1. 06h50 – CAMINHO DE AREIA
Acordei antes do despertador.
Diana dormia de costas, mão na barriga, respiração lenta de quem não pode ser contrariada.
Deixei bilhete na mesa de cabeceira:
“Fui correr. Volto em 45. Café trago.”
Praia vazia, mar ainda rosa.
Senti o sabor de ontem (cloro + sal + esperma) a latejar na língua.
Carla apareu do nada — top cortado, short de corrida, estetoscópio ao pescoço (desculpa médica).
Sem olá, sem beijo:
— Anda. Quero falar antes de sentir.
2. 07h00 – AREA FERIDA
Sentámo-nos na toalha.
Ela abriu a mala de praia:
1 camisinha (única)
1 ampola de pílula do dia depois (embutida num estojo de metal)
1 garrafa de água
— Regras:
Camisinha obrigatória (penetração).
Boca é livre (mas sem marcas).
Se a camisinha falhar, tomamos a pílula juntos — sem drama, sem marido, sem esposa.
Olhou para o mar, respirou fundo:
— Quero sentir-te outra vez… mas não quero destruir ninguém.
3. 07h15 – O MAR FRIA
Entrámos na água até à cintura.
Carla agarrau-me na cintura, saltou, pernas à volta da minha cintura.
Senti o calor dela contra o frio do mar.
Beijou-me — língua salgada, mão dentro do meu calção de corrida, puxou para fora.
Engoliu debaixo de água — nenhum som, só bolhas.
Quando senti subir, ergueu-se, colou a barriga à minha:
— Agora com protecção.
Voltámos para a areia, deitámo-nos na toalha, camisinha aberta, rolada em 3 segundos.
Ela sentou-se em cima, devagar, controlada, olhos nos meus:
— Estás dentro… mas sou eu que mando.
Bateu, parou, rodou, contraiu.
Quando senti que não aguentava mais, levantou-se, sacou, tirou a camisinha, gozou-me outra vez na boca — engoliu tudo, limpou, beijou-me depois:
— Sabor a mar… e a nós.
4. 07h45 – O TERCEIRO OLHAR
Voltámos para o condomínio.
Antonieta (a quarta enfermeira) estava a caminhar o cão — olhou para os nossos pés molhados, para a mesma toalha, para o lábio dela ainda brilhante.
— Bom treino, pessoal? — sorriu, mas anotou.
Carla ajustou o estetoscópio:
— Coração dele está a bater forte — deve ser o café.
Antonieta guardou a anedota no caderninho mental — dia 2 de Agosto:
“Praia 7h, mesma toalha, boca salgada, camisinha no bolso do Rui… mas nenhuma aliança na mão.”
5. 08h00 – CAFÉ E MENTIRA
Entrámos em casa por portas diferentes.
Diana acordou, olhou para os meus pés com areia:
— Correste sozinho?
— Com o Nuno — menti com facilidade.
Carla entrou pela cozinha, beijou o Nuno na testa:
— Fui correr. Trouxe pão.
Nenhum olhar trocado.
Mas quando passei no corredor, ela deixou cair o pão — ajoelhou-se para apanhar, viu-me o volume ainda meio-duro, sussurrou:
“Amanhã* mesma hora. Mas desta vez leva dois.”*
A camisinha foi usada, a boca foi preenchida, a testemunha (Antonieta) já tem o primeiro capítulo do caderno… e o mar ainda cheira a esperma e culpa.