Capítulo 9 - O Moleque e o Cirurgião
Já estava quase no fim da festa quando tive outra chance de conversar com o Rui. Queria me explicar, não queria que ele ficasse com uma impressão errada a meu respeito. Me aproximei e perguntei se podia conversar com ele. Tive receio de ele achar que estava lhe enchendo, mas queria mesmo me explicar.
— Quero me desculpar e dizer que vou lhe pagar pela garrafa — comecei, falando sobre o combo.
— Não precisa, João, foi um presente — Respondeu com muita paciência.
— É que não quero que pense que sou um aproveitador — Falei.
— Não estou pensando nisso, mas mesmo que estivesse, por que faz diferença? — Ele perguntou.
— Para mim faz. Não quero que pense isso de mim.
— João, eu sei que você não se aproximou por isso, pode ficar tranquilo. Eu só não estou interessado.
— Entendo, você tem medo de que Fatinha desconfie de algo.
Quando achei que estava entendendo, ele riu e me respondeu:
— Desconfiar de quê, exatamente?
— Você sabe, caras como você são sempre discretos — Respondi.
— Não, João, não preciso ser discreto. Fatinha e as outras sabem que sou gay.
— Agora me perdi. Não está bancando elas para disfarçar? — Sei que falei merda, mas coloquei na conta da bebida.
— João, estou bancando — ele fez sinal de aspas — minhas amigas porque eu posso e também porque elas são minhas amigas. Nem tudo tem que ter uma segunda intenção, tipo o presente que eu te dei.
A bebida e meu orgulho ferido falaram mais alto e fiz algo que nunca fiz na vida: insisti em uma situação que me faria me arrepender quando ficasse sóbrio.
— Então, se você é assumido, por que não quis ficar comigo? — Eu sei que fui babaca.
— Primeiro, você pegou minha amiga e eu não sou talarico. E segundo, você é muito moleque para mim.
Ouvir sua resposta me deixou pensativo. Comecei a me dar conta que estava bêbado e que as coisas não eram tão simples quando Luan me fez acreditar que eram. Fui ingênuo e paguei o preço. Agora era torcer para que Rui não contasse sobre nossa conversa com Fatinha.
Ela me chamou para ir com eles, mas eu estava com vergonha de encarar o Rui. Então, marcamos de nos encontrarmos no nosso último dia no interior para curtir. Voltei para meu primo e fomos para casa. Apaguei assim que deitei na cama.
Acordei com as palavras do Rui ainda na minha mente. Luan já tinha levantado. Fui para a cozinha e ele estava tomando café e contando sobre a festa para seus pais. Dei bom dia e peguei meu café.
— Bebeu demais, né, filho? — Me perguntou a mãe do Luan. — Sim, tia — Confirmei, mas não era o motivo da minha cara de bunda.
Fui para o quarto, tomei banho e Luan veio me chamar para sairmos.
— Vamos para um churras com os meninos — Disse ele, todo animado.
— Vai dar não, marquei com a Fatinha de ir ver ela.
— Porra, Jão, nem está namorando e já está assim — Ele parecia sério.
— Deixa de onda, eu vou lá porque ela me chamou e quero foder com ela de novo — Respondi.
— Você quem sabe — Luan disse, me deixando sozinho no quarto.
Mandei mensagem para ela e foram me buscar de carro. Fatinha e a irmã estavam com a SUV do Rui. Paramos para comprar bebida e carne para o almoço. Fatinha era uma mina muito da hora: bonita, inteligente e safada, uma combinação e tanto.
— Rui gosta mesmo de ti, né, para deixar vocês com o carro dele — Falei, brincando com ela.
— Eu dirijo melhor que ele, até, bonitão — Respondeu Fatinha, rindo, e continuou: — E ele também estava ocupado despachando o boy com quem ele dormiu.
— Ele levou alguém para casa? — Fiquei curioso e meio irritado de saber isso.
— Sim, logo depois que vocês saíram, ele apareceu com um carinha — Disse ela, sem importância.
— Ah, e era um cara novo? — Fiquei muito inseguro.
— Oxé, por que a curiosidade? — Ela perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
— Nada, só curiosidade — Tentei disfarçar.
— Estou te zoando, relaxa. O Rui não sai com novinhos, só com caras mais de trinta e cinco. Acho que vou levar um vinho — Disse, mudando de assunto e indo para a parte de vinhos do mercado em que estávamos.
Eu não entendia por que isso me incomodava tanto, mas respirei fundo e deixei esse assunto de lado. Rui não tinha me curtido porque não fica com caras mais novos, isso me deixou mais tranquilo. E tinha o fato de que ele disse que por estar ficando com Fatinha ele não ficaria comigo. O problema é que nunca tinha sido rejeitado antes e isso estava mexendo comigo. Entretanto, eu precisava ficar de boas, caso contrário, provaria que ele tinha razão sobre mim.
Quando chegamos, o lugar era muito bonito, parecia um sítio. Tinha piscina e a casa era bem grande. Estavam todos na parte coberta perto da piscina, onde Rui acendia o fogo da churrasqueira. As minas estavam na piscina pegando uma cor. Eu conversava com Fatinha e com Rui. Descobri durante a conversa que ele era cirurgião cardíaco no hospital e que trabalhava bastante, e que só tinha viajado porque as meninas haviam insistido muito. Minha atenção estava dividida entre ele e ela.
Preferi não beber tanto e me esbaldei na carne que estava uma delícia. Em uma hora em que todos estavam na piscina, Fatinha me puxou pelo braço e entramos na casa. Nossa, foder ela na festa já tinha sido maravilhoso, agora estávamos no quarto. Comi ela com muito gosto, fodi dando o meu melhor. Fatinha gemeu feito uma louca. Fiz de propósito para que Rui soubesse que eu sabia sim o que estava fazendo, queria provocar.
Quando saímos, a risadinha das meninas deixou na cara que meu plano da gente ser ouvido tinha dado certo. Para deixar Rui ainda mais curioso sobre mim, fiquei de sunga e chamei Fatinha para a piscina. Ficamos nos pegando um tempo. Percebi ele me olhando de vez em quando, mas seu olhar não me falava muito. Então, estava na dúvida se ele tinha mesmo mordido minha isca.
