EU ODEIO MEU CHEFE - CAPITULO 4

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 667 palavras
Data: 13/12/2025 11:47:14
Assuntos: Gay

Quando o Sr. Alencar terminou de me dar a bronca épica pelos meus vinte e sete minutos de atraso — que, diga-se de passagem, foram patrocinados pela minha caminhada olímpica até o trabalho — eu achei que aquilo era o pior momento do meu primeiro dia.

Eu realmente achei.

Que ingenuidade. Que ser humano puro eu fui naquele corredor.

Porque assim que ele disse “vá pra sua mesa”, eu mal tinha dado três passos quando ouvi de novo:

— AKIO! VOLTA AQUI!

Eu juro que minha alma chegou a tropeçar.

Entrei na sala dele devagar, como quem está abrindo a porta de um quarto amaldiçoado. O Sr. Alencar estava de pé agora, com as mãos na cintura, encarando uma pilha de coisas como se tudo aquilo fosse um atentado pessoal contra ele.

Ele me olhou.

Olhou para a mesa.

Olhou pra mim de novo.

E sorriu.

Sorriso de vilão de novela das nove.

— Já que você chegou atrasado… — ele começou, ajeitando a gravata — vai me ajudar com umas coisinhas. Nada demais.

Eu gelei.

Porque do jeito que ele disse “coisinhas”, parecia que estava prestes a me mandar replantar a Amazônia.

— Vamos começar — ele disse, apontando para a mesa dele.

Era uma montanha. Não. Era o Everest de documentos. Papéis amassados, pastas abertas, folhas soltas, contratos que datavam de quando o Brasil ainda era colônia. Tinha até um post-it grudado num relatório escrito “NÃO PERDER!” (ironia, porque estava praticamente perdido).

— Quero isso organizado por categoria, urgência e data — ele falou, como se estivesse pedindo para eu arrumar três pares de meias. — Hoje ainda.

Eu engoli seco. “Hoje ainda” pra mim soou como “até renascer”.

— E antes que eu esqueça… — ele abriu a gaveta e me entregou uma chave. — Vai na minha casa e pega um tênis.

Eu pisquei.

Piscar foi tudo o que meu cérebro conseguiu fazer.

— U-um tênis?

— Isso mesmo. O preto. De sola branca. Tá logo na entrada. E cuidado com o cachorro, ele não gosta de estranhos.

— O senhor… tem um cachorro bravo?

— Não, bravo não. Só… seletivo. Ele escolhe quem morde.

Eu senti minhas pernas enfraquecendo.

— Ah — ele acrescentou, como se estivesse lembrando a lista do supermercado — e traz um café pra mim. Duplo. Sem açúcar. E quente. MUITO quente.

Claro. Um café para completar a humilhação matinal.

— E já aproveita e leva essa caixa pro correio.

Ele colocou na minha mão uma pequena caixa.

Eu virei ela curiosamente, tentando adivinhar o que era.

— O que tem aqui? — perguntei.

— Minha marmita de ontem.

— Sua… marmita?

— Minha mãe coleciona potes.

Eu queria rir.

Eu queria chorar.

Eu queria ir embora correndo.

Eu queria ser atropelado por um patinete elétrico e ganhar uma indenização.

— Então… — eu disse, tentando recitar a lista pra ver se eu lembrava de tudo — eu vou pegar seu tênis, comprar seu café, mandar sua marmita pelo correio e organizar… aquilo?

Ele balançou a cabeça, satisfeito.

— Exatamente. Agora vê se compensa o atraso. Anda, Akio. Movimento! Movimento!

Eu saí da sala completamente zonzo. Parecia que eu tinha sido colocado em um liquidificador emocional na velocidade máxima.

A pasta dos documentos estava pesada.

A caixa da marmita ficava balançando no meu braço.

A chave da casa dele estava na minha mão suada.

E eu ainda não tinha recuperado o fôlego da caminhada para o trabalho.

Parei no meio do corredor. Respirei fundo. Muito fundo.

E sussurrei para mim mesmo:

— Eu só queria trabalhar num escritório…

Mas não.

Eu virei entregador, organizador de arquivos, barista, carteiro, babá de cachorro e explorador de montanhas de papel.

E aí, como se o universo ainda tivesse espaço para uma piada adicional, meu telefone vibrou.

Era uma mensagem do Sr. Alencar:

“E NÃO ESQUECE DO TÊNIS.

Como se eu fosse esquecer.

Respirei fundo, firmei a coluna e disse:

— Vamos lá, Akio.

— Sobreviver ao primeiro dia é só pra campeões.

E saí andando pelo escritório totalmente perdido, completamente atordoado e já me perguntando:

Será que no segundo dia é pior ou melhor?

Eu sei a resposta.

Eu só não quero admitir ainda.

Continua...

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