sem olhar para trás. Foi até o escritório, trancou-se lá dentro e começou a fazer transferências bancárias. Mas estranhamente, deixou um montante numa poupança de Anália, só o suficiente para que ela não passasse fome imediata, mas nada além disso. Depois abriu o sistema de segurança e passou a ouvi-los e observá-los indiretamente.

Na suíte, Anália chorava descontroladamente enquanto jogava roupas dentro de malas. Betão arrumava as coisas em silêncio, o rosto fechado, os olhos vermelhos. Nenhum dos dois ousava falar alto. De vez em quando olhavam para a porta, como se esperassem que Felipe subisse correndo para perdoar, para gritar, para qualquer coisa que não fosse aquele silêncio cortante.

Às onze e cinquenta, várias malas e caixas estavam na caminhonete de Betão. Anália desceu por último, carregando uma caixa pequena com fotos antigas dela e de Felipe, sorrindo em viagens, em festas, no casamento. Fotos simples de momentos felizes, memórias que ela queria manter na esperança de um dia reconstruir. Ela parou na porta da cozinha, onde Felipe agora tomava um copo d’água, de costas para ela. A arma repousada no granito frio da bancada:

— Felipe… eu vou embora. Mas eu queria te dizer que…

Ele nem se virou para terminar de ouvi-la:

— Não diga nada. Só vá.

Ela engoliu as palavras. As lágrimas voltaram a cair forte. Betão apareceu na porta, segurando as chaves:

— Irmão, eu... eu sinto muito.

Felipe não respondeu. Apenas olhou para ele e fez um gesto com a mão para ele sair. Os dois saíram. O som do motor da caminhonete surgiu e logo se tornou mais e mais inaudível, se afastando. Esse foi o único eco na casa por longos minutos.

Felipe ficou parado na cozinha até dar meio dia. Depois subiu, trocou as roupas de cama, jogou tudo o que lembrava os dois no meio dos lençóis. Abriu as janelas para arejar. Levou aqueles objetos até o meio do quintal e, como prometido, ateou fogo. Sentou-se na mesma cadeira que testemunhara consigo o flagra dos dois traidores, trazida para baixo, para o seu lugar e ficou as chamas crepitarem.

No final, não houve briga física. Não houve gritos que os vizinhos pudessem ouvir. Não houve tiroteio. Não houve drama a ser deliciado por bocas alheias.

Apenas o fim absoluto de duas relações que ele julgara eternas demais: a sua com Anália, sua “cara metade”; e a sua com Betão, o irmão de coração.

Naquela noite, pela primeira vez em meses, Felipe dormiu na casa completamente sozinho. E, apesar da dor que ainda latejava no peito, sentiu algo que não sentia há muito tempo: paz. Porque a traição havia saído pela porta da frente e ele trancara a fechadura para sempre.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS E OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL SÃO MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 326Seguidores: 699Seguindo: 29Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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O amigo não só comeu a mulher do cara, mas ainda ficou zombando. E ainda comeu o cu dela primeiro. Meu amigo, tem que ter muito sangue frio, coisa que o Felipe teve.

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É por essas e outras que nenhum amigo meu dormirá um dia sequer na minha casa. Nada de dar sopa pro azar. A desconfiança tem que ser total kkkk

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Meu amigo, que contaço sensacional. Um dos melhores que já li. Porra, que angustia ler do começo ao fim. Felipe foi incrível do começo ao fim, não caiu em tentação para se vingar e deu a maior lição que pode-se dar aos traidores: a indiferença.

A única coisa que lamento nesse conto é não ter continuação. O que aconteceu com os talaricos? E como ficou Felipe? Ele merece uma sequencia de vida feliz e melhor do que o que ele viveu.

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Muito bom. Felipe foi muito sábio, a mulher e o talharico não valem nada, estes não merecem um dia de sua vida, caso ele tivesse matado os 2, estaria dando uns 50 anos de sua vida por eles.

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👍🏾👍🏾👍🏾 Muito bom, macho e controlado.

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Muito bom o conto, é muito mau é uma pessoa trabalhar e ajudar os outros e depois ser traído, mereciam levar um tiro

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